Um amigo me escreve (será que posso chamá-lo de amigo, nós que tão poucas palavras trocamos e que tão pouco convívio tivemos?) e me diz que já se apaixonou por Santiago.
Em verdade, em verdade vos digo, é fácil se apaixonar por Santiago, principalmente em dias de sol. Mas também deve ser fácil se apaixonar em Santiago. Para onde olho vejo casais se amando. Talvez porque se trate de uma cidade universitária, talvez por obra e graça do santo padroeiro, como as pessoas se amam em Santiago! Nos parques, imprensados nos muros, nas vielas estreitas, nos ônibus, por todo o lado o amor transborda e eu me encanto com isso. Vá lá, uma pontinha de inveja me dói, mas nada que seja como a maldição de Machado de Assis: um panarício que doa desmesurado e constante. Apenas uma certa melancolia de quem conhece o gosto bom dos beijos nas noites frias e escuras de uma cidade pacata. Ou dos beijos públicos e eufóricos nos parques banhados de sol. As saudades se acendem, mas as lembranças tiram suas arestas, e meus olhos sorriem encantados com tantos amores. Mas há outros amores em Santiago: amores de mães e filhas, que se amparam nas ladeiras. Amores de avós, assustadas com os abismos onde se arriscam os pequeninos. Amores de famílias inteiras, que param para saborear uma torta, deliciosa, cheiinha de amendoas, de onde o pecado da gula foi expulso pela cruz desenhada com açucar. Amores de pais que carregam seus filhos cansados de tantas andanças. Uma cidade pequenina, mas com tanto entra e sai que se torna enorme e variada, Santiago não nos cansa, e nos surpreende, nos envolve, nos apaixona...
1 comment:
Está ótimo, como sempre, mas essa frase sobre a torta "de onde o pecado da gula foi expulso pela cruz desenhada com açúcar" eu amei! Muitos abraços, T.T.
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