Friday, November 30, 2007

Último capítulo!

Sim, chegamos ao fim do mês, chegamos ao fim da novela. Depois de hoje é embarcar nas comemorações natalinas, cada vez mais descaracterizadas... Amanhã tem inauguração da Árvore da Lagoa -- grandes engarrafamentos à vista. A temporada de compras já começou. O assédio para contribuirmos com algum tipo de caridade, também. Os enfeites exagerados, cada vez mais luxuosos e de mau gosto estão por toda a parte e as festas de confraternização, as lembrancinhas de amigo oculto, os telefonemas das "primas da Sapucaia" já começaram! As musiquinhas eletrônicas repetidas até o estupor nos anestesiam os sentidos. Arre! Lá vou eu reclamar, mas houve um tempo em que Natal era diferente: a gente saía pelas ruas com um sorriso, com vontade de abraçar todo o mundo, e era um grande programa ir visitar os presépios que se armavam pelas Igrejas. Logo em seguida, porque éramos democráticos e tolerantes, todos iam à praia para receber as baforadas fedorentas dos charutos baratos dos pais e mães de santo, que se postavam, desde o dia 26, em ônibus estacionados na avenida Atlântica, cada vez mais numerosos. A praia se enchia de flores e de velas, e os tambores se aqueciam para a grande noite da virada, e todos nos sentíamos renovados. Os encantos outros são hoje são outros, e também me encantam -- não se enganem, vivo no presente. Mas tenho pena de me sentir acuada e, ao invés do impulso de abraçar e ser abraçada, me preocupar em desviar-me das pessoas na rua, abraçando apenas a minha bolsa... Olhar o próximo com desconfiança é a coisa mais anti-natalina que conheço, mas parece ser o novo mandamento. Ouvi dizer que existe uma campanha, que está correndo o mundo, de "Abraços grátis" -- A gente bem que podia fazer isso aqui no Rio, uma maratona de braços e corações abertos, como o Redentor, nossa maravilha.
E agora -- com meus abraços -- o último capítulo!

Capítulo XIX

Você disse que ia mudar o final.

Não pude. A história de Paula e Francesco não podia ser como a nossa. Aquele Francesco não merecia um final feliz. Ele estava traindo a mulher. Não merecia ser feliz.

Mas quem morreu foi a Paula! Ela é que foi castigada pelo erro do outro.

Castigada? Não, ela ficou com a melhor parte: Não teve que lidar com a culpa que ela já tinha começado a sentir. Não envelheceu. Não ficou com Alzheimer. Não foi trocada por outra. Não teve que lavar cueca nem meia suja...

Mas o Francesco não foi castigado...

Você é que pensa. A mulher dele vai presa, ele tem que cuidar dos dois filhos. Precisa parar de escrever poesia e se dedicar a dar aulas particulares, ou seja lá o que for, para complementar a renda. Os meninos crescem, se revoltam. Um enche o corpo todo de piercing, engorda, pára de estudar, se junta a uma turma de arruaceiros, neo-nazistas, ou mussolinistas, seja lá como se chamam na Itália. O outro se vicia, foge de casa, aqueles dramas de filho drogado, que quando aparece é só para arrumar mais dinheiro para as drogas...

Pôxa! Tem piedade do Francesco.

Não tenho não. Ele também engorda. Se casa de novo, desta vez com uma megera que reclama que ele é um fracassado...

Chega! Pobre coitado.

Olha o corporativismo... Mas ele continua um bom poeta. Os livros dele são redescobertos e ele recebe uma homenagem e um convite para participar da FLIP.

Nossa FLIP?

É, mas ele não vem. Está doente, tem diabetes mal cuidado e acaba perdendo uma perna...

Ah, não aguento mais. Chega.

Viu? A Paula escapou disso tudo.

Vem cá. Deixa eu te mostrar o que é que ela perdeu: Perdeu beijos assim. Perdeu abraços, perdeu as mãos do amado percorrendo suas costas, devagar, arrepiando sua pele...

Tudo isso é muito bom, concordo. E ainda perdeu as conversas, sem fim...

E as tardes de cinema, com aqueles emocionantes filmes de ação!

Isso não é grande coisa, melhor são filmes franceses, que fazem a gente pensar...

Ah, não. Isso é garantia de morrer de tédio: como aquele filme que mostra as imagens de uma câmera de vigilância e que os intelectuais acharam a grande maravilha do ano! Se nem os vigilantes aguentam ficar olhando sempre a mesma coisa...

Fábio, pelo amor de Deus! Não diz isso em frente aos nossos amigos, prá não me envergonhar!

Sim, senhora, dona Hipócrita. Pode deixar que vou fazer cara de “pensador”, se falarem no filme perto de mim.

Você está me gozando: o que é que você quer dizer com “cara de pensador”?

Regra número um: o importante não é o que o “autor quer dizer”, mas o sentido que o texto adquire em seu contexto.

Ô, meu amor, não faz isso com sua Mari, não, tá?

Não. Até porque já estou de saída. Maracanã, lá vou eu!

Maracanã? De novo?

É jogo do Botafogo, final. Um clássico! Imagine, Botafogo e Flamengo, e no Maraca! Hoje é um grande dia. As torcidas. Uahhh! As bandeiras, enormes. Os refletores, a fumaça colorida.

Você parece criança!

Por que você não vem comigo?

Detesto futebol.

Jogo no Maracanã não tem nada a ver com futebol. Tem a ver com o público, com o espetáculo de uma paixão compartilhada...

Prefiro ficar lendo meu livrinho...

Eu ia gostar que você fosse comigo.

Ah, não. Ninguém merece. Me poupe.

É pena. Porque eu ia mesmo gostar, se você fosse. Tchau.

Que bobagem. Uma infantilidade, isso. Eu nem gosto de futebol... Que é que eu ia fazer lá? Só se fosse para ficar vendo ele sofrendo com as ameaças de gol. E escutando ele xingar o juiz e o técnico... E para escutar aquele riso gostoso de alegria, quando ele joga a cabeça para trás e se entrega, e depois volta a si, procurando o meu olhar... Ah, não, e eu não vou estar lá para ver os olhos dele brilhando de alegria! Fábio! FÁBIO! Me espera. Eu vou sim! Fábio. Ah, meu amor!

Inda bem que consegui te alcançar!

Thursday, November 29, 2007

Confusões

Não desanimem com a minha imperícia: na novelinha, ou novela, como vocês querem, os personagens de Mariana são Paula e Francesco, mas ela baseou os dois no casal Paolo e Francesca, que estão no "quinto dos infernos", como dizia meu avô, o círculo infernal dos que pecaram por amor, segundo Dante. Se algum dos meus leitores não conhece a história (ela é famosíssima entre os que estudam literatura, pois o livro aparece como "alcoviteiro") aqui vai um resumo: Francesca era filha do príncipe de Rimini ( a Itália estava toda dividida em cidades-estado) que estava em luta com o príncipe da cidade vizinha, Giovanni Malatesta. Eles fazem um tratado de paz e, para selá-lo, combinam o casamento da jovem e linda Francesca com o brutal e velho Giovanni. Só que este tinha um irmão uns 20 anos mais moço, Paolo, que se apaixona pela cunhada e ameniza a existência da infeliz emprestando-lhe livros, que passam a ler juntos. Uma tarde, quando liam sobre a infidelidade de Guinevere e Lancelot, Paolo, tremendo, roubou um beijo de Francesca, que termina sua história dizendo mais ou menos isso: "naquela tarde não lemos mais..." Não leram, digo eu, porque "escreveram" uma linda história, mas foram surpreendidos pelo furioso Giovanni de nome profético, que ficou com sua testa pior do que já estava, com o novo problema. Os amantes foram parar no Inferno de Dante, que os suplicia, segundo alguns com a indissolubilidade de sua relação: ficam juntos pela eternidade. Mariana, minha personagem, separa os amantes que ela criou. Vejam como:

Capítulo XVIII

Paula olhou o amante com tanta intensidade que seus olhos pareceram crescer e transbordar, como um mar em dia de tempestade. Ele ainda não sabia que ela havia tomado aquela decisão. Este era seu último dia juntos. Ela ia partir. Regressar ao seu mundo protegido e tranquilo. Nos poucos dias que compartilharam, eles haviam se amado de todas as maneiras. Ela abandonara todas as reservas e se entregara como uma adolescente. A cidade resplandecia lá fora, com seus pomposos dourados e suas impossíveis volutas, mas os dois se bastavam, e permaneciam no quarto atravancado de móveis exageradamente grandes. Ela havia perdido o pudor que a dominava nos primeiros encontros, e se deixava ficar nua, deitada de bruços sobre a cama de espaldar, os lençóis revoltos formando relevos sobre o colchão que curvava-se, ligeiramente, para dentro. Francesco sentava-se à mesa imprensada entre as duas janelas altas e escrevia, febril, até que ela deixasse seus dedos travessos brincar com os cachos de seus cabelos revoltos e desalinhados, ou passear pela pele sedosa de suas costas, queimadas do sol generoso da região. Quando tinham fome, tomavam um cichetti e l’ombra, algum tipo de refeição ligeira acompanhada por uma taça de vinho, chamada de “sombra” pelo hábito que os gondoleiros tinham de guardar na sombra uma garrafinha de vinho para se refrescarem.

Paula havia desabrochado nas mãos de seu amante. Seu corpo se revelara um instrumento digno de figurar numa grande orquestra, com surpreendentes ressonâncias. Mas a enormidade de sua descoberta a assustava, e ela desejava voltar à tranqüilidade de seus dias dedicados aos livros e à contemplação da vida, protegida por trás de sua redoma. Ela precisava dizer a ele que não estava à sua altura, que não podia ser a musa de um poeta. Ela era uma mulher comum, sem nenhuma grandiosidade. Ela comia, respirava, andava e sofria como as outras, não era mais bela, nem mais alta, nem mais perfeita. Ao contrário. Ela sabia que estava cheia de pequenos defeitos e manias, que tinha hábitos arraigados que lhe custava muito abandonar para adotar uma vida em comum. Além disso, outra coisa a impelia a partir. Francesco era casado. Sua mulher e seus dois filhos deviam chegar no fim de semana, e ela não podia suportar a idéia de separar uma família. Ela não conhecia a outra, mas imaginava os filhos dele, e o que a ausência do pai provocaria.

Era preciso abrir mão de sua pele macia, do cheiro que ela já não sabia se se desprendia do corpo dele ou do seu , do carinho e do aconchego que os braços dele lhe proporcionavam. Ela era uma mulher forte. Adulta. Madura. Ela resistiria. Ela lembraria de seus comentários e de seus versos coloridos como os dias de verão que haviam passado juntos. E usaria o que ele lhe ensinara para poder olhar os desenhos das nuvens e os espaços vazios entre os quadros dos museus.

Ela levantou da cama, silenciosamente, e começou a se vestir com gestos lentos. Francesco continuava escrevendo, absorto. Um sorriso flutuava em seu rosto, um sorriso resignado e angélico, como os que perpassavam os lábios dos santos mártires nos quadros clássicos. Ela ia para o martírio de amor. Renunciaria a ele para tê-lo para sempre em um sacrário.

As batidas na porta foram suaves, quase não se fizeram ouvir. Ela não as teria escutado, se não estivesse tão junto às espessas madeiras trabalhadas da porta, já em seu caminho para fora da vida de Francesco. Atravessando a bolsa nos ombros, deixou sobre a cama o papel onde explicava sua partida. Tratava-se de uma carta confusa, cheia de repetições e argumentos que não se sustentavam logicamente. Ela deu um último passo para trás, olhando-o com tanta intensidade que se admirava que seus olhos não deixassem marcas pelos locais que percorria. Voltou-se, e abriu a porta. Paula chegou a ver o clarão que iluminou um rosto retorcido de angústia. Não escutou os ruídos que se seguiram, os gritos, o eco, o baque do corpo caindo. Só sentiu o turbilhão. Depois, o nada.

Wednesday, November 28, 2007

Um carro, uma estante

Quando adotei o André como irmão, foi meio que por impulso, a gente ainda nem se conhecia, mas ouvi a voz dele e minha intuição já me avisou, como um jingle: "esse cara é bom". O tempo foi confirmando as coisas boas, e cimentando nossa irmandade. Mas esse post dele tem que ser copiado e repetido, como um mantra, confiram: http://aleones.wordpress.com/2007/11/20/um-carro-na-estante/

E, agora, mais um capítulo, quase final.

Capítulo XVII

Até que enfim parou de chover! Estava doida para dar uma voltinha. Me despedir da cidade. Estou com pena de você, que não viu nada...

Vi muita coisa. Passeei por aqui por essas ruas escondidas. Visitei todas as lojinhas...

Vamos tomar um vaporeto e ir para o Lido?

Não, vamos ficar aqui mesmo, fazer um passeio de gôndola.

Claro! Você não andou de gôndola, isso é imperdível. E, depois, vou te levar para tomar um sorvete! Ai, são tão bons! É difícil escolher qual o melhor sabor. E um espresso duplo, uma delícia.

Você está tão animada!

Estou contente. Perdi um quilo e meio! Bendita gripe. Quer parar de me filmar?

Não é você. É a cidade. Olha que escadaria maravilhosa. Parece a torre de Pisa.

É o Palazzo Contarini del Bovolo. Vamos dar mais uma andadinha, para você ver como o la Fenice ficou lindo. Olha lá.

Nossa, ele é muito pequeno. Pela fama achei que fosse muito maior.

Não, esse teatro pertencia a uma família, que o construiu em 1792. Não é chique? Um teatro particular? Depois , não lembro quando, passou a ser da cidade, acho que foi depois do primeiro incendio, em 1836. Não deve ter sido antes, porque Rossini e Verdi estrearam algumas de suas óperas aqui. Sabia que os italianos, durante a ocupação austríaca, protestavam aqui no teatro? Jogavam flores brancas verdes e vermelhas no palco, da cor da bandeira italiana, e gritavam Viva, Verdi!

E isso é protesto?

É que v-e-r-d-i são as iniciais de Vittorio Emanuele, Re d’ Italia. Espertinhos, não?

Olha, o que é isso? Fila para gôndola?

Ih, o dia inteiro é assim. Mas anda rápido. Logo, logo chega a nossa vez. Porque você não aproveita para filmar a praça de San Marco, enquanto eu fico aqui na fila?

Prefiro ficar a seu lado. Vou filmar o vai e vem das gôndolas. Olha que lindo. Repara na perícia que esses remadores têm. E olha como fica lindo o grupo de embarcações junto a todos esses mastros coloridos. É uma loucura, são centenas de gôndolas.

É que aqui é uma espécie de ponto final delas. São poucos os lugares onde se pode pegar uma gôndola. Eu só conheço aqui no Molo, e lá perto da ponte de Rialto. Mas lá ainda é mais movimentado, porque todo mundo anda por lá, para fazer compras. Nunca pensei que uma ponte conseguisse sustentar tantas lojas. E são altas, alguma têm uns dois ou três andares. E tudo em cima da ponte, dá até medo.

Agora é nossa vez.

Viu como foi rápido? Cuidado. Ai, eu morro de medo. Está balançando muito.

Não se preocupe. Você está segura. Viu? Eu não deixo você cair.

É melhor eu sentar ali do outro lado.

Não, senta aqui mesmo, do meu lado. E abotoa esse casaco, não vá apanhar uma recaída. Põe o lenço aqui, no pescoço.

Não, Fábio. Não é preciso. E vira essa câmera para lá. Estou ficando irritada com isso.

Sabe que o seu documentário vai mostrar a escritora mais ranzinza de todo o Brasil?

Eu reclamo muito?

Só um pouquinho.

Eu devo ser muito chata. Não admira que eu esteja sozinha.

Você não está sozinha, está comigo.

É diferente. Somos amigos. Eu estava falando de uma coisa mais intensa...

Intensa como? Assim?

Fábio! Você me beijou!

Beijei. E de língua!

Mas, você não entende...

Quem não entende nada é você! Será que eu preciso colocar um cartaz no meio da rua? Será que tenho que mandar publicar no jornal? Eu sempre fui apaixonado por você. Mas esta é sua última chance!

Fábio, isso é um erro.

O que é que é um erro? Este beijo? Ou este? Ou este aqui?

Fábio, você está se aproveitando de mim... Estou carente... Ah, Fábio, assim, vai. Oh. Você beija tão bem. Ai, pára, está todo mundo olhando. E a câmera? Esta ligada? Desliga, isso vai.

Você só tem um defeito.

Qual?

Fala demais. E a câmera está desligada.

Monday, November 26, 2007

Feliz Aniversário

U.C.B., meu querido sogro, faria aniversário hoje. O "patinho", meu primeiro carrinho, amarelinho, foi comprado num dia 27 de novembro. Signo de Sagitário, que mira as estrelas, sonhador. Gosto desse dia. Acho que hoje vai ser um dia de bons fluidos, de boas acontecências...
Vamos novelar. Já está quase acabando.

Capítulo XVI

Acorda, Mari!

Que foi?

Você está tendo um pesadelo...

É horrível!

Está tudo bem, fica calma. Não chore.

Estou com muita dor de cabeça...

Sua febre voltou. Acho que vou te levar para o hospital. O porteiro da noite me disse que tem um aqui perto.

Não me deixa. Fica aqui comigo.

Estou aqui do seu lado.

Me abraça.

Ah, Mariana...

Por que você vai embora?

Não vou embora. Estou aqui com você, para sempre.

Não me deixe.

Não chora. Calma, calma. Acho que você está delirando. Deixa eu ver a sua febre... Cuidado! Assim você quebra o termômetro. Mariana! Meu Deus! Acorda, Mari. Acorda!

Fábio.

Que susto você me deu. Deixa eu me vestir, vou te levar para o hospital.

Não, não quero. Estou bem.

Você está com febre de novo.

Me dá o remédio. Está na hora.

Estou preocupado, é melhor eu te levar para o hospital.

Bobagem. Homem é tão assustado. Não é nada.

Você estava delirando, e até desmaiou.

Delirando? O que foi que eu disse?

Sei lá, não prestei atenção.

Falei da gente?

Não entendi direito.

Mas, era da gente?

Acho que não, era um pesadelo, você não queria que eu fosse embora.

Que dia é hoje?

Porque?

Já está na hora de voltar para o Brasil?

Você não pode viajar dessa maneira!

E o livro?

Você já terminou, não lembra?

Terminei?

Terminou. Você separou o Francesco e a Paula.

Você já leu a Divina Comédia?

Li.

Não viu que Paolo e Francesca estavam juntos no Inferno, e que esse era o castigo deles? Juntos para sempre. O amor acaba e eles, literalmente, se danam. Eu me baseei na Divina Comédia para escrever a história. Os amantes que se juntam por causa de um livro, o amor que eles não conseguem resistir... Só que fiquei com pena, e dei outra chance a eles.

Não, você não entendeu nada! As palavras de Francesca são mais ou menos isso: não há maior dor do que recordar o tempo feliz na tristeza. Lembre-se que Dante era um moralista. Ele não está punindo o amor dos dois: ele está punindo o adultério que eles cometeram. E eles estão juntos para recordar o tempo feliz... O amor deles não acaba, o problema é que eles têm a consciência culpada por terem cometido adultério.

Não existe amor para sempre...

Existe!

Os próprios cientistas falam que não. A paixão tem curta duração...

Não confunda paixão com amor. Paixão é coisa infeliz, é sofrimento. Amor é outra coisa.

Eu não sei o que é amor.

Amor não é para se saber. Se a gente mete o intelecto no meio, estraga. Olha a lenda de Eros e Psichê. Se a Alma humana resolve “conhecer” o Amor, ele desaparece. Amor é para sentir, no escuro, sem noção de outra coisa que não seja o sentimento. Amor exige entrega, confiança.

Eu queria tanto amar! Queria me apaixonar, mas não consigo! Nem escrevendo eu consigo. Estou farta de viver assim, sozinha, solitária. Eu queria alguém. Eu preciso de alguém que me queira, que tenha prazer de estar comigo, que me escute...

E você não tem? Eu te escuto. Eu adoro estar com você...

É diferente. Você é meu amigo.

Sou tão repulsivo assim?

Repulsivo? Você não é nada repulsivo! Você é atraente, bonito, charmoso, inteligente, sexy.

Tudo isso? Se eu sou tudo isso porque você nunca ...

Prá não estragar nossa amizade. A gente ia perder essa intimidade, essa liberdade que nos une!

Então você já me olhou com outros olhos?

E você?

Homem é diferente.

Sabe que eu detesto essas suas recaídas machistas? Diferente por que? Homem e mulher são absolutamente iguais!

Não são não, graças a Deus! Essa história de viver num mundo de iguais é a coisa mais autoritária que conheço. Mulher e homem são diferentes, e é preciso respeitar as diferenças uns dos outros. O bom é isso, o não igual, o nosso esforço para chegar no Outro. Poder olhar e não ver um espelho, entende?

Sabe que eu nunca entendi por que é que a Vera te deixou?

É porque nos dois nunca estivemos juntos, realmente. Nunca fui capaz de ter uma conversa com ela. A gente não se falava...

Mas você adora conversar! E ela também.

É, mas a coisa não fluía entre nós. Ela estava sempre ocupada. E me cobrava. Queria que eu fosse mais ambicioso, que eu parasse de dar aulas para ir ser assessor daquele meu tio, que era deputado, lembra?

Se você tivesse ido trabalhar com ele, teria uma grana preta, agora.

E daí?

E ainda estaria casado com a Vera.

E quem disse que eu gostaria de estar casado com a Vera? Só lamento é pela Clarinha. Ela está crescendo longe de mim. É uma pena.

Você está sempre com ela, Fábio! Todo fim de semana, nas férias, todos os dias vocês se falam.

Mas é diferente, assim. A gente nunca vai ter lembranças, assim tipo, de família, entende?

Não, nem quero pensar muito nisso. Não tive filhos, e o tempo passou, e agora acho que já não dá mais, já está muito tarde. Às vezes fico pensando que eu devia ter feito uma inseminação...

Taí, por que não fez?

Por que não queria ter filho com um estranho. Um doador anônimo. Ui, chego até a ficar arrepiada.

E por que não pediu a um amigo?

Isso lá é coisa que se peça? Imagine eu chegando prá você e pedindo alguns decilitros de sêmen.

Decilitros? Você pensa que é assim? Centilitros ainda vai. Mas o negócio é mais para mililitros... Assim, tipo uma colher de sopa.

É mesmo. É que não sou boa nessa coisa de medidas. Nossa! As pessoas iam ter que fazer amor na banheira!

Deixa eu ver a febre.

Já baixou. Estou me sentindo bem melhor. Você é um ótimo enfermeiro.

Você é que é uma ótima paciente.

Conferências

Já fui a diversas conferências pela vida afora, e, apesar de meu interesse, da qualidade dos conferencistas, dos temas abordados, acho que não guardei nada do que escutei. Fico tão embalada olhando as pessoas, vendo seus trejeitos, avaliando seu à vontade frente ao público, olhando a mobília, as estátuas, todas as coisas periféricas, que a substância das palavras me escapa. Claro que na hora eu percebo, entendo, concordo ou discordo. O que me falta é a memória do conteúdo, depois. Para reter algo, preciso escrever sobre aquilo que ouvi. Se não, vou me lembrar dos óculos do Saramago, do cavanhaque do Eco, das mãos pequeninas do Manguel, mas não de suas palavras e de seus pensamentos. Isso não acontece, porém, quando vou a um concerto. Não me lembro dos maestros nem dos músicos, mas me lembro da música, não das notas em si, mas da experiência da beleza que senti. Já não sei mais o que a Filarmônica de Berlim tocou aqui no Municipal quando a escutei. Mas lembro que, naquela noite, entendi porque as duquesas largavam palácios e jóias, maridos e filhos e iam atrás de um Beethoven, ou de um Liszt, ou de um Chopin -- como não existiam os meios de reprodução do som, para escutar de novo essas maravilhas, só seguindo-os.
E, agora, o momento mais esperado do dia: a continuação da novela! Boa leitura, a todos.

Capítulo XV

Está tão escuro, que horas são?

Quatro.

E já está assim escuro?

Quatro da manhã.

Eu dormi tanto assim?

Deixa eu ver a sua febre.

Estou tão suada. Preciso de um banho. Você não foi dormir?

Estava preocupado com você. A febre não baixava. Agora baixou. Você só está com 38.

E o que você ficou fazendo aqui?

Li o manuscrito. Está muito bom.

Gostou do final?

Vou preparar seu banho.

Não gostou.

Gostei. É que não esperava que eles acabassem assim. Vem, deixa eu te ajudar a levantar.

Eu levanto sozinha.

Olha aí! Cuidado. Quase caiu, viu? Essa tua gripe é muito violenta, e você está sem comer... Põe o chinelo, não anda descalça no chão frio.

Deixa. Agora aqui eu fico sozinha. Eu me seguro. Sai, vai.

Mas deixa a porta do banheiro entreaberta.

Que idéia! Deixo destrancada, mas entreaberta não.

Está com medo?

Não estou ouvindo.

Não posso falar mais alto, são quatro da manhã!

Não escuto nada.

Deixa, não tem importância. Enquanto isso eu vou ajeitando as coisas aqui no quarto.

O quê?

Estou fazendo tua cama.

Fábio?

Já terminou?

Sabe que você é o melhor amigo que eu tenho?

E você a minha. Vem, deita aqui.

Não, vou pegar roupa limpa, minha camisola está muito suada, e eu não vou ficar de roupão de banho.

Deixa que eu pego. Tá na gaveta? Eu pego.

Não, não mexe aí. Fico com vergonha de você ver minha roupa de baixo.

Por quê? Que é que tem? Mulher tem cada frescura! Não mostra isso, não mostra aquilo, mas vão prá praia de fio dental.

Eu não uso fio dental.

E isso aqui?

Fábio! Que droga! Eu não disse prá você não mexer na minha gaveta?

Sinceramente, prá que é que vocês mulheres se dão ao trabalho de vestir uma calcinha dessas? Não vêem que não cobre nada? Isso não protege nenhuma das partes importantes.

Esse tipo de calcinha é para ocasiões especiais... Ah, estou tão mole! Nem consigo levantar o braço para pentear meus cabelos.

Deixa que eu penteio. Sempre tive vontade de pentear os teus cabelos.

Já notei. Você sempre arruma um pretexto para mexer neles. “Está no seu olho, tem uma coisinha aqui presa, acho que vi um fio branco”...

É que seus cabelos são lindos. Tão pretos. Os cabelos de Iracema deviam ser assim, pretos como a asa da graúna...

Os meus são pretos como a caixinha de tintura.

Olha o seu pêssego. Quer comer agora?

Ah, está uma delícia. Não sabia que eu estava com tanta fome!

Come mais um.

Não. Só quero água. Estou morrendo de sede. Olha só como a minha boca está ressecada.

Vem, deixa eu te ajudar a deitar.

O dia está amanhecendo...

Está frio, lá fora.

É a umidade. Aqui chove tanto. Estou com saudade do sol... De ficar na praia, te vendo jogar vôlei...

Você sempre debaixo da barraca... Não vai nem na água!

Não gosto de água fria!

Não quer a coberta?

Agora estou com calor. Acho que vou dormir mais um pouquinho.

Antes me diz uma coisa: por que é que tua história acaba assim?

Por que eu não acredito em amor! Quando a gente baixa a guarda, vapt, lá vem o golpe!

Como é que você pode ser assim?

Sunday, November 25, 2007

Histórias Possíveis - primeiríssima edição

Saiu hoje a primeira edição de Histórias possíveis. Mais uma "reinação" do André, meu irmão siamês, juntando um monte de escritores em torno de histórias mais ou menos impossíveis de se encontrar nos jornais. Porque o real é muito mais incrível do que sonha nossa van-literatura...
Leiam, leiam, embarque em nossa van que ela te leva longe daqui, aqui mesmo. Neste primeiro número, um único homem (Wesley Peres) com suas donas flores: Daniela Mendes, Dheyne de Souza, Suzana Fuentes e esta que vos escreve.
E agora, mais um capítulo da novelinha que virou novela e agora já está se metamorfoseando em novelona:

Capítulo XIV

Quer mais um travesseiro?

Não.

Toma um golinho, vai...

Não quero. Nem quero que você fique aqui. Estou me sentindo mal. Quero ficar sozinha, quero dormir.

Bobagem. Imagina se eu ia te deixar sozinha assim, nessas condições.

O que é que você está fazendo?

Montando a câmera.

Mas, que idéia! Quem disse que eu ia permitir que você me filmasse na cama?

Que é que tem?

Isso é invasão de privacidade! E eu estou horrível!

Você está linda, como sempre.

Estou arrasada.

Nem um pouquinho.

E chateada.

Por quê?

Fiquei imaginando a sua cara de decepção, quando não me encontrou à tua espera.

Eu pensei que tinha acontecido alguma coisa.

Pensou nada. Você achou que eu estava puta com você e que tinha resolvido não ir. E aí ficou puto comigo, foi ou não foi?

Foi. Mas também não foi. Por que no fundo eu sabia que tinha acontecido alguma coisa. Ainda bem que eu cheguei. Se eu não estivesse aqui você não iria ao médico.

Bobagem ir a médico. É só uma gripe. É só tomar um chá de limão que amanhã estou boa.

Estou vendo, uma gripe de nada, né? Sabe quantos graus de febre você tem? 41.

Bem que estava sentindo dor de cabeça.

Bebe um pouco d’água, vai.

Obrigada. Desliga essa câmera. Não quero que você me filme assim. Vai prá rua passear, vai.

Deixar você aqui sozinha? Nunca.

Quero dormir.

Dorme, que eu tomo conta de você.

Não, vai passear. Não quero que você me veja dormindo. Fico com vergonha. Inda mais, com essa câmera. Você quer me filmar babando e roncando, prá me envergonhar.

Eu nunca faria isso...

Faria, sim. E eu quero dormir. Por que você não sai para comprar uma fruta para mim. Quero um pêssego, bem gostoso.

Será que está na época de pêssego?

Saturday, November 24, 2007

Sol, praia e bicicleta


Sábado de sol, fui andar de bicicleta e depois à praia. Me distraí, tomei mate/limão e água de coco.
Coisas boas do Rio: um programão feito de quase nada...
Agora blog, almoço, conferência e cinema...

Capítulo XIII

Oi.

Nossa, que voz... Está tudo bem?

Estava escrevendo.

Ah, desculpe. Só liguei prá dizer que estou embarcando hoje. Quer alguma coisa daqui?

Não.

Nada, nada?

Nada, mesmo.

Nem amendoim japonês?

Nada.

Está chateada por que estou indo para aí?

Não. É que estou no meio de uma cena importante, não quero perder o embalo.

A cena da cama?!

É.

Eles já chegaram às vias de fato?

Como já? Você passou o tempo todo reclamando da falta de sexo na minha história! E já estou terminando o romance. Se eles não transarem agora, só em outro livro.

Pensei que você ia deixar para escrever o final quando eu estivesse aí. Como é que vou fazer o documentário, te filmar escrevendo?

Olha, acho melhor você desligar, se não pode perder o avião. É melhor chegar com três horas de antecedência, ou até mais. Os procedimentos de segurança estão cada vez mais complicados.

Isso para não falar nos problemas dos aeroportos daqui. Além de apagão aéreo, temos operação padrão da polícia federal. As filas estão enormes.

Então, tá. Vai logo.

Poxa! Essa cena deve de estar mesmo quente. Nunca te vi com tamanha vontade de voltar a escrever.

Ai, que saco! Já perdi o clima. Que coisa! Por que é que você não desliga?

O que é que eles estão fazendo? Me manda por e-mail, ainda dá tempo. Eles estão próximos do orgasmo, é?

Fábio, qual é? Você pensa que está ligando para o tele-sexo?

É que eu estou preocupado com esse teu poeta. Acho que ele, na hora H, vai falhar!

Só se você telefonar e atrapalhar. Por que é que ele havia de falhar? E, mesmo que falhe, isso é problema do passado. Se ele perceber que as coisas não vão bem, ele toma uma pílula.

Ah! Não falei que esse teu poeta não era de nada? E você também está por fora. Pílula é coisa de mulher. Macho toma é viagra mesmo.

Eu não lembrava do nome. Me admiro é de você ter o nome assim, na ponta da língua.

Isso é porque você nunca frequentou academia de ginástica. Os caras ficam lá só falando nisso: uns dizendo que os outros estão tomando. Ninguém toma, mas acha que todo o resto já tomou.

Que horas são aí, Fábio?

Caraca! Já estou atrasado!

Corre, não vá perder o vôo.

Manda por e-mail, vai. Ainda dá tempo.

Não mando nada. Anda logo. Amanhã você lê.

Friday, November 23, 2007

Meu professor de piano

Meu professor de piano é genial! Me fez sentir uma concertista, embora eu só tivesse tocado uma modesta escala em clave de dó (e não tenho muita certeza se toquei também uma outra escala em clave de fá) Mas, só estar aqui falando em clave de fá e de dó já abriu as "chaves" do meu imaginário. Então, vou dizer bye, bye e vou escolher um CD bem lindo, e ficar escutando, maravilhada, me preparando para quando o meu dia chegar. Por que meu professor de piano (não canso de repetir, bem orgulhosa) me garante que vou tocar um "Schumanzinho", imagine! E me promete que não vou ter que ficar tocando Cai-cai balão, mas que vai me fazer tocar Villa Lobos (bem, com certeza aquele das cantigas, mas um cai-cai balão com griffe eu toco com boa-vontade!)
Meu professor de piano me prometeu um caderninho com "pentagrama" e um livro americano, me prometeu que volta na próxima sexta-feira e me deixou assim, sorridente e boba, com uma alegria de menina que vai ver o circo.
É mesmo genial, o meu professor de piano!

Lua apressada

Ontem, lá pelas 16:30h a lua, que me parecia cheia, já estava se mostrando no céu azul. Como estava bonita, na verdade, linda, ela não teve paciência para esperar o sol se por, e veio a passeio, aproveitar a tarde com suas cores lavadas pelas chuvas recentes. Brincou com as nuvens, rodopiou no céu e depois postou-se, brilhando, como sentinela de uma cidade ainda esperançosa. Ela se deixou ficar ali, perto do Cristo, solitária, sem estrelas em seu séquito. Depois caminhou lenta, e umas estrelinhas estremunhadas vieram ocupar o lugar que ela havia deixado vago. Imagino o prazer de quem, como eu, teve a chance de olhar para ela -- e vê-la em toda sua beleza. Outros a viram junto ao mar, outros entre as nuvens, e ela mostrou a todos sua melhor face. Hoje o sol, enciumado, vem mostrar suas belezas, iluminando, sombreando, emprestando energia e calor, e até um pouquinho de inspiração...
Que esse meu texto faça os leitores pararem um momento para olhar o dia, ou a noite, com um sorriso.
E agora, mais um capítulo da sensacional novela blogueira:

Capítulo XII

O quarto era muito pequeno, e a enorme cama de dossel dificultava a circulação. As portas dos armários esbarravam nas laterais trabalhadas, deixando sulcos na madeira dourada, polida pelos anos. Entraram com dificuldade, a porta dupla se abrindo pela metade, deixando uma passagem estreita e traiçoeira, que aprisionava as roupas de quem entrava distraído.

Francesco entrou primeiro, seu corpo esguio evitou as armadilhas da maçaneta e, com movimentos acostumados, aproximou-se do interruptor saliente para acender a luz do cômodo. Ela pousou a mão sobre a dele, desejosa de permanecer na penumbra azulada e trêmula que as águas do canal projetavam dentro do quarto. Compreendendo o seu gesto, ele respeitou sua vontade, e esperou que ela olhasse à sua volta, se familiarizando com o aposento.

Paula olhou demoradamente a pilha de cadernos sobre a mesa de cabeceira. Sem precisar abri-los, ela sabia do que se tratava: eram os cadernos onde ele escrevia seus versos. Depois, procurou a mesa, encaixada entre as janelas, miúda, desconfortável. Imaginou-o debruçado sobre os cadernos, escrevendo, febril. Voltou-se, sorrindo, e encontrou o rosto dele, também sorridente, mas com um ar de quem se prosta em adoração perante um altar. Não era esse o olhar que desejava surpreender, assustada com o fervor e a devoção a que não se sentia fazer juz. Baixou os olhos, e corou.

Francesco se aproximou dela, tentando não espantá-la. Sua mão se elevou lentamente, até tocar-lhe o rosto. Ela inclinou a face para encaixá-la no côncavo de sua mão, os olhos fechados, a boca ligeiramente entreaberta.

Com delicadeza, ele levou a mão até sua nuca e puxou-a de encontro a ele. O beijo que se seguiu poderia ter sido terno e suave, mas os dois se surpreenderam com a explosão do desejo que os invadiu.

As pernas de Paula fraquejaram, e ela colou-se ao corpo dele, buscando apoio. Ele lhe ofereceu mais do que ela esperava: mostrou-se forte, exigente, faminto. Paula começou a gemer baixinho, sem perceber. Ele diminuiu um pouco as carícias, com receio de estar sendo precipitado, até compreender que os gemidos dela eram de prazer. Estimulado pelos sons, ele se deixou levar pelo instinto, e, sôfrego, desceu os lábios procurando o decote de seu vestido.

Paula hesitava entre deixar-se beijar ou corresponder ativamente às carícias. Tímida, ela sufocava suas reações, tentando não demonstrar o desejo que sentia. Queria que ele lhe arrancasse a roupa e a jogasse na cama. Queria que ele se colocasse entre suas pernas e a penetrasse logo, com impaciência. Francesco, porém, não tinha pressa. Tanto havia esperado por esse momento que se preocupava em saboreá-lo devagar, como criança que come uma guloseima com dentadas mínimas, procurando prolongar seu prazer.

Logo Paula se acalmou e compreendeu as regras que ele lhe impunha. Ao invés de pensar, deixou que seu corpo reagisse instintivamente, sem peias... Os dois foram se despindo devagar, com método. A cada peça retirada, cada pedaço de pele exposta era coberta de beijos, saboreada, línguas e dentes experimentando a textura e o sabor do outro.

Francesco despiu-se completamente, mas Paula conservou as peças íntimas, rendadas e brancas como as de uma noiva. Subiram na cama, ajoelhados de frente um para o outro. Ele deixou que seus olhos percorressem o corpo dela, maduro, mas ainda guardando a mesma flexibilidade de uma adolescente. Com sua pele muito clara e a lingerie branca, ela parecia um anjo envergonhado, a cabeça pendida, um braço cruzado protegendo os seios, o outro descido, com a mão aberta em frente à virilha.

Francesco tomou-lhe as mãos delicadamente, abriu seus braços e olhou-a. Depois colou-se a ela, os braços esticados para o lado, como se fossem dois crucificados. Ficaram assim até que o ritmo de suas respirações se igualasse e eles pudessem agir em sincronia. Abraçando-a, ele retirou seu soutien, beijou-lhe os ombros e desceu a boca até os delicados mamilos róseos, cuidadoso, receoso de sua fragilidade. Paula foi-se deitando devagar e ele acompanhou seus movimentos, amparando-a, sentando-se a seu lado, de maneira a poder ajudá-la a libertar-se da calcinha.