Tuesday, September 18, 2007

Em casa, sonhando

Não fui e não vou ao Riocentro hoje. Mas estou em casa, sonhando com viagens. Para Santiago de Compostella, em decorrência do prêmio. Para terras distantes, procurando amigos que quero conhecer melhor. Á volta de meu quarto, porque sou de formação clássica e sei que vamos muito mais longe quando ficamos aqui mesmo.
Ontem fiquei emocionada com a leitura dramatizada do conto A secretária de Borges. Foi lido por André Gracindo, e ele não desmereceu em nada o sobrenome famoso. De olhos baixos, ele parecia mesmo um Borges, novo, lendo de memória e não com o olhar. E as pausas e entonações que ele deu ao texto, tão diferentes de minhas possíveis pausas e entonações, me fizeram sorrir, encantada de ver um novo entendimento surgindo. Um Borges ligeiramente diferente do que eu tinha em mente, um pouco mais malévolo, talvez mais borgeano que o meu...
Vi a mensagem do Ernane, de quem muito ouço falar, e agradeço. Pode deixar, darei seus parabéns à Rachel.

Monday, September 17, 2007

Impressões bienais

Linda e enorme, mas não muito freqüentada. Achei que este ano o público não compareceu. Mas os estandes estão lindos, cheios de livros belos e maravilhosos. E os ambientes estão sensacionais. Sábado e domingo, é bem verdade, foram dias de muito público. Crianças incontáveis e muitos adultos, também. Principalmente no sábado, pois domingo teve Flamengo e Vasco. Instantâneos da Bienal? São vários. Amigos se reencontrando, comidinhas compartilhadas em ótimos barzinhos, a fila da pipoca, os bons cafés, as ausências de uns e outros, as presenças de gente muito, muito legal... As falas têm sido ótimas, geralmente apaixonadas e interessantes, veementes. Raras são as vezes que a palestra não engrena. Os assuntos variados interessam a muitas pessoas. Infelizmente não pude ir a tudo o que queria assistir -- problemas logísticos. Amanhã não sei nem se vai dar para ir lá -- problemas familiares. Quarta não vou: é a festa da Rachel Jardim, e eu não abro mão de ir dar um beijo nela.
Já encontrei diversos livros que quase que comprei, só que depois lembrava de minhas caixas de livros ainda por abrir e desistia de trazer mais algum para casa. Ontem acabei comprando, mas tecnicamente tratava-se de uma revista... Na verdade, parece um dicionário, de tão alentada: falo da ótima revista teresa...Todinha sobre Machado de Assis -- não pude resistir! Em casa, procuro pelo outro pé da sereia, que sumiu! Odeio quando isso acontece, de um livro se esconder no meio da leitura, mas os livros têm lá suas razões... Aguardo. Ultimamente, só faço aguardar.

Saturday, September 15, 2007

Bienal, bienais

Bienal do livro, pela primeira vez com crachá de "autor". Eu sempre ia a Bienal. Mesmo que dissesse: esse ano não vou -- acabava me deixando tentar ou por uma palestra, ou por um bate-papo, e quando menos esperava lá estava eu, deslumbrada. Só que este ano é diferente. Estou com algumas programações já agendadas há muito tempo. Hoje, por exemplo, falamos no Prosa na Bienal, sobre prêmios literários. Para mim, o concurso do SESC foi uma porta de entrada neste mundo a que eu desejava ardentemente pertencer: autores publicados. Só que o que parecia meta, assim que foi alcançado, demonstrou que não passava de uma porta de entrada, e que, para mantê-la aberta, era necessário muito mais do que eu pensava. Os autores precisam de demonstrar sua consistência e regularidade de produção.
Mas trato aqui de emoções e de iniciações. Foi bom ir à Bienal e ser convidada para a festa de abertura, no Copacabana Palace, onde, sob lustres mais pesados que os da ópera, não se encontravam fantasmas, mas autores de carne e osso. A noite foi ótima, os vestidos eram lindos -- e de todos os gostos. Havia boa bebida, boa comida, muita gente e mais fofoca. Os risos talvez tenham sido um presente a mais.
O Copa não perde sua majestade, os sonhos parecem brilhar em cada olhar fixado sobre nós. Bebi champagne, falei com uns e outros, dancei com outros e uns. Mas agora, aqui em casa, em frente ao meu computador, sinto que este é o lugar que mais me agrada. Aqui as palavras se agrupam e me escrevem, me abrigam e me revelam. Bienal, embriaguês de textos e um enorme prazer de andar por entre exemplares sedutores. Bienais do passado, olhada sempre com desejo e fome,

Friday, September 14, 2007

Rapidinha

Hoje foi dia de arrumação: Abre caixa, descobre aquilo que você julgava perdido, hesitação para escolher onde guardar o objeto, coloca numa gaveta, ou prateleira, e ter a certeza de que aquilo vai continuar perdido. Metade das coisas qe se tem vivem perdidas. Bem, provavelmente nemtodo o mundo é assim como eu.
Consegui esconder quase tudo o que saiu das caixas hoje. Não sei quando vou reencontrar as coisas, nem quando vou ter mais tempo para me organizar. Mas meu cantinho começa a se fazer mais reconhecível, já tenho um quadro na parede. Tenho plantas pela casa. Já passei o aspirador de pó no chão... Daqui a muito pouco terei um lar, ou seja, saberei onde ficam os interruptores, onde estão as taças e os copos, terei um cantinho predileto. Mal posso esperar!

Wednesday, September 12, 2007

Atrás do caminhão da FINK

Mudança. Mudar de casa implica em mudar de vida, também. Por mais que a gente leve os móveis, os retratos, as lembranças, quando colocamos nossas coisas em um novo ambiente, elas revelam aspectos estranhos, que ainda não conhecíamos. As imperfeições aparecem: aquele arranhadinho que ninguém viu durante anos, agora se coloca em evidência, por exemplo. As fotos parecem um pouco mais amareladas, o porta-retrato perde o equilíbrio e já não se sustenta. O quadro que amávamos e que supúnhamos que ia ficar lindo em cima do sofá, nesta nova posição não combina. Continuamos amando o quadro, mas ele tem que se retirar para cima do piano. Um piano que ninguém toca, e que por isso mesmo é intocável. Para onde vou carrego meu piano, uma promessa de sonho.
O pior de tudo parece acontecer com as cores. Estofados que desbotam, vermelhos que se tornam sanguíneos demais, demoramos a nos acostumar com as tonalidades novas que nossas cores adquirem. Algumas coisas, no entanto, se dignificam: A mesa da cozinha que vira mesa de jantar assume nova dimensão e pose. Suas pernas se alongam e ela se posta sobre o chão como uma gazela, orgulhosamente examinando seu novo habitat. Ou a estante, que durante anos serviu para armazenar livros pouco lidos, agora destinada a exibir objetos de enfeite, deixa seu ar pesado e cansado de lado e se revela leve e elegante.
Me perdi, divagando, em vez de falar sobre minhas emoções acompanhando o caminhão da FINK. Descendo a Estrada do Joá, ele sacolejava levando lá dentro uma parte de minha vida, e quase todos os meus sonhos. Meus livros estavam lá, e eu os sentia alegres. Eles, que me levaram para passear sempre que eu quis, agora empreendiam uma aventura, levados por mim. Saiam de seu habitat e iam para um novo lar, apertadinho, mas mais iluminado. A cada sacolejo do caminhão eles me acenavam suas páginas e diziam: não se preocupe, você vai ficar bem. Nós estaremos com você e a faremos se sentir em casa assim que nos acomodarmos. E eles estavam tão confiantes, tão joviais, que , de repente, meu carro foi ficando para trás, preso no trânsito, enquanto eles se iam , aventureiros, na frente. Chegaram antes de mim no novo apartamento, mas não subiram logo. Ficaram lá embaixo, curtindo o jardim do edifício, escutando o barulho do trânsito, crianças alvoroçadas num passeio de colégio. Depois, serenamente, adormeceram em suas caixas, já dentro da nova biblioteca, aguardando que eu, amorosamente, os venha acomodar. Pensei em contratar alguém para organizá-los para mim, mas agora, ao escrever, percebo que devo isto a eles: Eu mesma abrirei as caixas e os colocarei em seus lugares. Eu é quem vou acomodá-los e tratá-los com o carinho que eles merecem. São mais que livros: são a vida que me restou.

Tuesday, September 04, 2007

Mia, mais que querido.

Postei a declaração de amor de meu mano Dré e depois fui dar uma espiada nos comentários de posts anteriores. Daí que vi o comentário do Marcelo (é você, meu amigo M.M.?) e tive que voltar ao tópico do Mia Couto. Poucas vezes em minha vida me impressionei tanto com uma pessoa em tão pouco tempo. E não é porque ele é bonito (e ele é mais que bonito), nem porque ele é elegante (e ele é mais que elegante). Tem a ver com o olhar que ele nos dirige. Quando o Mia nos olha, vem como que uma onda de luz azul que nos transfigura. Todos que conversam com o Mia mudam de atitude: a gente se coloca mais esticado, corrige a postura, procura palavras, sorri mais. Eu tive a oportunidade de ver isso acontecendo com todo o mundo que se acercava dele. As inúmeras fãs, de rostinhos deslumbrados e brilhantes de emoção, os velhos senhores intelectuais, os jornalistas ávidos, as professoras seguras de si e os intelectuais da moda, ao chegarem perto de sua doçura, resplandeciam com a luz que emanava dele, astro solar, mas humilde, delicado, de uma gentileza de ave. E, quando a gente julgava que o tinha apanhado, já ele voava, muito alto, embevecendo-nos com o desenho perfeito de seu vôo. Ele ia embora, mas seu interlocutor mantinha o sorriso, extasiado, enquanto pouco a pouco ia perdendo o explendor. Mas a gente guarda uma lembrança alada, esvoejando em nossos devaneios: são os sonhos que ele nos deixa de presente.

Melhor que Prozac

André de Leones colocou esta carta, ou crônica ou louvação, no blog dele. Pedi-lhe licença para copiá-la no meu e vocês, ao lerem, vão ver por quê. Há muito tempo que não recebo tantos elogios, e tão bem escritos. E assim, por puro narcisismo, coloco aqui, e a ela recorrerei sempr que a auto-estima baixar.
Obrigada, Dré. Não mereço, mas gosto de ler assim mesmo.

LÚCIA B.

A primeira vez em que eu ouvi falar de Lúcia Bettencourt foi em um dos dias mais felizes da minha vida: o dia em que o Henrique me ligou dizendo que eu era o ganhador do Prêmio Sesc de Literatura. Eu era o romancista da hora, e Lúcia, a contista. Siameses.

A gente começou a se falar por e-mail e, então, em um dia particularmente delicioso, ela me ligou. A voz dela. A voz da Lúcia era uma voz delicada, pequena, e eu me surpreendi ao encontrá-la pessoalmente meses depois, na ABL, pro lançamento dos nossos livros: Lúcia Bettencourt era, e é, um mulherão.

Viajar com esse mulherão pelo Brasil, promovendo nossos livros e o Prêmio Sesc, valeu por duas ou três faculdades, como se diz por aí. Essa mulher, a quem eu, orgulhosamente, chamo de "mana", me ensinou mais do que eu mereceria saber. Claro que, em Passo Fundo, onde estivemos juntos para a Jornada Nacional de Literatura, a coisa não poderia ser diferente.

Ainda em Porto Alegre, ao chegar ao hotel, vê-la caminhando na minha direção, dizendo o meu nome, foi o tipo de coisa que me deu toda a segurança do mundo pra Jornada que se iniciava, algo como a certeza de não estar sozinho. De fato, após sei lá quantas viagens juntos, acho que ia ser muito difícil encarar a estrada sozinho, sem a conversa, o ótimo humor, os livros e as guloseimas de Lúcia. Siameses.

A emoção maior, contudo, ainda estava por vir. Foi em Passo Fundo, no Circo da Cultura, onde assistíamos à cerimônia de abertura da Jornada. Havia uma senhora simpática sentada à minha direita (Lúcia estava à esquerda), com alguns papéis no colo. Nesses papéis, meio que sem querer, eu li o título "A Mãe de Proust" e o nome da Lúcia juntinho do número "1″. Foi quando eu saquei: aquele era o resultado do Concurso de Contos Josué Guimarães.

Minha primeira grandimensa emoção em Passo Fundo foi ver a Lúcia subindo aqueles degraus pra receber o prêmio (cinco mil reais, troféu e viagem pra Santiago de Compostela). O que vinha à minha cabeça era uma coisa só: ELA MERECE. E merece mesmo. Merece isso e muito mais.

Na quarta-feira, quando, à noite, Lúcia participou do debate sobre "arte e transcendência", sua exuberância verbal mais uma vez ganhou a platéia. Claro que o strip à Gilda angariou, de cara, a simpatia das milhares de pessoas presentes (Lúcia tirou apenas as luvas, como Rita Rayworth, e não precisaria tirar mais nada - como Rita Rayworth, aliás, não precisou), mas suas colocações, claras e pontuais, colocaram no saco o academicismo caduco e/ou displicente de alguns dos debatedores. Lúcia emprestou carnalidade à transcendência, e o debate ganhou peso de verdade. Aqueles aplausos, ao final, tenho certeza, foram quase todos pra ela. Os meus, pelo menos, foram todos pra ela. Como poderiam não ser?

Eu não vou ficar aqui dando uma de biógrafo e contando coisas e loisas da vida da Lúcia, até porque eu não tenho esse direito. Mas posso dizer que ela passou por poucas e boas, e que o Prêmio Sesc foi encontrá-la, há mais de um ano, meio que aos cacos. Gosto de pensar que ela vem se recolocando de pé, e percebê-la fazendo isso é algo dolorosamente lindo e incrivelmente inspirador. Sabe aquilo de andar por aí com ela valer por duas ou três faculdades? Pois é, tem a ver com isso.

Não me faltam motivos pra essa rasgação de seda explícita, mas nunca gratuita. Eu me lembro de quando, por exemplo, contei à Lúcia que tinha conhecido uma mulher em Paranaguá e que, por causa dela, estava deixando tudo em Goiás para me mudar pro Sul e me casar. Acho que ela foi uma das poucas pessoas que não me censuraram, não me sacanearam, nem nada parecido. E isso foi importantíssimo, porque eu estava jogando tudo pro alto e, porra, estava morrendo de medo de quebrar a cara, claro. Lúcia me deu a maior força. E me deu um dos melhores conselhos que eu já recebi em toda a minha vida: "Torne tudo motivo de festa. Mesmo coisas simples, como arrumar a cama de manhã cedo." Tenho seguido esse conselho à risca, e, caramba, estamos todos muito bem.

Este texto há muito deixou de ser (nunca foi) uma crônica ou croniqueta diretamente relacionada com a minha participação na Jornada de Passo Fundo (prometo compensar nos textos seguintes) para virar uma desavergonhada declaração de amor por essa mulher extraordinária. Daí que peço desculpas pelo derramamento talvez excessivo, ao mesmo tempo em que digo: dane-se.

Quem conhece bem a Lúcia, sabe que ela merece. Merece isso e muito mais. Love, sister. Siameses.

Sunday, September 02, 2007

Acabou-se o que era doce

Reli os últimos posts sobre a Jornada, e sorrio, pensando que aqui guardei detalhes insignificantes que, no entanto, me fazem reviver os instantes de maior emoção. Falo dos quindins, de que já me esquecera, pois só me lembro da doçura do escritor moçambicano, com suas histórias e sua caixinha de sonho. Falo dos rótulos de vinho, mas o que ficará para sempre é a beleza da fusão de palavras em imagens. Se falei da lua, foi na tentativa de recuperar algo que me acometeu, no instante que a vi, uma volta ao passado, uma lembrança doce. Outras coisas aconteceram na jornada, e muito mais importantes. Tantas palavras foram ditas, ou caladas. Tantas promessas foram feitas, tantos sonhos foram sonhados, mas essas coisas importantes serão anotadas, tratadas por mim ou por outros. Os pensamentos, as reflexões permanecerão. O troquinho miúdo de solidariedade de emprestar um casaco a quem tinha frio, de receber um olhar cúmplice no meio de uma platéia de estranhos, de ganhar um presente que nem merecia... Isso são detalhes que correm o risco de desaparecer, levados na enxurrada da vida. Mas não vou deixar que essas pequenas emoções se esvaiam. Isso foi o que fez das Jornadas dias tão intensos e especiais.