Saturday, October 31, 2009

Blog de amigo

Vez por outra coloco aqui no texto o nome de um blog que acompanho, mas que não consigo acrescentar na listinha do lado porque esqueci como é que se faz isso. Hoje falo do blog do Marcio e da Brenda
A-DO-RO!
Márcio há tempos que mandava as imagens para os amigos, e agora, mais recentemente, junto com a Brenda, formaram um blog sempre interessante, sempre de bom gosto. A Brenda tem uma galeria ali no Horto, que ainda não visitei (Que vergonha!) mas que muito recomendo, pois sei que só pode ser legal. Há coisas assim, você não precisa ver para crer, nem para amar, pois já sabe, de antemão, que foi criada na mesma sintonia em que você funciona. 
Escritores, por exemplo, alguns posso comprar mesmo sem folhear o livro, pois sei que vou gostar. Posso até estar cansada de seu estilo mais particular, ou mais difícil, mas. ao começar a ler, o texto estabelece uma ligação comigo em profundidade, em simpatia, em humanidade.
Agora peço um socorro ao meu amigo Guido: você por acaso se lembra de um artigo interessantíssimo que você me mandou, sobre leitura? Aquele que falava dos novos modos de leitura e como hoje nosso cérebro está desenvolvendo novas sinapses que mudaram nosso relacionamento com o texto? O artigo era longo, e em inglês, e eu adorei e não paro de falar nele com todos os meus amigos, mas quero mandar para eles e não sei onde foi que o guardei. Será que você podia me mandar de novo? E, caso você me mande aqui pelo blog, já vou avisando a todos os leitores que saibam inglês que vocês pre-ci-sam lê-lo. É excelente, e muito esclarecedor, importante para quem escreve e para quem publica, pois descreve um passo da evolução humana. Há gente que discute o termo evolução,  e eu aceito esse questionamento. Muitas vezes não progredimos, mas mudamos, pura e simplesmente. E até pioramos, eu acho.
Essa nova maneira de ler acontece, e não sei aonde vai nos levar, e é bom chamar a atenção sobre isso e compreender nossas novas aptidões e possibilidades.
Hoje vou gazetear e fugir para ir ao cinema. Preciso ler, preciso trabalhar, mas estou morrendo de dor de garganta, então vou ser boazinha comigo mesma e me dar um prazerzinho. Os pequenos prazeres possíveis, como disse num cartãozinho para minha queridíssima aniversariante de outubro, Stella.  Como já disse aqui antes, sou muito feliz por ter os amigos que tenho, tão especiais!

Friday, October 30, 2009

Detesto imeio edificante!

Não sei quem acha que gosto de receber daqueles imeios que supostamente nos "inspiram" e nos dão motivação. Na verdade, aquelas imagens de pobres sorridentes e abnegados, ou aquelas frases mal escritas me deixam irritada. Será que meus amigos me conhecem tão pouco? Vivo dizendo que não gosto de livro de auto-ajuda, que não leio Paulo Coelho e que não gostei de Perdas e ganhos, ou seja lá qual é o nome daquele livro chato da Lia Luft. Gosto, com muita moderação, de imagens belas, ou de arte, ou de gente. Rio com piadas, mesmo aquelas requentadas, que já recebi muitas vezes. Acho graça em coisas mordazes, um pouco ácidas, pois, como sou de temperamento mansinho e doce, necessito de uma dose de crueldade para me equilibrar. E, graças a essa necessidade é que achei muita graça no filme do Tarantino. Incensado como uma obra prima, ele aguçou minha curiosidade e, como a ocasião faz – não o ladrão– mas a espectadora, outro dia passei na porta do cinema e entrei, e assisti e, sim, gostei. Na verdade, adorei o vilão do Tarantino, um alemão poliglota, educado, refinado. Aliás, todos os alemães eram assim, civilizados. Só o Hitler dele é que continuou estereotipado. Em compensação, os americanos, chefiados pelo Brad Pitt, eram o cúmulo da rusticidade, da barbaridade, em todos os sentidos, até no sentido original do termo: "barbarophonoi". Era assim que os gregos classificavam os Outros, gente que usava uma linguagem que doía em seus ouvidos habituados à musicalidade do seu idioma. E era assim que o Brad Pitt soava, com um sotaque atroz, mesmo para ouvidos americanos. Com eles não havia retórica, não havia sutileza. Eram iguais a robots, programados para uma ação, uma única ação que desempenhavam com eficiência mecânica. E, sintomaticamente, o que o chefe desses autômatos não podia suportar era a falta de rótulo nos outros. Daí a marca. Só assim ele saberia quem era o inimigo, e poderia continuar atacando. Gente, será que o Tarantino é mesmo assim tão esperto? Mas, e isso é certo, ele entende de narrativa, e de cinema. Conta bem suas histórias, mesmo aquelas que não me agradam. Viva o filme, que devia ter sido traduzido com o erro , pois o erro é fundamental. Sei lá, Bastardos Ingrórios, teria sido mais fiel que a pomposidade sem comentário de Bastardos Inglórios. Mas, de tudo, o que mais me fez sentir aquela fagulhinha de felicidade que a gente tem face a algumas coisas que se sobressaem e nos surpreendem, foi a tranquilidade dele em mudar a História em história, assinando o texto. Isso era uma coisa que Hollywood sempre fez, mas dentro de um limite para não acordar a descrença no espectador.  Mudavam tudo, de acordo com a interpretação de quem estava narrando, mas mantinham a moldura que sustentava a verossimilhança. Mas, no filme tarantinesco, Hitler morre no atentado, e com esse detalhe tudo se subverte. Temos que reavaliar a guerra, a bomba, todo o resto. Ou apenas rompemos nosso vínculo com a história, e vemos a narrativa como texto a ser analisado, a ser entendido com a inteligência e não com a crença. Valeu, cara! Me edifiquei muito mais com essa tarde no cinema do que lendo a comovente mensagem de que, enquanto eu me queixo de dor na perna, tem gente sem perna que está jogando futebol… Minha única queixa é quanto à qualidade do meu cérebro, mas, segundo esses imeios, eu devia me dar por satisfeita, pois tem muita gente sem cérebro convencida de que pode ajudar os outros a pensar…
 Vixe! Tou braba, hoje. Deve ser coisa do signo de Escorpião, que está nos regendo.

Tuesday, October 27, 2009

Vampiros

Passei a noite assistindo a um programa sobre vampiros. Claro que hoje, por falta de uma boa noite de sono, me sinto sem energia, uma legítima vítima dos vampiros noturnos… O que mais me impressionou (tirando os detalhes nojentos de larvas e líquidos) foi o bispo inglês que hoje ainda acredita em vampiros. Lá estava ele, dando entrevistas, com suas suíças enormes, lembrando da vítima que havia salvo nos anos 60 ou 70, sei lá. Ela aparece, ainda novinha, ao lado do namorado, um cabeludo charmoso. Não mostram a moça hoje em dia, mas fiquei com a certeza de que a verdadeira vítima do vampiro não foi ela, e sim o namorado. O rapaz virou um velho mirrado, de cara chupada. A cabeleira continuou comprida, mas ficou ralinha e grisalha, começando no meio do cocoruto, fazendo seu rosto ainda mais comprido, mais desolado. Enquanto isso, o bispo ficou com cara de personagem de Dickens. Mais encorpado, demodé, bizarro. E a moça? Não apareceu. Mas eles garantem que ela foi salva. Ninguém mais apareceu para morder seu pescoço durante a noite, nem para deixá-la amanhecer exausta, com olheiras e corpo lânguido. Coitada. Será que ela foi mesmo salva ou apenas se transformou numa inglesa de meia idade, perdeu sua flexibilidade, os seus olhos escuros e líquidos, e agora ostenta um respeitável e horroroso chapéu, esconde o olhar atrás das grossas lentes dos óculos, e firma seu corpo sólido sobre sapatos abotinados, sensatos? Tenho pena dela e da saudade que deve sentir de suas noites de violentos combates contra o "mal"…
Depois fico pensando em Bram Stocker e em Mary Shelley. Suas criaturas tão poderosas ignoram seus criadores e vivem por aí, em filmes e historinhas bobocas, em documentários, em reinterpretações. Ninguém fala sobre os dois autores. Muita gente nem sabe que foram invenções. Já outros personagens criaram seus autores. Ulisses engendrou Homero, o Quixote presenteou Cervantes com uma provável biografia… 
Enquanto isso, bocejo, me espreguiço, e lembro do conselho que a especialista em concursos públicos nos deu esta manhã: caminhe para oxigenar o cérebro. Será que vou? Nada! Vou ler os artigos que selecionei para me preparar para a defesa de meu projeto. Duby, ou Norberto Elias, ou Labriola, ou … 
Fui!

Monday, October 26, 2009

Tempos escolares

Às voltas com comemorações escolares, lá fui eu ao YouTube, mais uma vez. Adoro esse tal de YouTube. Como não uso mais a aparelhagem de som desde a morte do Gui, é assim que escuto alguma música, e que consigo enlouquecer os vizinhos, repetindo-as mais de dez vezes, quando estou "in the mood".
Desta vez fui procurar as letras das canções que ouvi: Father and Son, do ex-Cat Stevens, que virou muçulmano e mudou de nome para Yussuf alguma coisa. Eu não sabia disso, ou, se sabia, já tinha esquecido. Aliás, eu nem sabia direito quem era o Cat Stevens, eu com minha mania de não prestar atenção na autoria, só na obra. A música eu já tinha ouvido, depois parei de ouvir, e, agora, escutei uma semana seguida, em ensaios e performances. A velha discussão entre experiência e acomodação, e juventude e aventura. O pai quer que o filho fique na mediocridade, não quer dar a ele a permissão para se aventurar e mudar. O que o Cat Yussuf não entende é que mudança com permissão não é nada. Não implica em desafio, portanto, não confere vitória. Ou talvez entenda, mas não muito bem, daí a canção se arrastar nesta baladinha repetitiva tararã, tararã, tararã. Nada muda. Mas, ao fim e ao cabo, nada muda mesmo. A gente pensa que sim, mas as mudanças são apenas aparentes, só revelam os mecanismos por baixo dos vernizes idealizadores. De um modo ou de outro a gente acaba settling down, e, no dia seguinte, os sonhos mudaram mas o sujeito permaneceu no mesmo lugar, só alguns quilos mais gordo ou mais magro. Mas, num determinado momento, é bom mesmo avisar aos pais, que podem ter se esquecido, que os filhos precisam partir. They have to go away.
Outra musiquinha foi "Se a gente grande soubesse", do Billy Blanco, e talvez do Jobim, não entendi direito os créditos. Uma palavra mansa faz milagres, diz a canção. E as crianças aprendem a dizer não com os pais, avisa. Num dia em que as manchetes tristes dos jornais falam da luta de um pai contra o vício do crack de seu filho, que, drogado, matou a namorada, me questiono se a educação pode ser uma coisa suave e permissiva. Acho bom o NÃO. Acho boa a frustração, pois a vida também tem dessas coisas e a gente não pode ficar achando que protege o filho de tudo com carinho. Eu cresci assim, no meio da delicadeza, e fiquei sem carapaça que me protejesse. São Piaget e Santa Montessori que me perdoem, mas é muito mais difícil construir essas carapaças mais tarde na vida. Toda hora desanimo. Mas o SIM também é uma maravilha. Ter alguém que sirva de wind beneath your wings, que lhe permita alçar voo e alcançar o céu. Só que, sem o NÃO, ficamos sem consciência crítica, e achamos que sempre merecemos o paraíso, daí que as pessoas vão baixando os padrões, até chegar nessa nossa falta de tudo, com todos se achando no direito de tomar o que é dos outros…
Para terminar, lembrei de uma que não escutei, mas que amei quando era garota: To Sir with love. Tá nesse endereço aqui
Se eu fosse mais espertinha, ao invés do link colocaria aqui o vídeo, mas … Vou me dar um tapinha nas costas e dizer a mim mesma que sou um prodígio, autodidata em gracinhas cibernéticas, usuária de i-phone, YouTube, GPS e que isso tudo está muito bom e que eu não preciso aprender a baixar os sons para o ipod que nunca consegui usar, com a desculpa de que odeio os tais de head phones. Mas odeio mesmo, e se quisesse muito escutar música já teria aprendido, pelo menos aquele básico que me permite ser funcional e medíocre nas gracinhas que uso.

Sunday, October 25, 2009

Literatura e internet

Ontem fui a uma palestra no EDEM, colégio em Laranjeiras, organizada pelo Miguel Conde e da qual participaram o Cesar, o Henrique e o Marcelo. Todos são meus amigos e me sinto orgulhosa disso. O César é dos tempos da UFRJ, Henrique, Marcelo e Miguel são mais recentes, mas nem por isso menos queridos. 
Esse tema tem andado presente nos corações e mentes das pessoas que conheço: Na universidade, viraram tema de aula, assunto de pesquisa. Nas conversas de bar, são referências. Na minha vida, percebo aos poucos, são uma presença, cada vez mais constante. Uso a internet há muito tempo, pois entrei em contato com ela lá em Yale. Não era essa coisa assim tão fácil, mas já facilitava a vida e a pesquisa. Agora, vejo nos jornais e escuto nas reclamações de amigos, ficou tão fácil que se tornou uma ameaça, pois o plágio se difunde. Essa noção de plágio surge tardiamente. Só quando a arte passa a ser mercadoria é que se defende a propriedade. E, mesmo com a valorização da "assinatura", no princípio a cópia –plágio sem intenção de lucro – era um instrumento de ensino. As crianças copiavam. Os artistas copiavam. Os músicos copiavam. Era uma maneira de aprender e também de disseminar e de homenagear os autores.
Mas saio de meu assunto.  A relação Literatura e internet tem sido, basicamente, interpretada como literatura feita em blogs ou copiada em blogs. Já reparei que escritores mais famosos e mais estabelecidos usam essa publicação virtual como uma maneira de se safarem da penosa súplica por ajuda para publicação. Os conferencistas X, Y, Z ao receberem as avalanches de poemas e textos que ainda não encontraram editor, se saem com essa: "Hoje em dia o melhor meio para se começar a publicar é postando as obras na internet." Mas, e isso parece ser uma regra, mal o autor iniciante consegue ser publicado, ele para de publicar seus textos na rede, cioso de sua obra. Eu sou uma autora meio híbrida. Tenho livros-objetos e livros-virtuais. E ainda tenho livros na gaveta (metáfora para arquivos de computador, pois já não escrevo mais em papel há muitos anos). Os livros na gaveta são de poemas. Os livros objetos são de contos. Os virtuais também, mas, de um modo geral, são mais humorísticos, ou, pelo menos, acho que trabalho com mais humor quando escrevo para Histórias Possíveis. Mesmo que seja humor negro e cruel. No meio de tudo isso ainda tenho "livros em andamento", contos e romance, ensaios acadêmicos, tudo isso que consome meus dias e meus pensamentos.
No blog, converso. E converso, quase sempre, sobre literatura, arte, e minhas reflexões. No Facebook e no Twitter, tento me manter ligada aos amigos que se espalham pelo mundo. Confesso, no entanto, que estes dois são mais negligenciados, ficando sempre em último lugar na minha lista de prioridades. 
Esse post já está muito longo. Volto ao assunto outra hora. Agora vou "viver de verdade", ver gente de carne e osso, conviver.

Monday, October 19, 2009

Despedidas

Meu fim de semana foi de frio e chuva. Tanto frio que mal nos animamos a sair do hotel (horrorozinho) em que ficamos. A cidade me chamava, com seus encantos. A dois passos do Central Park, nao consegui ir ate la passear, pois minha amiga nao resistiria. Tambem nao fui mais a nenhum museu, acabei indo para o indefectivel Macy's, onde comprei um casaco que agasalhasse, pois os meus so tapeavam. Para escapar do frio, cinema, a dois quarteiroes do hotel (Coco antes de Chanel). E, para merecer o paraiso, o purgatorio da espera na loja da Apple, que nao consertou meu computador. Para desenfastiar, Rockfeller Center e todos os turistas do mundo. Ficar olhando os patinadores no gelo e sempre divertido. Agora, aqui do aeroporto, contemplo um lindo amanhecer. Hoje a chuva parou e as temperaturas devem subir. Deixamos NY em toda sua beleza e seducao. Desculpem a falta de acentos e etc. Obrigada pelos comentarios, que sempre me estimulam. No Rio escrevo mais.

Friday, October 16, 2009

Cecília e Nova Iorque

Cecília Meireles era linda. As suas fotos, os desenhos de sua face longa e aristocrática, seus olhos verdes de gata, tudo me encanta. Seus poemas também. Gosto deles, da sonoridade de seus versos, dos temas abordados. Me orgulho de seu trabalho onde posso detectar tenacidade, perseverança, dedicação. Mas, neste Congresso, descobri um lado seu que não gosto: seu lado de educadora. Não me levem a mal: acho muita dedicação de sua parte a criação de bibliotecas infantis, e também gosto de seus livros para criança. O que não aguento são as idéias "quadradinhas", formais, "bem comportadas". Imaginem que ela não gostava dos personagens de Lobato, achava-os crianças malcriadas. Fiquei ofendida, quando descobri isto. Acho que cresci influenciada pela irreverência libertária da Emília. Não me identificava com a Narizinho, que, no entanto, era minha xará. Achava que ela era meio boboca. Mas a Emília! A senhora Marquesa de Rabicó, que nunca deu bola para aquele marido que lhe arranjaram, e cujo affair com o Visconde de Sabugosa sempre me impressionou, era meu ídolo. Um de meus primeiros sonhos impossíveis foi esse de ser boneca.
O dia de ontem foi chuvoso e frio. Muito chuvoso e muito frio. Não deu para passear, embora eu tivesse que voltar para o hotel a pé desde lá da BEA, pois não consegui táxi. De noite, fomos a um musical: South Pacific. Antigo, sim, mas seu principal personagem masculino era interpretado por um brasileiro, Paulo Szot, um barítono maravilhoso, que também tem uma bela figura. Gostei. Sobretudo, gostei do teatro, que faz parte do Lincoln Center (Vivian something, esqueci o nome), e que é tão bem construído que a gente quase que se sente dentro do palco. Moderno e bem confortável, dá gosto ir lá.
Hoje foi o último dia do Congresso, que, aliás, pode ser assistido no YouTube. Eu ainda não vi, mas é porque meu computador está no conserto, e estou usando um emprestado, só quando dá… Por isso mesmo termino por aqui, pois tenho que devolver este computador a seu dono. E deixo para falar outra hora na Neue Galeria, onde fui hoje pela manhã, ver os expressionistas, na exposição de Klimt a Klee. Adoro esse pequenino museu, uma casa na esquina da 86 com Quinta Avenida, e sua coleção deslumbrante de Schiele, de Klimt, de Kokotscha. O dia esteve frio, mas quase não choveu. E eu passeei, depois do fim da conferência, em Times Square, para saudar as luzes de NY. Depois conto mais.

Thursday, October 15, 2009

Isamu Nogushi- Water Stone

Volto à pedra. Essa escultura realmente me fascina, e não sei porque não aprendi de cor o nome de seu criador. Mas me lembro que esta sua escultura foi uma de suas últimas obras, talvez tenha sido a derradeira, mesmo. Ele já estava velhinho quando fez essa maravilha. Ontem falei da pedra principal, mas deixei de lado os seixos rolados onde ela repousa. E disse que ela feita de granito, em minha ignorância geológica. Na verdade, ela é feita de basalto, aquela pedrinha preta das calçadas do Rio. Um de seus lados conserva a aparência exterior, aquela carinha de pedra comum, dessas que a gente encontra pela natureza.
Mas quero falar de gente e de suas falas. Uma das coisas que mais me surpreende no meio acadêmico americano é a sua capacidade de pesquisa. Sendo assim, não é de estranhar que muitas vezes algumas escritoras brasileiras sejam mais populares aqui que no Brasil. Creio que seja o caso de Nísia Floresta, uma escritora feminista do século XIX. Nunca tinha ouvido falar de Nísia no Brasil, embora pelo menos uma professora brasileira, de Minas Gerais tenha uma extensa obra sobre ela. Aqui descubro que ela fascina, e com muita razão, as imaginações de muita gente, e que é estudada seriamente até na Inglaterra. Seus livros foram sucesso na França, onde ela morou, e mereceram várias edições. Ela é natural do Rio Grande do Norte, fundou um colégio no Rio de Janeiro, escreveu em jornais, fez comícios pró-abolição, mas seu trabalho de educadora foi duramente criticado no Brasil. Que se há de fazer?
Ontem o dia do Congresso foi dedicado a ela, mas antes de começarem as palestras, a convidada de honra, Ana Maria Machado, fez uma magnífica conferência. Ela é brilhante, firme, segura de si, mas muito simpática, extraordinariamente afável e acolhedora.
No meio do dia, uma sessão com tradutores. O legendário Gregory Rabassa lá estava, falou sobre suas traduções, contou algumas piadas e emocionou a platéia.
Agora preciso terminar a conversa. Vou me preparar para o dia de hoje, dedicado à Cecília Meireles. Quando puder, conto mais.

Manhattan

Cheguei a Manhattan bem no dia de Colombo, e fui recebida com uma parada muito chocha na Quinta Avenida. Não sei se estava desanimada porque já era o final da programação, ou se era mesmo assim sem graça e solene como o desfile dos floats que assisti em Nova Orleans. Esse tal desfile de Carnaval era uma chatura. Não sei como as pessoas ficam aguardando pela chegada dos carros alegóricos sem samba, nem mesmo um bom grupo de jazz. Alguns homens de blazer e colares, algumas louras disfarçadas de sereias, algumas flores douradas enfeitando tudo, carros exageradamente grandes e pesados, desfilando lentamente, sonolentamente, esta é a lembrança que guardei. De noite, as ruas apinhadas de bêbados e bêbadas, os mesmos homens de blazer, que haviam desfilado de manhã nos carros alegóricos, apenas com seus narizes mais vermelhos por causa da bebida, aparecendo nas sacadas e jogando colares para as louras de peitos descobertos, molhados de cerveja, balouçantes... Isso lá em Nova Orleans. Aqui em Nova Iorque, senhores solenes em pé nos carros, com estadartes das sociedades "colombianas", acenando para famílias desatentas e para turistas desinteressados. Mas o desfile não empanou o brilho e beleza da cidade. O sol frio brincando entre as nuvens provocava desenhos nas vidraças dos prédios, ou sombras nas fachadas elaboradas dos prédios mais antigos. Atravessei a parada e mergulhei no cubo de cristal da loja da Apple, para consertar meu computador. Quando saí de lá o dia já tinha acabado. Só me restava jantar e descansar. No dia seguinte, o sol se abriu, glorioso. Depois de fazer uma caminhada pela Quinta Avenida (estou pertinho dela), fui ao Metropolitan para ver os Vermeer. Preciso dizer o quanto eu adoro este Museu? Eles sabem o que fazem, e a exposição, apesar de pequena, era interessantíssima. Adorei ver os quadros que foram contextualizados entre outros quadros da época, entre outros quadros da mesma temática, e aprendi coisas que nem suspeitava. Minha "Françoise", pois sempre penso estar vendo a personagem de Proust no quadro de Vermeer, me fascinou com sua calma e suas sutilezas, todas explicadas e colocadas em primeiro plano.
Mais uma vez fui visitar minha "pedra do sono", a escultura de um japonês cujo nome sempre me esqueço, e que é uma das minhas favoritas. O nome da escultura não é esse, eu é que lhe dou esse nome. Imaginem um cubo de granito, quase perfeito, com uma excavação na parte superior, coberto por água que dá a impressão de estar absolutamente parada, mas que corre e cai, sem que vejamos seu movimento. Sabemos que a água escorre porque escutamos o rumor que ela faz, mas não podemos perceber seu movimento. Minha impressão é a de que poderia me sentar em frente a ela para sempre, me deixar ficar ali fascinada por aquela calma aparente, por aquela pedra viva, linda em sua simplicidade, absolutamente complexa em sua invisível dinâmica.
Para terminar a visita, uma chegada no terraço para ver Maelstrom, uma escultura de um raio que ocupa todo o espaço do terraço. À volta, as copas das árvores, ainda não totalmente amareladas. Mais ao longe, o perfil dos prédios, sentinelas zelosas do parque e do museu. Quanta beleza dá para carregar em nossos corações? Tinha vontade de fechar os olhos para não deixar meu encantamento se desfazer, ao olhar para outras coisas. Agora que estou aqui escrevendo, me lembrei da história que contam de Proust, absorto na contemplação de uma flor, tentando guardar sua imagem para depois usá-la em seu texto. Quem me dera a intensidade daquele olhar! O meu, vadio e indisciplinado, logo logo estava se deliciando com detalhes de caixinhas de rapé, frascos de perfume, leques franceses. E meu corpo, rebelde, exigia descanso.
Hoje foi o primeiro dia do Congresso do qual estou participando. No caminho para a NY Film Academy, onde foi a abertura, a cidade foi revelando recantos que eu ainda não conhecia, ou ponde em evidência prédios que amo, pelo seu valor simbólico ou por seu traçado elegante. O desenho arquitetônico maciço e sólido das construções mais antigas parece ainda mais concreto ao se contrapor à leveza dos prédios mais novos, que abusam das transparências e de espaços vazios. Mas já escrevi demais, a hora se adianta e amanhã tenho um dia cheio. Se conseguir amanhã escrevo mais, contando os detalhes do Congresso.

Sunday, October 11, 2009

Visitas

Passo rapidamente pelos blogs dos amigos. É como uma visita caladinha, cheia de saudades, uma espécie de passeio. Vou até Israel, no blog do André, depois velejo até Alagoas, com o Guilherme. Me embrenho por museus, acompanhando o Márcio, e por aí vai… Enquanto isso, fisicamente, me divirto com a visita que estou fazendo aqui na casa do Tom e da Margaret. E eles também recebem visitas: do Brasil, como eu, de Washington, de Stamford, do Maine. Conversamos, escutamos música, comemos, bebemos, trocamos confidências e admirações. Passo um dia cheio e eu, desacostumada de falar, termino a jornada com a garganta doendo, mas com a boca em sorriso, feliz. E deixo aqui um beijo, aos amigos que visitam meu blog.

Friday, October 09, 2009

Saudades de vocês

Minha nossa! O tempo passou e eu nem notei. Tantas correrias, e agora aqui estou em Nova Iorque, com amigos do passado, revendo primeiro Connecticut e, depois do dia 12, me hospedando mesmo na grande maçã, onde participarei do I Congresso Brasileiro em NY. Se tiverem curiosidade,  o site é: www.brasilianendowment.org Lá vocês podem ver o programa completo do Congresso. 
O que dizer desse retorno? Nem sei. Esse comecinho de outubro, com as árvores mudando de cor, e as folhas bailarinas que nos saúdam com seus vestidos de festa é realmente deslumbrante. As árvores ainda não estão no auge da mudança de cor, mas já estão lindas, algumas parecem flamejantes, outras ainda só têm uma pincelada de amarelo, ou de vermelho. 
E uma palavrinha a respeito do céu: eu tinha me esquecido do espetáculo do céu!. No Rio, ele aparece entre montanhas, não tem o mesmo apelo dramático dos céus daqui, onde as nuvens fazem verdadeiras coreografias. E os pássaros também desenham quadros – as revoadas de pássaros que, ao mudarem de direção, mudam de cores, parecem quadros abstratos, dinâmicos, apaixonantes. É bom estar aqui, nas ruas desertas e muito limpas, no ritmo educado das pessoas que aguardam que você atravesse a rua sem ficar acelerando ameaçadoramente…
Desculpem a demora em escrever. Vou procurar compensar. Obrigada, Amauri, pelo puxão de orelha, pois foi o estímulo de que eu precisava para voltar ao nadanonada.