Tuesday, August 12, 2008

O espelho

Bem, dei o meu recado. Mantive o tempo. Estou com a sensação de dever cumprido, mas, olho para o lado e vejo que muitos outros deveres se acumulam, descumpridos, exigindo de mim tempo e atenção. Queria um espelho mágico que me desdobrasse numa que escrevesse ficção, noutra que escrevesse o blog, noutra que encontrasse os amigos, noutra que fizesse os trabalhos da UFF... Ih, se eu começar a enumerar, me canso. Outra vez volto a Mário: preciso ser trezentas, ser trezentas e cinquenta!
Bem, uma dessas é que está aqui, mas já de partida, e que, antes de desaparecer, tomada por uma nova persona, deseja agradecer o comentário do Guido. Gente, e eu estava chamando de seita esse meu "processo civilizatório"! Desculpe, amigo, mas nunca me levo muito a sério, zombo sempre um pouco de mim mesma, com medo de infringir a hybris e transformar minha existência em tragédia. É claro que existe uma desesperada vontade de conservar, como sacerdotisas, a beleza, a elegância, a inteligência, se não já teríamos abandonado as reuniões há muito tempo. Mas me declaro absolutamente cética de ser capaz de mudar o mundo. Nada muda o mundo, e só vence a maldade. Mas, foi o próprio mestre do ceticismo, Machado, que nos ensinou que nos mantos de algodão há as franjas de seda. Vivamos, então, pelas franjas. E obrigada.

1 comment:

Guido Cavalcante said...

Acho perfeito você não se levar a sério. Apenas o ignorante, o idiota total crê em si mesmo. Portanto, nesse raciocínio,o cético não é maldito. Tampouco, como você, acredito que possamos mudar o mundo. Houve uma época em que isso foi possível, embora o processo tenha sido de modo geral muito longo. Creio que em nosso mundo, tal poder de mudança do mundo começa a se esboçar pelos idos de 1300 (Giotto) e cem anos depois as Grandes Navegações e a riqueza das cidades tornou definitivo esse sentimento de ter o poder para mudar o mundo. Tal coisa parece perdida em nossa era, principalmente depois do século XX, que foi o século de todas as mortes: morte da arte; morte do espírito; morte da literatura; morte... de Deus! Mas acredito que em algum lugar, talvez numa vilazinha esquecida em algum país de língua ininteligível, o embriao do Renascimento está em gestação para reaparecer nos próximos 30 ou 40 anos. Eu estarei bem velhinho, ou morto, mas com certeza vou ficar sabendo antes :-)