Thursday, June 24, 2010

Explicação da insônia

Ando abatida. Tenho dormido pouco, sempre atarefada, confundindo horas. Começou com uma tristeza, da qual nem ia falar, mas hoje a Cora me estimulou. Minha primeira noite sem dormir foi a do malfadado incêndio, que me fez passar a noite literalmente em claro. Em claro, mas na mais profunda treva de ansiedade. A sensação de impotência é a pior coisa. Ou talvez seja a segunda pior coisa, pois o que mais me incomodava é que eu — em segurança, claro— não conseguia deixar de ver a beleza fascinante das chamas. Pois aquele clarão na noite era lindo e letal. Talvez mais lindo por que letal, vá-se lá entender a alma humana. Mas a angústia da destruição me provocava engulhos e lágrimas. Foi uma noite de "Crime e castigo". De raiva e fascínio. Resultado: os dias subsequentes vão se passando numa roda viva de trabalho e alheamento, do sono que ainda não recuperei. Pois se o fogo me tirou o sono, agora são as águas que me tiram a paz. Leio sobre as enchentes em Pernambuco e Alagoas e meu coração dói. Amo esses estados, onde tive a oportunidade de encontrar bons amigos e muito acolhimento. Ouço nomes tão ligados à literatura, e sofro. Terra de meus amigos, castigada desta maneira, as imagens me fazem sofrer. Quem quiser colaborar," O Corpo de Bombeiros oferece duas contas para doações em dinheiro: Banco do Brasil, agência 3557-2, conta corrente 5241-8, e na Caixa Econômica Federal, agência 2735, operação 006, conta 955/6.", me avisa a amiga Lícia Souza. Pensem em Graciliano e mandem suas contribuições. Pensem nas pessoas amáveis e generosas, que mesmo com pouco nos recebem entre sorrisos e carinhos, e mandem suas contribuições. Pensem em suas camas limpas e cheirosas, na água corrente em suas casas, no teto sem goteiras sobre suas cabeças e mandem suas contribuições. Não fiquem indiferentes, não se desumanizem!
Depois de todas essas coisas sérias, é impossível falar sobre a bobagem da Copa, que também me tira o sono. Desejo a vitória do Brasil, mas parece que o clima é de receio. Portugal, agora, virou um bicho-papão. O jogo, que poderia ser um amistoso, já que as duas seleções já se classificaram, virou um desafio. Cristiano Ronaldo vai ser o mais bonito em campo, uma vez que o Cacá vai estar longe do jogo — É essa a vitória. Mas, o que era pra ser um jogo entre irmãos, um jogo para reunir a família em torno de um bom bacalhau, trocando-se piadas de português pelas de brasileiro, virou um jogo para disputar saldo de gols, colocação, sei lá o que mais. Virou mais um dos jogos medíocres da copa, onde ninguém brilha, todos se apagam e se amesquinham. E ainda temos a ameaça do Maradona. Se a seleção argentina ganhar, ao invés de prêmio seremos castigados com uma nudez não requisitada! Quem quer ver o Maradona peladão, montado no obelisco da 9 de julho? Sinceramente, minha amiga Halime tem uma seleção que deixaria a todos muito mais contentes se algum prometesse aparecer nos trajes de festa de Adão. De vez em quando ela nos brinda, no FB, com fotos de lindos jogadores, daqui e dali. Vamos combinar, Mará. Se a Argentina vencer, pede para a Halime escolher quem tira a camisa suada e mostra a jabulani para a gente!
E VIVA SÃO JOÃO!!!!

Thursday, June 17, 2010

Passados.

Pois é. Passou. O dia dos namorados. O dia de Santo Antônio. O jogo do Brasil. Os jogos da Copa.
Tudo passou, em branco, pelo menos para mim. Mas, desde ontem, recomeço a sair de minha toca. Ontem foi o Bloomsday. Não que eu ligue para isso, Joyce não me fala ao coração. Dou, de vez em quando, umas bicadas enfastiadas no seu Ulisses. Curto os Dubliners. Mas me encanto mais com sua vida que com suas obras. Pai de uma Lucia, imagino sua relação com ela, volta e meia. Uma relação complicada, sem dúvida.
Mas saí de casa, e tanto que não dei conta de todos os compromissos adiados para "depois do prazo". Hoje já li, estou cozinhando, e vou ao Municipal. E, se roubo um tempinho das panelas para vir aqui escrever é em agradecimento à minha T.T., que me mandou palavras tão alegres comentando minha barraquinha. Saudades dos seus olhos verdes, colorindo a vida a seu redor! Irei, com prazer, tomar a limonada, como, uma vez, há tanto tempo, fui comer romã em seu jardim, lembra? Era minha primeira romã, anêmica (descobri depois), mas especial na sua qualidade de fruta colhida no pé. E acompanhada por canções francesas. Au clair de la lune, mon ami Pierrot … Quanto às pimentas, não sei. Mas não digo não.
Agora volto às panelas e às páginas do meu livrinho.

Saturday, June 12, 2010

O quê? Já é sábado?!


Pois é… de repente, uma semana toda se passou e eu nem sei onde foi que ela se meteu! Entre as páginas de dois trabalhos, atrasadíssimos, sem dúvida. Só hoje percebo que não saio de casa há um tempão! E, se saí na segunda, na quarta e na quinta, foi apenas como uma teleguiada, sem me dar conta do que estava fazendo. Segunda é meu dia de aula, dia de alegria! E, depois da viagem, foi um prazer reencontrar alunas e amigas, voltar a discutir a vida do Henrique VIII e tentar entender suas ações. Ele, por enquanto, resiste bem. Já reparamos como — nas devidas proporções — ele parece um homem moderno, na sua fúria de rolo compressor na hora dos divórcios e separações. Nenhuma de nós concorda com suas atitudes, mas, aos poucos, compreendemos um pouco seu absurdo desinteresse, depois de mais de 3 anos de ansioso namoro, pela Ana Bolena. Mas, cada vez mais admiramos a inteligência de suas mulheres. Ele não se casou com nenhuma boba. Talvez só a Catarina Howard merecesse esse nome, se é que mereceu. E todas elas, mal ou bem, reconheceram que ele também era um homem excepcional. Até agora, estávamos lendo sobre o jovem Harry, o mais belo príncipe da cristandade, o mais formidável. Agora vamos entrar no seu declínio e conhecer o gordo, doente, impotente, mas ainda extraordinário rei.
As outras duas rápidas saídas também foram verdadeiros voos de abelha: direta em direção ao mel, e de volta para a casa, sem me distrair. Fui ao grupo das proustianas, contar um pouco das impressões de viagem e escutar muito de Proust, de Rachel, de New York, por onde andou Mag e seu olhar crítico. Na quinta, um pouco mais de liberdade: lançamento da Paula Cajaty e assinatura de contrato de um novo livro onde estou colaborando. Mas revi amigos, conversei um pouquinho, me deu até vontade de continuar saindo e me divertindo!
Mas voltei. Meus companheiros mais constantes da semana foram ensaios, romances de Carpentier, mais ensaios, reflexões sobre a leitura e sobre os intercâmbios entre pessoas e livros. Mas também tive meus momentos de TV, olhos distraídos acompanhando jogos que não chegaram a me interessar.
As viagens, portanto, são coisas do passado. Vou ver se consigo colocar mais alguma foto no FB, vai depender de minha sorte, pois nem sempre o botão "compartilhar no facebook" aparece como opção. Para vocês, uma barraquinha "porta fortuna", com tantos limões e belas pimentas, uma das muitas que encontrei pelo caminho.

Sunday, June 06, 2010

Caminhos


Acordo hoje e me perco em indagações: onde estava eu no domingo passado? Sem o bendito caderninho, já me parece impossível lembrar do que fiz. Foram tantas as cidades, tantos os caminhos… Mas antes mesmo de ir verificar, consegui me lembrar — acordei em Brescia. Mas, como lembrei do caderninho, vou transcrever aqui alguns trechos:
"Se Paris vale uma missa, Brescia nos valeu uma espécie de réquiem. A cidade não nos foi mostrada, e viemos parar direto num hotel (aliás, muito bom) ao lado da estação. Infelizmente, de manhã, um roubo: Um casal de velhinhos teve sua bolsa roubada no restaurante do hotel. Ninguém percebeu. O restaurante cheio, com o nosso grupo e mais os jovens da sinfônica de Seoul, e alguém se apossa de uma bolsa de turista, onde há passaporte e $$$, calmamente, sem testemunhos, sem que ninguém se aperceba."
Se o início do dia não foi dos melhores, sua continuação foi melhorando. O ônibus nos levou a Sirmeone, no lago de Garda, o mais bonito de todos. Quando chegamos, já que íamos tomar um barco, a Lei de Murphy se manifestou mais uma vez, e, enquanto estivemos embarcados, choveu e fez frio. Mal atracamos o sol abriu. C'est la vie!
Sirmeone fica numa ilha, na ponta de uma península estreita e compridinha. Nesta ilha, um castelo e as lembranças romanas: oliveiras de mais de 700 anos e as Termas de Catulo, uma das maiores da antiguidade, aproveitando as fontes de águas quentes, uma das quais ainda alimenta o lago, e se revela em borbulhas que sobem, alegres, até a superfície.
Mais um trecho do caderninho:
"Pelas ruas, uma impressionante quantidade de gente e de carros luxuosos, vê-se que é um lugar de turismo elegante, mas também popular. Nas lojas, uma quantidade absurda de sorvetes, paninis e pizzas nos tira a fome. E, na saída, a descoberta da Termas Fonte Boiola."
O caderninho continua, falando da região e de sua produção agrícola, tudo informação prestada pelo Gian Luca, nosso guia que se dizia apenas acompanhante. E menção aos ciclistas, que estavam por toda a parte. Enquanto isso, o motorista, Simone, nos levava até Riva de Garda, no outro extremo do lago, próxima da Áustria e, por isso mesmo, cheia de tradições austríacas. Comemos uma comida típica alemã, a tal da carne salada, uma espécie de carpaccio com essa carne salgada, bem gostosinha.
Depois fomos para Verona, onde estava acontecendo o fim do Giro d'Italia. Impressionante a quantidade de público que compareceu à cidade para ver o vencedor do torneio de ciclismo mais importante do país.
Um último trecho do caderninho:
"Agora viajamos entre montanhas, acompanhando um rio que se faz prateado entre os vinhedos. Ele brinca, ora à direita, ora à esquerda da estrada. O sol se filtra por entre as névoas que cobrem as partes mais altas das montanhas e de suas escarpas. Continuamos, e as montanhas vão se afastando cada vez mais, até que são apenas sentinelas distantes, ostentando nos cimos um pouco de neve."
Em tempo, a foto é de Riva de Garda.

Thursday, June 03, 2010

A fotógrafa subiu no telhado


Enfim, em casa. Pretendia atualizar o blog pelo caminho, mas foi impossível. Num dos lugares em que pernoitei, o acesso à internet me sairia a 35 centavos de Euro por minuto… Impraticável!
Anotei tudo num caderninho de viagem, caneta e papel nunca sairão de moda, eu acho. Nem o livro de papel, dos quais trouxe mais uma leva para enlouquecer meu querido bibliotecário de Babel – mais um Guilherme a sofrer, tentando colocar ordem nos meus livros!
Agora vou tentar fazer das minhas gracinhas, ou seja, publicar as espetaculares fotos que, por mero acaso, consegui ir tirando pelo caminho. Com elas poderei ir re-contando a história da viagem. Nesta foto ao lado, escolhida aleatoriamente, está a lembrança de minha visita ao Duomo. No primeiro dia, tendo chegado já à tardinha, passeamos só pelo chão, sem nos aventurarmos nas alturas do Duomo. Percorremos as ruas que nos levaram do hotel (Cavour) até a galeria Vittorio Emanuelle. Lá, aconselhada por Barbara, a Bela, condessa de Milano, dei as usuais voltinhas com o calcanhar encaixado aonde, um dia, estavam representados os testículos do touro. Dizem que dá sorte, e eu não quis desperdiçar esta chance. Afinal, quem não precisa de sorte? No dia seguinte foi meu dia de andar nas nuvens: primeiro, subi ao telhado do Duomo, depois fui ao Teatro alla Scala. Mas já falei sobre meu encantamento com a  ópera, e não vou me repetir aqui. O que não falei foi sobre os passeios em Paris, minhas impressões sobre as exposições maravilhosas e sobre a cidade encantadora, sempre interessante e cheias de coisas para fazer. Mas deixo para depois. Como ontem dormi o dia inteiro, por causa do jet lag que me pegou de jeito, desta vez, hoje tenho que fazer tudo o que pretendia fazer ontem, ou seja, colocar a vida em dia. Até breve, então!