Tuesday, May 31, 2011

Assiduidade

Ando feliz, com esse tempinho que arranjei para escrever, de manhã… Colocar em palavras alguns pensamentos desconexos, olhar para o mar, ler o jornal. Talvez não seja uma vida plena, mas me satisfaz.
Ontem, na aula, estava comentado que procuro sair cada vez menos. Gosto, sim, de sair, mas talvez isso seja alguma coisa genética. Na minha família havia muitas reclusas. Parentas que não saíam mais de casa, não sei por quê. Outras que passavam dias inteiros trancadas em seus quartos. Outras que, além de não sair, não falavam com ninguém. Nossa, parece uma família de depressivas irrecuperáveis, mas não era bem assim. Eram pessoas alegres, sorridentes. Pode ser que uma ou outra estivesse deprimida, mas não pareciam. Talvez a que não falasse com ninguém não estivesse lá muito satisfeita. Ou talvez ela não falasse só comigo, uma criança, por falta de assunto. Como, do alto de seus oitenta e tal, ela podia falar com uma pirralha mimada de 6 ou 7? E depois, como, aos 90, ela ia entender as mudanças de humor de uma adolescente?
Uma vez, muitos anos depois disso, conheci uma senhora linda, não estou brincando, elegante, fina, com 95 anos. Estava morando nos EUA e fui a um chá na casa de uma amiga inglesa, cujos chás nunca mais vou esquecer. Chá inglês, com sanduíches de pepino, tudo tão perfeitamente inglês! Mas, volto ao assunto, chegou uma amiga da inglesa com sua mãe, de 95 anos, que parecia mais nova do que a filha. Se bobear, parecia mais nova do que eu, que tinha idade de ser filha da filha. Fiquei fascinada, rodeando em volta dela , doida para saber o seu segredo. Muito digna, ela me disse que tinha feito "o tratamento" com a Dra. Aslan. Isso era uma coisa de que eu já tinha ouvido falar, diziam que o Roberto Marinho também tinha feito, essas coisas de milionários que iam para a Romênia e nunca mais envelheciam. Eu fiquei deslumbrada, achei que era uma maravilha, e que ela devia estar contentíssima por chegar aos 95 daquela maneira, saudável, linda, e ia continuando no meu entusiasmo sem limites quando ela me interrompeu, me olhando bem nos olhos, com o olhar mais triste que já vi, e disse: Não há nada mais triste. Não tenho mais nenhuma amiga, todas já morreram. Estou condenada a ser amiga das amigas de minha filha e… Ela não precisou terminar. Estava claro como água.
Ia agora falar sobre uma porção de baboseiras, sobre educação e vida interior, mas não era disso que se tratava. Ela reclamava de solidão.
Termino com uma nota alegre. Tenho uma outra amiga, agora, que está chegando, daqui a alguns dias, aos 92. Essa é minha amiga, companheira de viagens, alegre e cheia de planos, nada solitária. Ela sempre diz: sei conviver muito bem comigo mesma. Será esse o segredo? Aprender a conviver com si mesma – gostar da própria companhia, e não esperar dos outros um entretenimento que nem sempre eles podem nos dar. Fazer amigos de diversas idades, continuar acreditando em ideais, fazer planos para o futuro que ainda existe sim, embora o Jabor hoje esteja falando de um eterno presente. Sai dessa, amigo! O amanhã vem trazendo viagens e surpresas. E boas notícias. A Alemanha decidiu acabar com todas as suas usinas nucleares. Existe futuro e existe esperança!

Monday, May 30, 2011

Angelina e eu

Abro o Facebook e vejo uma mensagem me aguardando: Angelina Jolie faz anos no dia 4 de junho! De onde será que esse FB tirou a ideia de que tenho algum interesse em Angelina Jolie?! Nem sequer compartilhamos o mesmo signo de horóscopo… Muito menos os lábios. Nem a silhueta. Mas, já que o FB faz questão de me avisar, aqui fica minha mensagem de parabéns para ela. Imagino a bela abrindo o seu Facebook e descobrindo uma mensagem falando do meu aniversário. Seus olhos verdes, espantados, fixarão meu nome, tentando lembrar se algum dia ela conheceu alguém no exótico Brasil. Sua boca, inchada, se fechará num biquinho que vai deixar o Brad enciumado: "Para quem você está fazendo biquinho no computador?" – ele perguntará, fazendo sua cara de bastardo inglório. Ela vai dizer, com toda a propriedade: "Para ninguém!"
E eu, inocentemente, serei o pivô de uma rusga que, espero, termine em beijos e reconciliação.
Desculpe, Angelina. Nunca foi minha intenção me intrometer entre você e o Brad. A culpa é do Facebook, que, por alguma misteriosa razão, resolveu nos unir.
Para que estas mensagens aleatórias? Só para estimular minha curiosidade e ver quem mais nasceu neste dia. Pasmem: Adib Jatene, Antônio Ermírio de Moraes e Hugo Carvana! E então? Esses ao menos são brasileiros, por que é que não me avisaram deles? Na história, encontro Philippa de Inglaterra, nos idos de 1394. E também o duque de Lorraine. Será que foi ele quem inventou a quiche? Rei George III. Acho que era o maluquete. Algum escritor? Em 1907 nasceu Patience Strong, poeta e jornalista inglês. Que nome! E nem assim tinha ouvido falar dele antes… Ah! Cesar Bolanos, em 1931. Mas não é o escritor, que se chama Roberto. Este é um compositor.
Volto para a Angelina. Pelo menos esta tenho a sensação de conhecer. Sei como é o seu rosto, sei com quem está casada, perdi a conta de quantos filhos tem, mas sei que são muitos. Não lhe vão faltar parabéns no dia de seu aniversário. Espero que a data seja muito feliz. Nem vou me preocupar em mandar um cartão.
Mas, já agora, aproveito para dar parabéns para a Katia Gerlach! Que você e todos os seus companheiros de data tenham um lindo aniversário, que muitas felicidades venham amenizar seu novo ano, saúde, paz e alegria! Meu abraço, querida! E viva o dia 4 de junho.

Sunday, May 29, 2011

Frio no Rio

Meus amigos estão todos comentando: que frio é esse? Concordo, está frio, mas gosto tanto… Tiro casacos e cachecóis do armário, ponho as botas, redescubro o prazer de uma taça de vinho… E como tem vinhos bons agora no Brasil! Qualquer vinho em taça, num bom restaurante, é saboroso e agradável. E eu, agora, que descobri que sei alguns nomes de uva, finjo conhecimento e pergunto: Você teria algum Malbec? Ou Carmenère? E me sinto muito chique.
Mas, voltando ao frio: aproveito a temperatura e a chuva para ficar em casa. Leio, escrevo, faço resenhas… Me angustio, nervosa, ao ver que me distraí e marquei duas coisas no mesmo dia. E agora? Volto aos livros, aos escritos. De repente, me dou conta de que estamos no fim do mês. Coisa chata, tenho que pagar contas, perder tempo digitando aqueles números intermináveis dos boletos. Socorro! A pilha de livros, ao meu lado, é enorme. Não posso guardar ainda os livros da tese. Nem os de Rimbaud. E tem aqueles que quero mandar aos amigos. Humm, aqui faz falta uma lareira. Bem, seria agradável sentar à beira do fogo, bebericando um vinho e lendo… Na verdade, não seria, não: sou alérgica, o fogo me faz mal. Nunca me dei bem com lareiras, embora ache-as lindas.
Alguém me propõe "fondue". Não, obrigada. Minha comidinha de inverno é sopa. Adoro. Volta e meia vou a Argumento tomar uma sopa de cebola, ou uma de abóbora. Outras vezes, vou até o Garcia e tomo uma de couve-flor. Delícia. Ou faço em casa boas sopas de legumes, caldos verdes, canjas, sopas de ervilha. Sei fazer boas sopas.
Nesta época do ano há uma outra coisa que adoro: festas juninas. São as minhas preferidas! Aquelas iguarias à base de milho me deixam com água na boca. O próprio milho cozido já é uma comida dos deuses. Quentinho, salgadinho, que delícia. Bolo de aipim, pamonha, churrasquinho, paçoca. Tem gente que aprecia o quentão. Para mim, é muito forte. Mas aceito um vinho quentinho, com canela. Não sei como se prepara, quem fazia era minha amiga Gabi, alemã, que preparava essa bebida tão cheirosa e reconfortante. Ai, que saudades de Angra! As festas de casamento na roça, as pescarias, a quadrilha que nunca aprendi a dançar. Minha avó ensinava simpatias: a da casca da laranja, a da clara do ovo, a dos papeizinhos na água. Nunca funcionaram! Gostava mais do correio amoroso, pois sempre recebia uma declaração de amor. E sempre enviava uma, marcada com um beijo de uma boca pintada de vermelho forte, cor da paixão.
Me admiro de lembrar: um dia meu coração já bateu apaixonado. Todo meu corpo vibrou, na antecipação de um abraço. E agora, que fim levou aquele corpo vivo, meu sangue agitado, meu coração? Há de ter caído na fogueira.
Agora sou apenas uma estrelinha, brilhando friorenta, sorrindo com as lembranças. Mas não vou lá, não vou lá, não vou lá… Tenho medo!

Thursday, May 26, 2011

Um coração imóvel

Ontem fui ao lançamento do lindíssimo livro da Rosa Strausz, O herói imóvel. Ilustrado pelo meu querido amigo Rui de Oliveira, só podia mesmo ser lindíssimo. Mas, o livro me tocou por causa de sua história triste: a morte de um pai, narrada por seu filho. Um pai que soube, antes de morrer, deixar ao filho uma lição de esperança.
Nas ilustrações, toda a poesia dos olhos medievais do Rui, o que transformou a história da luta contra a doença em maravilhosas cenas de contos heroicos.
Imagino uma outra história, de uma princesa cujo coração fica imóvel, levado por um cavaleiro que partiu para um outro país. O Cavaleiro e a Princesa se amavam, e, quando ele precisou partir, a Princesa colocou seu coração numa caixa de madeira, com fechos de ouro, entre algumas flores e escondeu-o entre os pertences do Cavaleiro. Para que não desconfiassem que seu coração já não estava mais dentro de seu peito, e para que não vissem sua cicatriz, a Princesa colocou dentro do peito um relógio, que marcava o tempo em que eles estavam separados, e passou a usar véus que a escondiam e transformavam… Bem, é uma história triste, e sem esperança, ao contrário da contada pela Rosa, que optou pela vida. E por hoje vou ficando aqui.

Tuesday, May 24, 2011

Uma sociedade sem regras

Já há dias que ando engasgada com isso, tudo o que leio (superficialmente, pois não tenho tido tempo para muita coisa) nos jornais me mostra que estamos vivendo numa espécie de limbo onde não se admitem mais regras para nada.
As leis viraram "facultativas", as normas são ignoradas, as regras gramaticais são meras sugestões… Onde é que vamos parar? Será que todos se esqueceram que, para que uma sociedade exista, são precisas as regras? Pode parecer "careta", mas é necessário parar para refletir: estamos tão liberais, tão descolados, que nosso próximo passo só pode ser a aniquilação.
Não temos uma "lei", ou seja lá o que se chame, para o problema do desmatamento; resultado: cada vez se derrubam mais árvores. Não temos uma "lei" para o uso de conduções públicas: no metrô, as portas se abrem e uma verdadeira parede humana nos impede de sair do vagão, uma vez que não se respeitam as leis da lógica que ensinam que é preciso deixar um espaço para quem quer sair na estação; nos bancos, os desenhos de sentido da fila no chão são interpretados como uma mera decoração, e a fila impede o acesso a outros serviços. Na grámatica, as regras de concordância viraram discriminação: o professor que corrige está discriminando o aluno menos favorecido… Ora bolotas!
Criamos regras para podermos viver em sociedade. A gente convenciona que é preciso parar nos sinais vermelhos, então, para evitar acidentes e engarrafamentos, devemos obedecer essa convenção. Mas aí começa nossa indisciplina: justificamo-nos falando que é perigoso parar no sinal, que nossa velocidade nos impediu de parar no semáforo que mudou de repente, inventamos mil razões para não parar. O sinal fica vermelho, mas o carro avança, pois já é a segunda vez que ele abriu e fechou e o distinto motorista não conseguiu passar. Ele não entende que isso só acontece porque algum espertinho resolveu romper a regra e que se todos insistirmos nisso vai chegar o dia em que ninguém vai a canto nenhum. Pois, por exemplo, o ônibus que diz que vai para o Castelo, pode resolver naquele dia, ir para o Recreio. Afinal, é muito chato fazer sempre o mesmo trajeto. E os carros, cansados de andar na rua, podem optar por passar pelas calçadas e provocar mortes em série. E o governador eleito para o Rio de Janeiro pode preferir ir governar São Paulo e entrar em disputa com o que foi eleito para lá, estabelecendo um governo paralelo. E o redator do jornal pode decidir que não gosta mais da palavra vida, e substituí-la por salada, e o editor pode fazer como o Visconde de Sabugosa e surripiar o "ão", acabando assim com nosso fracote não (Caetano, finalmente será obedecido já que ficará proibido proibir).
Precisamos de regras e de leis, se quisermos continuar vivendo em sociedade. Precisamos das regras de etiqueta, de nos cumprimentarmos com gentileza, de aceitarmos a ideia de que nossos direitos terminam quando os dos outros começam. Não posso forçar que meus vizinhos tenham que escutar FUNK toda vez que me der na telha escutá-lo. Nem devo furar fila, nem jogar papel no chão. O lixo deve ser colocado no lixo, e não na jardineira do edifício. Não podemos estacionar em fila dupla, pois impedimos a passagem na rua, que é pública. Quando algum governante manda plantar uma mudinha de planta que achamos bonitinha, é para deixá-la ficar no canteiro, e não para arrancá-la e levá-la para nosso sítio. E quando o próximo nos irritar, não é para estapeá-lo sem piedade, é preciso ter a humildade de ver quem é que está mesmo errado, se somos nós com nossa buzina ou se o carro da frente pifou e precisa de reboque. Vamos combinar? Se até para jogar cartas é preciso aceitar as regras, por que é que não podemos ver que elas beneficiam a todos? Mas, se alguma regra for boba, ou exagerada, se os costumes mudaram, se as necessidades são outras, podemos aprimorar o que está falho e melhorar nossa convivência. É sempre possível nos divertir na companhia dos outros, e o trabalho em conjunto é sempre mais leve...
Agora que desabafei, estou me sentindo igualzinha… Devo estar com um cartaz de CRI-CRI colado na testa. No entanto, gosto que meus amigos saibam que vou chegar na hora marcada, que vou cumprir os prazos, que não vou levá-los em casa dirigindo pela contramão, essas coisinhas básicas.

Saturday, May 14, 2011

TESE

Eis que chego aos últimos detalhes da minha tese. Uma reunião com a orientadora, levando o projeto que deveria estar completo mas que tem problemas na bibliografia. Céus, será que eu não podia ter prestado mais atenção na hora de fazer as citações?! E agora? Vou ter que procurar páginas, datas, reler, esmiuçar, catar… Será que ainda consigo?
Isso tudo se minha orientadora não mandar mudar alguma coisa. Mas esta parte não me desencoraja, é o aperfeiçoamento, a sintonia fina. O chato é esse trabalho para o qual minha atenção nunca esteve equipada, as ordenações, os detalhes de formatação...
Bem, neste fim de semana, continuo em casa, trabalhando. Desculpem o sumiço, mas não dava para sentar ao computador e fazer outra coisa que não fosse tese…
Penso em amigos meus que escreveram, prolixos, 500, 600 páginas. Sou contista até na hora da tese, percebo. Reduzo, corto, e chego a meras 160. Está de bom tamanho, acho eu. Mas, vamos ver o que pensa a minha orientadora. É dela a palavra final.