Sunday, January 11, 2009

Decrepitude

Fui ver um filme, nessa tarde gostosa de domingo, depois de pegar uma praia (sem livros!) Haviam me dito que Juventude era ótimo e eu, como sempre fui fã das peças do Domingos de Oliveira, deixei de lado O menino do pijama listrado e embarquei nesse outro filme, mas um pouco receosa. Bastou olhar à minha volta na platéia: eu era decididamente a mais jovem. Muito mais jovem que todas as outras mulheres que ali estavam. Pensei que isso se devesse à sessão, ainda cedo que era, mas, mal o filme se iniciou que percebi que as pessoas que estavam ali queriam era se contemplar envelhecendo... É uma meditação muito interessante, tentar dignificar esse descompasso entre o corpo e a libido. Um corpo que vai se limitando, se anquilosando, adquirindo marcas e cheiros, e uma libido que, num cérebro que se mantém vivo e ativo, também se mantém viva, pulsante. A única coisa que me incomodou foi a dicção, as palavras emitidas com dificuldades variadas, num filme onde o mais importante são exatamente as palavras. Mas houve momentos de pura beleza, como a cena do Paulo José, vestido de cardeal, de costas, braços abertos, imponente. E as comoventes declarações de amor ao teatro, à vida, ao próprio amor. Por que renunciar ao amor? Como amar sem sexo? O amor salva? O amor destrói? O amor acaba? E a juventude, aprecia o amor?
Já não tenho mais meu parceiro amoroso, e muitas vezes me pergunto se é justa essa separação. Num momento, o personagem do Domingos de Oliveira conta de sua separação da mulher de sua vida, Pinky, e revela que, no rompimento, confessa a ela que não sabe se vai continuar vivendo, ao que ela lhe responde para não se preocupar pois, se ele morresse, ela também morreria. Sempre achei que eu morreria também, e não me conformo de estar entre os vivos. Mas "viva" mesmo eu não sei se estou. Sei que meu organismo funciona, mas não me reconheço mais como uma pessoa inteira. Sinto-me cindida, dividida: uma metade de mim, morta e inerte, contempla essa que se mexe, que ingere, que vai à praia, que escreve, que sorri, que se deixa fotografar e sabe que está vendo uma impostora. Mas chega de confissões desnecessárias. Para quê? Para quem? Vivo. Respiro. Bebo água. Transpiro. Leio. Escrevo. Mas não sou. Fui.

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