Tuesday, August 05, 2014

Vida, vida, vida

Na Flip falou-se muito de morte. A perda, a violência, a estupidez, o desalento, a filosofia, o desejo… tudo relacionado a ela foi esmiuçado e examinado. Alguns olhavam a morte como uma carta de Tarô: o recomeço. Outros apenas se declaravam "contra". Uns diziam que não falavam de morte, outros diziam que tudo o que se fala é morte. Uns lembravam a "pequena morte", que é o nome que os franceses (e os espanhóis também, aprendi) dão ao orgasmo. Morrer nos braços do outro: nunca me decido se é um privilégio ou não. Existe alguma entrega maior que essa? Existe alguma frustração maior que essa? Imaginem o/a parceiro/a, com o corpo exangue ainda misturado ao seu…
Quando se fala de morte, calo-me. Só posso falar de sobrevivência e das modificações que este "sobre" efetua na "vivência". Aos poucos vou descobrindo o caminho a traçar, no livro que desejo, mais que todos, escrever. Vou experimentando a mão em contos, em histórias alheias, até que possa fazer uma alquimia e transformar o vazio que me habita numa presença. Uma gestação que já chega a termo, um parto que se aproxima e que será, talvez, o mais doloroso e o mais longo.
Enquanto isso, examino a vida. Aprendo. Olho para as diferentes formas de vida biológica, a vida natural, a vida cultural, a vida social e lamento que saibamos tão pouco sobre elas. Todos falam de morte, creio eu, porque é muito mais difícil falar de vida. A morte é um silêncio e pode ser preenchido com nossas especulações. A vida é uma algaravia que nos atordoa e envolve de tal maneira que não conseguimos pensar sobre ela. Mas seguimos vivendo, inscientes e inconsequentes.
E sigo, vivendo por escrito, lendo para viver e vivendo para ler e escrever.