Será que está havendo uma conspiração universal para impedir que eu pare de falar de poesia? Muito mau gosto do Universo, mas sou uma peixinha gulosa, mordo qualquer isca que me atirem…
A crônica do Veríssimo está primorosa, mas remete ao poema de Dylan Thomas, e também ao tema de meus pensamentos da noite passada: a morte. No entanto, antes de falar nisso, como fui assistir à palestra do Ubaldo na terça, mordi outra isca, a da digressão. Sendo assim, aproveito para me desviar do caminho e passar, antes de tudo, na casa de uma amiga gaúcha, na Gávea. Fomos almoçar por lá, comemorando seu aniversário. E, para combinar, falamos de Veríssimo, o pai deste que aí está, e de seus romances maravilhosos, de seus personagens encantadores. Confesso aqui que fui apaixonada por Rodrigo Cambará, não o capitão Rodrigo, mas o Rodrigo urbano e imperfeito. Mas isso foi há tanto tempo que já não sei bem porque eu preferia este ao heróico e pirotécnico capitão. Vou me conter e não embarcarei na palavra pirotécnico, que me levaria ao Zacarias e às leituras feitas na universidade. Continuo no Veríssimo, que li menina. Naqueles tempos a gente graduava de Monteiro Lobato e ia diretamente para Alencares, Machados, Veríssimos e o que mais houvesse na biblioteca dos nossos pais. Era essa a conversa do grupinho de convivas, sobre leituras juvenis. Fico tentando me lembrar das obras e autores que me chamaram mais a atenção. A cada hora lembro de um, esqueço outro. Sei que li muitos poemas, por causa de minha tia, que se dizia "declamadora". E ela me obrigava a decorar os poemas e a recitá-los no próximo domingo, mas nunca cheguei a alcançar a perfeição que ela almejava. Os poemas eram aquilo que os americanos chamam de "cute" e deveriam ser ditos – ou declamados – com trejeitos que hoje reconheço nas minhas idas a alguns eventos no NE, onde as pessoas ainda leem e recitam poemas. Essa nega Fulô, do Jorge de Lima, por exemplo, precisa ser interpretado com gestos amplos, paradas, suspiros e gemidos. Claro que minha timidez de filha única e de menina sem auto-estima me fazia mastigar as palavras, engolir frases e isso acarretava reprimendas e correções que contribuíam ainda mais para minha insegurança. Não foram poucos os poemas que terminei com lágrimas verdadeiras escorrendo pelo rosto. Resultado: nunca mais decorei um poema. Sou incapaz. Sei um ou outro verso: "Nunca conheci quem tivesse levado porrada", por exemplo. Por isso recorro ao copiar e colar, milagre que o São Google , por enquanto, ainda não se nega a fazer. Antes eu ia até os livros, copiava só os versos que me interessavam, preguiçosa. Agora posto aqui o poema todo do Dylan, Do not go gentle into that good night.
olhos e tentei dormir, ainda vestida.
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.
Não lembrei do Dylan Thomas, mas sobrevivi à loucura e à pequena amostra da morte oferecida pela falta de luz no meu prédio. De olhos fechados, como se o escuro fosse minha escolha, embarquei no barco ébrio de enredos possíveis, de narrativas passadas, e, quando vi, estava acordando hoje de manhã neste dia cinzento, e com um interlocutor, Veríssimo, que me emocionou. Também encontrei mensagens de amigos que leram meu lamento no Facebook e me consolaram. E agora tenho aula de piano, o que demonstra minhas acentuadas tendências sadomasoquistas… Mas um dia tocarei o Concerto de Tchailowsky sem muitos erros, e me sentirei realizada.
Apago o que acabo de escrever sobre epitáfios e quetais. Hoje é dia de festa. 19 de julho de 1970 - 19 de julho de 2012… Though lovers be lost love shall not. E eu saúdo o amor, não no pretérito, sempre presente. Plus, encore! À vida! Death shall have no dominion.
A crônica do Veríssimo está primorosa, mas remete ao poema de Dylan Thomas, e também ao tema de meus pensamentos da noite passada: a morte. No entanto, antes de falar nisso, como fui assistir à palestra do Ubaldo na terça, mordi outra isca, a da digressão. Sendo assim, aproveito para me desviar do caminho e passar, antes de tudo, na casa de uma amiga gaúcha, na Gávea. Fomos almoçar por lá, comemorando seu aniversário. E, para combinar, falamos de Veríssimo, o pai deste que aí está, e de seus romances maravilhosos, de seus personagens encantadores. Confesso aqui que fui apaixonada por Rodrigo Cambará, não o capitão Rodrigo, mas o Rodrigo urbano e imperfeito. Mas isso foi há tanto tempo que já não sei bem porque eu preferia este ao heróico e pirotécnico capitão. Vou me conter e não embarcarei na palavra pirotécnico, que me levaria ao Zacarias e às leituras feitas na universidade. Continuo no Veríssimo, que li menina. Naqueles tempos a gente graduava de Monteiro Lobato e ia diretamente para Alencares, Machados, Veríssimos e o que mais houvesse na biblioteca dos nossos pais. Era essa a conversa do grupinho de convivas, sobre leituras juvenis. Fico tentando me lembrar das obras e autores que me chamaram mais a atenção. A cada hora lembro de um, esqueço outro. Sei que li muitos poemas, por causa de minha tia, que se dizia "declamadora". E ela me obrigava a decorar os poemas e a recitá-los no próximo domingo, mas nunca cheguei a alcançar a perfeição que ela almejava. Os poemas eram aquilo que os americanos chamam de "cute" e deveriam ser ditos – ou declamados – com trejeitos que hoje reconheço nas minhas idas a alguns eventos no NE, onde as pessoas ainda leem e recitam poemas. Essa nega Fulô, do Jorge de Lima, por exemplo, precisa ser interpretado com gestos amplos, paradas, suspiros e gemidos. Claro que minha timidez de filha única e de menina sem auto-estima me fazia mastigar as palavras, engolir frases e isso acarretava reprimendas e correções que contribuíam ainda mais para minha insegurança. Não foram poucos os poemas que terminei com lágrimas verdadeiras escorrendo pelo rosto. Resultado: nunca mais decorei um poema. Sou incapaz. Sei um ou outro verso: "Nunca conheci quem tivesse levado porrada", por exemplo. Por isso recorro ao copiar e colar, milagre que o São Google , por enquanto, ainda não se nega a fazer. Antes eu ia até os livros, copiava só os versos que me interessavam, preguiçosa. Agora posto aqui o poema todo do Dylan, Do not go gentle into that good night.
Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on that sad height,
Curse, bless me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on that sad height,
Curse, bless me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.
Tímida, não ousei criar um caso ontem à noite, quando a luz se apagou. Nem sequer permiti que minhas lágrimas rolassem no escuro. Soltei um lamento, uma frase no Facebook. Depois fechei os
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.
Não lembrei do Dylan Thomas, mas sobrevivi à loucura e à pequena amostra da morte oferecida pela falta de luz no meu prédio. De olhos fechados, como se o escuro fosse minha escolha, embarquei no barco ébrio de enredos possíveis, de narrativas passadas, e, quando vi, estava acordando hoje de manhã neste dia cinzento, e com um interlocutor, Veríssimo, que me emocionou. Também encontrei mensagens de amigos que leram meu lamento no Facebook e me consolaram. E agora tenho aula de piano, o que demonstra minhas acentuadas tendências sadomasoquistas… Mas um dia tocarei o Concerto de Tchailowsky sem muitos erros, e me sentirei realizada.
Apago o que acabo de escrever sobre epitáfios e quetais. Hoje é dia de festa. 19 de julho de 1970 - 19 de julho de 2012… Though lovers be lost love shall not. E eu saúdo o amor, não no pretérito, sempre presente. Plus, encore! À vida! Death shall have no dominion.
No comments:
Post a Comment