Monday, March 28, 2011

Jorge Luís Borges: personagem de crônicas e contos brasileiros

O título acima é do trabalho de Isis Milreu e foi apresentado no II Colóquio da Pós-Graduação em Letras, UNESP, Campus de Assis.
Imaginem minha alegria ao me ver "trabalhada". Obrigada Isis, a quem não conheço, mas cujo trabalho me causou grande satisfação. Caso algum de vocês tenha curiosidade, é só clicar no título (espero eu!) Lá vocês lerão sobre as Crônicas de Veríssimo sobre Borges e, além de meu conto, sobre o conto do Fuks.
Estou me sentindo como Alice no País do Espelho. Aliás, é sobre isso que vou falar lá em Kentucky, sobre esse "estranhamento" que é você ler a si mesma pelos olhos de outra pessoa. A traducão e a crítica nos revelam um mundo de imagens inesperadas, mas estou sem tempo para escrever. Volto ao assunto uma outra hora.
Mais uma vez, obrigada, Isis Milreu!

Wednesday, March 16, 2011

Dylan Thomas

Nunca estudei Dylan Thomas, o poeta preferido por nove entre dez estrelas do Rock. Mas minha querida T.T. me fez lembrar de seus versos Do not go gentle…. E aí fui ler algumas outras coisas belas. Acabei selecionando os versos citados pela T.T. e mais os versos de um belo poema "And death shall have no dominion" para levar como contraponto aos versos de Adelaide Crapsey para as proustianas. Graças aos deuses da internet, encontrei traduções para os poemas de Dylan Thomas. Os cinquains e doublets da Adelaide Crapsey tive que eu mesma traduzir. E eu detesto fazer traduções. Mas acho que consegui respeitar forma e conteúdo, e, se não foi brilhantemente, também não foi uma tradução boba e literal.
Depois, atrasadíssima, quis atender ao pedido de minha nova editora, a Escrita Fina, e contar qual foi o meu primeiro livro. Cheguei à conclusão que me era impossível falar de um primeiro livro, como se fala, por exemplo, de um primeiro amor, ou de um primeiro sutiã. Ler é um vício, e suponho que nenhum viciado saiba dizer qual foi a "dose" que o viciou. Teria sido o primeiro trago num baseado? A primeira injeção que despejou, gota a gota, a heroína no sangue? A terceira carreira de pó, a quinta pílula de êxtase? O segundo gole de champanhe? O sétimo cigarro, como um selo que passasse a repetir "para sempre, para sempre"? Que livro fez de mim a leitora em que me transformei? Acabei escrevendo um pequeno texto, tão cheio de reminiscências que não acho que sirva para o blog em questão. Vou mandar, mas acho que não vai sair…
E agora cá estou eu aqui, interrompendo a leitura para assistir ao pouso do helicóptero do Obama. Um barulho fora do normal, um enorme helicóptero pousando aqui a dois passos de casa, a corrida até a varanda e a surpresa da bela Lua, brilhante e redondinha, sobre um manto de nuvens. Meu filho me explica: é uma lua especial pois há 18 anos nosso satélite não se aproximava tanto assim da terra. E, além disso, é o equinócio, e, segundo o Márcio, que faz anos no equinócio, esta é uma época muito poderosa. Devemos, segundo ele, fazer um pedido à Lua por esta ocasião. O que eu peço é fácil de advinhar: inspiração para continuar escrevendo, reconhecimento para os textos já escritos, uma editora que me valorize e leitores, muitos leitores, para minha obra. O que posso fazer se sou sempre múltipla? Se não me conformo em pedir uma única coisa, se não consigo me decidir entre livros, se as histórias se multiplicam em minhas lembranças? Talvez seja este meu protesto dylanesco, mesmo sem perceber, vou esperneando pela vida afora, querendo, desejando, lutando, mesmo quando penso que estou apenas aceitando o inevitável…

Monday, March 14, 2011

Humor negro na Globo

Só pode ser humor negro quando, depois de nos contar sobre as tragédias disseminadas pelo mundo afora, de nos mostrar imagens de destruição, acidentes, caos no trânsito, desorganização e guerras, os repórteres do Bom Dia se despedem com sorrisos e votos de um "excelente dia para vocês!" Sorridentes, para cima, alegrinhos, ou eles são os melhores atores da globo ou não entendem uma palavra daquilo que dizem e mostram.
Vamos ser um pouco mais coerentes? Ou a gente mostra algumas reportagens animadoras, ou não se despede com tanta "positividade". Quem é que pode começar o dia assim feliz, depois de tanta tragédia? É bem verdade que dizem que os gregos estimavam a tal da catarse como algo que lhes preservava a sanidade. Eles iam ao teatro assistir àquelas tragédias gregas e depois de todo mundo se dar mal, eles saíam da arena de alma lavada, felizes porque tudo tinha acontecido com os outros, e não com eles…
(Paro para testemunhar uma ilusão de ótica. Uma ilha caprichosa, das Cagarras, se fantasia de montanha de gelo, vestindo uma capa de nuvens. Impressionante, parece mesmo real, uma outra ilha, com um pico coberto de neve. Graças a isso minha alma se desanuvia um pouco.)
Mas volto ao humor grego – racionais ao extremo, nossos amigos gregos procuravam explicações para as desgraças, e dramatizavam a Hybris, nossa falha. Pois eles acreditavam em causa e efeito, e alguém tinha que ter cometido um engano para romper o "equilíbrio" do mundo. Já não me lembro mais qual é a tragédia, mas uma cena maravilhosa, da volta de Agamemnon ao lar, ilustra isso muito bem. Lá chega ele, se achando o máximo, trazendo Cassandra, a princesa troiana, como despojo de guerra. Os puxa-sacos resolvem estender um tapete vermelho para ele, simples mortal, passar. Ora, tapetes vermelhos eram destinados aos deuses, e embora Cassandra o avise de que, se ele pisasse o tapete, a morte o aguardava, ele está embriagado pelo próprio sucesso e não faz caso ( mas, na verdade, Cassandra era aquela profetiza em quem ninguém acreditava, mas essa é uma outra história). Ele pisa no tapete e sela seu próprio destino: será assassinado no banho por sua mulher, Clitemnestra. Ele errou e foi castigado. Os gregos assistiam a tragédia, internalizavam a lição: "não deixe a fama subir à sua cabeça". Os romanos aprenderam muitas coisas com os gregos. Na época do Império Romano dizem que era costume que os Césares andassem acompanhados por uma espécie de "grilo falante", uma consciência externa, alguém que lhes repetisse a mesma cantilena; "Lembra-te que és mortal"
Talvez os repórteres da Globo estejam cumprindo essa missão: lembrar-nos de que somos mortais e que a vida (a nossa e a do planeta) está por um fio. Tudo bem, continuem com seus avisos, mas não gozem da nossa cara dizendo "Tenham um ótimo dia". Despeçam-se com um pouco mais de honestidade, dizendo: Lembrem-se que hoje pode ser seu último dia. Aproveitem!

Saturday, March 12, 2011

Lucia e a Ciência

Outra vez ciência? Mas o que fazer, se adoro ler estas breves informações científicas no jornal, e passar as noites vendo o Discovery? Por onde começo? Talvez pela espantosa revelação de que o pênis masculino já foi recoberto de espinhos! Reler a Bíblia com essa nova informação me faz sorrir. Penso no Jardim do Éden, com Deus preocupado com seus filhos, e avisando: Este fruto não dá para comer: tem espinhos! Mas, esfomeados, Adão e Eva nunca se importaram muito com essa proibição. Davam um jeito: ralavam, descascavam, espremiam, provavam… E, com tanta perícia, acabou que descobriram que há um jeito para tudo… E, de tanto se ajeitarem, as coisas acabaram se amaciando. Ainda bem!
Termino com uma história assustadora, uma nova (já não tão nova, assim) arma de guerra construída pelos americanos: Uma série de antenas que conseguem aquecer a camada de ozônio. Com isso, o sistema dos ventos é modificado e eles provocam aquecimento excessivo, chuvas exageradas, ou seja: podem matar de fome todo um povo ou impedir o deslocamento de pessoas e exércitos. Isso não é brincadeira nem hipótese: existe e está funcionando! Verdadeiramente aterrorizador, e, se levarmos em consideração as últimas notícias, quem nos garante que essas catástrofes não são provocadas por testes sendo realizados com o novo brinquedinho? Acorda Greenpeace: tem que protestar contra isso!
Brinquedinhos por brinquedinhos, conto uma história de meu passado. Na inocência de meus vinte e poucos anos visitei Nova Iorque pela primeira vez. Eu e o Gui, andando por toda Manhattan, chegamos ao Greenwich Village (era assim que dizíamos na época. Agora, íntimos, é apenas Village) e foi lá que vi, pela primeira vez em minha vida, uma vitrine de sex shop. Fui atraída pela dança do que achei, de longe, que eram bonequinhos. Quando cheguei perto, descobri que eram vibradores, de todas as cores e feitios, que estavam ligados e mostrando os movimentos que eram capazes de fazer. Entre todos eles, havia um cheio de espinhos, parecendo um jiló, ou maxixe, nunca sei qual dos dois tem os espetinhos. E eu me admirei: será que alguém vai comprar isso? Meu marido, rindo, filosofou: "Há gosto para tudo!"
Pois bem, me despeço, então, agradecendo à minha vovó Eva, que gostava de maxixe! Estamos aqui por causa disso! Não vamos deixar que uns "caras de jiló" e suas funestas anteninhas transformem nosso mundo numa lama só!

Monday, March 07, 2011

Aniversários…

Comemorar o aniversário de quem já se foi, tarefa tão difícil. Onde depositar os beijos que ainda guardo? Em que braços me perder, ou dançar, ou me apoiar? No castelo de lembranças, fugazes como nuvens, vejo as mais diversas figuras, todas jovens, tão jovens, tão vivas.
Lá fora, o Carnaval embaralha minhas ideias. A música começa cedo, desafiante. Meus olhos se desviam da alegria, mas os ouvidos são violentados. Violas? Guitarras? Cavaquinhos? Cornetas e trombones? Surdos? Tudo se mistura numa indistinta melodia que se repete, se repete, por horas. Uma angústia me toma por inteiro: como me refugiar? Onde encontrar o silêncio no meio da alegria generalizada?
Vi a notícia de um retiro, patrocinado pela Igreja. Antes retiros eram … bem, na falta de melhor adjetivo, retirados. Distantes, silenciosos, as pessoas se recolhiam e meditavam, não no sentido atual do termo, que tomou coloridos zen budistas, mas no sentido de pensar na vida, de remoer mágoas até que, transformadas numa farinha fina, pudesse ser sacudida, como poeira. Mas o retiro que anunciam é uma festa: cantos, atividades infantis, jogos… saímos de uma agitação e caímos em outra.
Viajar poderia ser uma solução, caso os carnavalescos contumazes não viajassem também. Para onde vamos, encontramos um grupo munido de tamborins e altofalantes que nos incitam a "requebrar as cadeiras" ou "sacudir o popozão". Os refúgios antigos e mais simples, como as livrarias e os cinemas foram tomados por turbas agitadas, cheias de crianças que, temerosas de mascarados, vem expandir sua vitalidade nos corredores de shoppings, entre as mesas de restaurantes, pedindo livros e novas histórias a pais exaustos (alguns até contrariados, por estarem perdendo a festa).
É Carnaval, eu sei. Não reclamo. É o reinado de Momo, da Carne, da Alegria… Mas nem os mortos mais são respeitados. No desfile de ontem, a morte esteve presente, fazendo gracinhas, rebolando como se fosse uma vedete. Levar a morte para a avenida pode ser uma maneira de torná-la menos temível, mas nada há de fazê-la menos definitiva. Não há contorno, nem requebro, nem desvio.
Morte é morte, e nós a carregamos dentro de nós, vamos tecendo nossa mortalha lentamente, amorosamente. Essa é uma das maiores ironias disso a que chamamos de vida. "Viver é morrer um pouco a cada dia", diz o lugar comum. Mas, ao mesmo tempo, como é doce a vida! Como cada gomo dessa fruta nos satisfaz, mesmo quando nos engasga com alguma semente ou com um inesperado dissabor. Só que às vezes nossa vida parece terminar antes do prazo: o corpo se arrasta respirando e andando, ou mesmo entrevado, enquanto a alma que nos habitava se foi, voluntária ou involuntariamente. A gente se sente fechado numa sala de espelhos, se vendo refletido em mil imagens, e sabendo que não é nenhuma delas.
De imagens quero apenas aquelas em que apareço acompanhada, amparada, amada. O que fazer, se agora me vejo sozinha? No meio do bloco, dos cantos, dos risos, dos mais de mil palhaços, solto um grito silencioso de socorro, disfarçado em "feliz aniversário!" Onde você estiver, não deixe que minha tristeza empane seu brilho. Vou me cobrir de purpurina e brilhar também. Brilhar no escuro de mim mesma, sorrindo apesar de tudo, escondendo o rosto numa máscara negra que, apesar de seus esforços, não me mata a saudade.
E, no entanto, a lembrança de que houve um tempo em que esse era o dia mais feliz do ano para mim, me faz sorrir sinceramente. É com esse sorriso que aceno uma bandeira branca e digo, bem baixinho, feliz aniversário, eu peço paz!…

Tuesday, March 01, 2011

Feliz aniversário

Quantas cidades existem com o charme do Rio? Juro que não conheço outra igual. Pelas minhas andanças pelo mundo afora, já visitei muitas cidades à beira mar, e nenhuma se comparou. Nem as de beira rio se compararam. Essa mistura inesperada de mar e montanha, de lagoa e ilha, de jardins e selva de pedra e o sol se derramando compensam a sujeira das ruas, os buracos do asfalto, o engarrafamento nos túneis, etc.
Minha cidade ainda não é velhinha. Em termos de cidade, ela ainda não está nem na meia idade. Espero, no entanto, que ela já tenha ultrapassado a fase do crescimento. Ela já é bem desenvolvida, não precisa exagerar.
Minha cidade é linda em dias de sol, embora faça nossa cabeça ferver e nosso corpo suar. Minha cidade é linda em dias de chuva, apesar de se alagar, desmoronar, enlamear. Em que outro lugar do mundo a gente pode se engarrafar olhando o mar? Em que outros engarrafamentos alguém vai se lembrar de trazer água geladinha ao nosso alcance, e comidinhas para enganar a nossa fome, e espetáculos circenses para distrair nossa impaciência?
Nós, os cariocas, muitas vezes maltratamos nossa cidade, mas ela consegue se reinventar e zombar de si mesma, seja numa marchinha bem humorada, seja num novo modismo. Por exemplo, quando o pier enfeiou a praia de Ipanema, os cariocas transformaram o horror em ícone, e até hoje tem gente que tem saudade do monstrengo.
Não queria deixar passar esse dia sem jogar meus beijos estalados pelos ares da cidade aniversariante. Amo o Rio, e peço a todos que me leem: amem o Rio também. Olhem à sua volta e vejam todas as belezas e os recantos merecedores de carinho, respeito e atenção. Mostrem seu amor não jogando lixo no chão, não estacionando no meio da rua para não atrapalhar o trânsito, não indo de carro quando podem ir à pé, ou de bicicleta, ou de transporte público. Votem em pessoas que também amem a nossa cidade. E sorriam para as pessoas que encontrarem, sejam gentis. Sejamos todos agradecidos a tantas coisas de bom que nossa cidade nos oferece!
FELIZ ANIVERSÁRIO, MEU RIO DE JANEIRO!!!!!