Friday, January 09, 2009

Começar o ano

Parece que meu ano demora a começar... Com a viagem, fiquei meio desorientada e volto para um verão já em andamento, com amigos programados, outros viajando, outros simplesmente mudados. Levo susto ao tentar organizar os e-mails e a vida. Quem é esse que se anuncia de partida, tão diferente do amigo que deixei ao sair daqui? E aquela, brigando por uma causa, apaixonadamente furiosa, ameaçando e vituperando? Onde foi minha amiga viajante, a quem contava encontrar quando chegasse?
Desfaço malas e planos... Vejo, nas malas, o quanto mudei:-- para mim só comprei óculos de leitura, e livros. Nada das novidades que me encantavam, das maquiagens que me seduziam com suas paletas de cores, de roupas e bijoux. Livros, e óculos, para alguém cujas fantasias já não são mais tão fáceis, e cujos olhos já não são mais tão eficientes. Imagino se na próxima estarei trazendo aparelhos de surdez e produtos para os dentes, ou bengalas... Bem, espero não demorar tanto assim. Mas, no momento, estou sofrendo de um enjoo de viagem. Penso em nunca mais sair de casa. Nem mesmo para ir até a esquina! Só que, quando olho para fora, vejo o mar azul me chamando, sedutor. Quem sabe quanto tempo ficarei com essa resolução drástica...E, sem nem mesmo me aperceber, vejo que a agenda vai começando a ostentar compromissos. Domingo, segunda, quarta... Um pássaro chega voando aqui em minha janela, com uma saudação apressada. Outro chega logo em seguida, e eles partem, num voo tão simples e fácil que parece arte, e não vida. Porque a vida é complicada, é trabalhosa, e ininterrupta. Me pergunto como resolver as coisas que se problematizam sem necessidade, os prazos que nos são impostos sem que o desejemos, me vejo no meio de um vórtice. Para onde me leva esse ano que começa assim abrupto? Um solavanco, um empurrão, e eu fujo. Quero abrir as páginas de meus livros, me deixar ficar no mundo encantado para onde o tapete mágico das lentes artificiais ainda consegue me levar...
Ah, quanto a pedidos de fotos, sinto desapontar a todos. Não levei máquina para a viagem. Estou numa nova fase, egoísta: quero as vistas só para mim, para minhas lembranças. Na verdade, essa tal de máquina digital, que me inunda com fotos desnecessárias e redundantes, tem me deixado um pouco cansada. Não levei. Mas pousei dócil para quem desejou me fotografar, e foram poucos os que o quiseram. E eu sorri, como me pediram. Disse o que me pediram para dizer, me coloquei nas posições indicadas... Se receber alguma dessas fotos, publico, obediente. Enquanto isso, acreditem no que digo, que é muito mais do que o que posso revelar com uma lente digital... Lá vou eu aos livros...

1 comment:

Guido Cavalcante said...

Como é interessante a vida humana. Pois lendo o seu post luminoso e cheio de exspectativas, sou tomado por uma necessidade de comparar suas palavras com as desse outro personagem que, como você, me é físicamente desconhecido. Porém isso não me impede de extender o coração além dessa pequena janela onde escrevo. Trata-se, o outro, de um professor de inglês do departamento de humanidades, da Universidade de Gaza. Ele mantém um blog onde conta o não contado, o cotidiano de uma família ao lado dos canhões e das bombas de fósforo, com muito medo e... bem, não encontrei nada sobre esperança. Queria poder apertá-lo num abraço, como a você, na sua volta. Feliz ano novo, Lúcia :-)
O endereço do professor de inglês pra colar no seu browser é:
http://gaza08.blogspot.com/