Acabou o horário de verão e eu me sinto um pouquinho triste. Sou uma das pessoas que adoram esse horário que nos prolonga o dia em tardes claras, que permite que se passeie à beira mar depois do trabalho, refrescando cabeças e corpos. Hoje fui me despedir do entardecer. De agora em diante ele vai acontecer cada vez mais cedo e eu vou me amortalhar no escuro e ficar angustiada como a criança nervosa do romance de Proust, esperando o beijo de boa noite que já não mereço mais. O tempo passa, amortece as dores, mas elas continuam vivas, na expectativa, para nos atacarem ao primeiro descuido. Outro dia, conversando com o Breno, meu querido e distante amigo, ele me falou de sua "alegria morna". Entendo perfeitamente, pois minhas alegrias, minhas emoções, estão todas assim. Sinto que nunca mais serei genuinamente feliz. Nada mais me deixa radiante, nem mesmo o reencontro com uma amiga de anos, de quem sempre gostei muito, mas que já não via há décadas. Na hora, sim, me alegro, fico entusiasmada. Mas, aí, volto para a casa e sei que não tenho ninguém a quem contar a novidade. Minha vida ficou assim, pela metade. Só posso me alegrar no instante do fato. Depois, a não ser que fique como a maluquinha da Margaret Thatcher, não tenho com quem comentar e relembrar coisas. Já que mencionei a personagem, comento o filme, do qual gostei muito. Mesmo pintando a todo-poderosa agora em sua doença, eles não a ridicularizaram, não roubaram a sua dignidade. E eu morri de inveja daquela loucura que trazia o marido morto para o seu lado, com suas tiradas engraçadas, com seu apoio, e até mesmo com suas recriminações. Pois estas são muito necessárias. Não tenho mais ninguém para me puxar as orelhas quando fico horas jogando paciência ou fazendo quebra-cabeças. Não tenho mais ninguém para me distrair a atenção de algum problema que me parece insolúvel e que me angustia até as lágrimas. Não tenho alguém para me tirar para dançar, ou para me dar um abraço reconfortante, que faz o mundo parecer um lugar seguro e confortável. Estou cansada. Estou triste. Mas sigo em frente, e com um sorriso. Não reclamo não. É só o sentimento do irrecuperável que me deixa assim, de farol baixo…
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