Thursday, November 22, 2007

Thanks Giving.

Uma coisa que me ficou dos tempos em que morei nos EUA foi essa espécie de tristeza que me atacava no feriado de Ação de Graças. Como não é nosso hábito comemorar essa data, eu me sentia mal-agradecida, envergonhada com tantos agradecimentos deles e nenhum nosso. Às vezes ficava cismando se não seria por isso que o país deles tinha virado potência e o nosso se arrastava, com ares terceiro mundistas. Afinal, temos tanto para agradecer! Olho pela janela e vejo as Cagarras, que se colocaram ali entre os prédios só para me ver escrevendo. Elas são minhas sentinelas. Vejo o caminho de árvores que vai de minha porta até o mar, escuto o canto das cigarras, ao longe, lá nos Dois Irmãos. Lembro da música do Chico (aprendi a respeitar tua prumada e a desconfiar dos teus silêncios...), tão linda. A brisa do mar agita as folhas de papel sobre minha escrivaninha, meus livros me rodeiam sorrindo suas capas coloridas, me convidando para lê-los. Temos muito para agradecer, mesmo quando esse muito não nos pertence, como o sol, como o mar e a cor azul. Precisamos parar para dizer obrigado, contar nossas bênçãos, como dizem os de lá. Se bem que os daqui, pescadores escolados, nos avisariam: não conte seus peixes pois eles param de vir... Bem, minha zanga com Deus me faz ficar teimosamente muda, de cabeça baixa, amuada. Mas, em algum cantinho de mim, uma vozinha insiste em repetir: mal-agradecida. E eu tenho que concordar, e peço desculpas pela minha impolidez.

1 comment:

Anonymous said...

Lucia, como de hábito, texto cheio de emoção e de brilho. Parabéns.
Beijos e... quero mais, quero mais, quero mais.