Estou lendo o Stephen Greenblatt e de repente me vejo roída de inveja. Inveja? Que coisa feia, D. Lúcia, que sentimento horrível, a ser evitado! – dizem as vozes internalizadas de censura. Dou de ombros. Não estou nem aí. Esta inveja que me acomete é legítima, tem toda a razão de ser. Ela tomou conta de mim quando li o trecho que fala da conquista da Macedônia feita por Emílio (será esse mesmo o nome?) e do Rei Perseu (deste nome estou segura, é mitológico) um descendente de Felipe e de Alexandre. O autor diz que de acordo com a "cleptocracia"(termo que adorei) romana, o vencido Perseu foi mandado junto a fabulosos tesouros, num navio para Roma. Após o desfile, o butin iria para o SPQR – Senatus PopulusQue Romano – mas o general tinha reservado para si mesmo uma parte dos despojos: uma biblioteca! Foi aí que a inveja me atacou. Não do fato do Emílio ter ficado com a biblioteca, mas do prestígio que uma biblioteca tinha naqueles tempos romanos. Tá certo, eles ainda não tinham eletricidade, não conheciam a penicilina nem a anestesia, seus colchões não eram de molas, mas, apesar de tudo, os romanos sabiam valorizar uma biblioteca. Era chique ser dono de uma. E, por muitos anos, Roma foi expandindo suas fronteiras e seu amor aos livros, semeando bibliotecas públicas por onde se estendesse o poderio de seus exércitos. Augusto só ele, mantinha duas bibliotecas públicas, a Otaviana e a Palatina. Embora tivessem copiado a ideia dos gregos, eles a ampliaram, multiplicaram, e até bolaram cadeiras confortáveis e maneiras práticas de ler e enrolar os manuscritos.
Fico eu aqui com uma inveja boa, sonhando com uma cidade em que, quanto mais poderoso, mais o indivíduo se sentia compelido a ler, a estudar e a discutir o conhecimento. Retorna, Roma! Voltem, livros, a ser o objeto de cobiça, a razão do desejo!… E, já que estou nessa de pedir benesses ao universo e seus átomos, eles bem que podiam dar uma virada repentina e me transformar na Isis Valverde. Linda, simpática e, descubro eu, filósofa! Acho quem nem Epicuro sonhou com uma coisa dessas. E me despeço, invocando, sonene: Ó átomos! Virai-vos! Sacudi-vos! Ponde alguma azeitona em minha empada!…
Fico eu aqui com uma inveja boa, sonhando com uma cidade em que, quanto mais poderoso, mais o indivíduo se sentia compelido a ler, a estudar e a discutir o conhecimento. Retorna, Roma! Voltem, livros, a ser o objeto de cobiça, a razão do desejo!… E, já que estou nessa de pedir benesses ao universo e seus átomos, eles bem que podiam dar uma virada repentina e me transformar na Isis Valverde. Linda, simpática e, descubro eu, filósofa! Acho quem nem Epicuro sonhou com uma coisa dessas. E me despeço, invocando, sonene: Ó átomos! Virai-vos! Sacudi-vos! Ponde alguma azeitona em minha empada!…
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