Thursday, September 24, 2009

Quase livre

De repente, neste dia tão cinzento e tempestuoso, vislumbro um raio de sol: liberdade? Ainda não, mas um passo já foi dado. Entreguei textos, agora tenho que me dedicar a formatar os capítulos. Depois, três cópias. Depois, não sei. Mas começo a olhar a tese como algo que será feito. Vejo as páginas cobertas de letras, imagens e sou capaz de escutar música (tantos clássicos, tantos boleros, tantos devaneios de jazz que se inscrevem por entre as linhas!) Queria uma casa de chá onde pudesse me sentar com Cortazar e Carpentier, Callado e Oswald, Machado e Proust. Nas paredes, muitos quadros coloridos. Eu tomaria um uísque (apesar de não gostar), ou tomaria duas taças de champanhe rosé, porque sou fresca e gosto de bebidas cor de rosa. Ou tomaria um chá de capim limão e escutaria, calada e sorridente, e ficaria embevecida, escutando a algaravia das conversas desencontradas. Depois, já um pouco tontinha, deixaria esses sábios para lá e voltaria para casa, para ler um pouco. Ler alguém que ainda não conhecesse, sem compromisso, como uma criança descobrindo um livro de histórias. Ou para escrever a história de Mariana, tadinha, abandonada, mas não esquecida. 
Por enquanto, fico só nesses pensamentos. E reviso as normas, para poder revisar os trabalhos. Amanhã recomeço.

Thursday, September 17, 2009

Aniversários e o canto das sereias

Só pra descansar um pouco desta minha faina…
Hoje é aniversário da Tania, amiga dos tempos de colégio que nunca mais vi. Se você estiver me lendo, parabéns, saiba que não esqueço de você.
Amanhã é o aniversário da Rachel Jardim. Estou sorrindo, pensando nestas amigas que transformam dias comuns em dias especiais. Que bom que vocês nasceram, que bom que são (ou um dia foram) minhas amigas.
Hoje também foi o dia que me mudei para Portugal, há tanto tempo atrás. Lá conheci o Guilherme, lá mesmo me casei, no mosteiro dos Jerônimos, num lindo dia de julho  (Vejam como a vida da gente muda rápido: em setembro estava chegando numa terra estrangeira, sem conhecer ninguém, meses depois conheci, namorei, noivei e casei!). 
E, já que falamos de paixões avassaladoras, as sereias brasileiras estão seduzindo os escritores de Portugal e Moçambique! Esses descendentes de Ulisses (diz o mito que Lisboa é a cidade fundada por Ulisses –Ulissiponense) não seguiram o exemplo do herói, e sucumbiram aos encantos das sereias de cá. O Mia Couto, como é moçambicano, não deveria estar incluído nesta categoria, mas, como ele criou uma sereia para uso pessoal, caiu nas malhas e derrapou nas curvas brasileiras também. Arre! E suas Penélopes? Como ficam? Será que estão chorosas e tecendo suas teias ou raivosas planejam vinganças e cobram pensões? Mas esqueçam as preteridas e pensem nas preferidas, que, estas sim, estão sendo seduzidas pelas palavras desses grandes contadores de história. Imaginem as jovens cavalgando as ondas generosas de seus amados, embaladas pela declaração sussurrada, com sotaque: Amo-te, amo-te! Tomara que não enjoem!

Seminário

Bem, a quem acompanhou meus trabalhos de parto nestas últimas postagens, quero que saibam que o seminário foi um sucesso. Tudo correu bem, desde as adoráveis e elegantíssimas monitoras, atentas e eficientes, até as palestras que foram interessantíssimas e que se encadearam, formaram um corpo de pensamento que revela, em suas manifestações de loucura e rebeldia, os "desassossegos" da Lúcia Helena e do Pessoa.
Só que minha gestação é de gêmeos, e o outro bebê ainda não veio à luz. Volto ao trabalho, dando forma concreta ao pensamento para o exame de qualificação.
Fui.
Mas antes de desaparecer no espaço cibernético, um deslumbramento guloso: as contribuições para os lanchinhos do seminário fizeram do evento intelectual, o banquete de idéias, uma festa dos sentidos, um banquete literal. Vejam como literatura e comida se juntam para provar minha tese sobre o banquete! Volto a escrever sobre o assunto, mas agora com imagens de chuviscos de Campos, bolos de fubá, cafezinho da roça, e outras delícias twittando como passarinhos a meu redor. 
Agora me levanto desta mesa para me sentar em outra.

Tuesday, September 15, 2009

Trapaças da sorte

Sempre que estou trabalhando em minha tese tenho acidentes. Ontem aquele tal de "chupa cabra", o tal negocinho que a gente pluga no computador para fazer um backup, se recusou a copiar meu arquivo porque estava cheio. Tentei retirar algumas velharias, de que já não necessitava e ele me respondeu, muito petulante, que eu não podia fazer isso. E, sem que eu fizesse mais nada, pois humildemente desisti dos meus intentos e quis ejetar o negocinho, o safado se apagou! Nem tive coragem de tirar o vampirinho do computador, esperando que meu filho apareça por aqui para poder salvar alguma coisa. Eu, hein, Rosa! (Isso é o que meu avô dizia, em 1900 e antigamente)
Amanhã tem Seminário na UFF. Começa com um Workshop às 10:00h, e, depois do almoço, teremos uma mesa de conferências e duas mesas de palestras, essas três abertas ao público em geral. Os debates girarão em torno do tema: Literatura:pesquisa & atualidade. Jornal, cinema,crise, política, alteridade, a solidão moderna e o desassossego da ficção, tudo isso sublinhado pelo papel da pesquisa que indica novas direções e que detecta os caminhos que vão reinventando a nossa nação. O site está aqui:
Bem, por hoje é só esse convite e o lamento de quem vai ter que se reinventar para não quebrar o computador, jogar tudo pela janela e se mudar para o Himalaia, para ver se lá consegue esfriar a cabeça.
Vejo vocês na UFF.

Monday, September 14, 2009

Rapidinha

Semana difícil a minha, com muito trabalho, mas queria registrar aqui minha tristeza pela morte do Norman Borlaug, "pai da Revolução Verde", ganhador do Nobel da Paz em 1970 por seus trabalhos que ajudaram a alimentar o mundo. No entanto, como o ser humano tem um gene defeituoso (Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, dizem, mas esse negócio de transferência de tecnologia é perigoso, avisem ao Lula!, a tecnologia pode vir contaminada), as safras viraram objeto de especulação financeira, ao invés de serem obrigatoriamente divididas e distribuídas pelo mundo. Quem me dera um mundo sem fome, um mundo em que a gente olhasse o sofrimento dos outros e se compadecesse, ao invés de se congratular pela boa sorte que teve, ou de dizer aquela frase odiosa: "antes ele do que eu". Bem, tenho um gene Madre Teresa, mas é recessivo e preguiçoso. Nunca vocês me verão à frente de campanhas e movimentos, criando fomes-zeros pelo mundo afora. Mas procuro educar minha família, na esperança que um deles venha a fazer alguma diferença. Mas cumpro os pequenos gestos: Procuro não desperdiçar, procuro reciclar, cuido com carinho das limpezas das ruas e praias que frequento. Meu grande crime ambiental é a quantidade exagerada de livros que compro, mas agora já tenho um kindle, e os livros em inglês vou comprá-los desta maneira eletrônica. Não gosto muito, mas devo estar salvando alguma árvore, com esse esforço de ler na maquininha. 
Guido me mandou mais um link, tudo o que ele me manda é interessante, e agradeço. Ele também tem um blog, de fractais, que um dia serei capaz de listar aqui no meu blog. Vocês, que acompanham meu blog há mais tempo, já tiveram a chance de ver a beleza desses fractais, pois ele já me mandou imagens que reproduzi aqui.
Hoje o caderno de tecnologia do Globo diz que twitter emburrece, mas facebook não. Ora vejam só! E eu que achava que era exatamente o contrário, pois o FB está cheio de coisinhas engraçadinhas que nos fazem perder um tempo louco, ao invés de fazer algo sério. Recebo mil e um convites para saber coisas do tipo: que bairro eu sou? que escritor eu sou? que música eu sou? que pintor eu sou? que cor eu sou? No início, respondi a uns questionários, mas logo percebi que era tudo uma roubada. Minha cor é azul, cor que escolhi, que amo e que faço constar em quase tudo o que escrevo, mas se eu tiver que ser uma cor, preferia ser o arco-iris, algo assim matizado, variável, ligando um mundo a outro. Vocês sabem porque o arco de cores se chama Iris, não? Porque Iris era a mensageira dos deuses, e sempre que estes tinham algo a comunicar ao "cerumano" (li isso outro dia e adorei, mas me esqueci onde foi) mandavam a bela deusa até nós e esse era o caminho da deusa. Meu amor nasceu numa ilha cheia de arco-iris, uma ilha perdida no meio do Atlântico Norte, muito verdinha, onde as cercas são feitas por hortências, brancas, azuis e cor-de-rosa. Essas hortências são tão abundantes por lá que chegam a parecer cascatas, quando as contemplamos ao longe, descendo as encostas das montanhas. Juro que não fantasio, que a ilha é assim mesmo. Mas seus habitantes nem ligam para toda essa beleza. Reclamam da chuva, que cai a toda hora, sem perceberem que essa é a condição para o aparecimento das cores no céu. E consideram as flores uma praga, de tempos em tempos os tratores arrancam os arbustos, sem piedade. Nunca uma dona de casa de lá enfeitou a casa com hortências, até o dia em que saí da casa de minha sogra munida com uma tesoura e voltei com braçadas de flores (azuis, claro) e fui colocando em todos os vasos da casa. Minha sogra já não estava mais lá, e a casa andava meio triste, sem os arranjos de flores que ela gostava de fazer. Meu sogro, que me olhou com espanto quando me viu entrar, quando viu a casa toda florida se admirou:" Nunca tinha notado que essas flores fossem tão bonitas! ", ele me agradeceu. E, da vez seguinte que veio ao Brasil, me trouxe um quadro onde as hortências apareciam em primeiro plano. Não são lindas, as minhas histórias? Será que no futuro terei mais histórias de beleza igual? Ou vou ter que ficar para sempre recorrendo a esse estoque, que já vai ficando antigo?
Vejam como sou: saí do FB e fui parar nos Açores (Ilha Terceira, para os mais curiosos). E agora vou correr atrás do tempo perdido, pois, como li na crônica do JFS, "o relógio maaaarrrca…" São os últimos momentos para meus trabalhos na UFF!

Sunday, September 13, 2009

Feiura e finais

Sempre que visito o blog dos amigos me sinto humilhada. Vejam o blog de minha amiga e agente, Valeria Martins www.pausadotempo.blogspot.com. Lindo, arrumadinho, elegante… tudo aquilo que o meu queria ser e não é. Só sei mesmo é ficar falando minhas abobrinhas, pensando em voz alta. Nem sequer colocar a lista dos blogs dos amigos sei fazer. Geralmente conto com meu filho, que nasceu com um computador acoplado no cérebro. Mas ele não se liga em blogs e twitters.Daí que nunca vou progredir nestas ferramentas, acho. Quem me iniciou nestas coisas de blog foi meu mano André de Leones, outro blogueiro competente,www.rechavia.wordpress.com Aliás, vocês devem procurar o JB e ler a resenha que ele fez de Suíte dama da noite, no caderno Idéias deste sábado. Eu também escrevi uma resenha publicada neste sábado, sobre Compaixão. Pensei se ia contar ou não que adoro esta palavra, não no sentido que ela habitualmente tem de "peninha", mas no sentido (errado) de compartilhamento de paixão. E não vou continuar no assunto, a não ser para relembrar meu queridíssimo poeta pernambucano, Marco Polo Guimarães, com quem amenizei o longe de Triunfo saboreando palavras. André e Breno também estavam na van, cuja refrigeração não era páreo para o calor sertanejo. Quantas saudades desta viagem, quanta saudades destes amigos! Preciso de meio Lexotan, hein Breno? E de muitas risadas cristalinas, de caminhadas para ver, ao longe, a Paraíba. De palavras doce-amargas proferidas na modorra de Caruaru… Delícia, tão boa quanto o gosto do doce de laranja que não consigo esquecer. Ah, pára com isso! (E nem se atreva a perguntar se tem ou não acento!)
Vim escrever por duas razões: a primeira, para agradecer ao Guido pelo link que adorei. Vou usar no meu trabalho, sim. E avisar que recebi pelo blog, claro!
A outra é para sugerir um outro final para a Ivone (Yvonne?). Confesso que fiquei fisgadinha por esse final de novela, e que acompanhei muitos capítulos, embora tenha sido uma relação Norminha/Abel. Eu fui infiel como a Norminha, mas fazia coro com o Abel e dizia: você não vale nada, mas eu gosto de você. E paro por aí, não quero saber o por quê, pois o bom do amor ou do gostar é esse mesmo, a gente gosta e ponto. E se examina demais, deixa de gostar.
Voltando ao final: desde sexta que só ouço gente reclamando e dando seus finais, ou leio twits comentando as cenas, essas coisas. O que eu acho mesmo é que todo mundo queria era prolongar um pouco mais as histórias e seu encantamento. Mas, já que os palpites estão por toda a parte, aqui vai o meu: Se eu fosse a autora, a Ivone não fugiria. Golpista do jeito que ela é, e lendo sobre o que acontece nas penitenciárias, ela se "converteria" e terminaria "bispa". Grande golpe, não?  
Bem, não percam seu tempo aqui comigo, o dia está lindo, a praia nos chama. Vamos todos caminhar pelo Leblon antes que comece a nova novela e a gente passe a tropeçar nos famosos por aqui. E aí vocês podem me perguntar: e não é para a gente tropeçar nos famosos, que vai ao Leblon? Não. A gente também curte bater longos papos na esquina do Zona Sul, cumprimentar os lojistas que nos conhecem e até sabem o nome do pessoal lá em casa. A gente curte o jornaleiro que nos entrega o jornal favorito antes mesmo que peçamos (e olha que é só aos sábados que a gente vai lá!) A gente detesta o cara que circula com seu megafone comprando tudo velho, adora o vendedor de brinquedo artesanal que aparece aos domingos, se deixa tentar pela empada apregoada com voz tão forte que chega até aos andares mais altos dos prédios, sorri para os rostos que, de tão vistos, se tornam conhecidos. Curte o nascimento de Maria Eduarda, e celebra a volta de sua mãe ao Celeiro. Lamenta a falta das coxinhas do bar da esquina, fechado para reformas. Se arruma só para dar uma voltinha, chegar até a praia e voltar, tomando um picolé de limão. Se admira com o surgimento de mais uma novidade em termos de restaurante, gasta mais do que pode na livraria, e, quando o que se quer não está nessa, vai na outra, um pouco mais longe, e acaba indo até ao teatro! A gente conhece os cachorros que desfilam seus últimos modelitos de tênis, óculos e viseiras. Ri com o Beethoven saltitante, conta as embaixadinhas na esquina do Cafeína, e imagina histórias para o atleta… Adora saber que tudo está a uma distância facilmente transposta pelas suas próprias pernas, e que só precisa de carro para as longas excursões até as terras estrangeiras de Búzios, Itaipava ou Angra.
E chega! Vou para a rua, provar de tudo o que recomendo.

Friday, September 11, 2009

Literatura, twitter e otras cositas más

Passei o dia hoje preparando uma comunicação que vou fazer num seminário da UFF. Acabei perdendo a noção do tempo, coisa que às vezes me acontece quando fico muito enfronhada no que estou escrevendo. Enquanto isso o dia 11 de setembro passou e eu quase nem notei. Só agora, e fiquei arrependida de não ter lembrado nem um pouquinho do trauma que foi esse dia. Me lembro que foi o Guilherme quem me avisou do que estava acontecendo. Eu estava no carro, voltando para casa (sim, eu sei, eram nove e pouco, mas eu já tinha feito mil coisas, antigamente eu era uma mulher muito ativa.) e o Gui ligou, querendo saber melhor o que estava acontecendo. Eu não entendi nada, achei que um avião da ponte aérea tinha batido no prédio redondo lá perto do Santos Dumont. E ele me corrigia, dizendo que tinha sido em NY. Bem, sei que voltei para casa e fiquei de olhos grudados na TV, vi os prédios em chama, um avião sendo perseguido, o pentágono, os prédios desmoronando. Num primeiro momento, aquele prédio ferido ali em Manhattan, nem me dei conta da tragédia, nem da grande nem das milhares pequenas tragédias individuais, as mortes, os medos, os atos de bravura e os de mesquinharia. Hoje quando penso nas torres gêmeas, penso no amigo que perdi, nos filhos dele e na mulher. Penso nas pessoas tentando se salvar, descendo escadas intermináveis, mas acabando todos esmagados entre escombros. Penso no filho de uma amiga, vendo tudo aquilo pela janela, e depois correndo pelas ruas, sem saber para onde. E, hoje, fico pensando que, se já houvesse twitter, teríamos uma obra coletiva monumental. Em que estariam pensando aquelas milhares de pessoas, as envolvidas na catástrofe e as que nem sabiam do assunto? O twitter chegou tarde para esse grande colapso, mas talvez esteja aí no dia do Juízo Final. Que, pelo menos aqui no Brasil parece cada vez mais próximo. Com os tornados que agora resolveram devastar o sul do país, as enchentes fora de época, deslizamentos de terra, e o discurso belicista de Lula, nosso guia atrapalhado que nos leva às cegas para o colapso final. Com tanto discurso eleitoreiro, a realidade virou retórica, e tem tanta importância como uma notícia de jornal. Por falar em notícia, volto ao twitter, desta vez para comentar a Cora Rónai que postou algo assim: "deslizamentos de terra no Haiti matam uma pessoa" – e isso é notícia? 
Ai, Cora,bem sei que você não está menosprezando a vida desaparecida, mas ficou feio, esse post. Melhor fazer como seu amigo Millor, o mais perfeito autor de twits que já li. Tudo o que o Millor twita nos faz sorrir e pensar, os 140 caracteres dele equivalem a um livro de 140 páginas.
Para terminar, só quero dizer que o Amauri, meu fiel e querido leitor, tem toda razão. Os mortos não nos perturbam, os vivos é que nos exasperam. O que falei foi algo que tirei de uma conversa com uma amiga espírita. Bem que eu gostaria de acreditar nessas coisas de almas, no poder desses "trabalhos" e das "orações". Iria de bom grado visitar uma dessas mães-joanas que prometem trazer a pessoa amada em três dias, se eu acreditasse um pouquinho.  E, como sou incrédula, também não consigo acreditar no Nelsinho Piquet.  Daqui a um tempo, a Cora vai postar: "Brasileiro mente e prejudica economia mundial" – e isso é notícia?
Nós tamos ficando tão desmoralizados…

Wednesday, September 09, 2009

nove de setembro!

Antes que o dia acabe, aqui vão minhas impressões sobre data tão … tão o que, mesmo? Era para ser alguma coisa diferente?
Comecei quase esquecendo o dia nove do nove do nove, mas a TV Globo não deixou que a data passasse em branco: fizeram uma reportagem sobre a fila de casamentos lá na China, já que "em mandarim o dia de hoje quer dizer eternidade". Juro que isso foi o que disseram. E aí falaram da excessão aberta hoje, em que ampliaram o número de casamentos e informaram que cada cerimônia de casamento estava levando uma média de 3 minutos, incluindo as fotos. Agora fiquei curiosa: se uma hora tem 60 minutos, eles estavam fazendo 20 casamentos por hora. Supondo que o expediente dos cartórios, ou templos, ou seja lá onde eles se casam "em mandarim", seja 8 horas, teríamos 160 casamentos. Mas, já que eles adoram o número 9, digamos que eles tenham ampliado também o expediente para 9 horas – teremos, então 180 casamentos – isso se só puderem se casar num único estabelecimento. Mas, supondo que sejam nove … dá o quê? 1720? Ihh, mas aí a soma dos números já não vai mais dar 9: 1+7+2+0=10. Cortem-se 10 casais deste grupo de candidatos ao amor eterno, então! E daí? Pelo mundo a fora, outros milhares de casais estarão casando hoje, mas tenho a certeza de que nem todos terão garantido o amor eterno. Que eles tenham ao menos aquele que Vinícius cantou, o infinito (enquanto dure).
Mais tarde a Globo (sempre ela) me ilustrou ainda mais, entrevistando um numerólogo, que me informou que o número 9 significa mudança. E a novela me ensinou que o luto indiano dura 11 dias, tempo necessário para o morto descobrir que está mesmo morto. Aliás, ontem, conversando com uma amiga, ela me falou sobre isso: alguns mortos não percebem que já estão mortos e em vez de "partir para outra" ficam perdidos aqui no mundo, perturbando a vida dos que continuam vivos. 
Por que será que acham que os mortos não sabem que morreram? A gente não sabe quando acordou? Claro que sabe! Bem, acordar não é exatamente o mesmo que morrer, concordo. Mas acho que é mais provável que os vivos não aceitem a morte de alguém querido que o pobre morto não aceitar sua condição mortal.
Nossa! Que papo mais chato! Vamos aproveitar que o nove significa mudança, e mudar logo da fala sem interesse para o silêncio significativo.
Então, até outro dia.

Monday, September 07, 2009

Sete de setembro, onze de setembro,…

 Setembro virou um mês de muita importância. Temos o sete, que se comemora por aqui com desfiles tradicionais, coreografias militares, armas e barões axincalhados, e, pelo mundo afora, com festas alegres e espontâneas – alegria, oba-oba e mulheres melancias.  Falo nessas pois hoje fui verificar quais os blogs que estão concorrendo para virar livro. Num dos concorrentes (no setor cultural, pasmem!) estavam publicadas as piores fotos postadas no Orkut. Uma mulher fantasiada de havaiana, usando como sutiã duas metades de melancia, entreabria a saia de palha e se masturbava. Essa era apenas uma das fotos. Eu me pergunto: por que será que as pessoas colocam suas fotos constrangedoras na rede? Por que será que tiram essas fotos constrangedoras? Por que será que esses otários fazem um apanhado dessas fotos e colocam em seus blogs? Por que será que esses blogs chegam a ter picos de 50 000 acessos num único dia, e viram concorrentes para virar livro? Por que será que concorrem na categoria "arte e cultura"?  E por que será que alguém publica as instruções para fazer sexo oral, em duas versões, a masculina e a feminina? Ah, que saudades de Drummond, que dizia que amar se aprende amando. Mas essas coisas de sexo sempre foram meio complicadas, Freud que o diga!
Como vocês já sabem, fui assistir o Despertar da primavera, que trata exatamente disso: a descoberta do sexo, e as decorrentes angústias da puberdade. Escrita em 1891, continua atual. A montagem foi feita com bom gosto e bons atores, as cenas mais fortes não são constrangedoras, embora as letras das canções empreguem termos que a imprensa ainda não está publicando. O que não me impediu de sair cantarolando a melhor canção da peça, Blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, vá se f…! A gente pensa que já avançou muito nessas coisas, mas o sexo, assim como a maconha, precisa de ser descriminalizado. Enquanto houver esse aspecto de proibição, de venda ilegal, de baixaria, nossa juventude continuará sofrendo as consequências dessas abordagens infelizes. E um bando de bobocas continuará confundindo cultura com 
cu ltura (desculpem o trocadilho infame). 
Chega de digressões: depois do sete, o onze. Tantas teorias para explicar o porque da escolha da data! Mas ninguém sabe ao certo a razão da escolha. Por exemplo, por que foi em 14 de julho que a Bastilha caiu? Por que escolheram o 1º de maio como dia do Trabalho? Por que a festa de Iemanjá é no dia 2 de fevereiro? Por que? Mas, entre uma e outra data, temos o nove. E fico aqui esperando o que vai acontecer nessa data tão engraçadinha: 09/09/09. E me pergunto: o que terá acontecido no dia 9 de setembro de 1909? Mas isso fica para outro dia. Quem sabe dia 9 volto ao assunto?
Para terminar com as datas, hoje, essa história de votação me fez descobrir que existe um "blog day" e que cai no dia 31/08. Mas essa data é motivada. Arranjando os números de forma correta descendo bem o 8, 3108 forma a palavra BlOg. Só soube hoje, por isso não comemorei, indicando o blog dos amigos. Mas vou fazer uma lista e publicar com atraso.  E fui!

Saturday, September 05, 2009

Névoa densa

A vida às vezes se torna opaca, densa como uma névoa que esconde e distancia as coisas a nosso redor. Estou atravessando um período de nevoeiro, e me sinto desorientada. Entretanto, vez por outra escuto um sininho de bóia, e descubro que não estou tão fora do rumo. Ultimamente as amigas têm me levado ao teatro. Fui assistir In on it, uma ótima peça, na outra semana fui assistir a Clarice interpretada pela Beth Goulart e esta semana fui ver o Despertar da primavera e também Um estranho casal. Overdose? Não, carinho das amigas, preocupadas com meu "universo em desencanto". De todas, a que mais gostei foi In on it, e recomendo a todos. 
Esta semana, com feriado e tudo o mais, reservo para o trabalho: tenho que adiantar a tese, preparar seminários, essas coisas. Não pretendo sair, até porque estou com uma crise de coluna, ou seja lá o que for, que tem me obrigado a pensar cada movimento que faço. Existe coisa mais chata que isso, essa consciência de nosso próprio corpo? Bem, perdoem-me, então, por não escrever mais. Antes de me despedir, porém, uma propaganda: Dia 16 de outubro, na UFF, o seminário do Grupo de estudos da professora Lúcia Helena. Vejam o programa no site, e compareçam, acho que as palestras vão ser muito interessantes. E vai ter lançamento de livro, Ficções do desassossego: fragmentos da solidão contemporânea – da professora Lúcia Helena. Vale a pena conferir.