Essa não é do corpo, nem do cotidiano. É cibernética e está me deixando louca. Há muito tempo atrás, quando voltei dos EUA trazendo comigo um computador McIntosh repleto de escritos e arquivos importantes, o pobre coitado teve um "choque cultural" e não se adaptou ao Brasil. Ficou mudo por um bom tempo até que eu conseguisse arranjar alguém que consertasse Apple, que aqui no Brasil era coisa rara. Depois de algumas semanas encontrei uma oficina no Centro e para lá foi meu computador,com síndrome do encarceramento... Quando voltou, ele falava outra língua: todos os meus arquivos, que os técnicos deram como recuperados, estavam escritos em sinais matemáticos. Infelizmente, na época, eu não tinha um filho adolescente, que me ensinasse tratar disso. Agora, há pouco tempo atrás, precisei de uns arquivos que estavam num back-up. Como sou muito desligada, fiz os back-ups, mas não identifiquei, com precisão, o nome dos arquivos nos CD`s, daí que precisei ficar horas olhando um por um e, como sempre,no último ou no penúltimo é que encontrei o que procurava -- Não que eu não tivesse posto algum tipo de identificação, mas, na época, achei que seria muito interessante classificá-los por data: Arquivos de fevereiro a março de 2003, por exemplo. Se eu não lembro o que comi ontem, como vou lembrar o que escrevi entre fevereiro e março de 2003? Bem, não era isso o que estava tratando, falava das vantagens de ter um filho adolescente. Pois abri as pastinhas e meus arquivos estavam todos em sinais incompreensíveis, quadradinhos, tracinhos, cifrões... Passei a tarde desesperada, procurando em papéis velhos para ver se tinha alguma versão escrita da pasta que precisava. Achei alguns textos incompletos, outros repetidos, e quando meu filho chegou me encontrou irritada, cheia de alergia, na frente do computador, tentando transcrever tudo aquilo, achou que eu estava doida. Depois do diálogo de praxe, com o objetivo de demonstrar bem como as mães são seres irracionais e suas ações fruto da sua total incapacidade, ele finalmente me sorriu e, sem nem precisar sentar na frente da tela, inseriu o CD, olhou para o arquivo em questão e com um único comando transformou o incompreensível em texto outra vez. Depois de algumas súplicas ele me ensinou o que fazer, mas eu já esqueci. Acho que era mandar "save as text", uma coisa banal. Sei que era save as, mas não sei qual o formato, vou ter que perguntar de novo. Bem, agora o caso é mais grave, ou ele já está mais velho e perdendo sua capacidade cibernética: ele tentou e não conseguiu resolver o problema. Mas também desconfio. Já há alguns meses ele vem me buzinando, dizendo que eu preciso de uma "máquina" nova, que meu computador já está ultrapassado... Ah, céus! Odeio trocar minhas coisinhas tão amadas por coisas novas e desconhecidas. Quero meu carrinho de dez anos, meu computador de oito, gosto que as coisas envelheçam comigo, que só eu ainda lembre o que dizia aquele botão que, de tão premido, se apagou...Gosto do jeito que a poltrona se adaptou ao meu corpo, do controle remoto que finalmente aprendi a usar, do DVD que não congela quando quero assistir um filme novo. Outro dia saí no carro do meu filho (é, o carro também está pifado) e fiquei louca, sem conseguir desligar o rádio, nem trocar de estação. Depois de algum tempo, encontrei o botão que comandava o som, e, vitoriosa, diminui todo o volume. Não consegui desligar o rádio, mas também não fui obrigada a escutar a música que não queria....
Bem, por isso peço perdão se não estou sendo capaz de responder aos amigos, nem de atender aos pedidos. Quem tiver urgência de falar comigo, ligue para mim, sim? E não se admirem se eu ligar para vocês, como aconteceu com a Maria Helena: sou louca, mas dentro de um limite razoável, expliquei. Quando não dá para escrever, eu falo, sim senhora!
Bom domingo, que os ventos sejam portadores de boas coisas, para todos nós.
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