Sunday, July 31, 2011

Dia de quê?!

Do orgasmo!
Da pequena morte francesa. Do Big Bang, para alguns. Do vai chegando já passou, para outros. De plus, encore! Do fake: soque o travesseiro e grite, aconselha o jornal de hoje. Mas, os homens gostam de variedade, portanto, aconselham a alternar: grite e só então soque o travesseiro. Eu sugiro simultaneidade: grite enquanto soca o travesseiro. E me postarei à escuta, e ouvirei uma sinfonia orgasmática sacudindo o ar da cidade, do país inteiro. Ou será que o dia do Orgasmo é Mundial? Nesse caso o próprio planeta vai girar mais acelerado, impulsionado pelas ondas sonoras dos gritos e sussurros.
Imaginem só os chineses, tão obedientes, cumprindo a determinação. Mais de um bilhão (quantos serão eles agora? Dois bilhões?), mesmo que, pudicamente, abafem seus gritos, os gemidos uníssonos podem provocar ventos de mais de 100 km por hora. Que se encontram com os ventos causados pelos indianos, – mais um bilhão? –, que não me parecem precisarem ser estimulados a gozar. Afinal, foram eles que escreveram o Kama Sutra, não foram? Talvez aquelas posições complicadas sejam maneiras de evitar os gritos. Experimente se concentrar em plantar bananeira, abrir as pernas, suspender o yoni, alongar o yogi, e ainda gritar? Tudo se desequilibra! Não admira que os deuses hindus sejam azuis: com tanto malabarismo, se esquecem de respirar!…
Mas, supondo que os gritos chineses sejam seguidos pelos indianos, já provocamos um tufão capaz de fazer a Terra sair da rota. Vou parar de me preocupar, no entanto. Acho que aqui no Leblon o dia não "pegou" tudo está silencioso e calmo…
Talvez seja porque as pessoas estejam petrificadas como o sorriso do Brejvik (é assim o nome do coiso?). Mona Lisa? Dever cumprido? Quem sabe Botox? Viro a página e encontro mais um motivo de suspensão de tesão - um filme que se pretende interessante mas que é doentio. E que não merecia todo o estardalhaço que estão fazendo ao redor dele. Deixá-lo morrer no silêncio, no esquecimento, essa teria sido a melhor punição. Os gregos, que sabiam das coisas, quando o crime era muito ruim mesmo, ao invés de condenarem à morte, mandavam para o ostracismo. Ou, como diria meu avô, "Vai morrer longe!" Exílio, abandono, perda de lugar social, isso antigamente era feito fora dos muros da cidade. Agora é mesmo nas ruas, à vista de todos. Quantas pessoas não abandonamos à própria sorte (ou falta de), e passamos por elas sem ver, sem escutar, sem nos preocuparmos?
Talvez por isso, nessa manhã calma, só o que escuto sejam os sinos longínquos e o canto do bentevi. E motores de aviões que hoje já podem circular pelos ares cariocas.
Nas revistas, nenhum consolo. Apenas a frase do psicanalista, atestando que a dor do abandono é sempre proporcional à intensidade do afeto investido…Se nunca houve afeto, a gente se redime, né?
Será?
Talvez, no momento do orgasmo, células afetuosas se procurem e seja este o grande prazer de toda a coisa. Talvez seja melhor estabelecer o dia do Afeto, um pequeno gesto de boa vontade, um mínimo de compreensão, um olhar que se ilumine ao ver o rosto de um Outro. Afeição, pura e simples. Sem precisar de socos nem de gritos.

Tuesday, July 26, 2011

Que luxo!

Todo dia um tempinho para escrever, isso é um luxo!
Obrigada pela informação sobre o dia do escritor, amiga! Vejam nos comentários, por favor.
Hoje fui ao dentista, e, como sempre, fiquei ouvindo sua conversa, me informando. Foi lá que soube que as pessoas que foram assistir ao show da Amy Winehouse aqui no Rio e a viram bebendo, a cada gole, aplaudiam-na, incentivando sua persistência no vício.
Fico achando isso uma maldade: aplaudir a auto-destruição do outro é ter uma atitude mesquinha e sacana (desculpem o termo).
Passei o dia na rua, correndo para cá e para lá, e pensei numa porção de coisas para escrever aqui. Só que esqueci de tudo.
No final do dia, tomei um taxi, cujo motorista, ao contrário de mim, sabia de tu-do! Ele tinha um telefone desses que pegam televisão e estava assistindo o jornal, numa tela tamanho 3X4. E comentava desde a morte da Amy até a falência dos EUA, e ligava com o que tinha escutado na Voz do Brasil, e sempre pontuava com um:"eu não disse?"
O trânsito estava engarrafado e ele me deu uma aula de economia, outra de psicologia, mais uma outra de relações internacionais… Finalmente chegamos a nosso destino, e eu estava infinitamente mais sábia.
E aí fui conversar bobagens com uma amiga, feliz, feliz! É tão bom não saber de tudo… E ainda esquecer o que se soube um dia…

Monday, July 25, 2011

Dia do Escritor!


Parabéns para mim, nesta data querida…
Não sei por que, mas hoje é dia do Escritor. Aceito e comemoro, mas espero que alguém mais sabido que eu me conte o porquê do dia 25 de julho. O que teria acontecido nesta data?
Ontem, no Municipal, um dos Prazeres, o que é maestro da Orquestra da Petrobrás, falou de Prokofiev e de sua morte no mesmo dia da morte de Stalin. E acrescentou: Ele foi enterrado sem flores, pois todas tinham sido compradas para o enterro do ditador. (Bem, acho que ele não disse ditador.) Mas aquilo me deu uma pena enorme. Como se ele tivesse sido usurpado de um direito que era dele, o de ser enterrado com flores. Mas tem gente que não quer flores.
Não vou ficar falando disso aqui, flores ou não no enterro. Mas vou contar o que fiz nesta minha última ida à França. Visitei o túmulo de Rimbaud, em Charleville-Mezières, e também o túmulo de Proust, em Paris, no Père Lachaise. Acho que já até escrevi sobre isso. O túmulo de Rimbaud é de mármore branco e tem uma cruz e um pedido: Rezem por ele. É gêmeo do túmulo de sua irmã, e ficam os dois dentro de um cercadinho, como se estivessem prendendo a alma do poeta, para que ela não saia mais de lá. Em frente, do outro lado do caminho, tem um banco de jardim e fiquei sentada um pouco ali, pensando na incongruência daquele túmulo. E com uma outra preocupação: onde estará enterrada a pena amputada de Rimbaud. Quem assistiu Tomates verdes fritos aprendeu que partes grandes da anatomia humana, quando amputadas, precisam ser enterradas em cemitérios. Mas talvez possam ser doadas para estudos, acho eu. O que teria acontecido com a perna do poeta?
O túmulo de Proust fica meio fora de caminho, todo em mármore negro, seu nome em dourado escrito na campa. E nas laterais, o nome de seus pais, também enterrados ali. E, do outro lado, o de seu irmão e cunhada. Puxa, será que precisava amontoar toda a família no mesmo lugar? Que ele tenha ficado no mesmo túmulo dos pais, tudo bem. Ele ia gostar disso. Mas acho que seu irmão e sua cunhada não tinham ideia de como Marcel era importante para a história literária. Teria sido mais discreto deixarem o irmão brilhando sozinho.
Para terminar falando de flores: No túmulo de Rimbaud, nada. No de Marcel, recados manchados de chuva, e hediondas flores de plástico num vasinho. Uma maluquete passou por lá, leu o recado manchado, não gostou, e jogou-o no lixo. Resmungou algumas coisas para mim e foi-se embora. Não entendi nada. Mas fui até uma loja e comprei umas orquídeas. Queria Catleias, mas não havia. Comprei Wandas brancas e deixei lá sobre o túmulo. Para Rimbaud, levei um arranjo, com uma borboleta. Asas para ele voar. Espero que o tenham levado para longe.

Sunday, July 24, 2011

Boquitas pintadas

Adoro esse romance de Puig. Na verdade, adoro Puig, que cheguei a conhecer nas aulas da Bela Josef, outra que já partiu. Acumulo perdas pela vida afora. Na faculdade, são muitas. Além desses dois, tenho saudades do André Trouche, nosso querido Andrezinho, da Samira, e de outras pessoas que, embora estando vivas, nunca mais vi. Agora, recentemente, estive com o queridíssimo Jorge, que nos apresentou Fiamma, a difícil poeta:
A madeira tem os seus sinais
rumor demais…
Guardei esses versos de memória, mas guardo pouca coisa de memória, só me ficam as sensações de beleza e encantamento.
Por exemplo, tive uma professora, a Socorro, da qual gostava muito. Hoje nem sei que matéria ela ensinava. FundIber? O que seria isso? Tive outra, Maria Arminda, que passou por minha vida um único semestre, mas me deixou um presente para a vida toda: Marcel Proust. Tive uma professora, chatinha, tentando me ensinar complemento nominal. Era de uma sofisticação bizantina, o argumento dela. Mas ensurdeci e continuei sabendo apenas o que o Ivan Alves, o extraordinário professor do cursinho, me ensinou. Aprendi direitinho com ele. E com o Manuel Maurício, mefistofélico, incrivelmente provocador. Eu o adorava. Assim como adorava a Marlene e suas aulas sobre Drummond, a quem, por sua vez, ela adorava. Parecia o próprio poema: Lucinha adorava Marlene que adorava Drummond que estava namorando sei lá quem, o que me deixou chocadíssima o dia que descobri. Era como pegar meu avô em flagrante de adultério! Sofri com isso. Depois perdoei. E mais depois ainda, entendi. Juventude é muito radical e moralista.
Mas chega de divagações. O romance de Puig foi me arrastando por memórias desalinhavadas, quase que me afogando. Volto a ele para dizer que minha teoria da cor do baton e da palidez das ideias só deve ser aplicada nos palcos iluminados da vida. Sempre que alguém se postar num palco e tudo o que se notar for a cor do baton, é sinal de que as ideias são anêmicas, transparentes, minguadas… Na nossa humana experiência, no dia a dia, no cotidiano fugaz, um baton vermelho tem muito a contribuir com nossa realização. Minha querida Helena, a musa dos 90, não sai sem um batonzinho. E insiste para que eu o use, também.
Hoje de manhã, quando saí para caminhar, não passei baton, não. Mas devia de estar com a boca mais vermelha que o costume, pois fui notada. Primeiro uma gracinha – e só os homens que achamos feios e inapelavelmente sem graça soltam gracinhas… Depois olhares. Fiquei meio encucada. Achei que estava com alguma coisa estranha na roupa, ou no rosto. Mas me olhei no espelho e estava normal. Deve ter sido o casaco, fechado até em cima, que me protegia do frio. Depois que abri o casaco, ninguém mais me olhou. Amanhã irei de baton. Vermelhíssimo!

Saturday, July 23, 2011

Quase um mês!

Nossa, quase um mês de abandono de Blog. Será que isso dá demissão por justa causa?
Please, não me demitam! Quero continuar postando minhas historinhas, meus comentários sobre meu cotidiano pequenino e ter, assim, a impressão de que tudo se amplia, que minhas fronteiras não estão aqui no menor quartinho de minha casa, onde coloquei meu escritório.
Neste último mês viajei muito. Fui para a FLIP, assistir o meu ídolo, Antônio Cândido, falar – e muito bem– de outro ídolo: Oswald de Andrade. Foi a Flip Antropofágica, e eu não podia perdê-la, com essa comunhão temática com a tese que defendi no dia 18. O Banquete: uma degustação de textos e imagens.
Em minha cabeça cheguei mesmo a escrever alguns posts, um para defender minha nova e sensacional descoberta: quanto mais forte a cor do baton, mais pálidas são as ideias. Só que isso já passou, ninguém lembra mais de nada que se passou na Flip, só que o mãe quer procriar com o Chico Buarque (ou seria com o Caetano?) E eu embarco numa ficção científica que reescreve músicas: "E agora me pergunto com que útero que eu vou abrigar o espermatozóide que você me confiou"…
Bem, estou de volta. Pouco a pouco desenferrujarei dedos e ideias. Quero voltar a escrever minhas histórias, que me dão tanta alegria.
E, para quem possa estar curioso, sim, a tese foi aprovada! Doutourei-me. Coisa mais esquisita, esse verbo!