Friday, December 19, 2008

Se se morre de amor...

Me lembro de um poema bem romântico que começava assim. Acho que estava num dos livros de J.G. de Araújo Jorge, poeta que encantava minha mãe...É, ela gostava dele. Minha avó gostava de Raimundo Correia, meu avô de Jorge de Lima. Eu gostava de ficção, mas lia muita poesia, que sempre andou pelos livros lá de casa. Mas o que me encantavam eram livros de histórias, que me transportavam a um mundo onde me sentia mais feliz. Tartarin de Tarascon; a Menina das Nuvens; O albergue do Anjo da Guarda; Histórias que a velha paineira contou; As mil e uma noites; Grimm, Andersen; Lobato. Tantos livros, tantas histórias... Juca e Chico, os dois meninos levados que são barbaramente castigados e comidos. A moura torta, que, na verdade, descobri isso depois que aprendi espanhol, devia ser A moura vesga, o torta é problema de tradução. Desses livros para os considerados "sérios", foi uma pequena passagem. Mas até hoje adoro um livro infantil, que agora são ainda mais belos que antigamente. Lá no almoço do Mussa, brinquei dizendo que pertencia à pré-história da humanidade, que tinha nascido antes do computador! Muitas pessoas protestaram, e começamos com uma sessão de recordações de como era escrever antigamente. Escrevíamos os trabalhos a mão, acreditem ou não. Alguns trabalhos eram feitos a máquina, isso quando alguém no grupo possuía uma máquina de escrever, coisa que não era tão comum assim. Eu sempre fui uma péssima datilógrafa, e vivia com os dedos cheios de bandaid, porque ficavam todos feridos por resvalarem e entrarem por entre as teclas. Na verdade, não eram todos os dedos, pois eu só usava o dedo médio e o indicador. O indicador ficava dobrado por sobre o pai de todos, para reforçá-lo, pois as teclas eram muito duras e eu nunca tive força nas mãos. Daí que esses quatro dedos se esfolavam, doíam, era um horror. Quando a IBM inventou a máquina elétrica, achei que as coisas iam melhorar para mim, mas não foi bem assim. Era preciso me readaptar, pois demorar um pouco mais com o dedo sobre a tecla significava uma linha inteira de sssss ou de ppppp, então usava a fita corretora, que apagava milagrosamente nossos erros. Só me acertei mesmo com o computador. Por isso olho com incredulidade esse pessoal que curte escrever a mão. Eu, hein? Escrever, rabiscar, fazer sinais para inserir textos ou mudar de posição frases inteiras? Deus me livre! Amo meu computador! Adoro as mágicas que ele é capaz de fazer, mesmo quando ele resolve me boicotar, apagar tudo o que escrevi, transformar letras em números, ele ainda é o melhor instrumento escrevinhador que já tive.
Bem, com essa sessão nostalgia, o tempo passou e já me sinto melhor. Porque às vezes dói tanto estar viva que mal consigo aguentar. Então, termino, dizendo que a resposta para a dúvida poética é sim, é possível que se morra de amor. Mas, para a pergunta retórica, se se morre de tristeza, afirmo que não. Eu sou a prova.

1 comment:

Guido Cavalcante said...

Acho que foi o Mario Quintana quem disse que a melhor coisa é "morrer de amor e continuar vivendo". Dialética bacana, não é?