Recebi o pedido de uma amiga, aqui está a palestra feita por mim em Kentucky, em abril de 2011.
Bom proveito, Danielle. Sucesso com seu trabalho.
Carolina de Jesus, Juan Francisco Manzano e Vik Muniz: subtextos e subversões.
Negra, mulher e favelada foram os adjetivos que pautaram a campanha de uma candidata ao governo do Rio de Janeiro, há alguns anos atrás. Um slogan político forte, que lhe deu a vitória. Estas palavras, no entanto, já haviam servido como identificadoras de uma autora, Carolina Maria de Jesus, que teve suas memórias publicadas sob o título de Quarto de despejo, nos idos de 1960.
Seu livro, trabalhado pelo jornalista Audálio Dantas, causou um enorme interesse e foi sucesso de público e de crítica. Como, afinal de contas, numa sociedade como a brasileira, onde as mulheres dependiam do casamento para alcançarem legitimidade social, e quando eram poucas aquelas que “trabalhavam fora”, como, repito, sobrevivia esta mãe solteira, de pele negra, sem outra fonte de renda que a obtida catando papel?
Um refugo da sociedade, vivendo num quarto de despejo e sobrevivendo do lixo teria direito a ter sua própria voz? A originalidade de uma catadora de papel, semi alfabetizada, que escrevia suas memórias nos pedaços de papelão que reunia, chamou a atenção do jornalista que editou o diário de Carolina para transformá-lo num livro. Esta obra mereceu a atenção de toda a sociedade brasileira e foi traduzida em mais de uma dúzia de idiomas, tendo provocado o exame crítico de acadêmicos de diversas nacionalidades. Segundo as informações de Robert M. Levine and José Carlos Sebe Bom Meihy publicadas em The Life and Death of Carolina Maria de Jesus (Albuquerque, University of New Mexico Press, 1995.) Carolina foi “descoberta” por Audálio Dantas que, ao fazer uma reportagem sobre um parque público, ouviu a catadora de papel brigar com arruaceiros e bêbados, ameaçando que os colocaria em seu “livro” caso não se comportassem. A palavra “livro” despertou o interesse do jornalista que descobriu os escritos de Carolina e conseguiu a publicação de seu diário. Apesar de todo o sucesso alcançado por sua obra de estreia, as publicações seguintes não tiveram êxito {Casa de Alvenaria (1961), Provérbios e Pedaços da Fome (1963) e Diário de Bitita (1982 - edição póstuma pela casa editora francesa A. M. Métailié)}. Carolina Maria de Jesus caiu no esquecimento. Pobre, morreu na casa em que morava com o filho mais velho, no bairro de Parelheiros, em São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977.
Seu livro chama a atenção para a fome e a miséria. Dia após dia listam-se as parcas refeições, os choros frustrados das crianças, seus filhos, que precisam ir para a cama sem comer. Apesar de brutalizada pelas condições de vida, a autora, porém, consegue manter um lado de humanidade que dá ao texto um encanto que os relatos sociológicos jamais poderiam revelar. Carolina manteve sua humanidade. Era mulher e, como tal, mantinha sua vaidade, seus sonhos. Feia, maltratada, ela “não se enxergava” como tal. E, como se não bastasse, ainda tinha a coragem de fazer ouvir sua voz.
O sucesso transformou Carolina numa “estrela”. Ela foi exibida como uma curiosidade. Foi recebida em palácio pelos presidentes brasileiro e uruguaio. Foi levada a recepções. Deu entrevistas a jornalistas estrangeiros, através de intérpretes. E, para cada um destes compromissos, foi paramentada, enfeitada, tendo recebido, –dados ou emprestados –, vestidos, sapatos e jóias. Seus cabelos foram penteados, suas mãos manicuradas, seus pés tratados. Como uma boneca, Carolina foi exibida nas recepções, fotografada nos eventos. Num perverso movimento, a sociedade que a rejeitara e marginalizara, ao ver que ela tomava voz e surgia como pessoa, tratou de transformá-la através de sua “bondade” (o termo é de Carolina). As mulheres da sociedade, “tão boas”, fizeram dela um manequim e conseguiram,insidiosamente, mais uma vez, relegá-la à margem. Depois de brincarem com sua boneca nova, abandonaram-na e foi assim que, outra vez na miséria, Maryvonne Lapouge e Clélia Pisa a foram encontrar, quase totalmente esquecida, para uma entrevista pouco antes de sua morte. Carolina, que, nos seus dias de glória tinha sido assunto em destaque nos principais periódicos do mundo, tais como Paris Match e Realité, além de revistas e jornais nacionais, vivia afastada, cheia de memórias amargas e de algumas desilusões, sem conseguir editor para sua produção, que se acumulava em cadernos escolares guardados em caixas de papelão com cheiro de mofo, conforme nos informam suas entrevistadoras. (Uma caixa contendo trinta e sete cadernos, com mais de cinco mil páginas com sua letra característica. Ali, Carolina deixou poemas, contos, quatro romances e três peças de teatro, conforme foi levantado posteriormente)
Esta mulher, em seus escritos, desenvolveu estratégias narrativas que davam vozes aos “afônicos” – outro termo usado por ela, que, apesar de poucos estudos e de uma falta de consciência política, podia perceber que havia uma camada enorme da sociedade brasileira que não tinha direitos e, portanto, não tinha voz. Mesmo através da filtragem da edição, seus textos ainda levantam aspectos que merecem reflexão, e é por isso que propomos uma releitura de sua obra para resgatar sua legitimidade e seu direito de representação. Fazendo uma “cartografia de espaços degradados, relacionados a restos, a desordem, a coisas que ninguém mais quer.” (Site Itau Cultural) Carolina representa sua experiência de vida através do reaproveitamento do lixo, do refugo da nossa sociedade que cada vez se baseia mais no insaciável “ter” do que no “ser”. Ao fazer isso, uma crítica se revela: ao reaproveitar o que um grupo social considera “imprestável”, é possível criticar esta sociedade e revelar que, em seus “refugos” existe toda uma economia que apenas começa a ser reconhecida embora ainda não esteja sendo valorizada integralmente. Ao usar os restos, as coisas que ninguém mais quer como materia prima, elabora-se uma (sub)versão da sociedade que descarta, sem piedade, coisas que possuem algum tipo de valor mas que o consumo desenfreado descarta e destrói.
Recentemente, Vik Muniz, artista nascido no Brasil, mas radicado nos EUA, “descobriu” o Aterro de Gramacho, o maior aterro sanitário do mundo. Nesta área de dimensões ciclópicas, há uma multidão de pessoas que passam seus dias em condições insalubres, fazendo do lixo seu meio de vida. Trabalhando e se alimentando no que é conhecido como “lixão”, estas pessoas estão esquecidas e sem assistência. Descartadas. Até bem pouco tempo, menores de idade também trabalhavam ali, em permanente perigo para sua saúde e integridade física. São Carolinas modernas, mais degradadas ainda que a favelada dos anos 60.
Vik chegou com uma proposta interessante: recriar, com lixo, obras canônicas da história da arte. Os próprios catadores seriam envolvidos na coleta e montagem de materiais: cada um seria fotografado de acordo com a obra de arte escolhida; em seguida, num galpão, uma monumental colagem seria feita pelos próprios retratados; finalmente, essa recriação seria fotografada por Vik e o resultado seria exposto em museus e leiloado em benefício dos catadores. Tudo isso foi realizado, com inegável sucesso. Além das exposições, um livro e um documentário também foram feitos, ampliando ainda mais o alcance desta ideia, que repercutiu em vários países.
Sete foram as obras de arte escolhidas para a recriação:
Atlas, Guercino, 1646, Palazzo Mezzi Bardini, oleo sobre tela, 127x101cm. Personificado por Carlão.
Portadora de oferenda, c.1981-1975 a.C., The Metropolitam Museum of Art, Madeira, gesso e tinta. 112x16,50x46,50 cm. Interpretada por Irma. (A carregadora)
Mulher passando roupa, Pablo Picasso, 1904, Guggenheim NY, oleo sobre tela, 116,20x73cm. Personificada por Ísis.
Albanesa, Camille Corot, 1872, Brooklyn Museum, oleo sobre tela, 74,10x65,60cm. Interpretada por Magna. (Cigana)
Marat assassinado, Jacques Louis David, 1793, Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique, oleo sobre tela, 165x128cm. Personificado por Tião.
Madonna com criança, Giovanni Bellini, 1510, Pinacoteca de Brera, oleo sobre tela, 85x118cm. Interpretada por Suellen (Mãe e filhos)
O semeador, Jean François Millet, c.1865, coleção particular, pastel e lapis sobre papel, 36x43cm. Personificado por Zumbi.
Não estão explícitas as razões que levaram à escolha destas determinadas obras, assim como não se revela o critério de seleção das sete pessoas em questão, dentre um universo de cinco mil catadores. Acontece que a adequação do modelo à obra, uma vez escolhidos uns e outras, se revela muito apropriada. A enormidade do saco que obriga Carlão a uma posição recurvada, e sua expressão de olhos enviezados, desafiadores, o aproximam do titã castigado, carregando o mundo sobre os ombros. A força e a firmeza de Irma, com sua cesta sobre a cabeça, seu rosto sereno e escultural, refletem a tranquila posição da estatueta egípcia, oriunda de um mundo quase mítico, de tão distante. A fragilidade de Isis, que, no entanto, não desanima e pressiona o ferro de passar com o peso de seu próprio corpo, para que aquilo que faz não saia de seu controle, expressa sua feminilidade que, ao invés de se expandir, a deixa acabrunhada sobre o trabalho. Já Magna, orgulhosa, levanta o rosto e olha confiante e desafiadoramente, tal como a albanesa atraente de Corot. Sebastião, o Tião, que lidera a organização dos catadores, por sua própria atividade política aproxima-se de Marat, mas, se este se mostra exangue, o brasileiro conserva sua vitalidade, mesmo quando surpreendido num momento de abandono, como se fosse o descanso do guerreiro. A jovem Suellen, retratada com seus filhos como se fosse uma Madonna, é aquela que se vê “aceitando” sua posição de indefesa. Ela se define pela maternidade, e pela submissão àos designios impostos a ela por uma vontade externa (Faça-se em mim segundo a sua vontade…). Finalmente Zumbi, o semeador, é aquele cujo sonho é a construção de uma biblioteca. Ele é quem salva os livros do lixo e os acumula e compartilha, semeando ideias e sonhos.
O livro publicado, Lixo extraordinário, se apresenta também como uma releitura: a de Os sertões, de Euclides da Cunha. Dividido em partes intituladas A terra, O homem e A luta, ele acrescenta mais um aspecto a esses: A arte. Se Euclides escreveu seu grande livro numa tentativa de compreender e explicitar a estrutura da recente república brasileira, Vik Muniz e Alexei Bueno se debruçam sobre as condições dos brasileiros, dos terceiromundistas, frente a um mundo onde as fronteiras e sentimentos nacionais se encontram cada vez mais diluídos graças aos interesses da sociedade capitalista que se dissemina pelos quatro cantos do globo. Na seção O homem, Alexei chama a atenção para “a lógica normal do capitalismo num país de Terceiro Mundo, no qual a desqualificação empurra o indivíduo a situações extremas para sobreviver”. O tempo passado entre Carolina e os personagens de Vik Muniz não amenizou o alarmante abandono a que pessoas sem qualificações podem ser relegadas numa sociedade capitalista cada vez mais selvagem. Mas a consciência moderna procura refletir sobre este descarte. O lixo gerado no mundo conta a história da destruição do próprio mundo. A (sub)versão que a arte cria ao examinar os detritos e resgatá-los aponta para um subtexto que é a história dos próprios participantes do projeto.
Encontrando esses indivíduos “desfocados” no meio de tanto detrito, Vik Muniz consegue resgatar a individualidade de alguns, destacando-os e monumentalizando-os em imagens enormes, imponentes. Ao mesmo tempo que ele “eleva” esses indivíduos, ele dessacraliza obras canônicas, ao reconstruí-las com lixo. Mas, tal como ele pensa, “preconceito e arte não combinam, visto que a experimentação deve ser plena”. Recriando as obras icônicas a partir do lixo, e dando a esses catadores um perfil reconhecido e admirado, ele está funcionando como “uma espécie de filtro, de tradutor do mundo”.
Nesta alquimia que transforma lixo em luxo (arte) envolvem-se vários aspectos dignos de nota. Podemos começar mencionando a questão do tempo: o lixo, o aterro sanitário, é um local onde o tempo precisa ser interpretado de maneira diferente da usual. Ao invés de passagem de tempo, temos ali a presentificação (degradada) do passado. Como o artista ressalta, neste local, onde todo o lixo da cidade do Rio de Janeiro se acumula há quatro décadas, uma pessoa de quarenta anos, ao fazer um corte no aterro, corre o risco de encontrar suas próprias fraldas! Mas existe, também, uma questão de linguagem, pois surpreende-se uma impossibilidade de definição. Tudo, todas as coisas estão quebradas, mas nada daquilo está integrado ao que normalmente consideramos “substância”, revela o artista. Tudo se descaracteriza e se reduz resistindo a ser apreendido como “Natural”. Ao mesmo tempo, a percepção se desenvolve de modo fora do usual, uma vez que “tudo é simultaneamente focal e periférico, enquanto somos bombardeados por cheiros, gostos, temperaturas insuportáveis, durante todo o tempo em que ali permanecemos”.
Refletindo sobre seu projeto, Vik Muniz revela que o que mais o sensibilizou foi “o tamanho do nosso preconceito”, mas, esperançoso e otimista, ele afirma que “a arte muda as pessoas, não só pelo convívio, mas também pelo engajamento, pela produção”.
O mundo que acolheu e depois rejeitou Carolina Maria de Jesus teria se transformado? Inegavelmente, existe uma tomada de consciência e uma busca de cidadania entre estes ‘habitantes do planeta lixo’. Lutando para se organizarem como classe; conscientes da existência do preconceito que os marginaliza até mesmo entre os outros desfavorecidos, repugnados pelo odor que se impregna em suas pessoas; eles recuperam sua dignidade através de sua capacidade de conhecer-nos ‘pelo avesso’, pelo nosso excesso. Tudo aquilo que nos sobra e que consideramos inservível, ao chegar às suas mãos, se vê insuflado de valor e significação. Capazes de ler o lixo como um texto, eles comentam as vidas miseráveis de mulheres solitárias e de homens sozinhos, cuja fome de amor se sacia nos cuidados com o próprio corpo ou com a contemplação de revistas eróticas. Eles conhecem o que está por trás da imagem cultivada pela sociedade de consumo, veem o vazio de nossas embalagens fúteis e nos leem por aquilo que realmente produzimos: excesso e futilidade. Mas, ao contemplar a obra de Vik Muniz, procuramos conhecê-los um pouco melhor. O que será destes indivíduos que se singularizaram em obras de arte, que foram convidados a espaços de cultura, como museus e casas de leilão, mas cuja realidade não mudou, ou, pior ainda, está com data marcada para desaparecer? (Gramacho está com os dias contados e o próximo aterro sanitário não permitirá a presença de catadores em suas instalações). Numa espécie de auto crítica, durante o documentário, ao ser provocado por uma colaboradora, que lhe indaga se seu projeto não é apenas uma tentativa de abafar sua “má consciência”, Vik Muniz responde que se ele estivesse numa situação de extrema penúria e alguém lhe desse a oportunidade de sair desse ambiente e viver dias de Cinderela, mesmo com um prazo de validade curto, ele preferiria ter a chance de viver esse sonho do que passar a vida sem conhecer “o outro lado”. Numa crônica que publiquei na revista Continente, concordo com isso. Acho que todos nós optaríamos por ter nosso momento Cinderela, ao invés de passarmos a vida como meras Borralheiras. Concretizar um sonho, mesmo fugazmente, ainda assim é uma realização.
É importante notarmos, porém, que essas subversões criadas por Carolina e por Vik têm uma vida própria. Mesmo sem se manter nos lugares mais destacados e festejados, o livro de Carolina segue até hoje sendo lido e estudado. Existem celebrações de sua memória, adaptações para o teatro, exposições, seminários voltados para sua obra que acabou sendo publicada após sua morte, em diversas edições. A “afônica” transformou-se em arauto, e é inegável que hoje seus livros têm relevância nacional e servem de paradigma para estudos específicos. Cremos que a obra de Vik Muniz encontrará o mesmo tipo de permanência, e que a subversão que ele propõe encontrará reverberações em muitos trabalhos. Para começar, essa interpretação “pós-moderna” de obras consagradas, reconstruídas através do lixo (extraordinário ou não), começa por propor a questão do valor do cânon, da dessacralização da obra, do simulacro. São muitos os aspectos a serem explorados nesta série, que ainda precisa ser acompanhada de forma social e política. O lixo que expressa uma civilização e que a traduz, cria uma voz dissonante que se junta ao coro dos afônicos, num apelo de mudança e de revalorização ética e material. Olhando para seu trabalho, somos chamados por um apelo ético, que já existia em Carolina, mas que ficou amordaçado por uma sociedade que priorizava o desenvolvimento material em detrimento do humano. Estávamos na época dos “slogans” cinqüenta anos em cinco, e coisas do gênero, queríamos o desenvolvimento econômico, desejávamos abandonar a pecha de subdesenvolvidos, e o caminho era chegar à sociedade de consumo, mesmo que para isso fosse necessário consumir os próprios seres humanos. Hoje, já cientes de que o consumo desenfreado nos destrói, examinamos aquilo que deixamos para trás, nosso lixo, nosso refugo, e questionamos até a própria arte, consumida como um bem, precificada, comercializada em bolsas e leilões.
Os caminhos aqui apontados são o início de um questionamento, ao qual gostaríamos de acrescentar o trabalho de Juan Francisco Manzano, o escravo que escreveu sua autobiografia (Autobiografia de un esclavo) e contribuiu para a causa de seu “protetor”, o poeta abolicionista Domingos Del Monte. Seu texto revelava o lado “sem voz” da sociedade escravocrata. Curiosamente, sem estar ainda dentro de uma sociedade de consumo, o escravo era um bem de consumo, um objeto, e é revolucionar o gênero autobiográfico dar o direito de ser sujeito a quem se vê forçado a ser objeto. Propomos que, ao escrever, Carolina e Manzano se apropriram de um sujeito, mesmo que apenas gramatical, e com isso conseguiram se resgatar mesmo que por tempo limitado, durante um período de suas vidas. Foram silenciados e descartados, após terem sido oferecidos em espetáculo pelo mundo afora. Apos sua morte, no entanto, seus textos foram redescobertos e revalorizados, num processo semelhante ao de reciclagem, poderíamos dizer…
Refletindo sobre as narrativas dos “afônicos” (“Os pobres têm que ser afônicos” – Carolina, 1986, p. 201) e procurando aquilo que foi silenciado dentro de seus textos podemos ensaiar mostrar como esses silêncios permitem a construção de uma obra que, ao mesmo tempo, desconstrói aqueles que tentam se constituir como sujeitos. Os catadores de Vik, também “afônicos”, conseguem, através da justaposição de suas imagens sobre imagens sacralizadas e veneradas, revelar um espaço critico que é de responsabilidade do artista plástico. No entanto, com a perspectiva educativa que existe em todos os casos aqui citados, é possível acreditar que a “releitura” dos descartados pode ainda nos levar a uma sociedade mais justa, inclusiva, e consciente.
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