Saturday, November 17, 2007

Ficou linda, não é?


Estou tão orgulhosa de minha foto!... Que não é minha, claro, nem estive lá em Veneza recentemente. Um dia hei de ir, e fazer as coisas que eu digo que a minha personagem andou fazendo. (E ver se consigo fazer as coisas que a Eugênia fez, pois acho que ela se divertiu muito mais que minha pobre Paula.)
Bem, vamos a mais um capítulo?
Antes, um agradecimento ao Joel, da Voz de Santiago. Recebi ontem o jornal com a entrevista, e posso garantir que essa foto que publicaram foi a melhor foto que tirei nos últimos tempos. Se eu conseguir escaneá-la, vou colocar aqui, para todos vocês verem e mandarem parabéns ao Joel e sua fotógrafa maravilhosa. Gostei muito da entrevista, que me fez parecer inteligente. Ele e o Leonardo Lichote, do Globo, fizeram de minhas respostas assustadas e confusas um texto inteligível e claro. Obrigada aos dois.
Antes do capítulo: esta é a Estação de Santa Lucia, com os vapporetti em frente. Foi esse o cenário do primeiro texto da Paula..

Capítulo VI

Fala!

Como você sabia que era eu?

Quem mais sabe o telefone do meu hotel?

Tá zangadinha?

Estou irritada com você. Esta manhã você me atacou de todos os modos. Você diz que eu te trato como um ralo de pia, mas você é que despeja tudo em cima de mim, com violência. Passei o dia arrasada.

Não saiu?

Saí.

Sozinha?

Não.

Com quem? Com o japonês?

E se fosse?

Dizem que o dos japoneses é muito pequenininho.

Grosso! Você ligou prá isso? Vou desligar.

Não desliga, não. Liguei prá pedir desculpa.

Não parece.

É que não sei bem o que dizer.

Que tal dizer: você me desculpa de ter sido um grosso, escroto e mal-educado?

Pega leve!

Estou pegando levíssimo!

Você tem razão em ficar brava. Não sei o que me deu. Estava nervoso. Acho que foi porque o Botafogo perdeu.

Bem, se você vai ficar assim toda a vez que o Botafogo perder, ninguém mais vai te aguentar...

Não começa. Olha que eu liguei na maior boa-vontade. Mas ficar zombando do Fogão não dá.

Então tá. Você já pediu desculpas. Boa noite.

Mas você não disse que desculpava.

Porque não desculpei. Acha que é assim?

Escreveu mais?

Não. Passei o dia todo fora. Acabei de chegar.

Fazendo o quê?

Fui ao cemitério.

Eu sabia que você ia lá!

Sabia como?

Era natural. Você escutou as Quatro estações, de Vivaldi.

E o que isso tem a ver com minha ida a San Michele? Vivaldi nem está lá no cemitério! Pelo menos, acho que não.

É, mas a música fez você lembrar de Concerto Barroco, do Carpentier. E aquele piquenique em cima dos túmulos. Você é bem capaz de ter levado um sanduíche para comer entre os túmulos!

Como é que você sabia disso? Eu não te falei...

E precisa? Até parece que eu não te conheço. Você adora esse livro.

Tem razão.

Eu sabia que seu próximo destino ia ser o cemitério. Como também sei que sua ida ao Café Floriano vai provocar uma visita ao Museu Fortuny, ou vice-versa.

Virou médium?

Não, mas é fácil deduzir: Vai ser o lado proustiano da viagem. Você adora Proust. Proust frequentava o Floriano. E endeusava os tecidos de Fortuny. E você vai querer aproveitar para fazer ...pesquisa de campo! Era isso a que você estava se referindo, não é?

Sabe de uma coisa?

O quê?

Nada, não.

Fala, vai.

Por que é que essa história de pesquisa de campo te incomoda tanto?

A mim? Tá louca? Incomodar por quê? Olha, tenho que corrigir provas. Vai dormir, e sonha comigo, viu?

Só se eu quiser ter pesadelo...

Não seja mazinha. Já te pedi desculpa. E estou doido para saber do resto da história. Estou gostando muito desse começo. Boa-noite, Desdêmona.

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