Tuesday, January 27, 2009

Apocalipse

Fui ao teatro, assistir à peça do Domingos de Oliveira, na Laura Alvim. Não vou fazer "entrevista", outra vez, pois todos já estamos convencidos de minha chatice -- só respondo com reticências! No entanto, sei que, dessa vez, não seria esse o caso. Fui ao teatro e adorei tudo -- desde o clima de teatro de verdade, um clima de festa, de expectativa, de alegria até a platéia, onde se destacava, como uma jóia, o Paulo José.
Pois é, ele estava lá, com um ar frágil, mas com a mesma intensidade no olhar, e com um prazer que ele demonstrava nas menores atitudes: sentado na ponta da cadeira, olhos fixos no palco, respondendo às perguntas atiradas à platéia pelos atores, batendo palmas, sorrindo.
Acho que o teatro é um meio mais generoso que o filme. Os olhares de cumplicidade que trocamos com os atores -- que provavelmente nem estão nos vendo, mas que parecem olhar só para nós, no meio de tanta gente -- nos fazem ter a impressão de que a peça depende de nossa resposta. E, na verdade, depende. É como uma aula, que depende sempre dos alunos. Um caminho de mão dupla, uma parceria no agora.
Fico imaginando os teatros de antigamente -- todo aquele povo, a cidade inteira, a bem dizer, e as atenções dispersas, como num jogo. Seria assim? Ou o caráter sagrado que o teatro tinha levaria as pessoas a se comportarem com mais cerimônia que a indisciplinada platéia elizabetana?
Nossos modelos de hoje em dia vêm do século XIX, muito mais comportado e rígido que o passado. Um povo controlado, aplaudindo nas horas certas, vaiando, também, mas só quando combinava vaiar, por causa de alguma coisa fora do próprio teatro.... Mas, uma coisa que já notei que se passa nos teatros de hoje é a confusão de teatro com comédia. Podemos estar assistindo um drama dos mais tristes e cabeludos que, invariavelmente, escutaremos alguém rir. E não é de nervoso: é de incompreensão, mesmo. O dito que deveria provocar um pequeno alívio, um sorriso irônico, assim, meio de lado, provoca é a gargalhada daqueles que querem provar que não perdem nada, que sabem escutar e que estão ali para se divertir... Mas o apocalise do Domingos era mesmo uma comédia, e queria nos fazer rir, um riso inteligente, filho daquele de Gil Vicente que dizia "ridendo castigat mores". Rimos com ele, com seus personagens, rimos dos exageros, mas, ao invés de nos afastarmos do que se passa no palco, percebemos como tudo aquilo nos diz respeito. E, felizes, saímos com nossa crença na Vida, renovada.

1 comment:

Ana Cristina Melo said...

Em virtude do pouco tempo e da opção de priorizar a saída com as crianças, acabo vendo os filmes "apenas" adultos quando saem em DVD.

Mas muitas vezes têm filmes de censura livre que agradam em muito a toda família.

Assisti três filmes nas últimas semanas que ousei recomendar em meu blog. Fica a dica para vocês:
- Se eu fosse você 2
- Bolt, o supercão
- Um faz de conta que acontece