Será que depois de uma certa idade a gente pode desenvolver déficit de atenção? Ou isso é coisa que só criança de colégio tem, para justificar as notas baixas e o comportamento ruim?
Fui criada com rigor vitoriano, o que significa dizer que eu existia para ser corrigida. E como eu era imperfeita! Entre castigos e tabefes para meu aperfeiçoamento, me lembro de ter ido uma vez ao parque da esquina, andar de patins, onde, por absoluta falta de prática, ou pela falta de manutenção do espaço que exibia rachaduras no cimento, levei um tombo que me fez expelir todo o ar dos pulmões. Horrível, pois a gente não consegue enchê-los de volta, parece um afogamento a seco. O pior é que, em vez de chorar assustada e procurar o consolo dos "mais velhos", como se dizia na época, ou dos adultos, como se diz hoje, tratei foi de esconder o tombo e o pavor, para não ser castigada e nunca mais voltar ao parque, onde já era raro ir mesmo sem acidentes.
Para mim a vida era "estudar"; infelizmente, não era muito afeita a essa atividade. Me diziam que fosse estudar e, como não eram obedecidos, me levavam para meu quarto e me deixavam trancada até que eu fizesse a lição de matemática. Algumas vezes, chorava e batia na porta, implorando por liberdade. Outras, já mais esperta, ficava lá dentro brincando com lápis, apontadores e borrachas. Fazia ponta nos lápis e com as aparas de madeira, fazia um guardarroupa (é assim, agora?) de sainhas de boneca. Com a borracha, que era uma rodinha com um pincel, modelo hoje desaparecido, "apagava" a mesa, que era a casa das bonecas. A ação gerava uma série de filamentos, a "sujeira", que devia ser varrida, cuidadosamente, para que o baile pudesse começar. Depois de tudo pronto, as sainhas, que agora faziam as vezes de princesas completas, rodopiavam no baile, em volta do príncipe, que podia ser o apontador, ou o próprio lápis, reduzido a um pequeno cotoco, não muito maior que as tais saias. Depois de algumas horas, vinham me libertar, e pasmavam por ver que eu ainda não tinha feito nem sequer uma conta. É um verdadeiro milagre que eu tenha aprendido as 4 operações. Ninguém me disse que eu tinha déficit de atenção, eu era apenas preguiçosa, nos melhores dias, burra nos piores.
Hoje, porém, acho que estou ficando com o tal déficit. Ou, como eu prefiro chamar, com síndrome de borboleta. Me rodeio com tantos projetos atraentes que depois não sei qual escolher. Tenho dois, não, três romances começados. Ou melhor, três romances e uma autobiografia cômica. Tenho dois livros infantis também começados. Um curso em andamento. Outro curso prestes a começar, sobre Jorge Amado, de quem nem sou muito íntima. Tenho três palestras para preparar, um monte, não uma montanha de livros para ler, peças de teatro para assistir, aulas de piano, uma família, cinema, TV, concertos, ballets, óperas, jornais… E o meu dia continua com 24 horas, apenas. E o blog, e o facebook, e os joguinhos de paciência, e o imeio, e o celular, e a família … Apenas 24 horas. E as viagens, e Angra, e o mar…A semana só tem 7 dias e os meses, em sua maioria, 31 dias. Tudo isso, e ainda todos os sonhos do mundo… OK. Vou tentar trabalhar. Mas o mar está tão azul, e hoje é domingo, dia de família, e preciso de acertar os detalhes de minha viagem a Poitiers, e tem uma peça sobre Rimbaud que quero assistir, mas, se for à peça, não vou poder ir ao…
Tchau! Fui!
Fui criada com rigor vitoriano, o que significa dizer que eu existia para ser corrigida. E como eu era imperfeita! Entre castigos e tabefes para meu aperfeiçoamento, me lembro de ter ido uma vez ao parque da esquina, andar de patins, onde, por absoluta falta de prática, ou pela falta de manutenção do espaço que exibia rachaduras no cimento, levei um tombo que me fez expelir todo o ar dos pulmões. Horrível, pois a gente não consegue enchê-los de volta, parece um afogamento a seco. O pior é que, em vez de chorar assustada e procurar o consolo dos "mais velhos", como se dizia na época, ou dos adultos, como se diz hoje, tratei foi de esconder o tombo e o pavor, para não ser castigada e nunca mais voltar ao parque, onde já era raro ir mesmo sem acidentes.
Para mim a vida era "estudar"; infelizmente, não era muito afeita a essa atividade. Me diziam que fosse estudar e, como não eram obedecidos, me levavam para meu quarto e me deixavam trancada até que eu fizesse a lição de matemática. Algumas vezes, chorava e batia na porta, implorando por liberdade. Outras, já mais esperta, ficava lá dentro brincando com lápis, apontadores e borrachas. Fazia ponta nos lápis e com as aparas de madeira, fazia um guardarroupa (é assim, agora?) de sainhas de boneca. Com a borracha, que era uma rodinha com um pincel, modelo hoje desaparecido, "apagava" a mesa, que era a casa das bonecas. A ação gerava uma série de filamentos, a "sujeira", que devia ser varrida, cuidadosamente, para que o baile pudesse começar. Depois de tudo pronto, as sainhas, que agora faziam as vezes de princesas completas, rodopiavam no baile, em volta do príncipe, que podia ser o apontador, ou o próprio lápis, reduzido a um pequeno cotoco, não muito maior que as tais saias. Depois de algumas horas, vinham me libertar, e pasmavam por ver que eu ainda não tinha feito nem sequer uma conta. É um verdadeiro milagre que eu tenha aprendido as 4 operações. Ninguém me disse que eu tinha déficit de atenção, eu era apenas preguiçosa, nos melhores dias, burra nos piores.
Hoje, porém, acho que estou ficando com o tal déficit. Ou, como eu prefiro chamar, com síndrome de borboleta. Me rodeio com tantos projetos atraentes que depois não sei qual escolher. Tenho dois, não, três romances começados. Ou melhor, três romances e uma autobiografia cômica. Tenho dois livros infantis também começados. Um curso em andamento. Outro curso prestes a começar, sobre Jorge Amado, de quem nem sou muito íntima. Tenho três palestras para preparar, um monte, não uma montanha de livros para ler, peças de teatro para assistir, aulas de piano, uma família, cinema, TV, concertos, ballets, óperas, jornais… E o meu dia continua com 24 horas, apenas. E o blog, e o facebook, e os joguinhos de paciência, e o imeio, e o celular, e a família … Apenas 24 horas. E as viagens, e Angra, e o mar…A semana só tem 7 dias e os meses, em sua maioria, 31 dias. Tudo isso, e ainda todos os sonhos do mundo… OK. Vou tentar trabalhar. Mas o mar está tão azul, e hoje é domingo, dia de família, e preciso de acertar os detalhes de minha viagem a Poitiers, e tem uma peça sobre Rimbaud que quero assistir, mas, se for à peça, não vou poder ir ao…
Tchau! Fui!
No comments:
Post a Comment