Vai assim, tudo em maiúsculas, para expressar meu protesto! Febre, daquelas altas, de dor no corpo e calafrios, há quanto tempo não sentia. E, para falar a verdade, estou até gostando dessa parada forçada, que me tira de circulação e me desobriga do espírito borbulhante da época. Agora que vivemos numa era de felicidade artificial, em que todos ostentamos no rosto sorrisos congelados, e em que banimos de nosso vocabulário as palavras de revolta e indignação, às vezes fica mais difícil conviver, cientes de tanta superficialidade. Sinto falta do tempo em que podíamos viver sob o signo de Saturno, o grande melancólico. Bem sei que se podia ser igualmente chato, mas também necessitamos de uns bons gritos de desespero e de lágrimas de dor. Há quantos anos não fazem mais um sucesso cinematográfico do tipo "Laços de família"? Choro e ranger de dentes, ver o sofrimento alheio, nos consolava de nossos infernos particulares. Agora a gente minimiza nossas dores, disfarça. Somos inundados por frases lapidares cunhadas por BBBostas (desculpem o termo) do tipo: "faz parte"; "que se há de fazer"; "não podemos nos abater"...
Pois eu, escudada pela febre que me solta a língua, digo que as coisas ruins podem fazer parte da vida, mas ninguém as quer, e por isso é normal protestar, espernear, gritar. Sofrer calado é muito pior que sofrer gritando -- até as dores físicas se tornam mais suportáveis quando gememos. É preciso acordarmos, parar com esse conformismo que nos leva a aceitar as coisas cada vez mais escabrosas que nos impingem. Precisamos reclamar, espernear, ser desagradáveis e chatos -- desde que não embarquemos só nessa e percamos nosso bom humor para sempre. Afinal, a "fossa" foi sempre uma boa fonte de inspiração para versos e canções. Chega de circo, vamos ao teatro, e ao teatro de tragédia, de lágrimas de esguicho, de pura catarse. Mas, viva Aristófanes e seu riso...
4 comments:
Querida, talvez sirva de consolo. Se não consolar, fará rir (como aquele lá, o das Nuvens): sempre a-do-rei ter febre. E quando tenho, ela chega fácil, fácil, aos 40. O torpor, os sonhos, as visões, tudo tão delirante, um outro mundo, outra dimensão, bem longe deste nosso.E o estranho brilho nos olhos, quando passo por perto de um espelho.
Melhoras. Um socorro distante, mas sincero.
Eugenia.
Espero que tenha melhorado, mas como não atualizou o blog acabei ficando preocupado. Marcio
Lucia,
Espero que sua febre ja tenha ido embora. Ninguem merece febre nesta hora...
Pra te consolar, também quero protestar. Protesto por não ver seu blog todo dia. Preciso dele, mas me descuidei.
Abraços
Amauri
Dear Lucia, Bela interpreted for me and I know you were asking about "The Alchemist" by Coelho. I found it delightful and somewhat insightful. He's apparently a very popular author. "The Alchemist" is basically about man's attempt to find meaning by searching the globe and studying it's many wonders only to discover that the secrets and the meaning of life can only be found within each individual. Enjoy it. The book is a light read with a positive message. He also wrote, among many other books, "the Witch Of Portobello". It too has a similar message. I wonder if all of his writings are boilerplate. I'll have to read another one to decide. Hope all is well with you. Bela constantly speaks of you and how beautiful your writings are. I'm going to let Bela get on the keyboard to finish this message. Take care and her's Bela.
Lucia, I am so sorry that George can't read your works. He is trying to learn the language but one needs time and unfortunately he has very little of that.
Anyway, your nadanonada is great and I will be keeping in touch. Enjoy the holidays.
Love,
Bela and George
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