Wednesday, November 28, 2007

Um carro, uma estante

Quando adotei o André como irmão, foi meio que por impulso, a gente ainda nem se conhecia, mas ouvi a voz dele e minha intuição já me avisou, como um jingle: "esse cara é bom". O tempo foi confirmando as coisas boas, e cimentando nossa irmandade. Mas esse post dele tem que ser copiado e repetido, como um mantra, confiram: http://aleones.wordpress.com/2007/11/20/um-carro-na-estante/

E, agora, mais um capítulo, quase final.

Capítulo XVII

Até que enfim parou de chover! Estava doida para dar uma voltinha. Me despedir da cidade. Estou com pena de você, que não viu nada...

Vi muita coisa. Passeei por aqui por essas ruas escondidas. Visitei todas as lojinhas...

Vamos tomar um vaporeto e ir para o Lido?

Não, vamos ficar aqui mesmo, fazer um passeio de gôndola.

Claro! Você não andou de gôndola, isso é imperdível. E, depois, vou te levar para tomar um sorvete! Ai, são tão bons! É difícil escolher qual o melhor sabor. E um espresso duplo, uma delícia.

Você está tão animada!

Estou contente. Perdi um quilo e meio! Bendita gripe. Quer parar de me filmar?

Não é você. É a cidade. Olha que escadaria maravilhosa. Parece a torre de Pisa.

É o Palazzo Contarini del Bovolo. Vamos dar mais uma andadinha, para você ver como o la Fenice ficou lindo. Olha lá.

Nossa, ele é muito pequeno. Pela fama achei que fosse muito maior.

Não, esse teatro pertencia a uma família, que o construiu em 1792. Não é chique? Um teatro particular? Depois , não lembro quando, passou a ser da cidade, acho que foi depois do primeiro incendio, em 1836. Não deve ter sido antes, porque Rossini e Verdi estrearam algumas de suas óperas aqui. Sabia que os italianos, durante a ocupação austríaca, protestavam aqui no teatro? Jogavam flores brancas verdes e vermelhas no palco, da cor da bandeira italiana, e gritavam Viva, Verdi!

E isso é protesto?

É que v-e-r-d-i são as iniciais de Vittorio Emanuele, Re d’ Italia. Espertinhos, não?

Olha, o que é isso? Fila para gôndola?

Ih, o dia inteiro é assim. Mas anda rápido. Logo, logo chega a nossa vez. Porque você não aproveita para filmar a praça de San Marco, enquanto eu fico aqui na fila?

Prefiro ficar a seu lado. Vou filmar o vai e vem das gôndolas. Olha que lindo. Repara na perícia que esses remadores têm. E olha como fica lindo o grupo de embarcações junto a todos esses mastros coloridos. É uma loucura, são centenas de gôndolas.

É que aqui é uma espécie de ponto final delas. São poucos os lugares onde se pode pegar uma gôndola. Eu só conheço aqui no Molo, e lá perto da ponte de Rialto. Mas lá ainda é mais movimentado, porque todo mundo anda por lá, para fazer compras. Nunca pensei que uma ponte conseguisse sustentar tantas lojas. E são altas, alguma têm uns dois ou três andares. E tudo em cima da ponte, dá até medo.

Agora é nossa vez.

Viu como foi rápido? Cuidado. Ai, eu morro de medo. Está balançando muito.

Não se preocupe. Você está segura. Viu? Eu não deixo você cair.

É melhor eu sentar ali do outro lado.

Não, senta aqui mesmo, do meu lado. E abotoa esse casaco, não vá apanhar uma recaída. Põe o lenço aqui, no pescoço.

Não, Fábio. Não é preciso. E vira essa câmera para lá. Estou ficando irritada com isso.

Sabe que o seu documentário vai mostrar a escritora mais ranzinza de todo o Brasil?

Eu reclamo muito?

Só um pouquinho.

Eu devo ser muito chata. Não admira que eu esteja sozinha.

Você não está sozinha, está comigo.

É diferente. Somos amigos. Eu estava falando de uma coisa mais intensa...

Intensa como? Assim?

Fábio! Você me beijou!

Beijei. E de língua!

Mas, você não entende...

Quem não entende nada é você! Será que eu preciso colocar um cartaz no meio da rua? Será que tenho que mandar publicar no jornal? Eu sempre fui apaixonado por você. Mas esta é sua última chance!

Fábio, isso é um erro.

O que é que é um erro? Este beijo? Ou este? Ou este aqui?

Fábio, você está se aproveitando de mim... Estou carente... Ah, Fábio, assim, vai. Oh. Você beija tão bem. Ai, pára, está todo mundo olhando. E a câmera? Esta ligada? Desliga, isso vai.

Você só tem um defeito.

Qual?

Fala demais. E a câmera está desligada.

3 comments:

Anonymous said...

obrigadim, manona.

Eugenia Zerbini said...

Lucia, agora não estou entendendo. É Paula e Franchesco(uma troca inspirada em Dante,como no capítulo XII,em que fazem amor), ou Paulo e Franchesca,diretamente da Comédia, como você passa a chamá-los no XVI)?. Há uma troca de sexos/nomes no meio do caminho. Tipo assim, Orlando, que vai virando homem e mulher no correr dos séculos.
Beijos, Eugenia.

Nadanonada said...

Oi, Eugênia
São duas coisas diferentes. Os personagens da Mariana são Paula e Francesco, mas no capítulo XVI eles estão comentando a Comédia, daí falarem em Paolo e Francesca....