Saturday, April 30, 2011

Na manhã seguinte

Os sinos já não tocam,
na manhã seguinte.
Os sinais da festa se espalham
pelo chão.
Restos.
Nenhuma trombeta,
nenhum casamento real,
só a vida real.
Real?
Abro os olhos e vejo o céu.
Algumas nuvens se anunciam,
O sol, esquentando, não decide
se acaba com elas com um sopro
ou se deixa que, como gatos,
elas passeiem e adormeçam
em recantos improváveis.
Lá longe
outros olhos bem abertos
piscam ofuscados
com as luzes e as jóias.
O encanto dura até o beijo
de um príncipe.
Aqui meus olhos
procuram notícias de ontem.
A morte da filha do poeta
me assombra.
Aqui, tão perto?
Por quê? O que apagou
teu sorriso?
Sonho ou pesadelo
a vida…
Observamos,
contamos,
elaboramos.
Na manhã seguinte
o sol, indiferente,
não lembra mais
aquilo que testemunhou.
Ele segue,
ou persegue
uma nova promessa
de (in)felicidade.

Sunday, April 24, 2011

Páscoa em NY

A chuva tem me acompanhado nesta viagem, mas nem posso reclamar, pois, vez ou outra, ela fica com dó de mim e se recolhe. E aí volto a experimentar o encanto que é a primavera. Flores que brotam de um dia para outro, tulipas com suas corolas rosas, roxas, vermelhas, os daffodils (cujo nome não aprendo nunca em português), crocuses (outro que nunca sei o que é), narcisos, com seu perfume forte, jacintos, procurando sua imagem no espelho… E as árvores, floridíssimas, nuvens brancas, rosas de todos os tons, belas magnólias, outras árvores brancas, em pequenos ramalhetes, profusões de cores e belezas. Desta vez as flores tardaram a aparecer, mas hoje, domingo de Páscoa, elas estavam por toda a parte. Nas árvores bordejando as ruas, nos vasos de plantas, nos canteiros dos prédios, nos jardins da cidade, nos chapéus da Easter Parade, nas vitrines das lojas, nas próprias lojas de flores.
O sol abriu e todo o mundo saiu para se mostrar, em belas roupas, chapéus extravagantes, criações exclusivas ou massificadas, misturando-se aos protestos contra a homofobia. Durante horas nos divertimos, minha anfitriã, sua filha e eu, olhando cachorros vestidos como gente, gente vestida como flor, flores se agigantando em chapéus que se pretendiam jardins, pontes, cidades inteiras… Aqui e ali coelhos de Páscoa. Aqui e ali, deusas Floras. Aqui e ali figuras do passado, elegantes, distintas, tão elegantes e distintas que pareciam os convidados do casamento real que está por acontecer. No meio de tudo, músicos, marionetes, acrobatas. O ar se enchendo com o cheiro dos cachorros-quentes e dos pretzels. Um policial, a caráter, parecia fazer parte do desfile.
De bom humor, as pessoas desfilavam, paravam, sorriam para fotos. Finalmente, os jardins do Rockfeller Center, com seus coelhos em topiária, suas flores, convidando a um instante de descanso e a mais algumas fotos. Afinal, tudo estava tão bonitinho…
Numa rua lateral, uma senhora exibia suas belíssimas pernas envoltas em meias arrastão. Suponho que ela tenha sido corista da Broadway, quando nova… Duas irmãs, com presumíveis oitenta anos, exibiam elegantes chapéus, sentadas num banco do Central Park, descansando.
No zoológico, os bichos, encalorados, deitavam-se e olhavam a fauna humana que vinha visitá-los, exibindo cores inusitadas e roupas fora do comum. Algumas famílias judaicas circulavam de jaula em jaula, com suas roupas diferentes e seus cachos emoldurando os rostos avermelhados de calor. Um dos homens mais velhos, enorme de gordo, tão gordo que até a parte de cima de sua nuca era gorda, usava, ao invés de calças compridas, calções e meias, e uma espécie de bata de cetim. Sua cabeça estava toda raspada, com exceção dos dois cachos, também gordos, que ladeavam sua face. Era impossível deixar de notá-lo no meio dos outros.
No fim da tarde, a chuva veio dispersar a parada. Já em casa, escutei o temporal caindo, satisfeita de estar bem abrigada, e recordando o dia de ontem, passado com muita chuva, mas dentro de um teatro da Broadway, me divertindo com a Família Addams. NY é muito bom!


Saturday, April 23, 2011

Mais histórias de Chicago

No dia seguinte, fez sol. Um dia lindo, e fomos visitar o Art Institut. Destaques? A linda janela de Chagall, claro, que eu estava doida para ver. Os impressionistas, os Van Gogh, os arlequins de Cézanne e Picasso, lado a lado, e a instalação de Jitish Kallat, Public Notice 3, com as palavras de Vivekananda, em 11 de setembro de 1883, um discurso feito contra o fanatismo religioso. O mais estranho? A exposição de fotos de Peter Fischli e David Weiss, com salsichões e frios. Dejà vu? A expo Kings, Queens and Courtiers, embora, graças à leitura do Meu nome é vermelho, do Pamuk, os manuscritos iluminados tenham adquirido outro interesse para mim. Sempre gostei deles, mas desta vez tentava reconhecer estilos e detalhes, embora as iluminuras pertencessem a uma outra tradição.
Resumindo? Uma manhã de sonho! Além do mais, como o dia estava lindo e o frio (muito) era amenizado pelo sol, deu para ir caminhando e olhando os prédios, cada qual mais lindo. Rapidinho chegamos ao Millennium Park, e nos extasiamos. Ao chegar ao Bean, um feijãozão espelhado que reflete a arquitetura ao seu redor e faz dos passantes parte da obra, nos divertimos, procurando as melhores imagens. Vale mencionar também as fontes, que captam as imagens dos passantes, projetam-nas e fazem da boca de seus retratos a saída do esguicho.
Depois do museu, uma passadinha no Palmer House, arranha céu que abrigou a ourivesaria do Mr. Peacock (pavão). Muito orgulhosamente o Sr. Pavão mandou fazer uns portões com o dito pássaro, e esses portões estão avaliados em milhares de dólares. Hoje em dia o edifício é um Hotel e o Lobby, grandioso, o faz parecer um palácio, com sua decoração meio híbrida, com elementos decô, reminiscências de palácios rococó, uma grande orgia de mais de um milhão de dólares (valor da restauração). Depois? Visita ao escritor João Almino, que é também embaixador, e que está em Chicago. Demos sorte, pois ele estava de partida para a Itália, onde vai fazer uma série de palestras relacionadas a seus livros. João Almino foi absolutamente encantador. Terminamos o dia com um jantar com Susan Harris, editora de Words Without Borders, que é um dínamo, cheia de vitalidade e de ideias. Ela já tem planos para as revistas que vão sair em 2014! E, apesar de todo esse planejamento, ela se mantém muito alerta e aberta às mudanças, pois o mundo vive nos surpreendendo.
Sexta feira amanheceu chuvosa, fria, enevoada. Mas nós tínhamos sido chamadas para o show da Oprah, e lá fomos nós, debaixo de chuva e de frio, para o Harpo Studio. Lá chegando, assinamos um papel que nos comprometia a não revelar nada sobre o show, e que, uma vez assinado, dava a ela o direito de nossa imagem "para sempre" For ever, and ever. Lembrei-me do corvo: Quote the Raven: Never more… Lembrei-me de Fausto. Estaria eu vendendo minha alma ao diabo? E numa sexta-feira santa? Será que estou cometendo um ato ilegal falando sobre isso aqui? Então, vou parando, antes que seja tarde. Aliás, consta, que o Obama não consegue fechar a prisão de Guantánamo porque metade dos prisioneiros de lá é composta por membros da audiência da O. que não respeitaram a cláusula de No Disclosure. Então me calo.

Wednesday, April 20, 2011

Walking on air!

Passei por toda a cidade, num ónibus double decker que quase nos matou de tanto frio. Chicago, disse-nos o guia, é um nome indígena que significa cebolas fedorentas. Na beira do lago Michigan, as cebolas silvestres brotavam e quando chegava o verão, com a humidade e o calor, elas apodreciam e deixavam o ar mal-cheiroso. Mesmo assim, um caçador de peles francês, não se intimidou com o cheiro (afinal, eles têm uns queijos que devem cheirar pior que as cebolas) e aqui montou sua cabana de caça, que era abundante. Esta é a origem da cidade, que depois se transformou na maior cidade de poloneses fora da Polônia. O que será que eles viram aqui? Acho que a oportunidade de trabalharem no Meat Packing Business, que florescia por aqui. Era tanta a matança que o rio Chicago era vermelho e completamente atulhado de carcassas e de gordura, que estava poluindo o lago. Para evitar isso, eles reverteram o curso do rio. Fizeram umas comportas, cavaram o leito tornando-o mais baixo que o lago, et voilà! O rio, agora, ao invés de desaguar no lago, corre para o sul e, através de canais, vai acabar juntando-se ao rio Mississipi, e, portanto, suas águas acabam indo parar no Golfo do México.
Apesar de ventar muito por aqui, a cidade tem seu apelido de Windy City por causa de seus políticos, faladores, que pleiteavam pela localização da World Fair aqui na cidade, concorrendo com outras duas cidades do NE dos EUA. Falaram tanto que acabaram conseguindo que a feira fosse realizada aqui e fizeram do menosprezo de um jornalista novaiorquino, que disse que a cidade era "windy", ou seja, vazia, retórica, o seu próprio slogan: Venham para a Windy City e confiram a World Fair. Bem, estou simplificando tudo porque já está tarde e eu estou cansada, mas preciso contar ainda que o incêndio de Chicago começou na Zona Sul da cidade, que era onde moravam os ricos. No lado norte, moravam os pobres que se juntaram todos na margem norte do rio para apreciar de camarote os ricos se dando mal. Acontece que o vento estava soprando para o norte, e o rio que, supunha-se, ia impedir que o fogo se alastrasse para o lado dos pobres, estava atulhado de carcassas e gordura, acabou pegando fogo. The river is on fire! foi o grito de pavor dos pobres que acabaram sendo as maiores vítimas do incêndio. No lado sul os prejuízos foram pequenos e muita coisa se conservou. No lado norte, apenas duas construções se salvaram, a torre da água e a estação de tratamento. E um grande pedaço da parte norte acabou virando aterro do lago, e criando um novo bairro. Acho que a Torre Hancock está nessa parte aterrada. Se não está, está mesmo ao lado. Não subimos na Hancock porque eu estava determinada a andar no assoalho de vidro lá no 103º andar. Muito alto. Mas lá fui eu, andar no ar. Morri de medo, mas fingi que nem era comigo. Entrei no caixote de vidro dando marcha a ré, quase sem olhar para baixo. Mas depois olhei. E tenho fotos para provar.
Boa noite a todos, vou descansar.

Chicago

Cheguei ontem, debaixo de chuva e nevoeiro e o vento que dá nome à cidade. Primeira impressão? Chicago foi construída numa tentativa de alcançar o céu. Altos e e-nor-mes, os prédios minimizam tudo a seu redor, assim, refleteindo, vejo que o rio à beira do qual fica o meu hotel é muito largo, senão teria sido reduzido a dar a impressão de riacho. Edifícios enormes, avenidas larguíssimas, requerem, sem dúvida, muitos carros para percorre-las. Daí minha segunda impressão: os edifícios garagem que exibem seus carros numa aflitiva ameaça de que todos estão prestes a despencar. Estes edifícios, redondos, não possuem paredes externas e os carros estacionam mesmo na beirada. Deve ser preciso ter nervos de aço para manobrá-los e deixá-los ali, à mercê do vento encanado e da chuva ou eventual neve. Entendo agora a alegria do pessoal de Milwaukee, falando das garagens aquecidas… E lembro ainda da minha alegria ao subir uma escada rolante de lá e descobrir que o corrimão era aquecido. Vibrei de alegria e conforto. Bem, hoje vou aproveitar o dia sem chuva para passear e ver a famosa arquitetura da "cidade ventosa" (fica muito feia essa tradução de windy city). Mas está muito frio, e vou me aquecer no Museu de Artes e no Aquário. São esses os planos, depois conto se dá certo. Só mais uma coisinha para mostrar o gigantismo da cidade: meu hotel ocupa três quarteirões, interligados por passagens subterrâneas e aéreas. Estou na ala oeste, imaginem. Ainda bem que tem entrada separada!

Tuesday, April 19, 2011

Gaivotas

Cada cidade tem sua música e a que me embala aqui em Milwaukee é a dos gritos das gaivotas. Acordo com elas me chamando, voando em frente à minha janela (as minhas janelas, o quarto é tão grande que tem duas!). Preguiçosa, friorenta, abro as cortinas, pego o computador e volto para a cama, quentinha…Mas hoje tenho pouco tempo, daqui a pouco vêm me buscar: café da manhã, mais um passeio pela cidade, pelo menos até a Universidade Marquette, e depois, estação de trem, rumo a Chicago. Venho só para contar a vocês que meus encontros com os estudantes de UWM foi muito legal. Primeiramente fui ao "bate-papo", onde alunos em geral e um ou dois professores de português se reúnem para conversar e praticar o idioma. Muitos são alunos de espanhol, que sentem que o bate-papo é uma maneira de aprenderem sem a obrigação das leituras e dos deveres de casa. Três visitaram o Brasil e se encantaram: Salvador, Florianópolis e Rio, três destinos diferentes, mas igualmente encantadores, segundo eles me garantiram Depois, na sala de aula de português, um encontro com leitores que trabalharam meu conto em sala de aula. Mas o conto tinha sido lido em tradução e a "aula" foi em inglês. Finalmente, no adorável Greene Hall, uma antiga biblioteca que agora é uma espécie de sala de conferências, com uma lareira de uns quatro metros de largura, a primeira leitura em inglês de Borges's Secretary! Ensaiei ontem de manhã, e consegui ler sem me atrapalhar muito. E vi que as pessoas gostaram da história, o que me deixou muito satisfeita. As perguntas, depois, me deixaram um pouco nervosa, mas acho que consegui não parecer uma completa idiota, embora eu saiba muito bem que sou muito melhor escrevendo que falando. Mas deu para o gasto. E depois fomos jantar num elegante e excelente restaurante, ao lado do Calatrava, à beira do lago-mar, que ontem exibia suas ondas. Lauren me contou que no inverno elas congelam, à meio caminho. Impressionante.
Bye, bye, então. Vou fazer as malas. Espero ter internet em Chicago e voltar a contar minha viagem. Acho que vão postar fotos no FB. Eu só posso passar as minhas para o computador quando voltar para o Rio, pois esqueci o adaptador.

Monday, April 18, 2011

Neve!

Acreditem, ontem fez um dia lindo, sol aberto, nem uma nuvem no céu como vocês vão poder ver nas minhas fotos, depois que eu voltar para o Rio. Hoje está tudo branquinho de neve. Queria sair para brincar, mas não trouxe minha botas, bu-huu! Está nevando intensamente. Flocos pequenos, pesados, devem estar virando flurries, que não sei como traduzir. Flurries é uma espécie de neve molhada, que logo se desfaz e custa a acumular. Mas o chão e os telhados estão cobertos de neve, o que significa que ela começou a cair já faz algum tempo, durante a noite, sob a forma normal e agora que o sol saiu, a temperatura está subindo e transformando os flocos em flurries.
Bem, chega de meteorologia! Meu amigo me disse que quando veio para cá, estranhou as conversas ao princípio, pois sempre começavam com o mesmo assunto: "o inverno ainda não chegou" e depois mudaram para "o inverno vai demorar a passar". Agora ele compreende. E até mesmo eu compreendo, saudada com neve em pleno dia 18 de abril!
Ontem fui ao museu, lindo, me deu a impressão de entrar num pterodátilo em repouso, de asas fechadas (pois o vento não permitiu que elas se abrissem). A obra de Calatrava tem uma certa ambiguidade, pois nunca decidimos se estamos numa coisa "viva" ou se estamos, por exemplo, num barco. Numa floresta ou numa catedral. A beleza e a leveza de suas construções são indescritíveis, aquelas toneladas de concreto, ferro, aço e sei lá mais o que, se elevam como se flutuassem no ar. E parecem estar apenas pousadas sobre a terra, impermanentes, prestes a alçar voo. Dentro de suas construções, quem habita é a luz. Em forma direta ou indireta, ela ocupa os espaços, desenha seus caprichos, dona absoluta de todo o interior. Talvez por isso a crítica que li numa revista local: é um museu que não abre espaço para a arte. Aparentemente, a sala de exposição foi uma intervenção de um arquiteto local. Assim como o café e outros espaços "utilitários". Confesso que, ao entrar, só tive olhos para a beleza do museu. Mas não me furtei de examinar o grandioso móbile de Calder, nem a belíssima e coloridíssima peça de vidro de Dale Chihuly (American, b. 1941)
Isola di San Giacomo in Palude Chandelier II, 2000
Blown glass
103 x 86 in. (261.62 x 218.44 cm)
Gift of Suzy B. Ettinger in memory of Sanford J. Ettinger M2001.125
Creio que as obras, para serem expostas ali naquele espaço monumental, precisam de ter dimensões especiais.
Enquanto escrevia, a neve acabou e agora cai uma chuvinha miúda e gelada, que me dá arrepios só de olhar… As ruas já não têm mais sinal de neve, mas os telhados ainda estão brancos (meu quarto fica no décimo andar numa cidade com poucos arranha-ceus)
A exposição de Frank Lloy Wright é linda. Maquetes, desenhos, peças de mobília, alguns vitrais, até tapetes, tudo isso entre fotos e filmes. Vemos sua genialidade, sua incrível capacidade de trabalho, sua evolução para um futurismo desenfreado, sua capacidade de transformar o pesado Art Deco em espaços leves e, sobretudo, habitáveis. As casas mostradas em filmes são todas acolhedoras, apesar de a arquitetura estar presente em todos os detalhes. Vemos como ela ultrapassa os limites dos prédios e incorpora a natureza, seja modificando-a em jardins planejados ou trazendo-a para dentro da casa, não só em imagens, mas em alguns casos, em sons. E julgamos perceber nele alguns traços que desabrocharão em Niemeyer e no próprio Calatrava.
Depois de andar por ali fui visitar o acervo do museu e uma das obras, o quarto do infinito (Stanley Landsman Walk in infinity chamber) me fez sentir uma astronauta. Mas tirei foto de algumas outra obras intrigantes. Depois mostro e conto minhas impressões.
O dia depois foi uma série de passeios de carro, conversas, uma agradável festinha na casa de meus anfitriões, muitas, muitas risadas, uma alegria só. Claro que passei numa livraria e, depois de resistir bravamente e não comprar The three Weismann from Westport (que pretendo encontrar em audiobook), acabei sucumbindo à tentação e comprando um livro Literary Tatoos. Eu e meus fetiches…
Me despeço aqui, por hoje, fazendo uma pequena menção ao Kafka da Colonia penal, a quem pretendi homenagear com minha compra. E agora vou praticar a leitura de Borges's Secretary, para não fazer feio hoje à tarde!
See you!

Saturday, April 16, 2011

Milwaukee

Olá, amigos. Estou de volta ao blog. Andei sumida porque estava preparando as palestras e as viagens e tratando dessa coisa chamada vida real. Estive nos últimos dias em Kentucky, na cidade de Lexington, onde fica a conferência de línguas estrangeiras. Fiquei sabendo que aqui o pessoal conhece essa conferência como um M.L.A. sem inglês. A gente encontra com pessoas de todo o país, troca ideias e ouve muitas coisas interessantes, descobre autores e se informa de pesquisas e, também, infelizmente, fica sabendo de problemas para os professores de português, e em geral. A crise e a ganância andam ameaçando departamentos por aqui, mas o pessoal tem muita garra e sempre consegue resistir. Hoje, por exemplo, no cafezinho, conversei com uma professora de italiano que está há anos tentando conseguir um "major" (não é patente de exército, é tipo conseguir que italiano se torne um curso que dê diploma na universidade dela). Ela ainda não conseguiu, mas lá estava ela, numa fria manhã de sábado, procurando amigos, assistindo palestras e "lutando", quando podia ter ficado mais um tempo na cama quentinha. Ela estava lá e lamentava que nem sequer uma aula de história do renascimento (italiano ou não) estivesse sendo dada no departamento de História. Espero, sinceramente, que ela consiga sucesso.
Assim como espero que as pessoas, que estão preocupadas com o ensino à distância, que as universidades gulosamente estão adotando, na tentativa de conseguirem mais dinheiro, demonstrem aos departamentos financeiros que esta deve ser apenas mais uma opção, e não uma substituição. E como espero que a aluna de pós graduação, que compareceu à conferência rebocando seu bebezinho, veja seus esforços coroados e seus trabalhos devidamente apreciados.
Mas agora estou em Milwaukee, e doida para conhecer a cidade, que tem um deslumbrante museu construído por Calatrava ( e quem acompanha o meu blog sabe que sou fã dele!) Vou colocar mais umas meias, luvas, suéteres e casacos para sair nesta fria primavera de Milwaukee, que ainda parece adormecida, sem produzir flores nem folhas, escondendo-se do vento que faz o museu recolher suas asas (sim, ele tem asas, como um pássaro!) Juro que vou tirar fotos e que colocarei aqui, para serem vistas. E mando a todos meus abraços e minhas saudades, e as promessas de que vou escrever amanhã também.