Quase Carnaval, e eu aqui divagando. Olho o mar, de longe, e penso como seria bom estar mergulhando nas águas que de longe parecem perfeitas. Muito calminho, ele hoje não rodeia as ilhas com um friso de espuma, está ali, com seu tracejado impressionista, exibindo, para meu deleite, uma traineirinha que se desloca colorida e feliz.
O céu também se mostra calmo, com nuvens difusas, esfumadas. Tudo me parece pintura. Até o desenho das sombras das varandas do edifício em frente, desenhadas com perfeita geometria. No outro, que se apresenta ensacado, a luz se reflete, sem piedade. Uma tela em branco, um pintor sem inspiração…
Penso em coisas que podem ser feitas, enquanto sentamos numa poltrona. Ler. Escrever. Assistir a filmes ou peças teatrais. Comer. Conversar. Bordar. Ouvir música. Mandar e receber mensagens. Pintar. Dormir. Namorar. Ver a vida passar.
Lembro-me do apartamento que não comprei. Um ótimo apartamento, onde um velhinho, aparentemente muito doente, se sentava a uma janela, vendo o mar. Os filhos estavam vendendo o imóvel e iam colocar o velhinho num asilo.
Não comprei o apartamento. Não pude suportar a ideia de contribuir para tirar o velhinho da sua janela.
Penso na mãe de uma única filha que foi convencida pela mesma a sair de seu lindo apartamento e a ir para um asilo longe do mar, e meu coração perde um compasso, assustado. Não quero o exílio, não quero o silêncio e o barulho dos grilos. Não quero a solidão.
Digo isso, mas, no entanto, sou uma especialista em viagens ao fim do mundo. Volta e meia estou indo a algum lugar denominado "fim do mundo". Já fui ao Nord Kap. Já fui à Patagônia. Já fui a Finisterra. Já cheguei a muitos extremos norte, sul, leste e oeste. Em todos esses lugares, um impressionante sentido de solidão nos envolve. Mesmo no meio de excursões, com muitos ou poucos amigos, em dia de sol radiante ou envolta na neblina mais espessa, a solidão aperta nosso coração, e a nossa alma aflita nos faz olhar ao longe, procurando algo, alguém, no vazio.
Uma vez, em Búzios, peguei uma boia dessas que voltaram à moda, feita de câmara de ar de caminhão e, deitada, me deixei levar pelas águas, de olhos fechados. Era bem cedinho, o sol não maltratava, e a água transparente parecia benfazeja. Não queria saber para onde estava indo, me entreguei ao embalo das ondas e me deixei levar. Naquele momento não senti solidão. Foi um momento de beleza, de encantamento, de harmonia como talvez nunca mais chegue a experimentar. Acho que, na hora, não pensei no verso de Drummond que agora sempre acompanha esta minha lembrança: "o silêncio pânico do mundo"… Pânico, de Pan, aquele deus grego tocador de flauta, que representa o "homem natural".
Talvez sentado, olhando o mar, envolto nas brumas da doença, aquele velhinho estivesse ali usufruindo o prazer de ainda continuar respirando, de ainda poder olhar o azul, e nele se perder. Talvez ele não estivesse procurando algo, nem ninguém. Estava encontrando a si mesmo, indiferente a tudo o mais.
Nestas divagações melancólicas, o sol se esconde entre as nuvens e deixa o dia menos nítido, mais poético. Os limites perdem sua nitidez. E a alegre traineira foi substituída pela vela de um barquinho lento, sem pressa, totalmente entregue aos caprichos do mar.
O céu também se mostra calmo, com nuvens difusas, esfumadas. Tudo me parece pintura. Até o desenho das sombras das varandas do edifício em frente, desenhadas com perfeita geometria. No outro, que se apresenta ensacado, a luz se reflete, sem piedade. Uma tela em branco, um pintor sem inspiração…
Penso em coisas que podem ser feitas, enquanto sentamos numa poltrona. Ler. Escrever. Assistir a filmes ou peças teatrais. Comer. Conversar. Bordar. Ouvir música. Mandar e receber mensagens. Pintar. Dormir. Namorar. Ver a vida passar.
Lembro-me do apartamento que não comprei. Um ótimo apartamento, onde um velhinho, aparentemente muito doente, se sentava a uma janela, vendo o mar. Os filhos estavam vendendo o imóvel e iam colocar o velhinho num asilo.
Não comprei o apartamento. Não pude suportar a ideia de contribuir para tirar o velhinho da sua janela.
Penso na mãe de uma única filha que foi convencida pela mesma a sair de seu lindo apartamento e a ir para um asilo longe do mar, e meu coração perde um compasso, assustado. Não quero o exílio, não quero o silêncio e o barulho dos grilos. Não quero a solidão.
Digo isso, mas, no entanto, sou uma especialista em viagens ao fim do mundo. Volta e meia estou indo a algum lugar denominado "fim do mundo". Já fui ao Nord Kap. Já fui à Patagônia. Já fui a Finisterra. Já cheguei a muitos extremos norte, sul, leste e oeste. Em todos esses lugares, um impressionante sentido de solidão nos envolve. Mesmo no meio de excursões, com muitos ou poucos amigos, em dia de sol radiante ou envolta na neblina mais espessa, a solidão aperta nosso coração, e a nossa alma aflita nos faz olhar ao longe, procurando algo, alguém, no vazio.
Uma vez, em Búzios, peguei uma boia dessas que voltaram à moda, feita de câmara de ar de caminhão e, deitada, me deixei levar pelas águas, de olhos fechados. Era bem cedinho, o sol não maltratava, e a água transparente parecia benfazeja. Não queria saber para onde estava indo, me entreguei ao embalo das ondas e me deixei levar. Naquele momento não senti solidão. Foi um momento de beleza, de encantamento, de harmonia como talvez nunca mais chegue a experimentar. Acho que, na hora, não pensei no verso de Drummond que agora sempre acompanha esta minha lembrança: "o silêncio pânico do mundo"… Pânico, de Pan, aquele deus grego tocador de flauta, que representa o "homem natural".
Talvez sentado, olhando o mar, envolto nas brumas da doença, aquele velhinho estivesse ali usufruindo o prazer de ainda continuar respirando, de ainda poder olhar o azul, e nele se perder. Talvez ele não estivesse procurando algo, nem ninguém. Estava encontrando a si mesmo, indiferente a tudo o mais.
Nestas divagações melancólicas, o sol se esconde entre as nuvens e deixa o dia menos nítido, mais poético. Os limites perdem sua nitidez. E a alegre traineira foi substituída pela vela de um barquinho lento, sem pressa, totalmente entregue aos caprichos do mar.
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