Semana passada fui a um prazeroso encontro na R. Sá Ferreira, na Casa Vuillot (acho que é este o nome), uma casa construída por Virzi, o mesmo arquiteto da Mansão Martinelli. Confesso que, embora tenha sido moradora do posto 6 por muitos anos, não conhecia a casa, nunca tinha notado aquela construção esdrúxula, que se projeta em ângulo, como uma ponta de seta agressiva. Hoje, graças à Prefeitura, a casa foi toda reformada e virou uma biblioteca. Somente ao entrar reconheci o encanto que a construção possui. Misteriosa, submarina, com cantos e recantos em ângulos agudos ou retos, mas nem porisso menos evocadora de um útero (um útero projetado por um engenheiro, pode ser), oferecendo a possibilidade de vida, de um renascimento, que agora se concretiza ao ser transformada em biblioteca. Foi um presente que minha querida Rachel nos ofertou, mais um tesouro escondido dos muitos que ela possui, e que divide, generosa, com seu grupo.
E, no entanto, apesar de meu aparente saudosismo, também gosto de apreciar as novas construções. Toda semana, quando vou a Niterói, me maravilho com o perfil dos prédios no centro da cidade. Passando pela Perimetral (pois assim visito todas as belezas da orla), sempre me encanto com o contraste entre o moderno e o antigo, no reflexo do prédio antigo nos espelhos do arranha céu a seu lado. Olho para o mosteiro, escondido ali sobre seu pequeno monte, e imagino o que não pensam aquelas paredes que viram a cidade crescer. Parece um avozinho, maravilhado com netos altos e fortes, que já nem falam mais a mesma língua…
Não quero me estender muito mais, porém recordo um tempo em que a enseada de Botafogo e o próprio Aterro eram circundados por cartazes luminosos, que amenizavam os longos engarrafamentos dentro de ônibus calorentos. Eu lia e relia as manchetes de um jornal luminoso, precursor da internet, informando-nos das últimas novidades, exasperando-nos com a temperatura, e mostrando, implacável, a passagem do tempo. Ou me distraía olhando o balé das cores das lâmpadas que se acendiam e apagavam, ora azuis, ora vermelhas, ou verdes, ou brancas, ou amarelas, nos cartazes de tantas empresas desaparecidas.
Mas chega de saudade. Deixo de lado a lenda do palacete Martinelli, já abandonado, quando eu passava por ali. E outras memórias, mais modestas, dos mosaicos das calçadas, dos vendedores de cataventos coloridos, dos parques com fontes em que se podia matar a sede... Fico aqui no meu Leblon, que já foi só de casas, no alto de minha torre, olhando minha nesguinha de mar. Hoje água e céus estão prateados, tão diferentes do colorido de ontem que até posso acreditar em gênios que, durante a noite, transportam cidades inteiras para lugares bem distantes. Estou, talvez, às margens do Sena, na nova Paris…
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