Acordei cedo, antecipando minha ida à ABL, para assistir o Sermão de Quarta-Feira de Cinzas interpretado pelo Pedro Paulo Rangel. Hoje, 12:30h. Grátis. Isso é bom demais. Com isso pretendo depurar meus ouvidos de algumas coisas que andei escutando ontem: um discurso, de um chefe de nação, usando termos escatológicos... Me recuso a reproduzir o que foi dito, pois assim como descobri que, quando cheiramos, estamos consumindo um pouco daquilo que cheiramos, já que o odor são átomos que penetram nosso organismo através das narinas, estou convencida de que falarmos de certas coisas suja nossa boca. As palavras, que em sua origem são arbitrárias, com o uso colaram-se de tal forma às coisas que representam que voltam, hoje, a uma função mágica. Quando falamos/escrevemos estamos presentificando aquilo que dizemos. Quase que sinto o aroma da flor quando digo "rosa", que chega, idealmente bela e viçosa, na cor que meu sentimento do momento exige, no meu papel, nas minhas retinas, em minha manhã.
Volto, assim, a Alagoas, cuja imagem agora se transforma num coração, vermelho, pulsando ali no peito nordestino do Brasil. Já repararam, que o estado tem uma forma que lembra um coração? Pois esse coração pequenino tem uma profusão de "heróis", de pessoas admiráveis, que vão de Calabar a Zumbi; de Zagallo a Marta (é, a jogadora de futebol); de Ledo Ivo a Jorge de Lima; de Hermeto Pascoal a Djavan. E não termina por aí a lista. Nosso primeiro presidente, o Marechal Deodoro, é de lá. A política está cheia de alagoanos, mas não vou continuar neste terreno. Passo ao cinema e lembro de Cacá Diegues. E, na república das Letras, termino mencionando o grande dicionarista Aurélio Buarque de Holanda e o homenajeado da vez, Graciliano Ramos. O que me faz refletir um pouco. Todos admiram o romance Vidas Secas, cujo título, neste autor tão parco de adjetivos, é o único adjetivado. Não me consta que tenham estudado isso, mas é um tema para reflexão. Eu também admiro o romance, mas confesso minha parcialidade quanto a São Bernardo. Acho que é um livro excepcional. E Paulo Honório é um filho legítimo de Bentinho, nosso Casmurro moderno. Eis aí outro tema para reflexão. Se eu estivesse orientando teses, sugeriria isso para os meus alunos, ao invés de ficar lendo essas coisas mirabolantes sobre a influência dos ditongos orais nas epifanias claricianas... Macabéia que me perdoe, mas está na hora de voltarmos a ler outra coisa na academia! Já imaginaram os orgasmos intelectuais que se pode ter nas fricções entre Paulo Honório e Bento Santiago?
Gente, a ansiedade para partir em direção à ABL está me deixando boba. Perdoem-me. Memento Homo quia pulvis es et in pulverem reverteris... Sim, lembrem-se de que somos pó e ao pó retornaremos: dessa minha mente que já virou farinha, e que um dia foi poeira de estrelas (não me canso de repetir isso!) saem as coisas mais disparatadas, mas nós, instruídos por Vieira, podemos nos desculpar e nos engrandecer, mesmo em nossa insignificância.
Vejo vocês na ABL.
2 comments:
Mal posso esperar para ouvir os palavrões que a Dilma deve proferir em 2010 :-) Por que a coisa vai num crescendo: desde que o Figueiredo estarreceu a Nação ao afirmar que o povo cheira pior que cavalos e depois o FHC, chamando os professores de "vagabundos", o Lula agora pespega dois palavrões em cadeia nacional. A vulgaridade está instalada "em palácio". Enfim, se Vieira estivesse entre nós poderia proferir "O Discurso da Boa Língua contra as Blasfêmias da Má Língua" e condenar-nos todos à roda da tortura por endiabrados e murmuradores :-o(
Ola D.Lucia, td bem? Sei que ando em falta em comentar seus posts.. Mas reafirmo que estou sempre por aqui. Seria um sonho te encontrar na ABL..alias sonho que esta prestes a se concretizar...a Barbara me disse que vc esta ja chegando, mal posso esperar para te ver... Outrossim, como foi a inauguracao do livro, me contaram que foi muuuito legal, foi uma pena eu nao poder ir.. Tenho que encomendar seu livro.. vou pedir ajuda para minha host..
Um gde abraco e se eu nao falar contigo ate la, boa viagem!!
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