Friday, November 16, 2007

Quase uma fotonovela...


Mais um capítulo, desta vez com foto, se os deuses da internet permitirem. Antes do texto, um obrigada carinhoso para o Luciano. Estou com saudades, viu? Foram ótimos os nossos "dezesseis" jantares no Dezasseis. E, para a Eugênia, uma palavrinha só: Ma-ra-vi-lho-sa! Você tem razão, minha amiga, a realidade bate de longe a ficção! Que show! Quero fotos, quero mais detalhes. Não deixem de ler os comentários de Eugênia, que fazem minha história ficar totalmente sem graça...
Então, vamos ver se consigo colocar a foto, e depois mais um capítulo:

Capítulo V.

Que é que você achou desse início?

Quer minha opinião sincera?

Lógico!

Gostei. Gostei muito mesmo. Tem esse lance do desencontro, o leitor já fica torcendo para que eles se descubram, logo.

Não acho que eles vão se encontrar...

Em algum momento eles têm que se encontrar. É uma história de amor.

Mas é uma história de amor moderna. Não tem que “acabar bem”. Na verdade, talvez nem comece. O mundo de hoje é um mundo de desencontros e perdas. Tudo conspira contra os amantes: a velocidade, as inúmeras variáveis da vida. A gente tem muitas solicitações, muitas alternativas. É muito difícil fazer os personagens se encontrarem.

Difícil, mas não impossível. Afinal, as pessoas vivem se esbarrando por aí.

Não adianta esbarrar. Por exemplo, fui a um concerto no La Fenice...

E como está o teatro? A reforma ficou boa?

Ficou ótima, igualzinho ao que era antes, um primor. Acho que o nome do teatro é profético: uma fênix renascendo das próprias cinzas.

E mais de uma vez.

Você quer me ouvir, ou quer ficar falando de incêndios?

Desculpe. Fala aí, vai.

Fui ao tal concerto...

Qual era o programa?

Vivaldi, As quatro estações. Era um concerto para turista: Il prete rosso e sua maior composição.

Coitado do Vivaldi. Se ele estivesse aqui na época da repressão ia ser preso como subversivo – o padre vermelho, desencaminhando órfãs...

Desisto!

Não, desculpe. Fala.

Você não está nem um pouco interessado...

Estou.

Mas eu já esqueci o que ia falar.

Você ia falar de alguma coisa que aconteceu no concerto.

Pois é. Fui para lá, pensando que talvez pudesse encontrar alguém interessante, alguém que me despertasse interesse, igualzinha a minha personagem, entende?

Hum-hum.

Mas não encontrei ninguém. Centenas de pessoas, e eu não “esbarrei” em ninguém! Na verdade, até esbarrei. Do meu lado estava sentado um japonês que puxou conversa comigo.

Ele te disse que era japonês?

Não. Mas tinha cara de japonês.

Como é que você sabe? Podia ser norte-coreano...

Norte-coreano não viaja.

Filipino...

Chinês, tailandês, o que é que importa?

Viu? Você cortou o barato do cara. Não fez as perguntas-chaves. Você olhou e só viu o que queria ver: um estereótipo que você já trazia dentro de si mesma.

Acho que você tem razão.

Claro que tenho razão! E o resto?

Que resto?

Do texto. Vai me dizer que você passou três dias e só escreveu isso?

Andei ocupada.

Sua ocupação não era escrever o romance?

Estou em...pesquisa de campo...

Ei! Essa me pegou de surpresa. O que é que você está querendo dizer?

Não estou querendo dizer nada.

Mas eu estou querendo saber. Quando é que essa mudança ocorreu? Bem que eu notei que sua voz estava diferente, hoje.

Diferente, é? Como assim, diferente?

Bem, prá começar, sem esse tom chorão que você sempre tem.

Jura que eu tenho um tom chorão? Eu nunca notei. E você nunca comentou isso antes.

Você está sempre falando assim, como criança manhosa, um tom trêmulo na voz. E ninguém pode te contrariar que você explode. Fica agressiva, grosseira!

Estamos falando de mim, ou de você?

Eu sou um santo. Amigo exemplar. Ouvidos abertos como o ralo da pia, para você despejar toda sua sujeira, toda e qualquer merda que você pensa! Já reparou que você não tem censura comigo? Fala tudo o que te vem à cabeça, e eu tenho que ficar aqui escutando...

Tem não. Você escuta porque quer.

Escuto porque você me chantageia, se faz de frágil, chora.

Fábio...

Tá vendo? Já está chorando! Eu nunca posso dizer nada que você abre o berreiro.

Não estou berrando. Estou chorando silenciosamente, com classe. E contra a vontade! Você pensa que eu queria estar chorando? Mas você me magoa, cara. Você ataca na jugular! Eu sempre confiei em você, me mostrei assim por inteira, nunca suspeitei essa tua crítica. Ai, estou me sentindo péssima!

Desculpe. Desculpa aí, vai!

Como é que eu posso te desculpar? Você pensa que é assim? Diz o que quer e sai na maior, bastando dizer: “desculpa, vai.”... Você destruiu o clima de confiança...

Pára com isso, porra! Você me pegou num mau dia. Você acha que só você tem problemas? Acha que minha vida é só escutar você? Que eu não posso ter sentimentos próprios? Quando você está contente, tenho que me alegrar com você, quando você está na fossa, tenho que simpatizar, te animar. E eu? Não tenho vez?

Porque você não falou logo? O que é que aconteceu?

Não aconteceu nada. Já passou.

As coisas na escola andam bem?

Sempre na mesma.

Bateu com o carro?

Não. Nem bateram em mim.

Ah, é. Esqueci que você nunca bate. Os outros é que batem em você. Está doente?

Não, já te disse, não é nada. Acordei de mau humor, é tudo.

Então desconta em mim, vai! O que é mais que te incomoda em mim?

Sua incapacidade de terminar uma conversa! Sabe quanto você deve estar pagando por essa ligação?

Estou pagando com o meu dinheiro!

Que, por acaso, eu te ajudei a descolar...

Tudo bem, você indicou meu nome para o projeto, mas sou eu que estou ralando aqui, sozinha. Pensa que é fácil, largar tudo e passar um mês numa cidade desconhecida?

De férias e reclamando!

Férias?

Fazendo pesquisa de campo...

Isso te incomoda? Você nem sabe a que estou me referindo.

Não sei e não estou interessado. Na verdade, nada me interessa em você. Prá ser sincero, quando indiquei teu nome foi para me dar umas férias.

Cara! Você está insuportável! O que foi que aconteceu?

Nada, já disse.

Então é melhor eu desligar.

Também acho.

Mas não queria desligar assim, nesse clima.

Você está perdendo um tempo precioso. E sua pesquisa de campo?

O que é que tem? Isso está te incomodando?

Não.

Mas parece.

Assim não dá. Chega!

1 comment:

Anonymous said...

Lucia, estou adorando, quero mais, quero mais, quero mais....
Beijo, Eugenia.