Sunday, August 31, 2008

Recife dos meus amores!

Se existem dias perfeitos, eles são passados no Recife! Adoro essa cidade com seus mares de sereia, pois aquelas águas são da temperatura certa para criar sereias e outros seres encantadores em sua hibridez e sedução. E como são belas, as praias, que acho que os habitantes já nem se dão conta de sua beleza. Eu, com meus olhos cariocas, olhava o mar muito verde, leitoso, os recifes negros, a espuma das ondas brancas que ora formavam penachos, esguichos de fontes, ora se derramavam pelos degraus de rochas (ou corais, não sei) e pareciam imitar cachoeiras. Nas piscinas naturais, os peixes pequeninos se misturavam às crianças e a alguns adultos que, deitados na água morna, conversavam coisas preguiçosas e sonolentas, ou ficavam calados, contemplando o céu e as nuvens, abrindo e fechando os braços e pernas, num ballet do qual não tinham consciência. Eu, carioca, procurava as ondas, desafiando os cartazes que me prometiam tubarões. Pois os tubarões estavam de folga neste fim de semana, talvez afugentados pelas jangadas com propaganda eleitoral, ou pela música tocada pelos mercadores de MP3, numa orgia de canções agradecendo a Jesus, que os havia salvado de todos os males, menos o da pirataria.
O SESC continua seu trabalho ímpar, impressionante, e nestas horas eu fico feliz, e acredito que meu país tem jeito. Aquelas trinta pessoas que estavam na platéia, em busca de soluções para fazer as pessoas se interessarem por literatura, me encheram de esperança. O SESC de Santa Rita tem um espetacular "Laboratório de Autoria Ascenso Ferreira" -- e lá espero que germinem muitas sementes para a criação e a fruição da literatura. Quem frequenta esses ambientes criados pelo SESC só pode se sentir valorizado e estimulado. Não canso de elogiar, por exemplo, o fenomenal colégio que eles criaram aqui no Rio. Este projeto devia estar em todos os jornais e revistas do país, todos os olhos da nação deviam se voltar para lá, e todos nós devíamos estar torcendo para que essa iniciativa dê muito certo. Quem conhece as instalações, a equipe de professores e a dedicação de todos os envolvidos se encanta totalmente.
Mas não quero que pensem que elogio porque ganhei o prêmio SESC -- elogio porque, depois que ganhei o prêmio, é que fiquei conhecendo tudo o que eles fazem de bom. Eles precisavam de que os holofotes fossem voltados para suas iniciativas, para servirem de exemplo!
Agora que voltei, dei uma lida rápida nos comentários e agradeço com muito carinho, o carinho e a compreensão de meus leitores. E acolho com muita simpatia o Ivan, futuro pianista que vai tocar, em dueto comigo no Municipal -- a gente só não sabe é quando! Vera Helena, mesmo distante, suas palavras me deram aconchego e conforto. É bom ter amigos, mesmo virtuais. Um dia a gente se encontra.
E, por falar em encontros, encontrar os amigos de Recife foi muito bom! Fazer amigos em Recife também foi muito bom: terra de gente acolhedora e carinhosa, conheci, em Olinda, Izabela e Geruza, escritoras também. Conheci, finalmente, o Marcus Accioly, poeta de grande sensibilidade e muita erudição, mas de uma simplicidade e simpatia comoventes. Raimundo Carreiro, Marcelino Freire, também foram companheiros de conversa e boteco nestas festas literárias que agitaram a cidade. Marco Polo Guimarães, meu querido poeta das ruas do Recife, com seus versos cheios de luz e cores, foi pena que nossas atividades estivessem programadas para o mesmo horário. Mas foi bom trocar abraços e conhecer Angeli e Alana.
E que dizer da grande e tocante homenagem que Zezé e eu recebemos por parte de Breno Fittipaldi, que nos dedicou a peça encenada ontem? E da comenda que recebemos? Pois é, mais respeito pois agora sou COMENDADORA!
Fico por aqui. Voltar de viagem é sempre complicado, lidando com saudades e vazios...

Friday, August 29, 2008

Before sunrise

Antes do amanhecer, venho aqui me despedir, pelo fim de semana. Vou participar de uma palestra no SESC, em Recife. (Acho que é o de Santa Rita, escrevi em algum lugar e já não sei mais onde coloquei a anotação.)
Estou terminando de fazer a mala, que, desta vez, vai com os dez livrinhos que recebi, pois as livrarias de lá não vão receber a tempo. Bem, se alguém estiver me lendo aí no Recife, convido-o ou -a para ir até lá, no sábado, às 16 horas. André de Leones também vai estar lá, e a mediação vai ser feita pelo Marcos Accioly.
Deixo vocês com uma recomendação de leitura: A elegância do ouriço. Divertido e inteligente, é daqueles livros que a gente lê sem parar e ainda aprende coisas! Querem saber que mais estou lendo?Fantasma sai de cena, do Philip Roth e o último do Robbe-Grillet, XXXX-rated, que deve ferir a suscetibilidade de muita gente nestes tempos de sensibilidade aguçada pela pedofilia. Explico porque estou lendo dois ao mesmo tempo: Estava lendo um (Fantasma) mas esqueci em casa e, como não sei viver sem um livro na mão, e tinha um tempo enquanto esperava minha orientadora -- comprei o Robbe-Grillet e comecei a leitura. Não é muito a minha praia esse tipo de livro, mas é tão "clássico", tão "marquês de Sade", que despertou minha curiosidade. Foi o último livro que ele escreveu, e acho que já tinha passado dos 80, na época. O começo é intrigante, como se fosse uma alucinação de um moribundo. Essa pessoa que desperta numa espécie de cama de hospital, passa a ter visões, e essas visões são tão século XVIII, com a menina em poses estudadas e convencionais, como se fossem daquelas gravuras antigas. Não recomendo, esse cada um lerá se quiser. O Fantasma também não vou recomendar, embora eu goste muito do Roth. Mas também tem essa situação um pouco mórbida, com esse escritor já velho, sofrendo de incontinência urinária e de impotência após uma operação de próstata, se apaixonando por uma moça uns 50 anos mais nova... Vai ver que, ao chegar aos 80, os homens só se encantam pelas mulheres bem jovens, ou ainda impúberes, numa espécie de ansiedade para recuperar a juventude. Será que isso acontece com as mulheres também? Ou elas acreditam mais nos cremes e nas plásticas?

Tuesday, August 26, 2008

Chegou!

De saída para entregar o trabalho na UFF, volto atrás para compartilhar a alegria: chegou meu livro, prontinho, encapado, elogiado na quarta capa pelo Mussa, e examinado com carinho pelo Moutinho, nas suas orelhinhas verdes, da cor da esperança.
Ele deve estar chegando nas livrarias. Vocês já podem procurar por ele! Se folhearem com cuidado, vão encontrar meu coração ali dentro, todo remendado, mas batendo graças ao carinho de vocês!

Sunday, August 24, 2008

Feliz Aniversário

Semana de muita correria, mas tentando reservar tempo para os amigos. Assim sendo, consegui me encontrar com pessoas queridas, ir ao teatro duas vezes, ir ao encontro literário do Henrique Rodrigues para escutar o Marcelo Moutinho; ir ao CCBB para ver a exposição de Clarice com outra escritora, a Elomar Nascimento; bater papo na praia com Alcione Araujo; na Argumento com a Valéria Martins, seus filhos adoráveis e mais um escritor e historiador, o Diego; e ainda, jantar com minha filha; almoçar em família e comemorar o aniversário de 90 anos de uma amiga proustiana, a Maria Flora. Relembro assim um dos meus contos prediletos de Clarice, "Feliz aniversário", em que a velhinha se rebela contra aquela família toda cheia de segundas intenções, cujos membros esqueceram o que é o amor e a vida para lhes dar uma lição de irreverência. Estou aqui pensando num livro cuja resenha fiz recentemente, do Pierre Bayard, cujo título é mais ou menos Como falar de livros que não lemos, para corroborar o fato de que a minha leitura (feita há tanto tempo) já não me permite lembrar o enredo com clareza -- o que é mesmo que acontece em histórias todas passadas nos pensamentos das personagens? -- Cada leitura é única e pessoal, depende de nossa interpretação, de nossos sentimentos. Proust, um especialista sobre leitura, sabia que a circunstância em que lemos os livros influenciam sua leitura. Por exemplo, depois da morte do Guilherme (e, por incrível que pareça, quase três anos após o fato, ainda não consigo falar, ou pensar ou escrever estas três palavras juntas sem que meus olhos se encham de lágrimas) fiquei um tempão sem conseguir ler. Sei que tem gente que nem se importa com isso, mas, para mim, que sou movida a leitura, isso equivalia a estar morta também. Sem ler, não sou eu. E eu não lia nada. Nem jornal, nem revista, nem livros. Meus amigos me ofereciam livros, me mandavam artigos, e eu nada... Até que ganhei de uma das proustianas, o livro Fazes-me falta, da Inês Pedrosa. Esse livro rolou um tempo junto dos outros, mas o título mexia comigo e levei-o comigo para Trancoso onde a Helena, outra proustiana, tentava me fazer sobreviver aos horrores dos ritos de passagem de Natal e Ano Novo. Li o livro entre lágrimas e soluços, sentada sozinha no varandão do hotel, de tarde, enquanto Helena dormia sua sesta. Acho que sublinhei todas as frases do livro, como se fossem revelações. No entanto, nem lembro do que se tratava ali. Sei que a situação era oposta à minha, o homem sobrevive à mulher, e se correspondem, ela escreve de um lado, ele de outro. O que eles se diziam? Não sei. Só sei do título, fazes-me falta, que ecoava a única coisa que eu era capaz de pensar naqueles meses de tanta angústia e desespero. As pessoas dizem que as dores passam com o tempo, mas eu garanto que não passam. Proust me ensinou que não passam. Nós é que, sutilmente, sem nos apercebermos, deixamos de ser quem éramos, nos tornamos outras pessoas. A Lúcia amada pelo Guilherme deixou de existir. Sempre, porém, que alguma coisa dispara a lembrança involuntária, essa Lúcia ressurge por átimos de segundo, e a dor da perda a ataca sem piedade, esmaga-a, e ela então desaparece mais uma vez e deixa essa aqui, sem graça, escrevendo blogs, que se distanciam de seu objetivo principal, que é mostrar como Literatura e vida interagem, em festas de aniversário, em episódios do cotidiano, em "novas maneiras de ler".

Wednesday, August 20, 2008

De amor e de cinzas

Histórias de amor, o que será melhor? Lê-las ou escutá-las? Decerto vivê-las! Mas, quando isso não acontece, ler um bom romance ou escutar uma amiga ou amigo contando seus encantamentos funciona como uma espécie de bálsamo.
De todas as histórias de amor que li, qual seria a que mais me marcou? Me lembro, por exemplo, de ter chorado compulsivamente ao ler Amor de Perdição. No entanto, não lembro da história. Quais foram as tragédias que aconteceram? Foram tantas... Termina, se não me engano, com o rapaz morrendo numa viagem marítima e sendo jogado ao mar. Bem, de amores infelizes, foram muitas as histórias que li. A Dama das Camélias, por exemplo. Romeu e Julieta. Grande Sertão, Veredas. O Guarani. Iracema. Anna Karenina. Mme. Bovary.... E eu ansiando por finais felizes, que encontrei num Alencar mais ameno de A pata da gazela, Tronco do Ipê, Sonhos d'Ouro. E, claro, na Moreninha, de Macedo. Depois passei a não me interessar tanto pelos finais, mas sim pelas peripécias amorosas. Na Cartuxa de Parma, o heroísmo de Fabrizio del Dongo me fascinou até que, anos mais tarde, relendo, descobri a Sanseverina e o Conde Mosca! Porque eu gosto de reler livros. Volto às histórias como quem vai visitar amigos. Nem sempre isso dá certo, os livros se modificam, hoje já não tenho mais paciência para o Pequeno Príncipe, que li, apesar de nunca ter sido miss. Sei que os livros continuam os mesmos, e que quem muda sou eu, mas, como eu continuo sendo eu, digo que são eles os modificados, para não questionar minha identidade. Pois, admitindo minha mudança, tenho que perguntar: qual a Lúcia verdadeira, a de hoje ou a que leu e gostou do Pequeno Príncipe? E, além disso, alguns livros continuam me agradando até hoje: Memórias de um sargento de milícias, por exemplo, continua adorável. Os romances e contos de Machado, permanecem tão bons como quando os li pela primeira vez. Alguns dos romances de Eça ainda me deliciam. E os contos de Cortázar, ainda me ensinam coisas. Um romance que adorei apaixonadamente, quando o li pela primeira vez, Vento Forte, de Miguel Angel Asturias, tornou-se ilegível, anos mais tarde. Outros não tenho desejo de voltar a ler. Em alguns romances, me apaixonei pelos seus personagens masculinos. Em outros, me identifiquei com as heroínas. Depois descobri que quem eu queria ser, mesmo, era o autor, ou a autora. Às vezes terminava uma leitura e chorava, frustrada, achando que nunca ia escrever nada assim tão importante como o que acabara de ler. Não era inveja, era um sentimento de que minha vida é tão pequenina, que jamais poderia gerar algo grandioso. Depois percebi que não era isso o que importava. Os livros nos tocam pelas suas "verdades". Quando logramos atingir a seiva daquilo que nos faz humanos e iguais, sendo tão diferentes, encontramos nos leitores uma resposta através dos tempos. Assim, as histórias de Leonardo, passadas no tempo do rei, que vira Sargento de Milícias e consegue, finalmente, casar com sua Luizinha ainda nos fazem rir, e pensar, e nos surpreendem com suas observações.
Termino falando de cinzas, em dois livros que adorei ler: Os sinos da agonia e O nome da rosa. Hoje já não quero reler nem um nem outro, embora os tenha relido pelo menos três vezes cada um. Tenho medo de não gostar. Os dois falam da época da Inquisição, são bem construídos, inteligentes. Só que, muitos Códigos da Vinci depois, já não me deixo seduzir pela manipulação da arte de narrar, tenho medo de achar a "matéria de carpintaria" muito aparente. (O Autran Dourado, autor de os Sinos..., escreveu depois esta obra, explicando como tinha sido a construção de seu romance, e deu este título, matéria de carpintaria). Mas volto a isso outra hora. Agora já são horas de dormir...
Antes, porém, uma palavrinha a respeito do comentário do Amauri, que me diz estar num Spa chamado Dona Urraca. Quando estudei a história de Portugal, fui apresentada a uma dama com este nome. Ela e sua irmã, Dona Tareja, me assombraram: como é que princesas recebiam esses nomes tão pouco sonoros? O pior é que o marido de uma delas, querendo livrar-se da mulher, matou um urso, costurou-a dentro da pele do animal e soltou os cachorros atrás. Quanta barbaridade, não acham? Espero que este spa não tenha nada a ver com essa história! Aguardo notícias.

Monday, August 18, 2008

Praia e música cubana

Apesar de dever ficar legalmente "casada" com Coetzee e terminar meu trabalho, traí-o e me entreguei à leitura de outro romance. Quando terminei, tinha perdido/ganhado o sábado e, como já era domingo e o dia era de sol, acabei indo à praia. Afinal, todo mundo sabe que é pecado trabalhar aos domingos! Praia do Leblon, dia de sol, época de campanha política: a gente sabe que tudo pode acontecer... Mas nada ocorreu de especial. A água estava limpinha e numa temperatura razoável, mas muito agitada. Mesmo assim, tentei vários mergulhos, tropecei em crianças com pranchas, escapei por pouco de boladas que uns quatro ou cinco marmanjos sem noção resolveram chutar em rodinha bem na beira d'água, tomei um balde de mate com limão, de torneirinha (gosto de viver perigosamente) e cheguei em casa a tempo de tomar banho e me arrumar para o Cello Encounter das 8h. Filas e conversas inacreditáveis. Uma pessoa, que mal conheço, resolveu me contar de seu ''hidrocólon", mas vou poupar meus eventuais leitores. Eu sempre me admiro com os assuntos que puxam comigo. Já escutei descrições de tumores latejantes, de cirurgias plásticas atemorizantes, já ouvi os detalhes de operações financeiras que deixaram meu cérebro dormente. Já sorri incontáveis vezes com as mesmas piadas contadas pelas mesmas pessoas, embora a piada não tivesse graça nem na primeira vez que foi contada. E já tive que achar muito engraçada a história que eu havia contado numa festa anterior, quando a escutei, como coisa sua, contada pelo meu interlocutor, numa festa posterior. Antes, tinha os olhares cúmplices do Guilherme. A gente não trocava olhares irônicos, só se olhava, com amor, soprava um beijo e seguia em nossas órbitas, separadas, mas gravitando apaixonadamente em torno um do outro. Agora aqui estou eu, falando com esta máquina, talvez na triste esperança de que ele me possa ler...
Que ele leia então o final feliz de meu domingo: música boa, música pelo prazer da música, músicos numa "orgia" de entrega e admiração, se aplaudindo mutuamente, trocando instrumentos, fazendo duos, revelando seus "eus" antes da profissionalização, em despudorado exercício de paixão. E tudo isso grátis! Como não ser apaixonada pelo Rio? E pelo SESC?

Saturday, August 16, 2008

Quem é o fotógrafo dela?

Todas as manhãs o Globo se reparte em crimes e medalhas em meu hall de entrada. Eu folheio as páginas, quase sempre entediada, mas uma ou outra coisa chama minha atenção. Desta vez, foi o retrato da Marta Suplicy: duas imagens, a do cartaz da campanha política e a da política em campanha. Quem tirou aquele retrato da campanha? Quando? Ou aquilo se deve ao fotoshop?
Parabéns, dona Marta. Não contrate outro. O que ele fez foi melhor que a plástica.
Lembrei agora de uma outra obcecada por imagem: a Sissi. Minha amiga me contou a quem ela deve seu nome -- à Imperatriz! Uma menininha foi incumbida de entregar um ramo de rosas à bela esposa de Francisco José. Era a bisavó de minha amiga, que iniciou a tradição de dar, às primogênitas, o nome da Sissi. Olhando a bela Beth, julguei ver duas rosas daquelas entregues por sua bisavó, brilhando em sua face. Avalio a enorme impressão que a Sissi terá causado numa menininha na longínqua Alemanha, a ponto de, quase dois séculos mais tarde, reviver assim numa historinha contada com olhos brilhando e rubor no rosto aqui no Rio de Janeiro. Quantos nomes não são homenagens assim, sinceras e duradouras? Mesmo em minha família os nomes se repetem, homenageando antepassados. Eu devo meu nome ao meu tio avô, que o devia a seu pai, que por sua vez, o terá recebido em honra de algum parente, ou de amigo de seus pais, ou de alguma personagem de novela que estivesse sendo lida pela mãe. Nomes, finitos, que se tornam heranças quando as faces, retocadas ou não pelo fotoshop, já desapareceram.
Outra foto chamou minha atenção no Globo, a de um amigo, que acaba de publicar seu segundo romance, que estou lendo. Um painel de vidas pequenas que habitaram nosso país, mas que contam sua história mais verdadeira. Logo nas primeiras páginas, o que me chamou a atenção foram as belas descrições do Rio, descrições de quem é apaixonado pela cidade. Tenho, às vezes, inveja de quem não nasceu no Rio e pode sentir o deslumbramento da primeira chegada na cidade. Outro dia recebi uma coleção de slides feitas a partir das fotos de um fotógrafo alemão que veio ao Rio espionar e mandou a Alemanha às favas, apaixonado pela cidade e seus recantos. Cada um faz as declarações de amor que pode -- com palavras, com imagens, com gestos... Só não entendo como alguns fazem gestos de desamor que não são impedidos pelos cariocas mais fiéis. Como é que estamos sofrendo golpes constantes que destroem belezas, acabam com as vistas, destroçam vidas? Ia citar Shakespeare, mas esse post já está longo demais. Remeto vocês a Hamlet, ao velho "to be or not to be" -- e digo, com ele, que, se nos opusermos, faremos que o destino adverso cesse. E encerro, cantarolando a Marselhesa!

Friday, August 15, 2008

Academia

Ontem tive um desses dias de turista em minha própria cidade. Fui almoçar com uma amiga, e me deliciei não apenas com as conversas, mas com a comida também. No quesito conversas, aprendi um aforismo alemão cujo sentido repasso: até o vinho sabe mal se tomado sem amigos.
Depois ela voltou para o trabalho, e eu gazeteei o meu e fui à exposição do CCBB: O tempo sob medida. Fiquei encantada, com esse tempo redescoberto em relógios que marcavam horas tão diferentes: as horas eróticas, como o relógio nº 17, com um incansável amante entre as pernas da amada, ilustrando os tique-taques. Ou, no relógio seguinte, marcando as horas de recolhimento e paz em frente a uma lareira doméstica. Ou horas de pompa e circunstância, em relógios assemelhados a condecorações. Ou ainda a caixinha em que o tempo se materializa belo e canoro, como um rouxinol.
Também me encantaram as ampulhetas montadas num tinteiro em âmbar e marfim, marcando o tempo de escrever. O relógio embutido na coroa da virgem e o no crucifixo, onde o mundo se apressura em girar em torno do ponto fixo do trauma cristão. Para terminar, menciono o relógio montado num turíbulo, incensando as horas da missa, sem deixar que o padre se excedesse nos sermões.
E termino por aqui, sem falar do filme, de roteiro do Luís Dolino (seria o meu amigo? ou trata-se de um homônimo? vou esclarecer com ele) nem da bela exposição Onde a terra encontra a água, de fotos de Carol Armstrong; Fernando Azevedo e Leonardo Kossoy. Calo-me sobre estas imagens porque dali fui à Academia Brasileira de Letras, escutar uma palestra sobre Vieira e seu tempo. O prof. Silvano Peloso e a profa. Sônia Salomão, ambos da Universidade de Roma La Sapienza falaram sobre este século de mudanças que foi o século XVII, quando a Terra deixou de ser o centro do Universo e passou a gravitar em torno do Sol. E hoje em dia fala-se em re-engenharia... Re-engenharia foi isso!
Brincadeirinhas a parte, o professor citou alguém, cujo nome perdi, que disse haver mais história naqueles cem anos que nos 4000 anos do mundo. Bem, entende-se o que ele quis dizer, embora, limitado pela Igreja,talvez, o mundo do falante só tivesse 4 milênios.
Vieira nasceu em 6/2/1608 viveu praticamente até o final do século, passou 50 anos de sua vida no Brasil, e os outros 40 nas cortes mais importantes da Europa. Foi dos píncaros da glória aos subterrâneos das masmorras da Inquisição. Viajou do interior da Amazônia e do Maranhão aos explendores de Lisboa, Paris, Haia, Amsterdã e Roma. Foi o "ministro das relações exteriores" do rei D. João IV, o primeiro a reinar em Portugal depois do período de unificação das coroas de Portugal e Espanha. Tentou conciliar o conhecimento do novo mundo, que servia de estopim para a explosão das luzes do século seguinte, com as escrituras de um mundo que se desequilibrava e começava a girar como uma nave.
Foi um ótimo dia. Mas, talvez, o que tenha me feito ficar rindo sozinha, ao voltar para a casa, foi a cópia, a giz, numa das paredes do Bar Academia, de uma frase de Machado de Assis:
"As melhores mulheres pertencem aos homens mais atrevidos".
Ele era de um tempo em que ainda não havia "predadoras"...

Wednesday, August 13, 2008

Por que eu gosto do Xexeo

Bem, nem sei por que tenho que explicar por que gosto de um jornalista que só conheço de texto e que não reconheceria se cruzasse com ele na rua. Digo isso porque ontem estava numa loja no Leblon e depois em outra, e notei a agitação que percorria as vendedoras. Na primeira, falavam da simpatia da pessoa e nas idiossincrasias de seu marido. Na segunda, mencionaram seu nome: Roberta Sá. Acontece que essa talentosa menina é sobrinha de uma amiga, e eu já estive até na casa dos pais dela. Já a vi algumas vezes. E, no entanto, ontem nem sequer vi que ela estava ou esteve nas mesmas lojas em que entrei. Eu tenho dessas coisas: me desligo, e vou no piloto automático, sem perceber o mundo que me rodeia. De noite, fui ao coquetel do lançamento do novo romance do Silviano Santiago. Ele nunca foi meu professor, mas foi professor de alguns amigos, e é colega de muita gente que admiro. Lá fui eu. Encontrei muitos amigos, que não via há tempos. Uma dessas pessoas é a prof. Marlene de Castro Correa. Com ela conheci Drummond, de quem ela afirmava ser uma "mistura de paixão com meticulosidade". Com ela fiz uma pequena antologia de Castro Alves, um dos exercícios mais interessantes que já me deram para desenvolver meu espírito crítico. Tive que escolher dez poemas para formar uma antologia e justificar minhas escolhas. Sofri. Tinha que escolher os representativos? Tinha que exemplificar cada faceta? Já não me lembro dos que integravam a coletânea, mas me lembro do primeiro que escolhi, e em torno do qual construi minha antologia: Adormecida
Aqui vai, de brinde para os leitores:

Adormecida

Uma noite,eu me lembro...Ela dormia
Numa rede escostada molemente...
Quase aberto o roupão...solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

Stava aberta a janela.Um cheiro agreste
Exalava as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilavam ao tom das auras,
Iam na face trêmulos- beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
Para não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
" Ó flor!... tu és a virgem das campinas!"
"Virgem!...tu és a flor da minha vida!..."

CASTRO ALVES
S.Paulo, novembro de 1868


E agora? Por que escolhi esse poema? Talvez pela mesma razão pela qual gosto do Xexeo: a domesticidade, a capacidade de transformar nosso cotidiano em assunto, em tema de reflexão. Uma moça adormecida e seu balanço na rede, em contrapartida ao espectador insone, ou ao inveterado crítico das incongruências das novelas de TV. Um descanso das intrigas, da violência, dos desassossegos. E ainda tem mais, como não gostar de alguém chamado xexeo: um sussurro, um trinado de pássaro, um vai e vem de rede?...

Tuesday, August 12, 2008

O espelho

Bem, dei o meu recado. Mantive o tempo. Estou com a sensação de dever cumprido, mas, olho para o lado e vejo que muitos outros deveres se acumulam, descumpridos, exigindo de mim tempo e atenção. Queria um espelho mágico que me desdobrasse numa que escrevesse ficção, noutra que escrevesse o blog, noutra que encontrasse os amigos, noutra que fizesse os trabalhos da UFF... Ih, se eu começar a enumerar, me canso. Outra vez volto a Mário: preciso ser trezentas, ser trezentas e cinquenta!
Bem, uma dessas é que está aqui, mas já de partida, e que, antes de desaparecer, tomada por uma nova persona, deseja agradecer o comentário do Guido. Gente, e eu estava chamando de seita esse meu "processo civilizatório"! Desculpe, amigo, mas nunca me levo muito a sério, zombo sempre um pouco de mim mesma, com medo de infringir a hybris e transformar minha existência em tragédia. É claro que existe uma desesperada vontade de conservar, como sacerdotisas, a beleza, a elegância, a inteligência, se não já teríamos abandonado as reuniões há muito tempo. Mas me declaro absolutamente cética de ser capaz de mudar o mundo. Nada muda o mundo, e só vence a maldade. Mas, foi o próprio mestre do ceticismo, Machado, que nos ensinou que nos mantos de algodão há as franjas de seda. Vivamos, então, pelas franjas. E obrigada.

Sunday, August 10, 2008

Feliz Aniversário

Como já disse, estou num clima de comemorações. Aniversários, aniversários...Hoje, dia dos pais, comemoro o aniversário de meu filho em tom menor. As faltas se impõem, e é a custa da lição de Mário que faço as figuras paternas diminuírem e subirem para o céu, brilhando em alguma constelação, como lágrimas. Acho que preciso voltar a ler Macunaíma, para me divertir um pouco e experimentar outras consciências... Quem nunca leu Macunaíma? Será que hoje em dia ainda se lê Macunaíma? Será que em algum lugar remoto um grupo se reúne, todas as semanas, para ler e reler a obra de Mário? Pergunto isso porque faço parte de uma espécie de seita, que se reúne todas as semanas, há uns dez anos, para ler e reler Proust. A Rachel Jardim é a nossa "diretora de orquestra" regendo opiniões e ritmos, muitas vezes adoravelmente desafinados. Porque existe um encanto na desafinação -- uma espécie de despertar.
Nesta enevoada manhã de domingo, pensando em figuras paternas, me descubro pensando que meus "pais" são de papel, e que um não tocaria na mesma orquestra que outro, embora até pudessem se admirar mutuamente. A Rachel gosta de fazer aproximações: Proust e Eça, Proust e Machado... Todos experimentaram o delírio da Belle Époque, que, provavelmente, só foi bela para quem era classe dominante. Dos três, Eça ficou conhecido como um combativo na área da política, sendo que Proust e Machado foram chamados de alienados -- ledo engano. Nenhum escritor deixa de falar de seu tempo, nem deixa de pensar sua sociedade. Mesmo quando liricamente contemplando seu próprio umbigo, a vida de sua época está ali representada, as classes sociais, as ideologias da época, as correntes políticas aparecem em painéis, mais ou menos explícitos, mais ou menos hábeis. Quanto mais abrangente e universal a obra, mais encontraremos no texto, porém mais poderosas hão de ser as lentes para examinar os detalhes: Pensemos, por exemplo, em Brueghel, ou em Arcimboldo, quadros que contemplei recentemente e que ainda estão gravados em minhas retinas.
Estou relendo o texto que preparei para expor no Seminário Machado de Assis, tentando ajustar o texto aos 15 minutos a que farei jus amanhã. Corto e recorto, dou uma franzidinha aqui, faço uma prega no texto acolá, e me surpreendo com a quantidade de coisas que já se falou e se escreveu sobre O Espelho. Um conto, que não é dos mais longos, e que já suscitou tanta reflexão! O tema da minha comunicação é ele, mas praticamente todos os outros trabalhos, falando sobre diferentes aspectos da obra de Machado, dentre os que tive a oportunidade de assistir, tocaram neste conto. Uma moda, talvez? Há alguns anos atrás, era Missa do Galo, o conto que não saía da pauta. Desta vez, não escutei sequer uma menção, mesmo com o re-lançamento do livro que junta diferentes versões da missa machadiana (e eu mesma cometo essa ousadia, nesse meu livro que está prestes a sair-- confiram o conto Insônia). Desta vez, são dois os contos que disputam os holofotes: O espelho e A cartomante. Fiquei até com vontade de escrever sobre as metamorfoses no espelho (alguém já deve de ter escrito isso) acompanhando a trajetória do tema passando por escritores tão diferentes quanto Guimarães, Cecília Meirelles e Clarice. E pensando, quem, dentre nós, não se deixou ficar olhando para sua própria imagem no espelho, tentando encontrar a resposta para a mais difícil questão: Ser -- como somos? o que somos? quem somos? quando somos?
A gente se olha no espelho até se "dessensibilizar", e passar a encarar aquela imagem como uma coisa corriqueira. De vez em quando, nos estranhamos, e nos detemos, examinando, criticando, surpresos de que a imagem refletida não seja correspondente à imagem mental que fazemos de nós mesmos. No entanto, as mudanças se operam lentamente, com os pequenos golpes dos cinzéis liliputianos dos segundos, ou dos micronésimos de segundos que agora somos capazes de registrar, embora não de perceber. Proust criou um espelho em sua obra e colocou um "velho" contemplando a "criança", atando as duas pontas da vida, como Casmurro tentou, e conseguiu. O que o perverso do Machado fez foi desmascarar a impossibilidade de olhar com os olhos inocentes: toda narrativa é crítica e tendenciosa. Acorde "leitora ignorantona" -- narrar é manipular, e eu estou aqui te mostrando isso, mas você é muito "burrinha"e se prende apenas aos episódios, não vê que, ao aproximar recortes, estou fazendo aquilo que o cinema e a TV fazem: manipulação, reconstrução, interpretação tendenciosa, que pretende levar a sua interpretação à minha opinião. Machado entendeu como ninguém o que era literatura. Proust também, mas guardou seus achados para uso pessoal. Machado dissecou a mosca azul e romanceou essa dissecção. Proust chamou atenção para o seu vôo, mas não negou que ela pousava sempre no mesmo lugar, embora já não fôssemos os mesmos, modificados entre o alçar vôo e o pouso. Ambos, em algum momento, são acusados de prazeres sádicos. E eu termino, em clima sermonesco (claro, estou relendo o Padre Antônio Vieira), dizendo: bem aventurados os sádicos, pois são eles os capazes de narrar, eximindo-nos da culpa de viver. Se a vida pode ser uma obra de arte quando narrada, nossa canalhice, nossas baixezas, nossa insignificância se hão de redimir e serão justificadas, nas narrativas. Machado deseja revelar o processo que aplaca nossa consciência, Proust deseja mostrar que nossa consciência mascara o processo. Os dois compreendem o processo e o usam com finalidades diversas, mas eficazes. Os autores são mestres, e nunca periféricos. Os leitores são ignorantões, mas poderão, guiados, chegar a pequenas epifanias, pequenos orgasmos, ou seja, diminutas mortes. E é só da perspectiva dessa morte que se narra o mundo... O aleph, que engendra o beth, que engendra gama e todo o alfabeto da escrita. Faz sentido? Se não faz, ficou bonito, para finalizar o texto.

Friday, August 08, 2008

Portal de Orion

08/08/08
Não podia deixar de aproveitar essa data tão redondinha, e, esperando para ver a abertura das olimpíadas, desejar a todos uma "feliz abertura do portal de Orion". Vocês estranham?Eu também, mas, depois daquele filme Stargate, acho que as estrelas todas adotaram "portais".
Aqui está um desenho que representa a constelação que contém algumas das mais famosas estrelas do céu, a saber: Betelgeuse a estrela vermelha em seu ombro e Rigel, brilhante e azulada, em seu tornozelo.

Bem, para quem não conhece Orion, ele era um gigante, excelente caçador, que, dizem, foi amado por Ártemis. Numa das versões, a deusa, ao surpreendê-lo correndo atrás das Plêiades (as sete irmãs Sterope, Merope, Electra, Maia, Taigete, Celeno e Alcione que passeiam pelos céus acompanhadas de seus pais Atlas e Pleione), teve um acesso de ciúme e enviou um escorpião que o matou. Depois, arrependida, ela suplicou a Zeus que o colocasse no céu, juntamente com seus dois cães de caça, o Cão Maior, Sírius, e o Menor, Procyon, e que lhe desse animais para caçar: o Touro e a Lebre. Zeus realizou o desejo da filha, criando todas essas constelações, mas, para que ela não esquecesse das ciladas que o ciúme prepara, criou também a constelação do Escorpião, e, sempre que esta aparece no céu, Orion se esconde no mar.
Adoro essas histórias, aliás, adoro qualquer história, e me encanta poder lê-las no céu, no mar, nas montanhas, nas páginas dos livros.
Desejo a todos boas Olimpíadas, com ou sem portal de Orion, e aviso que vou estar na UERJ, este fim de semana, participando e expondo em um Seminário em Homenagem a Machado de Assis.
Falarei na segunda-feira, sobre O Espelho, conto excepcional de Papéis Avulsos.

Thursday, August 07, 2008

Chega de fossa!

Não vou mais falar de dor de cotovelo, até porque não sinto nenhuma dor de cotovelo. E hoje é dia do aniversário de uma amiga, e quero desejar a ela MUUIIIIITAASSS FELICIDADES!
Feliz aniversário Renée. E já aproveito para ir cumprimentando os aniversariantes dos dias seguintes: Feliz aniversário Marlene! Feliz aniversário Maria Flora! Feliz aniversário Ivan! Feliz aniversário Rosana! Ufa, cansei. Adoro todos vocês. Com todos esses leãozinhos (foi a correção automática que mudou, eu tinha feito o plural primeiro, depois o diminutivo + s) à minha volta, acho que me sinto bem protegida...

Wednesday, August 06, 2008

Mais interpretações excepcionais

Elis Regina - Atras da Porta - ao vivo

Me entusiasmei com o vídeo da Maysa, e fui procurar outras músicas que acho essenciais. Queria colocar o vídeo aqui, mas recebi uma mensagem de erro. Assim, fica o link, e quem quiser vai lá no YouTube ver.
Já falei com vocês sobre minha depressão pós-férias, e estou preferindo as canções do "fino da fossa", o supra-sumo do abandono. Mas até dá gosto sentir um pouco de dor de cotovelo, escutando essas canções...
Claro que, obsessiva como sou, escutei ne me quitte pas em todas as versões publicadas no You Tube. Acho que nenhuma interpretação é superior à da Maysa. Porém a Mireille Mathieu fez um mix com uma outra canção que intensificou o poder da letra. Ah, e acho que a versão em inglês, cantada pela Shirley Bassey, tem os versos mais lindos. Se você for embora, num dia de verão, pode levar o sol, e os pássaros ... Sem amor, pergunto eu, de que serve a vida? Prá adorar pelo avesso o outro que se foi, responde o Chico. Aliás, ele, tão novinho, aparece cantando junto do Tom Jobim uma outra música dos meus amores: Eu te amo. Como é que um menino conseguiu escrever versos tão doloridos? Está lá no YouTube, também. Vale a pena ver as duas versões do Chico, uma quase criança, outra, homem maduro. A primeira versão é mais emocionante. Acho que ele ainda acreditava no amor...
Amanhã continuo.

Tuesday, August 05, 2008

Ne me quitte pas

Ne me quitte pas, cantado por Maysa. Não só a música é linda, como a interpretação é fabulosa!
Aproveitem, deliciem-se, e chorem rios, se for o caso...
Eu quase me afogo, mas não deixo de escutar.

Monday, August 04, 2008

O prazer de dar aulas

Acabei de dar minha aula semanal, e vim conversando com uma das alunas, cuja filha começa agora sua carreira como professora universitária. Ela me falava da alegria e do entusiasmo da Joana, e eu concordava, pensando como é bom dar aula. Porque é muito boa essa sensação de compartilhar paixões. Eu adoro dar aula, mas das coisas que me entusiasmam. Falar de literatura sempre me deixa cheia de ânimo, de olhos brilhando, e feliz. Principalmente porque percebo que vou deixando os alunos com o mesmo encanto que eu sinto, e isso me gratifica muito.
Hoje lemos dois capítulos do Quixote, e minhas alunas estavam visivelmente deleitadas com o desenrolar da história. Uma chegou atrasada, e perguntou quem era a Doroteia, e eu nem precisei falar nada, elas disputaram a chance de falar sobre a personagem que as tinha comovido. Eu fiquei toda boba, alegre com elas e por elas, orgulhosa de vê-las tão seguras e "donas" da história. Há tempos atrás elas eram tímidas, não ousavam falar, não davam opiniões. Agora elas retrucam, concordam, lembram de coisas, visivelmente seguras de que estão entendendo o assunto. E nossos projetos se multiplicam. Depois de Cervantes, vamos a Vieira, sim o Pe. Antônio Vieira, dos belos e inteligentíssimo sermões. Vamos curtir muito, acompanhando seus raciocínios e estudando figuras de linguagem. Já estou antegozando o prazer dessas futuras aulas. Vai ser minha chance de reler um autor muito querido.

Sunday, August 03, 2008

Essas são as três únicas fotos que consegui tirar em Berlim: O Estádio Olímpico, que ainda não conhecia, e duas fotos do "dente cariado", que é como os alemães se referem à catedral bombardeada da Kufurstedam. Nem estão grande coisa...

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Álbuns da web do Picasa - Lucia - BUDAPESTE

Álbuns da web do Picasa - Lucia - BUDAPESTE

Álbuns da web do Picasa - Lucia - Viena

Álbuns da web do Picasa - Lucia - Viena

Fotos, será que consigo?


Minha primeira foto de Budapeste.
Coloquei as fotos no picasa, mas não descobri ainda como fazer um link para que os leitores possam chegar até elas. Vou continuar tentando.

Coluna do Xexeo

Acabo de ler o diagnóstico do Xexeo, sobre o amor pelo teatro. Vim correndo escrever, confessar meu amor pelo teatro, que não se deve à TV, pois não me era permitido assisti-la. Coisa de criança criada pelos avós. Só assistíamos a um programa durante a semana, escolha de minha avó, Os Intocáveis. Em compensação, escutei muito rádio, escondida no quarto da empregada que era apaixonada pelo Jerônimo, o herói do sertão. Eu também amava aquele herói e morria de ciúmes da Aninha. Sabia que o Moleque Saci ia preferir que seu grande amigo ficasse comigo, pois, afinal, eu não era uma mocinha doce e comportada: era aventureira: subia nos móveis, me escondia para escutar rádio e lia livros proibidos... Na maioria das vezes, fiquei sem saber como terminavam as aventuras, mas isso nunca me perturbou, pois eu mesma criava finais, que eram sempre idênticos: na hora do aperto, eu conseguia descobrir um jeito de ajudar o Jerônimo e ....acabávamos vivendo felizes para sempre, cantando aquela cançãozinha " Filho de Maria Rita(?) nasceu, Serro Bravo foi seu berço natal..." Incrível como as paixões se desvanecem no ar. Já nem lembro mais a canção...
Me pergunto, então, por que é que gosto de teatro? Primeiro porque via meus parentes indo ao teatro: era um grande programa! As pessoas se arrumavam, se vestiam, se perfumavam, usavam saltos altos ou terno e gravata. Me lembro de ir acompanhando minha mãe e uma amiga para comprar entradas para uma peça no Copacabana Palace. Mamãe falava das poltronas de veludo, das cortinas. Ela e suas amigas comentavam as peças aos cochichos, com risinhos excitados de adolescentes que já não eram, mas ainda pareciam. Acompanhei-as também às bilheterias do Teatro Glória, e de um outro no Centro, numa ruazinha esquisita que foi criada só para abrigar este prédio, ali perto da São José.
Teatros havia por toda a parte aqui no Rio. Ainda não tinha muita idade quando comecei a frequentar os espetáculos teatrais. Acho que, naquela época, cinema tinha censura, mas teatro não. A gente só ia ao teatro acompanhada pelos pais e ou responsáveis, acho que era isso. Sei que, ainda pequena, fui assistir a uma peça do Teatro dos Sete (? seria esse mesmo o nome?) Acho que era um Martins Penna. Assisti a uma montagem maravilhosa de A Moreninha, no João Caetano. Ainda me lembro das roupas maravilhosas e de uma canção: Cafuné, cafuné, é de São, São Tomé, vem de lá, de Luanda..." Neste mesmo João Caetano, anos depois, assisti Macunaíma e fiquei deslumbrada.
Mas havia outras salas teatrais, muito mais próximas de minha casa. Ali na praça Gal Osório (nos tempos de ditadura, era muito "ousado" dizer Gal, ao invés de General) assisti Roda-Viva. Ah, o que os meus olhos viram e meu coração sentiu! E, em Botafogo, assisti a Dois perdidos numa noite suja e também Navalha na carne. Grande Plínio Marcos, maldito na época, mas fazendo um teatro tão bom que nos deixava quase sem ar. Continuando com esses espetáculos inesquecíveis, assisti a uma montagem de Notre Dame des Fleurs, perto do Largo do Machado. Acho que isso foi muito depois, pois já estava casada. Na verdade, para quem se casou tão cedo como eu, pode não ter sido tão depois. Também vi, no Ginástico, Morte e Vida Severina, sem cenários, os próprios atores se transformavam em janela, em pedra, no que fosse necessário. Que revelação! Mas perdi coisas maravilhosas e a que mais sinto ter perdido foi O Rei da Vela. Logo eu, tão fã do Oswald...Não sei por que não fui. Talvez falta de grana.
Então, por que será que gosto de teatro? Porque antigamente, consideravam teatro um programa bacana. Porque as peças de teatro eram boas. Porque as montagens eram sensacionais. Porque não se ia ao teatro para fazer culto das personalidades. A gente ia ao teatro pelo espetáculo, não para ver a cara do Fulano ou a nudez do Sicrano.
Para terminar, não posso deixar de mencionar os Paulos, Gracindo e Autran. A gente ia ao teatro ver esses monstros sagrados. Mas, quando chegava lá, não encontrava nenhum dos dois. Dava de cara com Édipo, ou Shylock, ou seja lá quem fosse que eles estivessem representando. E era bom. Era inesquecível.

Saturday, August 02, 2008

RomamoR

Gosto de Roma. Aliás, gosto de toda a Itália, cada lugarzinho me encanta de uma maneira diferente, com um charme distinto. Não há como comparar as cidades italianas, não encontro um parâmetro com que comparar Roma, Veneza, Portofino e Florença, por exemplo. Mas, nesta viagem, ficamos apenas em Roma, passeando de 116, nosso ônibus elétrico, pequenininho e onipresente, que passava em todos os lugares para onde queríamos ir. Vila Borghese? 116. Panteon? 116. Piazza Navona? 116. Vaticano? 116. Lungotevere? 116... Já conhecíamos os motoristas, alguns nos saudavam, simpáticos, outros demonstravam seu desprazer com as turistas encaloradas que tomavam o ônibus para fazer viagens longas, aproveitando para descansar de tantas andanças. Gostávamos de tomá-lo na direção da Vila Borghese, para nos aproveitarmos do parque, lindo e fresco, com suas sombras e muitas fontes. Acho que fomos até lá todos os dias. Outras vezes, tomávamos ônibus de números diferentes, e íamos até redutos mais afastados da cidade. Foi assim quando quisemos passear pelas termas de Caracala, ou quando tomamos um ônibus de trajeto longo, até a vila olímpica. Íamos para o Termini ou para a Piazza San Silvestre, ou para a torre Argentina e dali seguíamos outros destinos, planejados de olhos no mapa.
Minha grande descoberta desta vez foi a Domus Áurea, a casa de Nero, seu palácio de verão, deslumbrante, totalmente soterrado por um de seus sucessores, num meticuloso trabalho de preenchimento e de aniquilação que fez meu coração se confranger. O que teria levado esse outro imperador, cujo nome já esqueci, a desejar apagar tão completamente os traços de seu predecessor? Ele nem foi o sucessor direto, o palácio ainda foi usado por pelo menos mais um César, que fez algumas modificações no projeto inicial. Mas depois foi deliberadamente obliterado por esse outro, num processo custoso e demorado. Houve que reforçar paredes, fechar vãos, preencher de terra milhares de metros cúbicos. Mas, eis que um belo dia, descobrem uma das aberturas que tinha sido feita exatamente para destruir. Uma espécie de poço, por onde um curioso desceu e descobriu o teto, magnificamente decorado, de um dos salões. Até Michelangelo desceu por uma dessas aberturas (logo em seguida descobriram outras) para ver as maravilhas das pinturas e daí nasceu o estilo grotesco -- ou seja, de grotto, essas grutas em que o palácio se havia transformado. Fizemos uma visita arqueológica, com capacetes e tudo o mais, guiadas por uma arqueóloga apaixonada por seu trabalho. Era um grupo pequeno, de pessoas persistentes: para conseguir os ingressos é preciso entrar na fila do Colosseo, passar pela segurança, ir até o guichê específico da Domus Áurea e depois voltar todo o caminho debaixo de um sol que torna as ruínas quase que incandescentes. Foi bom. Fizemos a visita logo no primeiro dia e aprendemos lições que nos permitiram olhar para as outras ruínas com olhos mais experimentados. Víamos em tudo aquilo o que lá não está, como nos ensinou Pessoa. Aprendemos a descobrir onde estariam antigas pinturas, onde as fachadas teriam sido cobertas de mármores, ou de mosaicos, em alguns momentos, sonhadoras, creio que conseguíamos imaginar a Roma de muitos séculos atrás.
Passamos vezes sem conta pela Fontana de Trevi -- nosso hotel estava bem ali ao lado. Era nosso caminho. Íamos ali como quem vai ao quintal. E, não importa a hora em que fôssemos, a multidão se comprimia, disputando um espaço para se deixar fotografar. Bebi água da Fontana, bem ali no bebedouro ao lado, que existe para esse fim, mesmo. Bebi água no Panteon. Bebi água em todas as fontes que encontrei pelo caminho, desejosa de incorporar, de alguma forma, tanta beleza e encanto. Entrei em igrejas, cada qual mais bela. As duas ao lado do hotel, já minhas velhas conhecidas, outras velhas conhecidas, na piazza Navona, no largo de Sta Susana, no trastevere, no alto da Piazza de Spagna. Outras ao sabor do acaso, provavelmente já visitadas antes, mas esquecidas, como a de Sta Maria Madalena. No Vaticano, enfrentamos uma longa fila para entrar na Basílica -- segurança, a mãe de todas as filas. Lá dentro, o encanto. E uma enorme emoção: ter mandado rezar uma missa pelo Guilherme. Essa missa será rezada entre o dia 5 e o dia 11 de agosto. Ter conseguido isso me emocionou até às lágrimas.
Era o fim da viagem. Depois disso, um almoço memorável no Brunello da Via Veneto. Uma caminhada até o hotel, onde aguardamos pelo transfer até o aeroporto, e... num vôo sem maiores problemas, S.P. parada obrigatória, antes de nosso Rio tão querido, tão humilhado pelos novos valores...

Friday, August 01, 2008

Com sol e com esperança

Na Alemanha fomos recebidos com sol. Era a última etapa da excursão, já estávamos mais experientes, mas, ao invés de um pouco mais folgados, graças à despedida de uma parte do grupo, ficamos foi mais apertadinhos, num novo ônibus ainda mais desconfortável que o anterior e com novas pessoas de um hotel ainda mais distante do que o nosso. Pois os hotéis eram de duas categorias: distantes, mas de boas acomodações ou próximos, mas horrorosinhos. Em Praga estávamos num no final de uma das linhas do metro. Não era mal, só a comida é que era terrível. Fugimos de nossas refeições de internato e comemos no centro da cidade, sempre. E, no café da manhã, depois da primeira decepção, passamos a trazer nossa própria comida e só aproveitávamos o café...
Mas a Alemanha foi generosa: sol, bom hotel, boa comida e localização perfeita -- Alexanderplatz, a um pequeno passeio de Nikolaiviertel, do Museumsinsel, do Berliner Dom. Com condução para todos os lados da cidade e uma profusão de bons restaurantes que nos deixavam sem saber para qual ir. Antes de Berlim, porém, uma pequena parada em Dresden para o nosso deslumbramento. Que milagre, a reconstrução desta cidade, bombardeada desnecessariamente, e com tanta violência que os incêndios provocaram uma espécie de turbilhão de fogo que sugava as pessoas para seu âmago. Não há sinais disso, agora. A cidade se revela em toda sua beleza, em alegria de viver. Custava-me acreditar na sua prévia destruição. E passeei por ali com gosto, embora quase sem tempo, tendo que abandonar as vistas e os prédios, e seguir adiante, para conseguir alcançar o ônibus que já estava pronto para partir.
Em Berlin, passeamos. Não deu para ir a nenhum concerto, pois a orquestra estava de férias. Nem deu para perambular por nenhuma rua, sem destino, descompromissados. Havia que visitar o Pergamon, havia que pagar nossos respeitos à Nefertiti, havia que levar os amigos à Kadewe, passar pela Unter dem Linden, pelo Adlon, pelos monumentos famosos e museus extraordinários. E eu ainda queria ir até Potsdam, para ver o palácio do rei filósofo, e conhecer o quarto que hospedou Voltaire, por três anos, dar uma olhada na biblioteca, ciosamente vedada a estranhos, olhar os jardins e o túmulo de quem preferiu ser enterrado à noite, junto a seus cachorros, num túmulo sem pompa, mas de enorme dignidade, onde alguns admiradores depositavam batatas, cuja cultura ele tanto se esforçou para introduzir em seu reino.
Depois, as despedidas. O grupo se desfez. Amigos recentes indo para Portugal e Galiza, eu e N. embarcando para a Roma alegre e quente, cheia de canções de outros festivais...