Em Connecticut, à beira do Long Island Sound, num frio de rachar lábios e dedos, lá vou eu, acompanhando meus amigos, numa caçada às conchas.Estou na casa de uma sereia, fascinada pelo mar, com conchas, vidros e marinhas por toda a parte. Assim se tem a ilusão de que estamos um pouquinho mais quentes, um pouquinho mais tropicais. Mas, na verdade, calor aqui só o humano. Passamos ontem o dia colocando os assuntos em dia, e a maior parte de nossos assuntos são os livros que lemos. Trocamos informações e entusiasmos, depois fomos jantar em um restaurante japonês numa mesa de Habashi. Por incrível que pareça, nunca tinha feito isso na vida: assistir a performance do chef samurai, com suas facas e garfos ameaçadores, quebrando ovos e depositando as cascas no oco do chapéu, atirando pedaços de comida em nossas bocas, nos fazendo rir com suas brincadeiras, ou assustando-nos com seus flamejantes espetáculos. E, o mais importante, nos deliciando com a comida muito gostosa. Hoje foi mais um dia de conversa, fruit-kebobs preparados com carinho para o café da manhã, mais livros, em conversa e em compras: livros para todos! Uma alegria!
Tinha começado a escrever um post sobre a jogatina em Las Vegas, mas acho muito melhor ficar aqui nesta conversa tranquila, e sair para apreciar o por-do-sol, esplendido, com todos os tons de vermelho, e pinceladas escuras atravessando o céu, enorme, sempre tão amplo, os famosos "Spacious skies" da canção America, the beautiful. Realmente, este nosso novo mundo é muito lindo, e variado. Lembro agora do passeio ao Grand Canyon, com paisagens de tirar o fôlego. As rochas desenhadas e pintadas de cores vivas, formando verdadeiras esculturas naturais -- aqui uma águia no vôo (que agora é sem acento, meu Deus!). Ali uma tartaruga, logo abaixo uma cabeça de leão da montanha, mais atrás um perfil de índio... Bosques de Joshua's trees, deserto de Mojave, tudo isso me maravilhou no caminho até o canyon que, enorme, me fez ficar achando que o Rio Colorado parece um riachinho... Bem sei que não se trata disso, é tudo uma questão de proporção, mas a imagem visual que guardo do rio é a de uma estreita faixa serpenteando lá embaixo, de cor pardacenta, imóvel, sem nem ao menos reverberar o sol, que não chegava a alcançá-lo. Lá de cima, a gente fica olhando um horizonte longínquo, tão distante como os sonhos daqueles desbravadores que atravessaram montanhas geladas e desertos inclementes à procura de uma "terra prometida" que se revelou uma espécie de inferno agitado -- a Califórnia e seu ouro. Não termino sem antes falar da represa que criou o enorme lago Mead com as águas do Colorado. Diferentemente de Itaipu que se estende, esta se eleva entre as montanhas que formam um desfiladeiro estreito. E se enfeita com o capricho arquitetônico próprio dos anos 30, com detalhes de art-déco nas construções. Mas, o mais espetacular no momento é apreciar a construção da nova ponte, uma ponte suspensa, daquelas que, depois de prontas, parecem tão leves e delicadas, mas que no estágio de construção em que está revela todo o prodígio de força e o cálculo necessário para sua realização. É de ficar fazendo Uhhhs e Ohhhs, ponderando sobre cada centímetro já avançado... Depois conto mais coisas.
1 comment:
Perdoadíssima. Após o pequeno recesso de fim de ano, acordei com uma disposição péssima, mas seu texto me irradiou o dia.
Belo lugar e bela descrição, Lucia.
Beijos calorosos daqui para aquecer as imagens calorosas daí.
Post a Comment