Tuesday, May 26, 2009

Um café e a conta

Não fui entrevistar ninguém, nem mesmo ser entrevistada. Só me sentei ali porque havia uma mesa vazia e eu tinha tempo e um livro para ler. Pedi o café. Junto veio uma história, um sujeito apaixonado, reclamando de sua amada pelo celular. Depois de separados por um ano, um ano e meio (essa imprecisão me enlouquece, não funcionaria num conto!)  Ela topa sair de novo com ele. Foram jantar. Ele pensava em levá-la para cama (juro que tudo isso eu ouvi, e não tinha como não ouvir, ele falava alto, no celular, e sua cadeira estava ao lado da minha). Ela "conversou legal", mas de repente, danou de falar de um outro, o tal que ela namorou durante a separação. Mas ele não desistiu, queria levá-la para casa, transar com ela, pois era natural, depois dessa separação, afinal, ela o procurara, aceitara sair numa sexta à noite. Mas aí ela tomou dois copos de vinho e apagou. A mulher do outro lado, pois agora ele já tinha dito o nome da interlocutora, deve ter querido saber o que ele queria dizer com "apagou" e ele repetia, "apagou, apagou, passou a falar coisas desconexas, os olhos ficaram vidrados, apagou!" Mas ele não se conformou. Propôs saírem outra vez e a amada aceitou, mas no dia D disse que não tinha com quem deixar a filha. Mas o apaixonado reclamava: "Como é que ela aceitou sair e não fez planos para deixar a filha com alguém? Ela aceitou, e no dia quis desconversar, quis arrumar uma desculpa…"
Eu estava completamente fisgada pela história. O homem já era bem maduro, mais de sessenta, ele aparentava, mas se conservava, os cabelos estavam todos lá numa farta cabeleira grisalha, as mãos eram bem tratadas. Não vi seu rosto todo, só o perfil. Fiquei pensando que a mulher tinha que ser bem mais nova, para ter uma filha que precisasse deixar com alguém. Será? Mas aí ele disse que ela, naquela idade, não ia arrumar mais ninguém. Ou melhor, ia, sim, mas um tipo de gigolô que lhe tirasse o pouco que ela ainda tinha. 
Ele continuou falando e reclamando, querendo aquela mulher de volta. Estava claro que ele dizia tudo aquilo para que a amiga fosse intermediar, fazer as pazes dos dois. Mas eu sabia que não ia dar mais. Que mesmo que ela fosse para a cama com ele, ia ser só por cansaço, por desalento. Não era ele quem acendia suas pupilas, pelo contrário, ele as apagava. E, na verdade, quem é que ia querer um homem que ficava assim no celular, contando tudo o que se passara entre eles, deixando que uma bisbilhoteira ficasse acompanhando a história feito novela? Paguei minha conta e vim para casa, escrever. Ele continuou, se queixando, insistindo. Eu aposto que a amiga, do outro lado do celular, já estava quase apagando!

1 comment:

Amauri said...

Esse cafe deve ter sido o mais interessante e saboroso que voce saboreou até agora...
Voce iria se divertir com as conversas dos cafes de Bs.As.
Abracos,
Amauri