Thursday, July 31, 2008

Praguejando

Passei a manhã tentando me entender com as fotos. Pelo menos, consegui retirá-las de dentro da máquina e passá-las para o computador. Acho que vou ter de ligar para Celina que, em sua gentileza, se propõe a me ajudar. Agradeço às mensagens dos amigos, que voltam e me alegram com suas mensagens de boas-vindas.
São muitas as fotos, umas trezentas e cinquenta, como o poema de Mário
Eu sou trezentos, eu sou trezentos e cinquenta... Só que eu não estou em quase nenhuma das fotos. Mas apareço, aqui e ali, quando minha companheira de viagem acertava fazer a misteriosa câmara funcionar. Como vocês podem ver, o equipamento é complicado, não sou assim tão ruim quanto minhas reclamações me fazem parecer. Coisas de filhos, que acham que suas mães têm a mesma habilidade que eles com esses novos equipamentos!
A maquininha não impediu minha fruição. Nem mesmo a chuva. Estive olhando algumas das fotos que tirei de dentro do ônibus em movimento e ficaram parecendo uns quadros impressionistas. Não revelam os lugares, mas demonstram bem o clima, acho que até os arrepios de frio que nos tiravam a vontade de saltar e visitar as inúmeras belezas que víamos. Isso até ajudou a não nos revoltarmos contra o regime cruel da excursão, que nos mostrava as coisas de longe, sem se deter. Sossegamos, nos encolhemos, friorentos, e olhamos a cidade das pontes e dos recantos românticos, com olhos próximos da sensibilidade simbolista.
Mas andamos para lá e para cá, a pé e de metrô, seguindo mapinhas turísticos e atravessando tantas pontes quanto nossa fantasia e disponibilidade permitiu. Ousamos ônibus que nos levaram para longe dos caminhos usuais. Retornamos de metrô, sempre por ali por perto da ponte Carlos, e dos recantos sagrados onde encostávamos as mãos suplicando graças a um santo de língua cortada e guardada em belo relicário. Vestidos como turístas friorentos jantamos num dos restaurantes mais elegantes de Praga. Vestidos como príncipes, comemos em restaurante de segunda. Carregados de embrulhos, assistimos a uma ópera -- Don Giovanni -- montada com cenários antigos, lindos, num teatro tão bonito que nos deixou felizes só por estar ali. Assistimos o bailado dos apóstolos, desfilando no relógio astronômico, escondidos em sua janelinha, enquanto a morte se requebrava, avisando que está sempre presente, a cada hora do dia. Servimos de testemunhas a diversos casamentos: Como as pessoas se casam! Era um entra e sai contínuo, uma corrente humana que se metamorfoseava em noivas ricas e pobres, elegantes e vulgares, populares ou não. O casal que mais me comoveu foi o que compareceu tão solitário para o casamento que não puderam ter uma foto dos dois juntos. Um tirou a foto do outro, e aquilo fez sangrar meu coração. Quis me oferecer para ajudar, mas, na multidão, não consegui chegar a tempo de fazer minha mímica, pois não teria conseguido dizer nada em tcheco. Mas fiquei assombrada por aqueles dois, tão sozinhos no meio da multidão, esperando que eles se acompanhem para sempre, que nunca mais se sintam tão sós. Tomamos café, escutamos mais música, pelas ruas, e depois, lá fomos nós para o ônibus, que nos levou para a Alemanha, onde, finalmente, reencontramos o sol.

Wednesday, July 30, 2008

Una bambola

Não me atrevo aqui a citar a letra da canção italiana antiguinha, que mais ou menos queria dizer (pelo menos é o que eu entendia) que a amada fazia o namorado girar como una bambola e depois o deixava de lado, brinquedo esquecido. Essa bambola, para mim, era o bambolê, rodinha hoje em desuso, mas da qual eu era uma grande atleta! Comandava o bambolê com perícia, e o aro volteava ao redor do meu pescoço, descia, orbitava em volta de minha cintura, coxas, joelhos, e depois, com pequenas alterações no movimento do corpo, subia tudo de novo, e eu conseguia, de vez em quando, retirá-lo para um único braço, proeza muito admirada pelos meus grandes fãs: meus avós.
Eles me deram bambolês de diversas cores e eu usava mais de um ao mesmo tempo, mas isso às vezes desandava. Minha avó estava convencida de que o "exercício" afinaria minha cintura, mas ela estava enganada. Nunca tive o corpinho de violão que ela desejava para mim. Talvez por isso eu tenha abandonado meu esporte, e hoje (juro que tentei recentemente) não consigo mais manter o bambolê girando. Só no braço, e, assim mesmo, com alguma dificuldade, perigando de ver o aro fugitivo se escapar e causar algum acidente. Na verdade, nunca fui muito atlética, nem muito preocupada com o corpo. Talvez por isso tenha sido tão crítica com relação à Sissi, imperatriz tão preocupada com sua beleza e sua silhueta que me impressionou, quando menina, de uma maneira positiva graças aos filmes da suave e sorridente Rommy Schneider. Ela estava sempre sorrindo, nas fotos e nas cenas dos filmes, e descobri que a verdadeira nunca sorria, envergonhada pelos dentes escuros que enfeiavam sua boca.
Quando cheguei a Viena, pela primeira vez, comprei todos os livros que encontrei sobre sua vida e descobri sua provável anorexia, sua complicada relação com os cabelos, que lhe provocavam dores enormes de cabeça visto pesarem muito, e necessitarem de suporte para serem penteados. Um parêntese: ela não admitia que caíssem fios de cabelo ao ser penteada, e espancava as cabeleireiras.
Entendo que a Sofia não fosse fácil, mas acho que a Sissi era ainda mais difícil que sua sogra...
Visitando a Áustria, a gente sempre se maravilha com a beleza do lugar. Pequenina, a cidade de Viena é tão acolhedora para os turistas que chega a parecer uma espécie de Disneyland: todas as atrações estão a curta distância, e um bondinho interliga todas elas, e nos permite descansar as pernas cansadas de percorrer quilômetros de galerias de palácios e museus. Como já tinha estado ali antes, esnobei algumas visitas e fiz outras, não planejadas pela excursão. Não fui ao palácio de inverno mas voltei ao museu de nome difícil (Kunsthistorischesmuseum). Fui lá rever meus amigos Arcimboldo e Brueggel, e tomar um cafezinho sob a rotunda, admirando o palácio lindo, lindo, que devemos à Maria Teresa, mãe de outra austríaca famosa, a Antonieta, e, por incrível que pareça, avó do único filho de Napoleão, L'Aiglon, tão lindinho e lourinho, mas que morreu tão cedo.
Corremos toda a cidade atrás da casa de Freud, pois nos deram o endereço errado no hotel. Não foi culpa do concierge, foi a internet que estava com o endereço errado, um engano de digitação numa letra nos levou a uma casa que ostentava um cartaz bem humorado, avisando que não era ali que ele morava, lá só viviam alguns de seus pacientes -- provavelmente enlouquecidos com a romaria mal orientada. Já havíamos desistido quando um tempinho extra nos permitiu fugir até lá na manhã de nossa partida para Praga. Uma casa pequena, mas muito bem localizada, com um jardim tranquilo, poucos móveis, muitas fotos... Claro que chovia, mas nós enfrentamos a chuva felizes e até nos recompensamos com um capuccino e um strudel no Café Freud, que oportunamente se instalou ao lado da entrada da casa.
Além disso, passeamos pelo Schönnburg Hof e seus jardins, pelas ruas da cidade, correndo atrás de um guia "maratonista" que se chamava Carlos, era intensamente gay e perdeu metade do grupo na correria pelas ruas super cheias de gente. Os velhos e as crianças tiveram de ser resgatados e nós tivemos que aturar a impaciência dele que não entendia como as pessoas tinham se perdido do grupo. Fotos? Talvez eu tenha conseguido tirar uma ou outra, nalgum momento em que a marcha ficava um pouco mais lenta... Vou ver depois. Ah, se conseguir, farei um site de fotos da viagem. Por enquanto, nem consegui passar as fotos da máquina para o computador: inabilidade e incompetência.

Tuesday, July 29, 2008

O mundo gira, a Lusitana roda.

De vez em quando dou dessas bandeiras, relembrando um passado tão distante que me coloca quase na pré-história da humanidade! Quem se lembra do anúncio acima, é melhor não confessar, pois revela sua, digamos, eternidade. Por falar em eternidade, chego e descubro que Dercy Gonçalves morreu. E eu pensava que ela era verdadeiramente eterna... Descubro também que hoje é o "dia do orgasmo", e me pergunto: desde quando isso precisa de dia, gente? O que foi que aconteceu com os brasileiros? Chego num inverno que parece verão, regressando de um verão que mais parecia inverno. Budapeste, Viena e Praga me acolheram com muita chuva e frio. Nas pontes de Budapeste e de Praga encontrei foi muita chuva, que chegava assim de repente, e caía pesada sobre artistas e turistas incautos, sobre mendigos prostrados no chão, em súplicas infindáveis, sem mostrar seus rostos, sobre cegas que cantavam suas árias de óperas ou canções populares, indiferentes à indiferença que os passantes manifestavam. Não encontrei duplos, nem a morte, nem a vida. Nem os fantasmas de Cortázar, Borges ou Kafka. Ocupada em me desviar de pontas malignas de guarda-chuvas abertos, ou de sair da mira das câmeras fotográficas que pareciam hidras raivosas, mal conseguia olhar as esculturas e os monumentos que bordeavam o Duna, Danau ou Danúbio. Em Budapeste o rio não era mais azul, e sim verde, verde claro, largo, o chefe das muitas fontes de águas que se espalham pela cidade em piscinas e spas, em banhos turcos legítimos, em piscinas de água mineral construídas para hipopótamos, e em torrentes de chuva, gelada, que ensopavam os turistas em todos os pontos turísticos. Da correria que foi minha excursão, ficou a lembrança de uma cidade imensa, onde tudo o que nos parecia interessante estava sempre na margem oposta do rio. De pontes, extensas e muito belas, com histórias comoventes. De uma avenida larga, a Av. Andrassy, calçada com uma madeira especial para abafar o ruído dos cascos de cavalo, impedindo que o sono dos aristocratas fosse perturbado. De uma ópera que nos foi apresentada como uma caixinha de bombons -- coisas da língua espanhola, pois se fosse em português ela seria apresentada como uma caixinha de jóias -- onde imaginamos a Sissi (claro que na sua versão Rommy Schneider) se deixando admirar enquanto fingia escutar a música de que ela talvez gostasse. Outras lembranças que ficaram foi a enorme ampulheta que marca um ano inteiro, ao lado de um monumento aos heróis da resistência ao comunismo, uma bela escultura em formato de proa de nau. A grande praça com os sete guerreiros magyares que deram origem às cidades gêmeas, ao decidirem abandonar suas vidas nômades e se fixarem ali para sempre. A chuva intensa que nos deixou completamente encharcados no alto do Bastião dos pescadores, apesar do guarda-chuva aberto e do casaco que se dizia impermeável, mas que deixou a água passar pela gola e pelas mangas. A informação de que aquele tinha sido o limite do império romano. E a sensação de que as pessoas se sentiam um pouco sem sorte ali em Budapeste -- muitas invasões, escolhas erradas dos governantes quanto aos aliados nas guerras, políticos pouco escrupulosos -- mas muito orgulhosos de sua história e de sua cidade. Que é linda, mas que precisa de muito cuidado com a limpeza e recuperação das fachadas.
Não posso contar toda a viagem hoje, pois o post ficaria longo demais. Só esboço o trajeto: De Budapeste para Viena, dali para Praga, onde conheci o Castelo e a casa onde Kafka morou (não admira que ele tenha feito seu personagem virar barata: era o único ser que caberia confortavelmente dentro do espaço exíguo). Coincidentemente, ali ele escreveu um livro de contos (Um médico rural) que acabei de ler no semestre passado, visto que uma das histórias é retomada pelo Coetzee em seu livro A vida dos animais. De Praga para Dresden -- um deslumbre! E com sol, com gente pelas ruas, com uma alegria de festa. Depois Berlim, de onde fugi uma manhã para conhecer Potsdam, a da conferência de paz e do palácio Sans Souci. Finalmente, Roma a bela. Velha conhecida, ela me recebeu com carinhos de grande amiga, e mostrou lembranças e surpresas.
E de volta ao Rio. De volta ao blog. De volta aos amigos, às aulas, à família. O mundo girou, mas não saiu do lugar onde o deixei. A Lusitana não já não roda, pelo menos, nunca mais vi seus caminhões de mudança. E eu, pois mais que rode, volto sempre ao mesmo lugar.

Friday, July 11, 2008

Agora só na volta.

Estou fechando as malas, já quase a caminho. Vou.
Desta vez não levo computador nem outras muletas contra a solidão. Vou acreditando que conseguirei me divertir, distrair, e que não terei momentos de reflexão, quando busco o consolo das palavras. Vou. Desdobro as asas, receosa. Há um mundo para o qual não me preparei, esperando por mim com línguas ásperas e paisagens desconhecidas. Vou. Como escudo, apenas os livros, poucos. Poucas páginas. Uma caneta. Um caderno pequeno. Tudo no diminutivo, assim como me sinto: pequena, pouca, parca.
No entanto, me garantem, o Danúbio é mais azul em Budapeste. As pontes dali nos propiciam encontros inesperados, já me avisaram Cortázar e Borges. Quem caminhará ao meu encontro numa dessas pontes míticas? Meu passado? Meu duplo? A morte?
Imagino a morte em Praga: -- medieval, solene e lenta, ela medirá minha mão. Ansiosa, tentarei enlaçar seus dedos -- teria chegado a hora? Numa viagem tão apressada, o ônibus provavelmente já estará à minha espera, para me transportar, numa valsa, até Viena. E, depois, Berlim e o Spree, com suas barcas. Barcas novas. Democráticas como a do Auto: À barca, à barca, houlá, que temos gentil maré!...
Preciso dormir, um pouco que seja. Saio de casa de madrugada, ainda escuro. Meu coração, encolhido de frio, se fingirá de morto. Mas irei. Olhos entreabertos. Sorriso sempre a postos. Um cansaço...Dou um passo. Mais outro. O caminho se delineia por entre as brumas. Ainda há muito para caminhar.

Wednesday, July 09, 2008

Conversa de Clip

Será que alguém ainda quer saber de Flip? Ou de Clip? Hoje, o artigo do Xexéo me fez lembrar do engano do Veríssimo. Mas tento me lembrar do que será que sobrou assim de mais substancial das conferências que assisti, e penso que, talvez, o melhor tenha acontecido nas programações paralelas. Ou nos restaurantes, que não se limitaram ao fabuloso Banana da Terra. Teve o Punto Divino, um italiano nota dez. Teve barzinhos modestos de comidinha caseira gostosa (e caríssima) e teve a barraquinha de pastel (pasteis de 30 cm!) e as barraquinhas de doce, tentadoras. Teve tira gostos imperdíveis. Teve a simpatia do espaço Bravo, na pousada do Sandi, com cafezinho e biscoitos maravilhosos. Muita cachaça, rios de cachaça e de batidinhas, sem problemas, porque ali ninguém dirige, mesmo. Parati não tem carros, agora tem umas charretes, mas ainda são poucas. As bicicletas são para os idealistas, que acham que conseguem se desviar das pedras absolutamente desiguais do calçamento. Em toda a cidade não há uma pedra igual a outra. É espantoso! Parati é para a gente andar a pé, devagar, olhando para o chão. É para cumprimentar os amigos de longa data que a gente reencontra na ponte, ou tentando encontrar lugar no bar apinhado. É para entabular conversa na fila, trocar opiniões sobre livros e ficar com a sensação de que essas pessoas são as mais simpáticas do mundo. É para comer um pão de mel do Café Pingado, sem acreditar que algo tão bom seja um simples pão de mel. É para ganhar uma fruta de presente, e comê-la com gosto, ali mesmo na rua, matando fome e sede ao mesmo tempo. É para escutar os poetas e os poetas chatos. É para folhear livros sem fim, com vontade de comprar todos, e comprar mais livros do que se pode, é para visitar as galerias de arte, para admirar o artesanato, para descobrir pessoas que são amigas de pássaros, que vêm visitá-las todos os dias.
Ah, tem os autores. A gente gosta de vê-los, gosta de ouvi-los, se espanta com alguns, se surpreende com outros, mas logo a gente esquece, pois, deles, o que preferimos são os livros, são as histórias que nos contam e que se tornam nossas histórias.
Eu adoro Parati, e aquele mar que se mantém discretamente escondido no final das ruas estreitas. Adoro minhas lembranças de Mamanguá, dos golfinhos brincalhões, do cheiro do mato nos acompanhando nos banhos de mar. Atravessar a ponte sobre aquele rio (Perequetê- Açu?, já não me lembro do nome...) e ver o céu refletido nas águas, exibindo nuvens gorduchas como bebês alegres. E adoro Parati cheia desse povo dos livros, dessa multidão de pessoas que, quando não gostam dos livros, vivem deles e por isso fingem que gostam. E é bom escutar os retalhos de conversa, os pedacinhos de história, os fiapos de assuntos. Chega de Flip, porém. Já é hora de pensar em meu novo caminho. La vou eu para Budapeste, e Praga, e Viena, e Berlim, e Roma! Meus sonhos já embarcaram, só eu que continuo tentando terminar trabalhos e atar as pontas das coisas por fazer.

Monday, July 07, 2008

Meu amigo!

Olavo, que maravilha te encontrar através deste meu blog. Veja só, se os deuses "virtuais" às vezes me maltratam, também me recompensam, me oferecendo amigos: os que eu já tinha e os que encontro através da rede. Aquela última vez que nos falamos eu estava de partida, e, desorganizada como sempre, esqueci onde anotei seu telefone. Mas agora estamos em contato! E meu celular continua sempre o mesmo. Este ano, quando for ver a Bárbara, espero conseguir te achar. Beijo.

Sunday, July 06, 2008

Traída pelo modem!

Infelizmente fracassei na minha missão de reportagem da Flip. Meu modem simplesmente parou de funcionar. Hoje, já aqui no Rio, consegui postar um pedaço incompleto do último post que escrevi lá. Vou fazer o seguinte, assim que puder, vou coligir as anotações dos últimos dias e fazer um resumo. Vou colocar as fotos, também. Só não pode ser agora, pois preciso urgentemente terminar um trabalho para entregar amanhã.
Para informar vocês, rapidamente, houve muitos desencontros nesta FLIP. Mesas com pessoas que não combinavam, mesas com autores de qualidade muito desigual. As que melhor funcionaram foram as que, com uma única "estrela", o mediador servia como um entrevistador. Na última que assisti, por exemplo, o Pierre Bayard, autor de Como falar de livros que não lemos, foi "comentado" pelo Marcelo Coelho -- um show, inteligente, articulado, bem preparado. O Contardo Calligaris estava lá como mediador, mas era dispensável a presença dele. Ele é meio estranho. Parece um marionete, meio duro, um pouco artificial.
Houve desastres, como um mediador (esqueci o nome, depois vejo nas anotações) que resolveu falar mais que os convidados, até que um deles deu um toque; "Acho que eu devia fazer as perguntas e você respondê-las." Foi aquela síndrome do microfone, que acomete as pessoas e as faz desligar o desconfiômetro.
Houve grandes momentos, mas muitas vezes esses momentos não atingiram a platéia em geral, dirigidos que eram para escritores, ou para um público mais acadêmico... Houve pouca empatia entre entrevistadores e entrevistados. Simpáticos ambos, por exemplo, o Veríssimo e o Stoppard não tinham química, e o Stoppard não conseguiu entender as gracinhas do Veríssimo -- talvez por culpa da tradução -- pois muitas vezes a impressão que se tinha era de que os estrangeiros não compreendiam as coisas que lhes perguntavam.
Desculpem, amigos. Anotei tudo e tirei retratos, mesmo proibidos. Não são grande coisa, mas vou colocar para vocês verem, mesmo assim
Uma amiga disse que achou que essa FLIP era a da escatologia. Falou-se muito palavrão, é verdade, mas discordo dela. Acho que foi uma Flip sem paixão. Os melhores momentos foram aqueles em que a alma das pessoas surgia luminosa das palavras proferidas, como foi o caso do Pepetela.
Mas agora vou trabalhar. Depois escrevo mais sobre o assunto

Friday, July 04, 2008

Todo mingau tem seu dia de araruta

Eu sei. Troquei de propósito, para ser engraçadinha. Mas hoje foi meu dia de troca-troca. O dia amanheceu bonito, sol e tudo o mais. Meus companheiros de viagem foram passear de barco, eu fui assistir a mais uma boa palestra: Formas breves. Moderação de Carlos Augusto Calil, participação de Ingo Schulze, Modesto Carone e Rodrigo Naves. Logo de cara já fiquei satisfeita,com o Calil fazendo o elogio do conto, e falando uma coisa que eu também acho: no nosso mundo moderno, apressado, nervoso, as formas breves são as que melhor se adequam ao ritmo que nos impomos. Já disse isso numa entrevista ao Leonardo Lichote de O Globo,quando ganhei o prêmio Josué Guimarães em Passo Fundo. O Ingo, alemão de Dresden, leu um conto seu do livro que está sendo lançado pela Cosac Naify

Perversões e pervertidos

Hoje foi o dia da Roudinesco. Que show!
A mediadora foi fantástica, orientou muito bem a palestra, apresentou sem exageros, mas demonstrando um profundo conhecimento e respeito pela obra de Mme. Roudinesco. Simpática, com cara da comadre da prima de Pindamonhangaba, uma voz aguda, mas um francês claríssimo, fácil de entender.
Falando sobre "uma" história da perversão -- a perversão no mundo ocidental, ela ensina que as perversões têm a ver com metamorfose -- modificação do corpo. As perversões foram mudando com o tempo, o homossexualismo,por exemplo, já foi considerado uma perversão, e hoje deixou de ser. Hoje, a perversão está ligada à falta de consentimento, pois se considera normal tudo o que se faz entre adultos capazes de consentir. Sobraria então a pedofilia e a zoofilia. A zoofilia é um pouco mais controversa, pois, desde que não haja sofrimento do animal, talvez não se deva falar em perversão. A pedofilia, então, com crianças pequenas, não com adolescentes, seria a última fronteira da perversão.
Ela ainda falou sobre o sadismo, sobre o nazismo, sobre Freud e a maneira de a psicanálise encarar a perversão (uma doença a ser curada). Tudo era tão interessante. Pena que há uma advertência aparecendo aqui na tela, demonstrando a instabilidade da conexão. Vou abreviar o relato, mencionando uma frase da mediadora: O sadismo concebeu o inconcebível, e o nazismo praticou o impraticável.
Mme. aproveitou essa frase para dizer que o nazismo não é uma herança de Sadeismo (para diferençar de sadismo, termo que foi cunhado pela psicanálise, mas que não corresponde exatamente, a uma lição de Sade) pois o naziemo é quando todo o estado se perverte. Além do mais, Sade tinha talento, e os nazistas todos eram medíocres.
Foi uma grande palestra. Volto a ela mais tarde.

Falando sobre as perambulações favoritas, meu lugar mais aconchegante é o espaço Bravo, na Pousada do Sandi. Ontem e hoje passei alguns momentos agradáveis por lá. Somos recebidos com simpatia, e nos oferecem café, queijinhos, frutas...e muita solicitude.
Um espaço muito agradável é a casa do Jornal do Brasil. Lá os autores vão dar umas mini palestras, o povo em pé, ao redor deles, ouvindo um bate-papo quase íntimo.

A outra palestra que assisti hoje foi concorridíssima, também: Sexo, mentiras e videotape, onde três mulheres poderosas nocautearam o português que fez a mediação. Inês Pedrosa, Zoe Heller e Cynthia Moscovitch (já está muito tarde, faz frio e eu não quero ir buscar minhas anotações para confirmar grafias e nomes) contra um escritor tatuado que fazia sua primeira mediação...Só podia dar no que deu --o rapaz sofreu. A Inês é simplesmente ótima. Fala bem, tem um texto excelente e é muuuiiito inteligente e esperta, vivaz. A Zoe é uma inglesa de voz extremamente sexy, atraente e também muito articulada, inteligente, e a que mais expunha a fraqueza do mediador, talvez porque tivesse dificuldades com a tradução. A Cynthia fala bem, se posiciona polemicamente, é engraçada, e foi simpática. Cada uma leu um pequeno trecho de suas obras e depois responderam às perguntas do mediador, que acabaram descambando para essa coisa de insistir na literatura feminina. Elas retrucaram à altura, e mostraram que existe um certo desconcerto por parte do público, que reconhece que existe uma característica "feminina" no que lêem, mas que as autoras recusam o rótulo. É como se estivessem criando uma nova divisão no reino animal, os seres humanos e as mulheres. Quando um homem escreve sobre angústia e solidão é um problema humano. Se a mulher escreve sobre isso, é um problema feminino. E, como lembrou a Inês Pedrosa, porque é que ninguém lembra de perguntar a um homem como ele concilia seu trabalho e a vida familiar, e nenhuma mulher escapa dessa pergunta?
Foi muito interessante o debate.

Depois fui jantar com Agualusa, Maitê Proença, Gisela Amaral, Helcio Pitangy e muitos outros famosos. Na verdade, em minha mesa estavam os convivas mais interessantes: os meus amigos. Mas eu devo estar lendo demais a revista Caras, porque fui capaz de identificar quase todo o mundo que entrou no restaurante. A comida estava deliciosa, a música era boa, e depois saímos e fomos ao Bar do Che, encontrar a galera da Record. Sergio França, Ana Paula Costa, Anna Maria, e aí fomos topando com o pessoal do SESC, com os poetas de plantão (desde Elisa Lucinda, a poeta sestroza que enriquece a editora, passando pelo Claufe Rodrigues e pelo Chacal), com o pessoal da Globo (Paulo Betti, que tem o dom da ubiquidade, estava em todos os lugares para onde eu olhava -- vai ver que ele foi clonado --, e um bando de atrizes cujas caras eu reconheço, mas cujos nomes não sei).

Já estou quase congelando, não escrevo mais por hoje, nem coloco as fotos que tirei. Amanhã eu volto, mais organizada, prometo.

Thursday, July 03, 2008

Manhã de festa


Aí ao lado está o retratinho do R.S. Como prometi impressões particulares de quem estava presente no local, aqui vão alguns detalhes: as paradas na fala. Volta e meia o professor se interrompia para beber água -- no que fazia muito bem. Sua voz límpida e clara revela cordas vocais bem cuidadas e hidratadas. Bebam água, professores! A outra paradinha era quando ele procurava um raciocínio. Ele interrompia o que estava falando e se concentrava tão profundamente, que o silêncio adquiria uma certa espessura.
Bem, estou tentando publicar este post desde cedo, mas a conexão não colaborou. Perdi o final dos meus comentários, e agora já tenho novas fotos e histórias para contar.

Wednesday, July 02, 2008

FLIP/FLOP

Cheguei! Como sempre, encantada com Parati, suas casinhas encantadoras, as ruas de calçamento imperfeito, a alegria de cada barzinho, dos músicos pela rua, das tendinhas com artesanatos, das tarólogas, que se oferecem para ler nosso futuro. Sempre me admiro com essas leitoras de obras inexistentes.
Dirigi durante horas, tinha me esquecido de como é longe este recanto. Mas, a companhia era boa, viemos conversando no carro, nem sequer escutamos música. A pousada Villagio merece nota dez. Bonitinha, pertinho de tudo, tem até piscina para nos tentar a .cair n'agua.
Jantamos e depois fui assistir a interessantíssima palestra do Roberto Schwartz, simpático, competente, claro e cheio de conteúdo, um grande professor.
Ele chamou nossa atenção para o fato de que todos os capítulos iniciais dos romances da segunda fase de Machado são verdadeiras obras primas. E, então, leu o capítulo inicial de Dom Casmurro, e demonstrou como ele anuncia o problema da paternidade com tanta singeleza e habilidade que por décadas a crítica nem se apercebeu que ele já oferecia a chave da leitura ali mesmo na abertura. Falando sobre autoria problemática, na verdade ele anunciava a questão da paternidade questionável. Depois ele enumerou as diferentes leituras do romance através do tempo, revelou como a crítica literária foi "cegada" por ideologias paternalistas, que pouco a pouco, graças a percepção de críticos americanos e ingleses, as leituras foram se modificando e aprendendo a ler os mecanismos de crítica social presentes na ironia do autor, e no uso magistral da primeira pessoa que revela sua verdadeira face nos exageros pintados pelo narrador falsamente complacente.
Adorei cada minuto. Depois, à saída, encontrei meus amigos, e desisti de ir assistir o show de Luís Melodia, preferi ir tomar uma taça de vinho na pousada do Sandi.
Filmei e fotografei, mas não acredito que saberei transferir as imagens paraq o Blog. Agora vou terminar de ver o jogo do Fluminense.
Amanhã conto mais.
Quanto ao título, é assim que são conhecidas as sandálias havaianas lá nos EUA. Nada mais distante das ruas de pedras irregulares. Toda atenção é pouca para caminhar, mas cada passo vale a pena.

Tuesday, July 01, 2008

Ia me esquecendo!

Ainda está em tempo! Hoje é dia da entrega do Prêmio SESC. Parabéns aos novos vencedores. Que o sucesso de vocês seja duradouro e que seu "ano de miss" transcorra com muitas alegrias e oportunidades. Compareçam todos lá na ABL!

Encontros e desencontros

Estou arrumando as malas para a FLIP -- isso é metafórico, não me leiam literalmente, pois deixo sempre as malas para o último minuto. Tenho horror a fazer malas, só gosto de viajar. Devia existir um guarda roupa descartável, para viagens. Meu ideal é partir sem malas, sem bagagens, só velas enfunadas, nenhuma âncora. Mas eu não conseguiria abrir mão dos meus queridos e constantes companheiros de viagem: meus livrinhos. Desta vez, comprei uma série de livrinhos de 10 reais, pequenininhos, interessantes. Um é de Baudelaire, falando sobre a modernidade. Outro é de Foucault, falando sobre sexualidade. São ensaios, excertos de outros livros grandes, que não pesam na mala, mas são bastante substanciais. Outro que comprei, e que estou levando, é mais um de filosofia para festa. Só que esse comprei porque ele está organizado em Banquete, e, como minha tese é sobre o banquete...não resisti. E é divertido, embora seja muito mais sofisticado do que o dos professores de Harvard, que já recomendei aqui. Finalmente as pessoas recuperaram esse espírito filosófico, que tinha sido perdido. O prazer de pensar, substituto de tantos outros prazeres... O prazer de ler, a alegria do saber, a gaia ciência!
Bem, vou levar o computador para a FLIP, pretendo fazer um diário para os amigos que não puderam ir. Vou emprestar meus olhos e meus ouvidos. Então, a partir de amanhã, podem contar com as minhas impressões da FLIP, aqui neste mesmo bat-canal.
Vou contar para vocês, em primeira mão, como é a voz do Stoppard, qual a cor dos olhos do Pepetela, se a Roudinesco sabe combinar cores tão bem como idéias... E vou contar segredos entreouvidos pelas vielas e bares. E, se eu não surpreender ninguém, nem descobrir alguma coisa nova, inventarei tudo! Mas prometo que não deixarei vocês sem notícias, a não ser que os santos internéticos resolvam boicotar esta intrépida navegante dos teclados virtuais.
Bem, só para terminar, queria dizer que gostei de saber dessas coincidências com o Amauri -- Parabéns -- você nasceu no dia mais belo do ano!; contar que quase conheci o Ernane -- que estava com a Rachel no concerto do Eduardo Monteiro; agradecer aos comentários sempre gentis dos amigos, que me alimentam de idéias e de carinho.
Até amanhã, então, depois da festa de abertura da FLIP.