Thursday, December 31, 2009

Um ano dourado 2010! Janela aberta para a felicidade 2010!


Minha amiga Fafá (que não é de Belém) acaba de me mandar esta mensagem, dizendo que este é o mantra para o novo ano. Compartilho com vocês, pois quero mais é estar "feliz entre os felizes". Vamos abrir nossas janelas e deixar a felicidade entrar, combinado? Na verdade, vou é abrir as portas para a felicidade, pois não quero que ela entre na minha vida pela janela, tadinha, com risco de se machucar, ou perigando ser confundida com um assaltante. Abro a porta e a janela, ela que entre, e traga sua comitiva. A gente sempre encontra lugar para mais um, quando as visitas são queridas.
Guido me mandou a foto acima. Só consegui postá-la neste tamanho, e a cor da letra mudou sozinha, ou por causa dela, sei lá. Esses mistérios cibernéticos são variados, e eu sou muito preguiçosa para decifrá-los. Sem falar que gostei da cor. Gosto de azul. Mas queria ampliar um pouco a foto que ele, amigo virtual, mas nem por isso menos atento, me mandou com a certeza de que eu gostaria. Gostei mesmo, é mais um "auto-retrato" para minha galeria! Obrigada, Guido. Seus comentários são sempre benvindos, fico feliz por merecer sua amizade.

Dizem que a cor do ano é verde, cor de Vênus, que vai reger o novo ano. O horóscopo do Globo manda-me vestir "verde elétrico", mas não tenho noção de que cor seja essa. O horóscopo chinês diz que o ano será do Tigre, mas que só vai começar no dia 14 de fevereiro. A tradição manda comer lentilhas. Outros mandam comer uvas. Uns mandam pular sete ondas. Outras dizem que é essencial comer 12 uvas, em cima de uma cadeira, num pé só, fazendo seus pedidos para o Ano Novo – Gente, se eu for fazer isso só poderei pedir para não quebrar uma perna! Não devemos comer aves na ceia, pois as ditas "ciscam para trás", o melhor é comer porco, que "fuça para frente". Em Portugal, ninguém passa bem o ano se não comer bacalhau. Devemos usar amarelo para que o dinheiro não falte no novo ano. Faz bem comer romã. Outros dizem que faz bem comer tâmaras.  Junte a isso a repetição do mantra e já começamos o ano exaustos, de tanto cumprir obrigações!

Lembrei de como trocar a cor da letra, mas me entusiasmei e resolvi colocar cada parágrafo numa. Este aqui é para lembrar os reveillons do passado, quando a praia era um enorme terreiro de macumba, e os batuques começavam cedo. Um monte de ônibus  chegava com dias de antecedência, e as pessoas ficavam ali, dormindo e comendo  à volta do veículo estacionado na praia. De onde viriam? Acho que de Minas, de cidades do interior, todos querendo prestar suas homenagens religiosas. Talvez por isso mesmo São Pedro fosse mais camarada, e não mandasse chuva na noite de 31. A gente se admirava com o "loteamento da praia", toda dividida em terreiros, a areia aplainada, folhas de palmeiras e coqueiros delimitando áreas, e uma profusão de velas, todas enfiadas em buraquinhos na areia que impediam que a brisa do mar apagasse as chamas alegrinhas e dançantes. E todo o mundo dançava. Dançavam os "santos" dançavam as pessoas que perambulavam entre os terreiros, dançavam os devotos que levavam barcos cheios de oferendas, dançavam as mulheres que jogavam flores no mar, e paravam um instante para ver se as ondas levavam suas ofertas ou se as traziam de volta. Se íamos passear na praia, levávamos "passes", quiséssemos ou não. Eu não gostava nada daquilo, aquelas pessoas estranhas cheirando a cachaça e me baforando com a fumaça de charutos, mas não tinha como escapar: era uma menina lourinha e bem educada, funcionava como uma espécie de ímã. E meu avô achava que aquilo era de muito bom augúrio. 

(Este parágrafo era para ser amarelo, mas ia ficar ilegível, mas pensem nele como amarelo, por favor)As simpatias para ganhar dinheiro só me foram ensinadas muito mais tarde. Minha avó, o que queria, era que a casa e a mesa fossem sempre fartas, por isso devíamos passar a meia-noite com comida sobre a mesa.  Até hoje deixo uma garrafa de vinho e alguma coisa comestível sobre a minha, por causa disso. Depois aprendi que devíamos enfeitar a casa com trigo. Tudo bem, os arranjos ficam bonitos mesmo. E me ensinaram a simpatia dos Reis Magos, para guardar na carteira. À medida que vamos ficando mais velhos, vamos ficando mais e mais "soterrados" de tradições e crenças. Chega num ponto que, ou abandonamos tudo, ou precisamos de duas noites para celebrar o reveillon, pois numa só não conseguimos terminar.

Já usei o vermelho, então fico com essa cor de rosa puxadinha para o lilás, a fim de falar sobre as coisas do coração. Houve uma época em que isso me interessava muito. Queria o vermelho da paixão, e o rosa do amor. Era uma dificuldade me vestir para a ocasião. Branco, pois era (ainda é) o costume. Uma peça de roupa precisava ser amarela ($$$$) outra vermelha (paixão), outra rosa (amor verdadeiro)… No ano em que me vesti de azul e branco, no entanto, foi o que me achei mais feliz. Estava de bem comigo, passei o reveillon de bikini e kanga, à beira da piscina, em Angra. Não me preocupei com as cores, e foi o ano em que tudo deu certo, vejam só. Em 05/06 passei a noite de preto. Achei que ia deixar todo mundo chocado, mas, como estava num hotel cheio de estrangeiros, havia incontáveis outras pessoas também de preto. Foi bom ter ido viajar, não ofendi ninguém com meus trajes.

Volto ao pretinho de sempre, a melhor cor para a escrita. Desejo a todos muitas felicidades, em tecnicolor. Escolham vocês a cor que quiserem, repitam os mantras que julgarem melhor, festejem, recolham-se, escolham a praia ou a montanha, fiquem com a família ou saiam com os amigos. Que o ano nos traga a todos bons livros. Que os dias de 2010 nos encontrem cheios de entusiasmo. Que as noites de 2010 sejam em boa companhia. Que as razões para comemorar sejam muitas. Que a grana seja abundante e que as dívidas sejam poucas. E que ninguém tenha indigestão.

Monday, December 28, 2009

E os livros?

Gente, volto a escrever porque parece que tudo o que faço é ir ao cinema! Mas não é assim, não. Leio, leio e tresleio. Além do As seis mulheres de Henrique VIII, que estou lendo com meu grupinho amado, li bastante esta semana: Histórias apócrifas, daquele Karel Capek; Caim, do Saramago; Milamor e Solo feminino da Lívia Garcia Rosa; A contorcionista mongol, de Roberto Muggiati; O livro de Hai-Cais, Mário Quintana; A vida íntima de Pippa Lee, da filha do Arthur Miller. Mais um da Heloísa Seixas, cujo título esqueci. E tem mais, mas esqueci até do nome do autor. Dá uma média de 1 a cada dois dias, isso se a gente não contar os livros para as resenhas, pois esses são "trabalho". Eu gosto muito de ler, mas estou exagerando. Lendo tanto, não consigo tempo para escrever. Desses que li, coloco meu selo de "altamente recomendável" em Capek e em Saramago. Meu selo de "muito bom" na Lívia, na Heloísa e no Quintana – que peca por ter sido uma "escolha", uma montagem de um terceiro –. Meu selo de "pode esquecer" no Pippa Lee. Meu selo de "divertido" naquele cujo nome esqueci e na contorcionista. Vou me dar mais uma semana de leitura intensiva, pois tenho muitos livros aguardando na fila. Depois, vou escrever. Começarei o ano escrevendo! Este é meu propósito para 2010: terminar todos os projetos em andamento e começar outros dois – um acadêmico e outro de ficção! Me aguardem!

Filme triste

Não vou ficar aqui falando de tristezas. No entanto, preciso comentar a programação do Estação Ipanema: alguém deve estar à beira da depressão. Os dois filmes são tristíssimos: Um segredo em família e Cerejeiras em flor. Tinha assistido o primeiro há algum tempo atrás, acho que na semana passada. O filme me impressionou como uma espécie de escolha de Sofia, a escolha entre a fé e a sobrevivência  – embora alguns amigos tenham interpretado a ação da mulher traída como uma vingança contra o marido. Eu, com minha interpretação, sendo uma mulher de pouca fé, acho que, no lugar dela, no entanto, por uma questão de lealdade, teria feito o mesmo. Achei interessante a discussão de minhas amigas, que afirmavam que ela sabia que estava condenando o filho à morte. Será que sabia? Será que as pessoas estavam cientes do que se passava? Será que tinham informação dos horrores? Será que conseguiam acreditar nestes horrores? Pois há um limite para o que se consegue acreditar. Nós mesmos, aqui no Rio de Janeiro, será que temos ciência do que verdadeiramente acontece nos morros e nos locais mais pobres da cidade? Será que não somos tão cegos como a população daquela época, que, quando escutava relatos, colocava os fatos mais escabrosos na conta de "propaganda de guerra"? De qualquer forma, não é um filme depressivo. O filho resgata a humanidade da família, redime o pecado original. Mas é um filme triste.
As cerejeiras, com seu título tão poético, é tristíssimo. Passei o filme todo chorando, mas levem em conta minha empatia com o personagem. Ele perde a companheira de toda uma vida e se desorienta. Mas como não se desorientar? Ele, no entanto, teve a sorte de morrer 6 meses depois. Como retratar a tristeza de quem continua vivo e sofrendo por muito tempo depois? O bonito do filme são os personagens absolutamente medianos: ao contrário do Segredo, em Cerejeiras não existe um fator "heróico". Trata-se da vida de qualquer um, da insensibilidade que nos permite viver anos ao lado de alguém sem que nos detenhamos para conhecer um pouco melhor essa pessoa, e, no entanto, amando esse alguém desconhecido com devoção. Trata-se da impossível relação com os filhos, que precisam de nós, mas que nos repudiam para poderem ser indivíduos. Trata-se das surpresas que a vida nos traz, dos segredos que guardamos, das pequenas violências que cometemos e que nos fazem tanto mal, a nós e aos outros. Em resumo, um filme tristíssimo.
Mas a vida nos oferece amigos, sem que a gente nem coloque uma estrela de Belém para atraí-los. Eles chegam com ouro, incenso e mirra, em suas palavras e em seus gestos inesperados. Obrigada, Márcio, pelo comentário. Obrigada, Aninha, pelo apreço. Vocês alegram meus dias. São os meus Reis Magos (visitem o blog do Marcio e da Brenda, Imagem Semanal ), virtuais. Juntamente com os reis e rainhas que me procuram com palavras e presentes, vocês são aqueles que reparam o dique que mantem represadas as minhas lágrimas. Meus sorrisos são dedicados a todos vocês, que nunca me esquecem. 

Saturday, December 26, 2009

Finalmente montei uma árvore de Natal este ano! É bem verdade que é só aqui no blog, e que ela é descaradamente roubada da New Yorker. Mas é a única árvore de Natal que eu poderia montar, e, assim mesmo, só depois de passado o pesadelo. Pois o Natal, para mim, se transformou numa grande provação. Preciso dar um jeito nisso, mas ainda não consegui. Me esforço, faço cara de alegre, cozinho delícias, estreio roupa nova, mas, por dentro, estou raivosa. Minha tristeza transformou-se numa raiva surda contra a vida, uma irritação ranzinza, de quem procura motivos para se sentir infeliz. Espertinha como sou, reconheço os sintomas e reajo, mas isso não me impede de terminar os rituais sempre em lágrimas de frustração. Bem, os amigos que desculpem a sessão de psicanálise.  Concentrem-se apenas na árvore de Natal, toda feita de livros. Quais os livros que vocês colocariam nela? Obviamente que, por razão da época natalina, a minha estaria com algumas histórias de Natal: a Menina dos Fósforos (acho que não existe história mais triste!); Scrooge, do Dickens; The Polar Express; a Bíblia; Morte e Vida Severina; livros que ensinam a fazer arranjos de Natal, livros de culinária e de arrumação de mesa. Estes livros temáticos serviriam como os "enfeites". Para a árvore "enquanto árvore", procuraria lembrar de meus favoritos. Claro que, como mexi  em Dickens, aproveitaria para pegar um David Copperfield, um Tale of Two Cities e The Prince and The Pauper. Chega. Não preciso da obra completa do autor. Obra quase completa seria a de Machado de Assis: todos os contos, quase todos os romances, todas as crônicas. Os contos de Grimm, minha coleção de "Os mais belos contos …", desaparecida, mas que compunha-se de contos de fada russos, contos do Roman de Renard, contos das Mil e Uma Noites e tantos outros. Eça de Queirós, tudo. Camilo: Amor de Perdição, Amor de Salvação, A queda de um anjo. E a Dama Pé de Cabra, de quem era mesmo? Herculano? Sim, colocaria os contos dele. E muita coisa de Victor Hugo, os romances. Lembrando dele, iria pegar meus queridos capa e espada: Os Três Mosqueteiros, O homem da máscara de ferro, O homem que ri, e, porque não, O Conde de Monte Cristo, os romances de Dumas Pai e Filho que nunca soube quem escreveu o quê. Nestas leituras de juventude, colocaria as deliciosas aventuras de Arsène Lupin, e as de Sherlock Holmes, e as histórias de Agatha Christie, tanto as da Miss Marple como as do seboso Poiret. E o Magazine de Mistério do Ellery Queen. Colocaria toda minha seção de teatro, as peças gregas e romanas, as francesas, as de Martins Pena, as do Ariano. Chekov entraria, assim como Dostoievski e Tolstoi. Proust, é claro. Tudo, tudinho. Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. M. Ségur. Callado. Mario e Oswald. Vargas Llosa. Hemingway. Borges. Cortazar. Maupassant e Monteiro Lobato. Já estou cansada de carregar livros, e, se continuar neste ritmo, ao invés de árvore construirei uma torre de Babel ( o que me faz lembrar de incluir Saramago e Mia Couto). Paro por aqui, mas ainda resolvo colocar umas guirlandas poéticas. Manuel Bandeira, João Cabral, Silvia Plath, Adrienne Rich, Paul Celan, Drummond, Menotti, Jorge de Lima, Victor Hugo, Baudelaire ( Ih, tenho que colocar na árvore o Flaubert!) Rimbaud,Pessoa,  Cecília ( Ih, deixei a Clarice fora da árvore, será que dá para encaixar?) Olhando os outros livros que deixei de fora, vejo que preciso construir, ao invés de uma árvore de Natal, uma Floresta de Natal. Tantos livros de autores recentes: Roth e Oz, para não mencionar os brasileiros contemporâneos que nem começo a citar para não encompridar mais o post. E vocês? Como ficaria a árvore de cada um de vocês? Não esqueçam dos meus livrinhos, hein?!

Monday, December 21, 2009

Avatar

Ontem à noite, um programa inesperado: fui assistir Avatar, e gostei. Uma boa diversão, um filme bonito e bem feito que, por mim, poderia ter sido realizado com muitos minutos a menos, bastava cortar todas aquelas cenas de batalha, para mim intermináveis. O que mais me chamou a atenção foi o fato de que a imaginação do lado do "mal" ficou pesada e pouco futurística. Os artefatos eram grandes demais, pesados demais. As pessoas não evoluíram: o sargentão do futuro pode ser encontrado desde os tempos do Vietnam, eu acho. (Ou até mesmo antes – de quando era datada a história de Biloxy Blues?) As armaduras são conceitos ainda medievais e o malvadão lá estava dentro dela, se achando todopoderoso! E os bicicópteros? Aquela cruza de bicicleta com helicópteros me pareceu a coisa mais atrasada, juntamente com a imensidão da máquina desmatadora.
Mas a imaginação que deu vida a Pandora também buscou inspiração no passado: dinossauros, pterodáctilos, dentes de sabre… Mas tudo lindo, colorido, e os humanóides elegantes, sem maiores exageros. 
O que mais gostei foi da "trança tecnológica". Finalmente descobrimos para que servem os cabelos! Já as cerimônias em frente à Árvore da Vida, me pareceram muito primitivas. 
Volto à vida real, com minhas limitações. Antes de partir, porém, registro mais uma vez a cena futurística que mais me emocionou em filmes de ficção científica: os homens-livro, ao final de Farenheit. E, por mais que me emocione, também é a que mais me angustia. Além das razões óbvias, sempre que me lembro dela, embarco no dilema: que livro eu escolheria ser? Eu, desmemoriada, a que livro devotaria minha infidelidade?
Já ia me esquecendo: O livro que li ontem é mesmo ótimo, inteligente, mas não é apaixonante. Por isso, não leiam de uma assentada, como eu o fiz. Degustem devagarzinho, saboreiem os raciocínios, pois assim ele será mais bem aproveitado. Das histórias que li, uma me fascinou: a carta de Alexandre a Aristóteles, ou como racionalizar a ambição da loucura…

Sunday, December 20, 2009

Artes culinárias

Ontem fui ao cinema e depois jantar com umas amigas. Estou tomando antibióticos e não bebi, e ainda me gabei de nunca ter ficado de ressaca na vida. Paguei pela língua. Mesmo sem beber nada, acordei de ressaca. Só pode ser isso, um castigo. Tontinha, e com vontade de cozinhar. Estou aguardando os próximos dias para ver se essa loucura continua, e aí me interno num asilo, completamente pirada. Mas, enquanto estava com a bendita ressaca culinária, resolvi fazer um almoço gostosinho: Lombinho recheado com purê de castanhas, ao molho de vinho tinto. Purê de maçã, com canela e gengibre. Salada de rúcola, lascas de parmesão e figos. Só que não encontrei os figos para vender, fiz com lichia, e ficou ainda mais gostoso, embora não tão bonito. De sobremesa, cerejas. Um cafezinho. C'est tout.  Ainda bem que minha queridíssima Flora se habilitou, pois, de outra forma, teria que comer sozinha, e ia ficar muito triste. Mas assim foi legal. Comemos, assistimos o ma-ra-vi-lho-so ballet do Proust e ela se foi, para o concerto da Petrobrás. Eu vou ler. Comprei um livro ontem (acho que todos os dias eu compro livro) pela indicação da resenha do editor do caderno Ideias, do JB. Histórias apócrifas, acho que é o nome. Comecei ontem, mas saí e tive que parar de ler, mas não vejo a hora de recomeçar a leitura. Karel Çapek, é o nome do autor ( na verdade, sem cedilha, mas com um chapeuzinho invertido no C, que não sei como fazer neste computador), foi o inventor da palavra Robot, mas este livro não tem nada a ver com isso, e sim com a "rabugice" da humanidade. Desde o tempo dos mitos, passando pelas cavernas, escolhendo na história algumas situações hilárias, mas de um grave teor filosófico… Bem, só li as três primeiras, volto ao livro e conto mais depois.
Bom domingo. Incrível que já estamos nos dez últimos dias do ano, e eu continuo com a sensação de que ainda não fiz nada que valesse a pena este ano. Será que ainda vou fazer?

Saturday, December 19, 2009

Lista de Natal

Natal já foi um tempo feliz, mas depois passou a ser meio angustiante. As perdas começaram e as ausências foram ficando mais numerosas que as presenças. Isso me complica as datas festivas, me faz ficar sempre dividida entre o compromisso com os vivos e o desinteresse pela vida. Daí que resolvi fazer uma lista de coisas que são boas no Natal:
Em primeiro lugar, fazer listas. É um exercício de organização, e ajuda a estruturar o pensamento. Só que eu sou uma desorganizada, e nunca as faço. E, quando faço, esqueço-as em casa… Mas, se eu cumprisse o meu dever, isso me facilitaria muito a vida.
Em segundo lugar, o prazer de comprar presentes. Não todos, não aqueles que a gente compra por dever, aqueles que só fazem provocar rombos no orçamento. Só aqueles que a gente deseja mesmo dar a pessoas especiais que iluminam nossas vidas, esses nos causam um grande prazer. Comprar aquele livro que vai fazer os olhos de uma amiga brilhar. Comprar o tom certo de baton para outra. A blusa que uma precisava, aquele presentinho absolutamente inútil mas que é lindo, e é a cara do presenteado. Aquele que é muito desejado por alguém … Essas compras me dão muita alegria.
Bolar cartões de Natal para amigos, é outra coisa que também me encanta. Faço uns cartõezinhos muito mal acabados ( meus dedos até que são hábeis, mas não tenho as ferramentas adequadas e não acho que precise comprá-las para trabalhar só no Natal), mas que, modéstia à parte, até são criativos.
Nos dois últimos anos, graças ao Histórias possíveis, outra coisa que me agrada é escrever contos de Natal. No ano passado foi uma historinha de amor, bem alegrinha "Natal no Leblon". Este ano, mais intimista, uma história da passagem do tempo em família "História do Natal".
Outra coisa que me dá muito prazer, são as reuniões de amigos. Amigo oculto, grupo de Proust, grupo novo, grupo velho, tradicional feijoada, mesmo sem tempo, às vezes até sem assunto, adoro ir a todas as reuniões que consigo. E fico morrendo de pena quando coincidem, pois aí tenho que abdicar de alguma delas.
Outra coisa que acontece comigo nesta época é ficar sonhando em lugares onde gostaria de passar o Natal e o Reveillon. Este ano fiquei desejando Egito e Jordânia. Engraçado, nunca tenho vontade de passar essa época em NY e Paris. Mas gosto muito quando vou a uma dessas cidades um pouco antes do Natal, para ver a decoração. Tudo tão lindo!
Para terminar, a árvore de Natal da Lagoa, e seus fogos de artifício. Ela é mesmo linda!
Desejar Feliz Natal às pessoas, sorrir a esmo, cheirinho de árvore de Natal, a sacola da Granado, com o Papai Noel botando polvilho nas botinas, para tirar o chulé, um monte de bobagens que vão enchendo meus olhos ora de lágrimas comovidas ora de estrelas de alegria.
E a correria. É por conta dela que paro por aqui. Acabei de lembrar que preciso sair!
Feliz Natal!

Sunday, December 13, 2009

Indizível

Há coisas que não devem ser ditas. Palavras que, uma vez que são proferidas, estragam o ambiente, afugentam, corrompem e destroem.  Tenho muito medo dessas palavras, porque sou uma pessoa sensível e custo mais a apagá-las do que deveria.  As vezes as palavras proferidas são até inocentes. Mas a brincadeira fica sem graça, ou o momento é inoportuno, e para sempre as lembranças ficarão enodoadas, recordando a gafe. E aí as conversas morrem de inanição, pois parece que não há mais o que dizer depois do que foi dito e que ficou, indelevelmente, registrado.
Senhoras e senhores, fujam das palavras dúbias, das brincadeiras grosseiras, dos ditos que podem parecer inocentes numa mesa de bar entre amigos mas que se transformam em icebergs perigosos em outras ocasiões.
Mudando de assunto, fui assistir o filme do Woody Allen, mas, para vê-lo, precisei primeiro assistir ao New York I love you, que já tinha visto no festival. Gostei, na ocasião, e ainda acho que o filme é bom, mas não é daqueles que me fariam voltar ao cinema mais uma vez, nem sequer alugar o DVD… Mas levei a coisa como um rito de passagem, e fiquei (desta vez) analisando os defeitos do filme. Acho que ele peca quando quer ser "artsy" – elevar os episódios a histórias exemplares, quando o charme do filme é a crônica, o instantâneo.  Por isso, embora as pinturas sejam belas, o episódio do artista obcecado pelo rosto da vendedora em Chinatown não me agradou.  Gostei mais do paquerador (um escritor, tomem nota) que gasta sua lábia em vão… mas não digo o porque, para não ser desmancha prazeres. O casal de velhinhos é simpático, e os atores são ótimos, mas as tintas são muito carregadas, está muito próximo à caricatura. Os amantes fortuitos… sei lá, são uma boa fantasia, tanto um casal como o outro. Os caras do taxi são ótimos, o "manny" (male nanny) também é muito revelador. Só que ver de novo todo o filme, cansa. Mas aí veio o Tudo pode dar certo, e a segurança do Allen me encantou. Esse dá vontade de ver de novo, para observar os detalhes. Detalhes que tornam o filme uma lição de narração (e cinema, é óbvio). As conversas com os espectadores, por exemplo, uma delícia, num jogo de vai e vem absolutamente perfeito. A revelação das razões da atração do homem mais velho pela jovem, e vice-versa, sem apelações, ocorrendo tão naturalmente que se torna literalmente irresistível. E as mudanças que esta relação ocasiona, sem que, na verdade, nenhuma essência seja modificada, já que apenas os traços existentes se acentuam ou se esfumam, de acordo com as novas proximidades. Os pais dela caem nos clichês, mas sem exageros, e os atores são tão bons que a gente acredita neles e nas situações que vivem.
Mas a pérola, na minha opinião, é a cena de amor entre a moça e o rapaz , quando estar "preparado" ou "prevenido" revela toda sua relatividade.
Assistam. É um filme divertido e que de bônus oferece uma boa ginástica para os neurônios preguiçosos.
E mais não digo.

Friday, December 11, 2009

Luís XIV

Nada sei de Luís XIV, nem tenho nada a dizer sobre ele. No entanto, parece que o dilúvio que ele invocou a segui-lo andou se desviando mas chegou ao Rio de Janeiro. Será que vamos ter 40 dias de chuva? Será que preciso arrumar um bote que me permita sair daqui de minha alta torre para buscar um monte Ararat onde encalhe? Ontem à noite, depois de cruzar a cidade chuvosa duas vezes, vim me refugiar em casa, com vontade de nunca mais sair. Olhei satisfeita para meus livros, meus DVD's, e vi que tinha alimento para o resto da vida. Minha cozinha, no entanto, é desprovida de sustento. Pacotes de sopa instantânea, algumas folhas amarelando na geladeira, pouco mais. Algum café, temperos sem nome… Definitivamente, precisarei de um bote se a chuva continuar. Mas ontem podia me dar ao luxo de ficar em casa, no seco, mergulhada na beleza do ballet que graças a minha amiga Marie Louise podia ficar assistindo. Como agradecer a esta linda e delicada criatura, que me trouxe de presente o ballet de Proust, pelo qual já cometi loucuras como embarcar, de uma hora para outra, para Paris, a fim de assisti-lo?  Agora, quando soube que o ballet tinha saído em DVD, fiquei louca de vontade de voltar a assisti-lo. Que lindo! Proust ou les intermittences du coeur, ballet en deux actes et treize tableaux. Coreografia de Roland Petit, música de Beethoven, Debussy, Fauré, Franck, Reynaldo Hahn, Saint-Saëns e Wagner. E todo o corpo de baile da Opéra de Paris.  Ah, que maravilha! Acho que nem Louis, Le Roi Soleil, teve mais satisfação do que eu. Na verdade, tive muitos momentos de princesa em minha vida: Estive no Louvre, sozinha (literalmente) numa sala com a Gioconda, antes de sua proteção de vidro, numa saleta onde ela era apenas mais um dos quadros. Pequeno, nada de grandioso, como eu esperava. E cheia de craquelé, o que muito me admirou. No mesmo Louvre, eu e uma amiga, na ala grega, brincamos de telefone sem fio com as urnas de mármore, postadas nas extremidades de um amplo salão. Isso depois de meus olhos avaliarem, negativamente, a beleza da Vênus de Milo. Não que eu tivesse achado a deusa feia, mas me admirava de que ela fosse tão "massiva". Em inglês há um adjetivo para mulheres como ela que é, exatamente, "statuesque". Que é bem diferente do nosso "escultural", que se prende mais ao torneamento do que à sensação de grandiosidade, de concretude, da beleza de algumas mulheres. Mas, aqui mesmo no Rio, tive de sobra momentos de princesa. Um dia, por exemplo, ao voltar de uma viagem, atravessei o túnel Rebouças deixando para trás uma Tijuca chuviscante e, ao sair na Lagoa, o que me esperava era um dia radioso, com o sol ofuscando as águas da Lagoa, e a saudade fazendo meu coração explodir e provocando lágrimas de puro êxtase. Por falar em êxtase, os momentos sem fim em frente à imagem do êxtase de Santa Teresa, onde, na igreja quieta e quase sempre deserta, me esqueço do tempo e dos pés cansados de turista… Nem sei expressar o quanto gosto de arte, nem o prazer que ela provoca em mim. Um bom livro também é capaz de me dar a mesma sensação. E creio que alguma "memória corporal" desses momentos fica em mim, pois, ao falar sobre esses livros, minhas amigas dizem que minha expressão se modifica.
Agora, ao escrever estas palavras, vejo que o sol volta a aparecer. Bom isso. Principalmente porque hoje tenho um programa ao ar livre: assistir ao filme do Woody Allen no Vale Open Air. Terei mais um momento de princesa? Talvez, embora poucos sejam os filmes que me tenham impressionado assim. Um foi, sem dúvida O Leopardo. Outro foi 2001. Mas não posso esquecer de maravilhas como O incrível exército de Brancaleone, O mensageiro, A filha de Ryan, Amarcord, Barbarella… Pretty inconsistent, uh? Mas eu sou assim, como o Mário de Andrade descreveu: múltipla, arlequinal, 350. 
Para terminar, mais um viva a minha amiga, imperatriz no nome e nas graças! A minha duquesa de Guermantes, com seu perfil de pássaro, sua elegância natural, e seu eterno ar de menina em flor!

Monday, December 07, 2009

Entre Dante e Henrique VIII

Mergulhada em trabalho, indo de Dante a Henry VIII. Pode parecer que os dois têm pouco em comum, mas vejo algumas semelhanças: ambos são polígamos. Todos falam de Dante e Beatriz, mas ele era casado com Gemma , desde os 12 anos de idade. Sim. Naquela época os pais não perdiam tempo. Antes que os filhos criassem asinhas e saíssem se engraçando com as meninas erradas, eles já iam logo casando e garantindo os acordos comerciais. Pois casamento não tinha nada a ver com amor. Só que o poeta também era precoce, e aos 9 já se engraçou pela vizinha, a Bice, Beata, Beatrice que nunca falou com ele (é o que dizem) e que se casou com outro, e depois morreu. Naquela época as pessoas tinham o mau hábito de morrerem cedo. O próprio Dante morreu aos cinquenta e pouco. Henrique VIII, que, ao subir ao trono pouco antes de completar 18 anos, foi considerado o mais belo rei da cristandade, também era precoce. Foi ele, aos 11 anos, que levou a noiva do irmão ao altar, e, dizem foi neste dia que ele se apaixonou por Catarina de Aragão. Catarina, que era filha dos reis católicos, Fernão de Aragão e Isabel de Castela, era uma menina bonitinha. Tinha 16 anos quando casou com esse Arthur, irmão do Henrique, baixinho e franzino, setemesino, como dizem os espanhóis, que morreu alguns meses depois, sem ter consumado o casamento.  A imagem do cunhado, o príncipe louro, de 1,90, atlético e sonhador, deve de ter povoado os sonhos da princesa. Principalmente porque ele foi o único que a tratou com carinho, e quis se casar com ela desde a morte de seu irmão. O pai não deixou, mas ele, mal subiu ao trono, decidiu. Casou-se com a cunhada e com ela ficou por 20 anos. Aí as coisas começaram a complicar. Ele com quase 40, Catarina com 43, e nada de vir um herdeiro. Entre as damas da rainha estava a sedutora Anna Bolena. Harry já não era mais o formoso jovem rei. Provavelmente diabético, engordara muito. Suas pernas, antes longas e atléticas, estavam inchadas e ulceradas. Ele decidiu casar-se com ela. Quis o divórcio, Catarina não deu. Quis anular o casamento, o Papa não deixou. Henry mandou Papa e mulher às favas, fundou a Igreja anglicana e se casou com Anna dos 1000 dias.  Disseram que ela o traía. Ele a mandou matar e arranjou outra, que lhe deu o desejado filho homem, mas morreu em seguida. Ele mandou vir outra princesa, para garantir mais um herdeiro. Mandaram-lhe uma feiosa. Ele não quis. Já estava mais velho, com problemas causados pela diabetes, não existia Viagra e eles se separaram amigavelmente. Tão amigavelmente que ela ficou morando na Inglaterra, com o título de "irmã" do rei. Nisso surgiu uma moçoila, desmiolada e muito namoradeira, pela qual o rei se engraçou. Só que ela se engraçou por outro e acabou no cadafalso. Mas o rei gostava da vida conjugal, e arranjou uma mulher sensata, com jeito para enfermeira, com quem ficou até a sua morte. 
Bem, enquanto eu tentava destrinçar toda essa confusão inglesa, procurando, antes mesmo de chegar ao King Harry , descobrir as razões das Guerras das Duas Rosas, também ia tentando enredar a vida de Dante num conto que preciso entregar em breve. Coloquei Dante no meio da selva escura, e reformei seu paraíso usando as tintas infernais. Espero que gostem, quando lerem o conto. Tomara!
Desculpem o silêncio. Não foi de esquecimento, nem de viagem. Vou ficar por aqui. Natal e Reveillon bem sossegada no Rio. Em janeiro talvez eu vá, mas ainda não sei para onde. Por aí. Ou por aqui, em Itaipava. Mas janeiro é só ano que vem, ainda falta…

Wednesday, December 02, 2009

alfabetos

Assino geralmente com um L maiúsculo, acho que por preguiça. Esta é minha assinatura de imeios e de dedicatórias e cartões. A assinatura "oficial" é mais completa. Mas para os amigos, vou colocando só a inicial, onde antes colocava Lucinha, ou Lu, ou Lúcia. Passei a me esconder atrás de uma letra, mas nunca tinha pensado em como os outros, recebendo o imeio ou o cartão, leriam essa assinatura. Um novo amigo retrucou: –L (Elle?)– e eu fiquei meio perplexa. Como me dizer, se não me digo, apenas me escrevo? L sem som, só um arabesco desenhado na página, um voo de quem já se quer em outro lugar, alguém que até eu mesma desconheço. Já não sou mais a Lucinha (nem lucinha, como uns tempos assinei). Sou Lúcia Bettencourt, que assino contos e textos diversos, mas já não sou mais a Lúcia B. Sou L, não sou nada. Sou.
Por uns tempos, no colégio, faziam a chamada usando números e eu era 93. Passei a gostar de números ímpares nesta época. Me dei conta de que tinha nascido num dia ímpar, 19 (embora mês e ano fossem pares).  Mas gosto de todos os números, cada qual com seu desenho funcional e inequívoco 1-2-3… Até mesmo o misterioso zero me agrada, mas já me disseram que zero não é número e eu aprendi, embora não acredite.
As letras me fascinam, com sua multiplicidade. Podem ser de imprensa ou manuscritas, podem ser maiúsculas ou minúsculas, podem ser até números (algarismos romanos, símbolos algébricos). As letras podem ser o que quiserem. Podem ser Deus. Combinam-se de outras maneiras e formam idiomas diferentes: Se escrevo bom, estou em português. Se mudo a ordem das letras, mob, passei para inglês. Num alfabeto conheço os prazeres do demiurgo. Das letras tiro o mundo, ou, com elas, o obscureço. Os alfabetos são minhas estrelas. Contemplo-os e completo-os com a imaginação.