Sunday, October 14, 2007

Botafumeiro

Acho que não contei que vi o famoso turíbulo em funcionamento. Na minha primeira visita à Catedral, o botafumeiro tinha sido retirado, e eu não vi suas dimensões. No dia seguinte, voltei à Catedral, desta vez sozinha e com mais calma, e descobri que o botafumeiro não era tão enorme quanto eu esperava. Ele já estava em seu lugar e, para minha surpresa, ia se iniciar uma missa, portanto fiquei e acabei assistindo a cerimônia. Ia brincar, dizendo cerimônia de insensatez, mas não há nem uma grama de insensatez ali. Tudo é matematicamente preciso e muito cuidado. O turíbulo está preso por uma corda de cerca de um punho de espessura, com uns nós intrincados.
Na ponta usada para balançá-lo, prendem-se seis cordas mais finas, cheias de nós, e é nessas cordas que os homens seguram. Estes homens estão vestidos com capas de peregrinos, ou com umas opas marrons, não encontrei nenhuma explicação. Eles, no entanto, apenas "seguram as pontas". O balanço é provocado pelo padre, ao final da missa. Deve haver alguma ajuda por parte dos seis, mas a impressão é que eles apenas levantam o botafumeiro de maneira a permitir que, com o impulso dado pelo padre, as três roldanas presas no teto criem o movimento pendular. E aí é que se encontra, finalmente, o encanto da cerimônia. Aquele objeto que, parado, não impressiona por suas dimensões, ao voar pela nave se transforma num projétil ameaçador. Ele passa assobiando ao lado de nossas cabeças desprotegidas, chega próximo ao teto da Catedral e retorna embriagado pela vertiginosa velocidade que alcança. Há perigo em sua trajetória, que passa pelo meio da multidão que mal abre espaço para o bólide passar. No entanto, não há notícias de ferimentos graves. Se estivéssemos nos EUA, toda a área teria sido isolada, haveria mil sinais para que as pessoas se afastassem e mais de um milhão de avisos de que a cerimônia poderia causar graves ferimentos nos incautos. Só que aqui todos se recomendam a Santiago e se afastam no último minuto, à procura da foto perfeita. E tudo dá certo. E esse santo encantador, que se deixa abraçar por todos os que aqui chegam, sorri lá do altar, compassivo e saciado. Se um dia seu lado Matamoros acordar, a devastação será tremenda e muitas cabeças rolarão. Santiago, porém, sabe dos incômodos que uma cabeça separada de seu corpo pode causar, e benigno, continua sentado em seu trono, deixando-se abraçar, sorridente.

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