Adoro essas manhãs preguiçosas de domingo, quando o sol nos convida a um passeio, mas o corpo, preguiçosamente, se recusa a sair. Ficamos, então, passeando apenas em pensamento, o olhar comprido mergulhado no azul, nos azuis que competem em beleza entre si. Meus leitores devem ter percebido o quanto me agrada a cor azul. Agrada tanto que não titubeio em pintar de azul os olhos de meus personagens. Volta e meia aparece um de olhos azuis, o que não significa que a cor imaginada seja mesmo azul. É o espírito de alguns olhos que são azuis. Meu amor tinha olhos azuis, embora os dele fossem castanhos, escuros. Mas ele tinha essa qualidade de olhar, olhos que, ao olharmos dentro deles, nos mostram surpresas, abismos, liberdade e sonho. São olhos que nos convidam a aventuras, ao mundo. Não hesitamos em aparelhar nossas naus e partir. Ou, mais impacientes, largamos tudo e mergulhamos, em ondas que nos sustentam e nos trazem, sãos e salvos, para a praia.
Passeio no barco que tivemos juntos e ancoro, mais uma vez, entre as Cagarras. De lá julgo me ver aqui nesta torre, prisioneira, desejando quem já partiu. Vejo-me a me contemplar, e me pergunto se algum dia alguma lágrima desceu pelas minhas faces salgadas, apiedada. Mas sei que não. Ao lado dele, julgava que o que via era uma miragem, impossível de acontecer. Nas minhas faces apenas os seus lábios deixavam traços doces, desenhando um mapa de meus prazeres.
Imagino beijos, borboletas, pássaros e nuvens se desfazendo no azul. Sonho com o nada. Azul.
1 comment:
Oi Lucia, li um texto seu no HP42 e gostei imenso. Você expõe a alma das palavas e nos convida a ler seu trabalho até o final.
Eu admiro muito essa capacidade, pois é um dos segredos de um bom escritor.
Eu fui convidada a participar desta edição, mas não tenho grandes pretensões (se fosse escolhida,gostaria muito), mas vale sempre participar.
Grande abraço e muito prazer em conhecer você e sua literatura.
Lu Cavichioli
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