Tuesday, November 29, 2011

Crateras

A conferência a que compareci era sobre Crateras de Impacto. São as tais crateras que se formam quando caem grandes asteroides sobre a terra. Minha companheira de viagem,  Dra. Gisela Poesges é diretora de um museu localizado no centro de uma cratera dessas, lá na Alemanha, em Nördlinger Ries.  Basicamente, o que aconteceu por lá foi uma história e tanto: um grande asteroide atingiu a região com uma velocidade de 20 km por segundo. Com toda essa velocidade multiplicada pelo seu peso (que devia de ser considerável, creio eu) esse asteroide penetrou cerca de 700 metros pela terra a dentro, atravessando camadas terciárias de argila e areia, Jurássicas de calcáreo e Triássicas de arenito, e provocando ondas de impacto nas camadas de granito e gnaiss bem lá no fundo (uns 4.500 m). Mas este é apenas o início da história: nuvens de vapor e de rocha se elevam, o solo reage e se eleva, uma chuva de pedras e de rochas derretidas cai sobre a região e forma-se um lago salgado que logo (em termos geológicos, algo como 1 a 2 milhões de anos) passa a ter vida, e que em mais 2 milhões de anos vira um lago de água doce, atraindo toda espécie de fauna. Esta cratera foi identificada como uma cratera de impacto nos anos 60. Pelos vistos, nem todo mundo estava experimentando o Flower Power, havia quem se interessasse pelo Rock and Asteroid Power.
Mas a região, a julgar pelos folhetos que recebi, é um encanto: Cheia de castelos, e muito fértil devido a essa riqueza de rochas misturadas e amalgamadas, existem traços de presença humana desde a idade Paleolítica. O período romano, uma era "Alemana" e outra "franconia", a idade média, todos esses períodos deixaram seus traços arqueológicos na região, que tem 9 castelos e conventos e inúmeras igrejas, e muitas ruínas mais antigas.
Estou doida para ir para lá, ver ao vivo essa região de gente simpática, bons vinhos e de traços históricos. Mais um encanto da Alemanha, país sedutoramente rico e belo.
Muito técnico este post? Talvez, mas não resisto a mostrar meus novos conhecimentos geológicos. Nunca mais serei capaz de olhar para a paisagem sem imaginar um pouco as forças que se combinaram para formar as doces colinas, um terreno plano se estendendo até o horizonte, ou os contornos serrilhados de uma serra. Isso já me assaltava quando ia visitar a Terceira. O centro da ilha era uma cratera, segundo me informou meu marido. Ali havia (deve haver ainda) locais onde uma fumacinha, com cheiro a enxofre, se escapava. E lá visitei uma caverna, com um rio subterrâneo, e muitas plantas.
O prato típico de uma região açoriana é cozido em buracos cavados nesta terra ainda fumegante e quente. Colocam-se os ingredientes na panela, embrulham-na bem, e enterram-na a uma determinada profundidade. Em cima de tudo, colocam uma vara espetada, com uma bandeirinha de cor e formato que a identifique. Exemplo: a verde triangular pertence à Maria, enquanto a rosa retangular é da casa da Aninhas. Isso tudo de manhã bem cedinho, antes de irem trabalhar na lavoura. Passam o dia trabalhando e no fim da tarde as famílias desencavam seus cozinhados, e fazem ali mesmo seu convescote, com um saboroso pão saloio, e talvez algumas fatias de queijo para complementar. A bebida pode ser o vinho da terra, pois lá nas ilhas eles cultivam umas uvas parecidas com nossas antigas uvas, de carninha mole. Mas também pode ser leite, tirado das vacas que pastam disciplinadamente dentro de pastos divididos e subdivididos com capricho, formando uma espécie de tabuleiro de xadrez em diversos tons de verde. Ou mesmo água mineral, pois não faltam fontes por lá. Eu sempre me maravilhava com essa região, que me parecia meio desolada, mas que tinha uma vida rica, interessante. Minha cratera preferida era a do Monte Brasil, um vulcão pequenino, com cara de vulcão de ilustração. Ali na sua cratera, muito verde, meu marido jogava futebol. Acho que foi lá que ele aprendeu a amar o meu país. Pudera, ia jogar futebol no Brasil e morava na rua Rio de Janeiro. Guilherme nasceu para ser brasileiro! Mas me deu o grande amor e carinho que tenho por Portugal e Açores.

Monday, November 28, 2011

E essa agora?

Descobri, somente agora, que tenho muitas estatísticas quanto ao meu blog. Que máximo! Tem gente à beça pelo mundo afora visualizando meu blog. Espero que todos esses visualizadores estejam entendendo, pois minhas postagens são feitas em português, língua de muitos, mas que já não tem mais o caráter universal que teve nos séculos XVI e XVII. Li, não sei onde (provavelmente no romance Shogun, será que alguém lembra?), que era essa a língua de comunicação pelo mundo afora, pois os navegadores portugueses tinham transformado o mundo numa "aldeia global". Iam daqui para lá e de lá para cá, e foram disseminando sua língua, na qual ensinavam as artes e os segredos de marinharia… Por falar em leituras, li hoje a reportagem sobre o José Olympio, o grande livreiro do auge da literatura brasileira. E li o livro Cartas perto do coração, que me deu um grande desejo de viver num tempo assim, em que escritores eram tão amigos, amigos irmãos, se ajudando mutuamente, se comentando, se encorajando contra a indiferença dos editores… Caraca, já naqueles tempos os escritores sofriam e rangiam os dentes, na tentativa de conseguirem ser publicados. Uma vez publicados, no entanto, havia um público muito maior.
Continuando minhas leituras, vejo que a OI Futuro mete os pés pelas mãos com relação a exposição de fotos programada. Não conheço a fotógrafa nem as fotos, mas sou, por princípio, contra a censura. Porém confesso que me incomoda um pouco saber que esta fotógrafa fez fama e fortuna clicando drogados e mendigos. Sei não. Me cheira à exploração terceiro-mundista. Sabem aquelas fotos maravilhosas de criancinhas mutiladas pela guerra e de gente morrendo de fome em campos de refugiados e outras fotos do tipo que nos comovem com facilidade e que fazem a fama e a fortuna de quem esteve lá no inferno mais preocupado com o foco do que com a situação? Sei não. Acho que essas fotos deveriam sustentar fundos de auxílio, e não dar fama e prestígio à ninguém. Mas todos nós temos nosso lado mórbido, que se deixa fascinar por fotos de prostitutas drogadas e de pessoas soterradas pelo mundo e pela dor, desde que bem focadas. Aquele que vira o rosto para o outro lado ao passar por um acidente de carro que atire a primeira pedra. Eu olho. E vejo as fotos e fico indignada, mas nunca fiz nada para melhorar aquelas situações. Mea culpa. Mea maxima culpa! Portanto, não recrimino, mas desconfio da fotógrafa e de mim mesma. Que tipo de pessoa sou?
Vejo que estou há duas semanas sem escrever no blog, mas não consegui conexão. à duras penas consegui postar no Facebook as fotos que tirei no Marrocos. Nem todas saíram boas, mas fiz uma reportagem bem completa da viagem. E fiz amigos novos. E aprendi coisas fascinantes. E estou feliz por ter ido, e voltado. E gosto de estar de novo na minha farrinha cotidiana: leitura, escritura, conversas e lançamentos, com essa sensação de tempus fugit, que o ano já termina e que já estou comprometendo os dias futuros, com planejamentos que se estendem quase até o final do próximo ano. E essa agora? Estou vivendo no futuro, sem passar direito pelo presente…

Tuesday, November 15, 2011

Banquete em Casá

Hoje é dia do banquete de encerramento do Seminário. Sim, estou aqui de penetra num seminário de Astrogeologia, e amanhã bem cedo partiremos num fieldtrip: até telescópios iremos visitar, para olharmos as Leonides, que suponho deva ser algum lugar de origem de meteoritos, pois aqui, quem não está interessado em meteoritos está estudando as crateras que eles formam ao cair na terra. Um barato. Já encontrei gente de todas as partes do mundo, do Havaí a Berlim, da França à Arábia Saudita.
Por falar em Arábia Saudita, não sei se já contei que o rei de lá tem um lindo palácio aqui pertinho do meu hotel. E, como o rei de cá mandou construir uma mesquita com um centro cultural, ele fez o mesmo em sua propriedade. Uma linda mesquita, com uma biblioteca. Só não sei se tem um Hammam, também.
Ontem gostei tanto do passeio ao souk (é assim que se escreve) do Habous, que hoje voltei lá. O dia está lindo, e deu gosto passar a manhã escolhendo quinquilharias que me fascinaram e que agora vão ser um saco transportar para o Brasil. Comprei vidrinhos, copinhos e mais óleo de Argan. Imaginem agora arrumar vidrinhos na mala… Só mesmo eu e minha falta de espírito prático. Mas tomara que cheguem bem lá em casa! Também comprei uns sapatinhos que já vêm com chulé, especialidade daqui. Sabem como é, são novinhos, mas o couro tem aquele cheirinho peculiar. Mas são tão lindos, não resisti.
Preciso ir, agora. Se tiver mais novidades, conto depois.

Monday, November 14, 2011

Chove em Casablanca

Depois de dias e dias de sol e calor, hoje o tempo esfriou. Chove, uma chuvinha miúda, mas a cidade não diminuiu sua animação por causa disso. E o trânsito não parece pior que nos outros dias. Isso aqui é meio caótico em termos de trânsito. As pessoas avançam sinais, os pedestres ziguezageiam no meio das avenidas cheias de carros que, na maior sem cerimônia, avançam pela contramão, uma loucura. Mas as buzinas são raras e ainda não vi nenhum acidente, graças a Allah, que tudo pode e comanda, dos céus, uma legião de esfalfados anjos da guarda, protegendo os pedestres. E os marroquinos continuam sorrindo e atravessando as ruas, despreocupados. De vez em quando vejo alguém brigando (ou não, essa língua que não compreendo me impede de saber se estão brigando ou comemorando alguma coisa) e depois se separam sorridentes, cada qual para o seu lado.
Hoje fui, com Roberto, fazer compras no Habous, um suk (?) muito legalzinho. Mais tranquilo, sem uma montanha de gente, com vendedores simpáticos e suas mercadorias empoeiradas, passamos uma agradável manhã, e nem nos cansamos. Para chegar até lá, foi uma verdadeira volta pela cidade. O motorista nos levou por caminhos bonitos, todos de casas espetaculares. Esqueci de mencionar a famosa casa giratória que vimos na primeira manhã aqui em Casá ( é assim que o pessoal daqui chama sua cidade). Hoje passamos por ela uma outra vez, mas notamos que está desabitada. Pudera, deve ser esquisito morar numa casa giratória…
Passei por uma padaria local, por uma confeitaria, por uma loja de tapetes. Esse Habous fica perto de uma mesquita bonitinha e muito próximo ao palácio real, portanto é um lugar bem cuidado. Gostei mesmo do passeio e das vistas. Agora vou encontrar com o pessoal da conferência, que está voltando da universidade. Não sei o que vamos fazer à tarde, mas preciso dizer que, mesmo debaixo dessa chuvinha miúda e com esse ventinho mais fresco, Casá nos acolhe e recebe bem.

Sunday, November 13, 2011

Mar do Marrocos

Acordo esta manhã e a praia está tomada por homens jogando pelada. Me sinto em casa, em Casablanca! Mais uma vez me surpreendo com a cor do mar: branco. Apenas uma leve sugestão de azul, ou melhor de um cinza azulado.
Parto, então, para visitar a Mesquita Hassan II, com seu minarete de 200 mts de altura, construída parcialmente sobre o mar, já que num dos versículos do Corão está escrito que o trono do Senhor fica sobre as águas. Mas sou tão distraída que esqueço de levar a máquina fotográfica. Ainda bem que tenho o celular, para fotografar as belezas que vejo. Do "petit taxi" que tomamos, no entanto, é impossível fotografar o que quer que seja. Do meu lado a janela não abre, e o vidro deve ter uns 10 anos de sujeira sobre ele. Muito antigos, os táxis circulam tripulados por motoristas com dentaduras muito maltratadas, o que não os impede de sorrir o tempo todo, creio que sonhando com as comissões que pretendem ganhar ao nos levarem às casas de tapetes e mercados. Mas estamos cansados, não queremos comprar nada, apenas circular pela cidade e ver seus contrastes. Prédios lindíssimos em art nouveau e decô, mas completamente dilapidados e sujos. Casas entrevistas atrás de muros altos e jardins luxuriantes. Prédios moderníssimos em avenidas coalhadas de lojas caríssimas. Restaurantes franceses (Paul, Lenôtre, Fauchon) pontuando uma avenida de palacetes. Palmeiras altas se enfileirando, num friso quase geométrico, marcando o horizonte. Janelas em formatos inesperados, colunatas e alpendres no alto dos edifícios, propagandas inteiramente escritas em árabe, aguçando nossa curiosidade. Depois, um almoço à beira-mar, num dos muitos cafés da Corniche. Serviço lento, mas nós não estamos com pressa: queremos vivenciar a doçura da temperatura, que está mais quente que o habitual, nesta época de inverno.
Hoje é a abertura do congresso e daqui a pouco teremos o coquetel de boas vindas. Preciso me arrumar. Se eu soubesse como, colocaria as fotos do iPhone no computador, mas não sei. O palácio Bahia, em Marrakech e a Mesquita Hassan II, de Casablanca, vão ter que esperar meu retorno ao Rio para serem publicadas.

Saturday, November 12, 2011

Casablanca: You must remember this…

Nossa, que boa sensação a de chegar em Casablanca! A presença do mar e o cheiro de maresia, uma nuvem de umidade encobrindo a orla com véus, como as mulheres daqui, a presença de coisas familiares como restaurantes com comida diferente de tagine! Não estou desfazendo dos tagines, mas estava com saudade de um bom peixinho grelhado, de alguma coisa com temperos menos exóticos, embora nada do que comi tenha sido exagerado.
Grandes experiências? Ir a um Hammam! Na verdade, trapaceei um pouco, pois ao invés de ir a um público, fiquei na segurança do ambiente conhecido do hotel. Posso não ter conhecido o lado mais exótico das massagens, mas adorei as técnicas e os produtos, tudo à base de óleo de Argan. Por falar neste óleo, minha diversão tem sido ficar olhando os cabelos e adivinhando quem usa o óleo de Argan e quem não usa.
O mundo me chega hoje, envolto em veus de uma névoa cheirando a maresia. Casablanca fica à beira de uma praia bravia. Talvez o mar não seja violento, não tenha correntes traiçoeiras, mas o tipo de litoral provoca uma faixa enorme de ondas não muito grandes, quebrando umas sobre as outras, num exagero de espuma branca. A faixa de areia, larguíssima, abriga, ao final da tarde, uma pelada. Tenho a sensação de ter voltado ao Rio, se olho apenas para o mar. Se desvio o olhar, os sinais são controversos: na Corniche, uma mistura de europa mediterrânea com traços orientais. No meio disso, um Macdonald's e uma Pizza Hut. Até aqui! Daí que acrescento mais um tempero à mistura: Los Angeles. Onde estou? No cruzamento do mundo! E, só para colocar uma pitadinha de pimenta a mais, a informação de que a segunda religião no Marrocos é o judaísmo. Talvez 45% muculmanos, 40% judeus e 5% de outras religiões. E todo mundo em paz e contente. Viva o Marrocos!
Play it again, Sam!

Friday, November 11, 2011

Pra lá de Marrakech

Bem, isso só será amanhã, quando volto à Casablanca. Hoje ainda estou aqui em Marrakech, naquela maratona turística que nos deixa tão cansados ao chegar o hotel que não se tem ânimo de voltar ao Lobby para nos conectarmos e escrever uma postagem. Neste hotel, Palm Plaza, internet só aqui ou à beira da piscina. De manhã, respondo os emails via celular. Depois saio e não consigo escrever nada quando volto. Mas não tenho novidades que não sejam as mesma sempre repetidas pelos turistas: Marrakech é o máximo! Mas é um máximo dividido em dois, uma moeda de duas faces: um lado real, meio "índia", confuso, sujo, muito cheio; outro lado de conto das mil e uma noites: entramos por um beco, abrimos uma porta e… um gênio nos transporta a algum jardim encantado onde as flores embalsamam o ar, onde os pássaros cantam como em nenhuma outra parte, onde o tempo se congelou em banquetes infindáveis e músicas hipnotizantes.
Delicados costumes hospitaleiros, seja nas casas particulares, seja nos restaurantes e hoteis, ou nas tendas, mesmo as mais humildes, de vendedores de mil e uma coisas encantadoramente coloridas que, quando as olhamos, desejamos com ardor, mas depois vemos que é mais uma quinquilharia que vai ficar num fundo de gaveta, ou numa prateleira, lembrando-nos de nossa loucura momentânea.

Posto aqui algumas fotos, só para dar um gostinho. Quem quiser ver mais, coloquei todas no Facebook. Uma é da cidade e sua cor característica, ocre. Outra é a abóbada estrelada do Lobby, sob a qual estou sentada, escrevendo esta postagem. Amanhã é que vou para lá de Marrakech, para Casablanca. De lá deve dar para fazer outras postagens. Até breve.

Tuesday, November 08, 2011

Em Lisboa

Cheguei ontem, num daqueles lindos e enganadores dias de sol de Lisboa. Lindos porque a cidade é linda, as árvores agitam suas folhas brilhantes num ventinho imperceptível, os telhados vermelhos se mostram lavadinhos e alegram a paisagem, cortada pela fita prateada do rio Tejo, sonolento. Enganadores porque o sol é frio, não aquece, só alegra e ilumina, só ofusca.
Dei alguns breves passeios: pelos jardins da Gulbenkian, pela Baixa, pela Avenida da Liberdade. As estátuas me saudaram com sua pompa habitual: um Marquês aqui, uma rainha ali, Dom Pedro (IV? V? III?) acho que em cada praça um diferente me olhava passar.
Fui ao Polícia, restaurante que meu sogro adorava. Fui tomar um café (uma bica) na Pastelaria Suíssa, fomos tentar encontrar o cachorro quente de minhas lembranças na Ribadouro, mas já há 15 anos que eles não o fazem! Para minha tristeza e a tristeza do garçon que nos serviu. Ensinei meus amigos a comerem prego, já que não havia cachorro. E voltamos felizes para o hotel. Hoje a cidade está triste, chuvosa, creio que lamentando minha partida. Lá vou eu para Casablanca. O tempo lá promete estar bonito. Vai ser bom passear pelas ruas coloridas que os guias me prometem. E eu colocarei  fotos e comentários sempre que conseguir acessar a internet.
Até breve!