Tuesday, December 09, 2008

Divergências

Chego em casa e escuto música. Alguém faz uma festa aqui na rua. Fico pensando que esta pode ser uma boa maneira de terminar um dia que começou mal, com alguém batendo no meu carro dentro da garagem, e que passou por diversas decepções e desenganos. Incansável, lá vou eu atrás da boa música que leva os moradores do bairro a confraternizar, tomado espumante e comendo biscoito polvilho. Viva meu bairro, penso eu, sorrindo para quem me sorri e escutando os papos das vendedoras do predinho, falando dos estilistas e dos florais, e de todas essas coisas que sempre escuto com simpatia e incredulidade. Será que essas coisas realmente existem, me pergunto. De repente, a conhecida de uma conhecida vem arengar no meu ouvido sobre a inconveniência daquela música na calçada. Mas é uma música tão boa..., tento argumentar. E ainda é cedo, é melhor escutar as canções que os ruídos do trânsito e os motores dos caminhões de lixo que passam hoooras compactando o lixo com seu ruído monótono. Mas a cidadã está zangada, quer descansar, quer falar com a Inglaterra, quer jantar sem ouvir música. Uma outra conhecida de uma conhecida luta pelo direito da festa, e enfaticamente, pelas costas da outra, manda-a visitar a puuuuuta que pariiiuuuu. Depois sai cambaleante, com a taça de espumante nas mãos, feliz por ter lutado pelo direito de festejar, inerente a todo habitante do Leblon! Eu desisto de comprar mais um livro e volto para casa, pensando em Amos Oz, em Tolstói, em osteopatia e filmes. Termino aqui, lambendo as feridas do dia, sentindo falta de quem me garanta que tudo isso passa, que amanhã vou me sentir melhor.

4 comments:

Anonymous said...

Nossa vida pós moderna, pós-tudo. Em julho, voltando de férias, depois de trilhar quilômetros e quilômetros nas montanhas, com meu carrinho que você conhece, fui também abalrroada por um vizinho, conduzindo a toda, de ré, pela garagem do meu prédio. Um horror.
Sofro com as reformas constantes nos apartamentos vizinhos (a insatisfação interna que sobre pelas paredes concretas, parece que nunca estão contentes), com as "caçambas" que são retiradas à noite...
Não há gotas de valeriana que dêem conta. Beijos, E.
PS.: de quebra, mais três tentativas de morte, na mesma semana, por parte da bambina.

Guido Cavalcante said...

A grossura é se tornou um lugar comum na cidade. Vai por conta da vulgaridade que as pessoas adotaram no comportamento, na maneira de falar, de olhar, de comer, de ir ao banheiro, de se vestir... Pessoas tão bonitas, corpos deslumbrantes, sólidos, empinados, corpos de pequenos deuses e deusas, mas no entanto gente de olhar feroz, briguentos, marrentos, indiferentes e profundamente mal-educados. Cada vez mais detesto viver no Rio, no Brasil - preciso cair fora, ir para um lugar onde a polidez seja elevada à categoria de afinidade humana.(É claro que o meu humor ácido vai por conta da época, em que o espírito de Natal virou perú-com-farofa e celular novo)

* Fiquei interessadíssimo nas tentativazs de morte que o "anonymous" comenta - três vezes numa semana, puxa, será incompetência ou o método errado? :-)

Guido Cavalcante said...

http://www.blogdomarona.blogspot.com/

E sobre mau humor e comentários ácidos, quero recomendar o Blog do Marona, no link acima - uma das melhores coisas na rede, sem o nhem-nhem-nhem aviadado de quase sempre na blogsfera

Anonymous said...

Vim olhar os comentários por vício de leitora. E fiquei perpexa com o tom de insatisfação reinante. Para mim, importante foi a música no final do seu dia. E a alegria de quem pouco se importou com a reclamante. Porque reclamações a gente ouve, sim, mas só se deixa contaminar se quiser. Chateações são inevitáveis, mas sorrisos são mais proveitosos. Tenho certeza de que seu dia hoje será cheio deles. Ser feliz pode ser uma escolha, cuidemos dela. Beijo grande.