O jornal me encanta com essa novidade: pesquisas para realizar a leitura de mentes e possibilitar a comunicação com quem sofreu algum acidente que o impeça de falar. Este sempre foi um fantasma que me assustou: a síndrome do encarceramento, como um dia foi chamada, e que está magistralmente registrada no livro O escafandro e a borboleta. Na verdade, não li o livro, só vi o filme, mas dou sempre preferência ao texto – talvez por vício do ofício. E assim me lembro da coluna do meu querido Francisco Bosco que ontem falava sobre adaptações. Proust é inadaptável, diz ele, e, no entanto, não são poucos os cineastas ambiciosos que voltam suas câmeras para esse extraordinário romance. Ele mesmo citou o filme do Ruiz, que tem momentos geniais e citações a outro filme (pelo menos é o que eu acho), nunca realizado, mas longamente acalentado pelo Visconti, que chegou a escrever o roteiro. E possuo cópias de Um amor de Swann, um filme antigo de Volker Schöndorff, com Alain Delon e Jeremy Irons, de uma adaptação de A prisioneira, La captive, da diretora Chantal Akerman. Também vi num festival um filme cujo título original em italiano era Le intermittenze del cuore (Fabio Carpi, 2003), uma das seções do livro e que tratava de um cineasta (ainda Visconti?) que planejava filmar o romance proustiano mas que morre (?) ou tem um ataque cardíaco antes de conseguir realizar seu intento. E agora mesmo não vi, pois não tenho TV5, a adaptação mais recente, para a televisão, feita em dois "capítulos", mas uma amiga tem uma tia que prometeu que ia gravá-los, portanto ainda tenho a esperança de ver a mini-série. Voltando ao filme do Ruiz, um amigo meu, Luis Miranda, fez um documentário genial sobre o lendário argentino que fez a iluminação do filme em questão. Ricardo Aronovich (?) avec mes yeaux de dinossaure. O cineasta foi professor dele e o documentário é simplesmente excelente, nos ensina muito sobre essa arte que nos parece secundária, mas que tem importância fundamental para a narrativa cinematográfica. A iluminação explica, realça, valoriza, é preciso assistir ao documentário para entender melhor o que digo. E para rever algumas cenas do Tempo Redescoberto, coisa que sempre vale a pena. Para terminar, ouso dizer que os iluminadores (os bons, é claro) já faziam essa leitura de mentes, captavam nuances e as transformavam em imagens que podemos decodificar sem o uso de palavras. Sensibilidade, arte e, agora, o computador, cada vez mais a mente vai revelando seus segredos. E eu me pergunto: o que faria Freud com todos esses novos recursos para o conhecimento da mente? E quanto devemos a ele, para chegarmos a essas novas "narrativas"?
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