Thursday, January 27, 2011

Mais caricaturas

Antes de escrever, agradeço aos comentários que me deixam aqui no Blog, ou no Facebook. Obrigada, minha gente. Vocês me dão um estímulo danado!
Voltando às caricaturas, lembrei das rainhas da aeróbica. Elas já acordam de manhã cedo com suas roupinhas de ginástica e fazem tudo vestidas assim: levam filhos ao colégio, passam no supermercado, fazem seus exames de sangue, vão aos almoços com as amigas.… Não sei a que horas fazem a aeróbica propriamente dita, mas elas estão sempre em forma, e não cansam de se admirar em qualquer superfície espelhada: vitrines, espelhos, portas de edifícios, elas sempre jogam uma olhadinha para verificarem se seus bumbuns continuam empinados e se as panturrilhas estão bem delineadas. Nas academias, nas aulas de grupo, elas tomam logo os lugares da frente, para poderem acompanhar as suas evoluções no espelho. Sabem o nome e o dia de aniversário de todos os instrutores, e estão a par de suas aventuras amorosas. E como os professores de ginástica têm uma vida amorosa agitada! Escuto os relatos da aluna que "chega junto"; da gata que preferiu o personal ao marido; do marido que, depois de algumas sessões de agachamento com a professora agachou-se com um anel e um pedido de casamento etc. Os caras bombados, bombadíssimos, que falam de mulheres mas lançam olhares invejosos para os torsos masculinos também são comuns nas academias. E os aposentados, em ótima forma física, malhando todos os dias e reclamando das mulheres que não são capazes de arrumar seus armários do jeito que eles querem. Para esses coroas é importantíssimo poderem ser capazes de se vestir no escuro: "Do lado esquerdo ficam as meias pretas, do lado direito as marrons. Se elas mexem nessa ordem, corro o risco de sair com sapatos marrons e meias pretas". E passam mais de hora explicando como está o closet que tem as camisas penduradas em degradé, igualzinho nas lojas. Um dia sugeri que um deles escolhesse, como próxima esposa, uma vendedora da loja preferida dele. Não sei se ele ficou chateado ou se sua expressão traduzia o êxtase de quem acaba de ter uma revelação transcendental. Acontece que, naquele mês, abandonei a academia e não sei como terminou a saga. De vez em quando, passo por ele na rua e vejo que suas roupas continuam combinadas. Ou ele continua solteiro ou casou mesmo com a vendedora. E que todas as nossas manias sejam assim fáceis de contentar!

Wednesday, January 26, 2011

Aniversários

Ontem, 25 de janeiro, foi aniversário de São Paulo. Da cidade, não do santo. Acho que não se tem notícias de quando fosse o aniversário do santo que, antes de ser santo, foi coletor de impostos. Como estou dando aula sobre Guerra do fim do mundo, livro de Vargas Llosa sobre Canudos, lembro que o Conselheiro aceitava em seu povoado todos os tipos de pecadores, menos os ex-coletores de impostos. São Paulo não teria entrado em Canudos, vejam só. Mas São Paulo, a cidade, entra em meu panteão de cidades queridas. Todo o mundo estranha, uma carioca que gosta de Sampa, será que é normal?
Confesso que fui doutrinada por Caetano, com seu lindo hino a São Paulo e deixei que alguma coisa acontecesse em meu coração. Mas não é quando cruzo suas ruas movimentadas e ainda mais sujas que as do Rio. É quando passo pelos parques de SP, pelas ruas arborizadas e ainda cheias de casas, quando passeio pelas ruas chiquérimas, com edifícios rodeados de jardins, altos como babéis. É quando encontro um comércio pequenininho, com jeito humilde, persistindo junto a lojas que chegam a intimidar com seu luxo e grandiosidade. Também me encanta, carioca praiana, o caos labiríntico de uma cidade sem mar. Como é que alguém se orienta em SP? Nem pelas estrelas, há muito tempo invisíveis no céu poluído!
Gosto dos teatrinhos escondidos em ruas residenciais. Amo a sala São Paulo, orgulho da cidade. Gosto dos parques, que criam perspectivas. Gosto (gostava, antes do GPS) de tomar um táxi, dizer meu destino e descobrir que o motorista de táxi não fazia ideia de onde ficava o restaurante que nos haviam recomendado como o melhor da cidade… E rodávamos por umas duas horas, numa excursão pelas ruas escuras e molhadas da cidade. Pois São Paulo é uma cidade escura, deserta, povoada por círculos iluminados onde alguns "fiéis" se reúnem.
São Paulo é uma cidade cheia de códigos: A turma daqui não frequenta a turma dali. Daí que é preciso ter muitos amigos em SP, para podermos visitar vários pontos da cidade. Num dia vamos à praça, noutro à mercearia. Num dia vamos à Itália, noutro vamos ao Japão. Num dia vamos ao museu, outro dia vamos às compras.
Gosto de São Paulo, acho que porque é uma cidade aquariana, como eu. Parabéns, São Paulo!
Mesmo atrasado, aqui fica o meu abraço.

Tuesday, January 25, 2011

Maravilhas da ciência

Sou fascinada pelas notícias científicas que aparecem no jornal. A de hoje, por exemplo, me deixou esperançosa: nunca o quilo foi tão leve quanto hoje em dia. Aleluia, senhor! Só assim nossa luta contra a balança não parece tão vã. Fui ler, para saber quanto eu havia emagrecido e me decepcionei: O quê? Um grão de areia em cada quilo? Me pareceu muito pouco. Tão pouco que nem merecia ter sido noticiado. Mas, continuando a leitura, o artigo insistia que isso era importante pois tínhamos que pensar nas toneladas. Grande coisa. Ao invés de um grão de areia, mil grãos de areia. Coisa que cabe num punho de criança e que a gente dispensa assim, liberalmente, enfeitando castelos criados na beira da praia, sacudindo um chinelo, coisas triviais.
Mas aí lembrei de Canudos. Quatro anos de guerra porque os adeptos do Conselheiro não conseguiam se ajustar ao sistema métrico. Como é que transformavam "passos" e "braças" numa coisa estranha e abstrata, uma vareta de metro? Quem estava por trás dessa novidade? O anticristo, que, desprezando a criação de Deus, que nos dava pernas e braços para medir nosso espaço, inventava uma vareta e dizia que era esta nossa certeza absoluta. Vejam só. O metro diminuiu, o segundo encurtou, o quilo emagreceu. O anticristo solapou até mesmo sua própria certeza. E nos deixa neste mundo, cada vez mais conscientes de sua precariedade, de sua transitoriedade.
Na viagem que fiz à Verona, estive na praça onde estavam marcadas as medidas para o comércio. Era ali, no trono do príncipe, que estavam as medidas. Em caso de dúvida, era só dar alguns passos e conferir. O punhado de lenha, o comprimento do tecido, o peso do sal, naquele tempo distante estava tudo determinado, às claras. E a ninguém ocorria verificar se a medida estava dentro das medidas. Agora, aquele quilo safado, enclausurado em quartos e redomas, perde sua substância – perde sua alma. E todos ficamos desorientados, sem saber o que foi que aconteceu. Talvez seja melhor colocarmos nossos valores em público e deixar que todos nós cuidemos deles. Quem sabe? Talvez assim, no consenso, se encontre o verdadeiro peso das coisas.

Monday, January 17, 2011

171

Hoje, 17 de janeiro, dia do 171, me revolto contra um tipo de pessoa que surge nesta época de desolação: os descrentes de tudo. A gente escuta essas pessoas reclamando que não vão fazer doação em espécie porque algum espertalhão vai ficar com o dinheiro. Depois ainda nos dizem que não tem certeza de que as doações de roupas e alimentos vão ser encaminhadas "para lá", pode ser que fiquem no caminho, alegam. E isso ainda não é o bastante. Dizem que vão entregar pessoalmente a alguma pessoa conhecida, mas não vão comprar absolutamente nada para dar, pois só vão doar as coisas que já tem em casa. Na verdade, essas pessoas são nocivas, mesmo pensando que são generosas, elas estão levantando calúnias sobre a espécie humana. Se elas desconfiam da distribuição, guardem isso para si, e vão trabalhar como voluntárias. Se suspeitam que as pessoas não vão receber seu auxílio de coisas em desuso (na verdade me parece que estão pretendendo fazer uma limpeza em seus armários, ao invés de doarem qualquer coisa), que doem seu tempo e sua honestidade para ir pessoalmente verificar as entregas. Afinal, não estão doando para o Haiti, mas para Petrópolis, lugar que fica pertinho.
Ser solidário não é uma obrigação, tem pessoas que não o são. Mas, por favor, não desmereçam as belezas que estamos vendo e das quais estamos sendo informadas. Não desprezem a filha, que, ao procurar a mãe, acaba se envolvendo na preparação e distribuição de alimentos. Não façam pouco do rapaz que cava, com as próprias mãos, o barro e a lama, na esperança de resgatar alguém. Não voltem as costas para quem está nesta situação, dando uma de Cigarra e Formiga: "quem mandou construir onde não devia?"
Se não pode dar, não diminua o donativo dos outros. Pode ser que aquela chupeta oferecida por uma criança a outra seja tudo o que a desfavorecida precisasse para se acalmar e conseguir dormir. Deixem que seus corações batam no compasso dos outros, mas, se lhes for impossível isso, ao menos não enxovalhem os esforços dos outros!

Sunday, January 16, 2011

Caricaturas

Às vezes tenho vontade de fazer umas croniquetas, tipo os "retratos inesquecíveis" da New Yorker, mas, ao invés de retratos, fazendo caricaturas de mulheres e homens que observo pelas ruas. Poderia falar, por exemplo, da "atrasadinha". Não daquela que chega atrasada aos lugares, mas daquela que só vê as coisas depois de ocorridas. Aquela que é doida para arrumar um namorado, mas que só vê que o cara estava de olho nela depois que a amiga avisa: "Pô, Fulana, você não viu que ele não tirava os olhos de você?" Ela não tinha visto, e agora era tarde. Com torcicolo, de tanto virar para olhá-la, o cara já está indo embora da festa. Ou, pior ainda, já cruzou o olhar com aquela "auto-estimosa", que acha que todos os olhares lançados são para ela. O velhinho que estiver tendo um derrame e olhar para ela pedindo socorro, vai ganhar um sorriso e um cartãozinho com o celular dela. "Me liga outro dia, gato! Hoje estou acompanhada, não vai dar. Mas… que é isso? Não fique tristinho, não precisa dar uma de Cazuza e se jogar aos meus pés! O que é isso, homem de Deus? Eu, hein?!Gente, socorro, acode aqui, o carinha foi flechado por Cupido e teve um piripaque!"
O contrário desta é aquela mulher que se acha um horror, e acredita que todo o mundo está olhando para ela, de zombaria. "Aquele casal que chegou, viu só como eles riram da minha cara? Devem estar imaginando o que uma baleia como eu está fazendo encalhada nesta praia de bacanas!" Pior do que essa é a "simpática". Ela pega suas vítimas nas filas, nas salas de espera, nos bancos de ônibus. Sorridente, faz uma pergunta qualquer, óbvia: "Esta fila é do cinema?" "Este ônibus passa em Copacabana?" "A doutora está atrasada?" e logo embala num monólogo sobre o horror das enchentes. Ela deve ter preparado cuidadosamente esse monólogo, pois relembra todas as enchentes ocorridas naquela região. "Sabe, em 1902, a imprensa nacional já tinha categorizado a região como área de risco. A mortandade foi grande e o resgate se estendeu durante seis meses, pois naquela época não havia ainda os recursos de hoje. Nada de helicóptero, nem de retroescavadeiras. Algumas pessoas foram resgatadas de balão. Já imaginou? De balão?!" Essa leva qualquer um à total anestesia intelectual. Mas às vezes ela encontra um adversário à altura, o "sabetudo". Esse se dedica a corrigir os detalhes das informações da simpática: "No tsunami morreram quase um milhão de pessoas, e tudo por falta de um sistema de alerta!", proclama esta. Mas o sabetudo corrige: "Na verdade, morreram apenas 825.193 pessoas. Desaparecidas ficaram 932 crianças, 643 turistas alemães, 196 idosos e 47 mergulhadores. Os feridos ultrapassaram a casa do milhão, mas esta é uma estimativa, porque nos hospitais foram atendidos 987.789 pessoas. O problema é que milhares de pessoas sofreram ferimentos leves, que não foram tratados nos hospitais…" A conversa se estende, para desesperos dos apressadinhos: "Será que ainda vai demorar muito para abrir?" "Porque será que eles nos deixam aqui fora, neste calor? Isso é desumano, lá dentro tem ar condicionado" Mas, uma vez abertas as portas, quando todos estão no ar condicionado, começa a fala da descontente; "Será que só eu estou sentido frio? Não dá para abaixar a temperatura?" Que logo é corrigida pela mulher do sabetudo: "Aumentar a temperatura. Sai um tremendo bateboca, mas deixo vocês escaparem deste suplício. Volto outro dia, com outras caricaturas.
P.S. Tenho um bocadinho de cada uma dessas pessoas. Mas, quando noto, me corrijo.

Monday, January 10, 2011

Dando carona na cama

Quem leu o Joaquim Ferreira dos Santos hoje sabe que tirei meu título de sua crônica. Ele nos brinda com lições sobre "escrever" e eu fico horrorizada ao perceber que desrespeito quase todas as regras estabelecidas no texto (com ou sem ironia). Na verdade, o que ele faz é uma jogada meio manjada: faça o que eu digo mas não faça o que eu faço! O texto de JFS se notabiliza (e olha que eu podia escrever destaca e evitar este parênteses!) por lugares comuns revisitados, por gírias malandras recuperadas do fundo do baú das memórias. Sem medo da breguice e do popularesco, ele mergulha em temas e formas que muitas vezes estão ultrapassadas para trazê-las de volta com um detalhe novo, que as atualiza. JFS é um fashionista, um daqueles caras que ama pegar as velharias do passado, encostadas no sótão desde o tempo de nossas avós, e combinar polainas com minissaias e bermudas de surfista com camisas de frufru. Mas não vim aqui discutir esses detalhes, e sim comentar duas de suas frases: "Escrever é dar carona", "escrever é desarrumar a cama".
Adoro a primeira. O escritor dá carona na sua sensibilidade, na sua visão, nas suas veredas. É como um guia, que pega o leitor pela mão e diz: vem que vou te mostrar a vista linda (ou horrível, ou atemorizante, ou perversa) que descobri! Vemos com os olhos dos outros, sentimos com as emoções dos outros e desfrutamos nossa própria sensibilidade sem o perigo de embotá-la em sofrimentos e emoções reais.
Da segunda, não sei se gosto. Compreendo, mas faço objeções. Em que situações desarrumar a cama é bom, me pergunto? E o que significa mesmo desarrumar a cama? Há uma desarrumação que ocorre no "torvelinho das paixões" –eita!– outra que acontece nos "espasmos da febre"; há desarrumações sem fim, em diversas gradações, e o pior é que suspeito de que a gente só se sente confortável mesmo depois que re-arruma a cama. Não sei se vocês, meus queridos leitores, concordam com isso. Talvez a frase me incomode por dar muita importância à cama, lugar sagrado. Meu amado Proust escreveu toda sua obra deitado numa cama, com tinteiros ameaçando a limpeza dos lençóis, almofadas em excesso, xales e mantas protegendo-o do frio do quarto sem aquecimento. Sua fiel Celeste, porém, estava a postos, tirando as migalhas do croissant, esticando lençóis, prendendo as pontas soltas, substituindo, lavando, engomando. Sabemos, por ela, que ele não tolerava nada que não fosse da mais alta qualidade. E ao lermos o texto saído de entre esses lençóis, ficamos certos de que ela não mentiu: Proust era perfeccionista, obsessivo, detalhista. Então me lembro de uma modalidade de corrida, onde os veículos precisam ser não-convencionais. Acho que vi isso pela TV. Os participantes corriam dentro de barris, em carrinhos de rolimã, em bicicletas aladas, em banheiras e em camas. Recordo bem do sujeito, vestido com um camisolão e uma touca de dormir, numa cama sobre rodas correndo desabalada pela rua. Não me perguntem quem ganhou a corrida. Só sei que torci pela cama. Na verdade, a cama, que nos leva aos sonhos, é o veículo mais possante que conhecemos. Por isso, pego carona nesta cama e lá vou eu, aproveitando a deixa da partida.

Friday, January 07, 2011

Maioridade!

Ia escrever sobre amizades no Facebook, mas aí percebi que já tive mais de 21 mil hits. Hurra!
Hurra é antigo demais, não acham? E eu, todo início de ano, me divido entre o futuro e o passado, atraída pelo novo mas temerosa em deixar tudo o que for "velho conhecido". Para mim, nunca funcionam esses propósitos de tudo novo no Ano Novo. Por exemplo, se tenho que limpar o armário, separando o que for velho para passar adiante, esta é a pior época possível. Preciso aguardar uma daquelas manhãs em que acordo absolutamente esvaziada de reflexões e lembranças. Aí, irrefletidamente, tiro tudo do guarda-roupa e dou, sem nenhum problema. Na verdade, sou uma pessoa bem generosa. Gosto de dividir, de oferecer, de acolher. Se gostam das coisas que tenho (se não tiverem sido presentes e adquirido, com isso, um valor sentimental) eu ofereço. Empresto roupas de festa (emprestava, é melhor, uma vez que depois que o Guilherme morreu não tive mais ocasião de comprar roupas de festa), dou roupas de lã para amigas que viajam para o frio, passo adiante sapatos e bolsas… Dou canetas e lápis, trago presentinhos para minhas alunas e colegas proustianas sempre que viajo. Compro livros para uns e outros porque sei que uns e outros vão adorar os tais livros… Uma vez, ainda garota, fui viajar e fiquei sem dinheiro no final do passeio. Não havia problema, pois tudo estava pago, esse dinheiro que me faltou era apenas para comprar coisas. E eu já tinha comprado os presentes que ia trazer para a família. Daí que o pai de uma amiga com quem eu estava viajando fez questão de me emprestar um dinheirinho, para eu não ficar a nenhum. Era coisa pouca, mas era um dinheirinho. Aceitei feliz, saí para passear pelas ruas de Roma e me vi frente a uma linda barraca de flores. Estávamos no inverno, e aquelas flores coloridas me deixaram de tal maneira eufórica que comprei um buquê e levei de presente para a amiga cujo pai, pouco tempo antes, fizera questão de me emprestar a quantia. Eu estava tão feliz entregando as flores para sua filha que ele nem teve coragem de zangar comigo. Ela sim, falou que eu era inconsequente. Guardei o resto do dinheiro e não gastei mais nem um centavo, até chegarmos ao Brasil. Muito responsável, depois do sermão de minha amiga.
Quando me casei, vivia de mesada (éramos dois garotos, estudantes, sem emprego e sem noção). A do Gui chegava todo fim de mês. A minha, como era remessa internacional, atrasava e chegava lá pelo dia 15 ou depois. Nós pagávamos as contas com a mesada do Gui, e vivíamos frugalmente durante todo o mês. Mas, no dia em que chegava a minha mesada, tínhamos um dia de festa. Íamos ao melhor restaurante, assistíamos a um show ou a uma peça de teatro, fazíamos uma loucura que acabava com praticamente tudo o que eu recebia. No dia seguinte, voltávamos ao nosso cotidiano pobrezinho e humilde, mas com alegria. Estávamos renovados.
E assim volto eu ao tema do novo: novos tempos, novos pensamentos, novas amizades. Tenho andado fugindo do Facebook. Descobri que não sei administrar esse novo tipo de amizade. Com muita frequencia recebo pedidos de amizade no FB. Fico feliz, gosto de ter amigos, mas agora estou ficando angustiada: Como ser amiga de tanta gente? Agora no final do ano, por exemplo, meu desejo era ter mandado uma mensagem individual para cada um dos amigos da lista. Mas onde encontrar tempo para fazê-lo? Juro a vocês que sou boa amiga: eu gosto de gente. Gosto mesmo, tenho prazer em escutar as histórias das pessoas, gosto de trocar sorrisos e olhares, me agrada estar com elas em seus programas, mesmo naqueles que não são meus preferidos, só para desfrutar da companhia. Gosto de estar atenta aos seus sucessos e de me congratular com elas. Fico feliz pensando em uns e outros, admirada com a sorte que tenho de ter merecido suas amizades e gestos de carinho. Tenho saudade dos amigos distantes, compartilho da dor dos amigos que sofrem, vibro quando descubro que um deles gostou do livro que recomendei e que outro só foi assistir ao filme porque insisti, e adorou. Lamento quando indico um programa que desagrada aos amigos... chega! vocês já entenderam o que quero dizer. O problema é que com o FB não sou capaz de fazer nada disso. Nem entendo direito qual a "etiqueta", qual a regra de comportamento. Venho aqui para fazer uma espécie de ato de contrição: lamento se não estou sendo a "amiga" ideal. Mas amiga virtual é um conceito que ainda não entendi direito. Mandem-me dicas! Ensinem-me! Quero aprender a ser amiga nos tempos modernos. Saibam que me sinto feliz em receber tantas solicitações de amizade, e que só quero é ser capaz de retribuir à altura. Beijos a todos.

Tuesday, January 04, 2011

Memórias…

Minha querida T.T. continua sendo minha leitora fiel. Graças à ela, que me posta alguns comentários, me vejo obrigada a voltar aos meus "posts", pois, não sei por quê, o blog ativou uma função de moderação que me dá o direito de publicar ou não os comentários. Tecnologia não é mesmo minha praia, embora eu adore um brinquedinho novo!
Pois foi assim que voltei ao dia 24 de fevereiro de 2009, ou 2010, nem prestei atenção e reli o que tinha escrito no dia. Eu mesma me surpreendi. Algumas daquelas lembranças só me ocorreram, sem dúvida, graças a alguma associação de pensamentos impossível de recuperar. E me despertaram outras. Por exemplo, o locutor Leo Batista era amigo do meu avô. Mas, naqueles tempos prehistóricos, a TV era em preto e branco. Daí que era com muito orgulho que sabíamos que o cabelo do Leo era vermelhíssimo. Ele foi o primeiro ruivo de minhas relações. Depois tive (ainda tenho!) uma amiga ruivinha, mas com o passar do tempo seus cabelos mudaram de cor. Mas ela continua especial, só que muito distante. A sortuda vive em Paris!
Eu mesma nasci ruiva, como me contavam. Mas isso não dá para ver nos retratos, os terríveis retratos em preto e branco, instantâneos desfocados que mal me permitem reconhecer minha silhueta. Mais tarde meus cabelos ficaram louríssimos. Esses posso ver nas fotos, e nas mechas que cortavam e guardavam em envelopes. Depois foram escurecendo, mas sempre ficaram saudosos de seus reflexos dourados: qualquer sol que eu tomasse eles abriam mechas. No verão eu era mais bonita que no resto do ano.
Volto outra hora, com mais recordações. Hoje o horário está apertado.