Wednesday, November 21, 2007

Dia de prova


Hoje vou fazer uma prova, e não tenho tempo para bate-papo.
Por isso vou direto ao capítulo. Aviso que a novela está na sua metade. Ela já está escrita há algum tempo e estou apenas publicando um capítulo por dia. Fico feliz que estejam gostando.

Capítulo X

Paula estava toda trêmula. O primeiro beijo ia finalmente acontecer, ali, naquela gôndola que se embalava docemente sobre as águas tumultuadas do grande canal. A lua prateava a água, o cantor se esforçava cantando as conhecidas áreas românticas para deixar o clima propício para o amor dos diversos casais nas diferentes gôndolas.

A austeridade das embarcações, no entanto, a amedrontava. Os barcos negros, com enfeites dourados, lembravam-lhe ataúdes. O rosto do gondoleiro, sério e suado, parecia a máscara de Caronte, que remava por remar, indiferente a seus passageiros. Paula, porém, estava decidida a se sentir feliz. Desviando o olhar do barqueiro ela examinou o rosto de Francesco, um pouco mais pálido devido à luz esbranquiçada da lua.

A brisa marinha esfriava e ela sentiu um calafrio percorrendo sua pele. Francesco notou seu estremecimento, e passou o braço por cima de seus ombros, aconchegando-a. O corpo dele era quente, e exalava um perfume seco, de madeira. Ela pensou nas estantes de sua casa, no seu cantinho predileto de leitura, e se abandonou contra o corpo dele, sentindo-se abrigada. Com a cabeça levemente inclinada para trás, ela olhava o perfil sério que se destacava contra a claridade das águas lunares. O barqueiro cantava coisas como “mar prateado” e “ondas plácidas”. O grupo de gôndolas seguiu por entre águas mais escuras, entrando pelos pequenos canais, onde a luz da lua não conseguia penetrar, passando sob pontes minúsculas. A pequena lanterna que cada gôndola carregava transformava o grupo numa constelação misteriosa, que deslizava por águas cada vez mais silenciosas e escuras. Quando o cantor encerrou sua serenata, Francesco finalmente voltou o rosto para o dela. Os olhos dele brilhavam na escuridão, de tal forma que ela se viu compelida a fechar os seus, ofuscada. E foi então que ele a beijou. Os lábios quentes e secos pousaram suavemente sobre os lábios dela, entreabertos. Ela sentiu o hálito dele, sentiu o sabor de seus lábios finos, de pele muito suave. Sentiu a língua que se insinuava e sugou-a, ávida. Suas bocas se misturaram, em diversas combinações. Eles se beijavam com ternura, com fome, com desespero, com respeito. Ela sentiu uma lágrima escapar-se de seus olhos. Ele percebeu sua emoção e murmurou, dentro de sua boca, “carina”. Paula soube que as carícias não terminariam ali. E foi com urgência que o abraçou, e que escondeu o rosto esfogueado na curva de seu pescoço.

5 comments:

Vera Helena said...

Lúcia, que delícia poder acompanhar seu romance, capítulo por capítulo! Algo nele me remete ao Se um viajante em uma noite de inverno. Viagem minha talvez... Ah, meu lado narcísico adorou o nome escolhido para a ex de Fábio.

Grande abraço,

Aguardo os próximos capítulos

Anonymous said...

Carissima, boa sorte. Iluminada pelo Espírito Santo.
Eu acho que ele é de papel. Tem cheiro de madeira (olha as estantes), corresponde a tudo o que ela tem na cabeça, sei não, esse é meu palpite.
Beijos e obrigada por ter postado o novo capítulo antes de ir para a prova; se não eu morria de ansiedade. Beijo da Eugenia.

Anonymous said...

By the way, qual o livro que eles estavam lendo (os personagens?). Para o Carnaval de 1993 eu levei para reler no avião Morte em Veneza; Byron, Beppo, uma história veneziana para ler um pouquinho aqui outro acolá
"Na Itália de outrora não havia
Festa de Carnaval mais animada
Com mais alegre dança e cantoria
Mais mimo, mais mistério e mascarada
E tanta coisa mais que não seria
possível vir aqui enumerada,
Que a de Veneza, em seus dias de glória,
Que é o tempo em que transcorre a nossa história".

Anonymous said...

Lucia B minha amiga, é uma delícia ler todos os dias estes capítulos, muito me faz lembrar de peripécias vividas naquelas bandas, estou numa ansiedade só, porem já estou pensando como sobreviver sem eles por uma semana que vou ficar fora e provavelmente sem acesso ao blog?

Anonymous said...

Lucia B minha amiga, é uma delícia ler todos os dias estes capítulos, muito me faz lembrar de peripécias vividas naquelas bandas, estou numa ansiedade só, porem já estou pensando como sobreviver sem eles por uma semana que vou ficar fora e provavelmente sem acesso ao blog?bjs