Sunday, August 03, 2008

Coluna do Xexeo

Acabo de ler o diagnóstico do Xexeo, sobre o amor pelo teatro. Vim correndo escrever, confessar meu amor pelo teatro, que não se deve à TV, pois não me era permitido assisti-la. Coisa de criança criada pelos avós. Só assistíamos a um programa durante a semana, escolha de minha avó, Os Intocáveis. Em compensação, escutei muito rádio, escondida no quarto da empregada que era apaixonada pelo Jerônimo, o herói do sertão. Eu também amava aquele herói e morria de ciúmes da Aninha. Sabia que o Moleque Saci ia preferir que seu grande amigo ficasse comigo, pois, afinal, eu não era uma mocinha doce e comportada: era aventureira: subia nos móveis, me escondia para escutar rádio e lia livros proibidos... Na maioria das vezes, fiquei sem saber como terminavam as aventuras, mas isso nunca me perturbou, pois eu mesma criava finais, que eram sempre idênticos: na hora do aperto, eu conseguia descobrir um jeito de ajudar o Jerônimo e ....acabávamos vivendo felizes para sempre, cantando aquela cançãozinha " Filho de Maria Rita(?) nasceu, Serro Bravo foi seu berço natal..." Incrível como as paixões se desvanecem no ar. Já nem lembro mais a canção...
Me pergunto, então, por que é que gosto de teatro? Primeiro porque via meus parentes indo ao teatro: era um grande programa! As pessoas se arrumavam, se vestiam, se perfumavam, usavam saltos altos ou terno e gravata. Me lembro de ir acompanhando minha mãe e uma amiga para comprar entradas para uma peça no Copacabana Palace. Mamãe falava das poltronas de veludo, das cortinas. Ela e suas amigas comentavam as peças aos cochichos, com risinhos excitados de adolescentes que já não eram, mas ainda pareciam. Acompanhei-as também às bilheterias do Teatro Glória, e de um outro no Centro, numa ruazinha esquisita que foi criada só para abrigar este prédio, ali perto da São José.
Teatros havia por toda a parte aqui no Rio. Ainda não tinha muita idade quando comecei a frequentar os espetáculos teatrais. Acho que, naquela época, cinema tinha censura, mas teatro não. A gente só ia ao teatro acompanhada pelos pais e ou responsáveis, acho que era isso. Sei que, ainda pequena, fui assistir a uma peça do Teatro dos Sete (? seria esse mesmo o nome?) Acho que era um Martins Penna. Assisti a uma montagem maravilhosa de A Moreninha, no João Caetano. Ainda me lembro das roupas maravilhosas e de uma canção: Cafuné, cafuné, é de São, São Tomé, vem de lá, de Luanda..." Neste mesmo João Caetano, anos depois, assisti Macunaíma e fiquei deslumbrada.
Mas havia outras salas teatrais, muito mais próximas de minha casa. Ali na praça Gal Osório (nos tempos de ditadura, era muito "ousado" dizer Gal, ao invés de General) assisti Roda-Viva. Ah, o que os meus olhos viram e meu coração sentiu! E, em Botafogo, assisti a Dois perdidos numa noite suja e também Navalha na carne. Grande Plínio Marcos, maldito na época, mas fazendo um teatro tão bom que nos deixava quase sem ar. Continuando com esses espetáculos inesquecíveis, assisti a uma montagem de Notre Dame des Fleurs, perto do Largo do Machado. Acho que isso foi muito depois, pois já estava casada. Na verdade, para quem se casou tão cedo como eu, pode não ter sido tão depois. Também vi, no Ginástico, Morte e Vida Severina, sem cenários, os próprios atores se transformavam em janela, em pedra, no que fosse necessário. Que revelação! Mas perdi coisas maravilhosas e a que mais sinto ter perdido foi O Rei da Vela. Logo eu, tão fã do Oswald...Não sei por que não fui. Talvez falta de grana.
Então, por que será que gosto de teatro? Porque antigamente, consideravam teatro um programa bacana. Porque as peças de teatro eram boas. Porque as montagens eram sensacionais. Porque não se ia ao teatro para fazer culto das personalidades. A gente ia ao teatro pelo espetáculo, não para ver a cara do Fulano ou a nudez do Sicrano.
Para terminar, não posso deixar de mencionar os Paulos, Gracindo e Autran. A gente ia ao teatro ver esses monstros sagrados. Mas, quando chegava lá, não encontrava nenhum dos dois. Dava de cara com Édipo, ou Shylock, ou seja lá quem fosse que eles estivessem representando. E era bom. Era inesquecível.

3 comments:

Lisoca said...

Olá!

Essa música da qual você falou no texto: cafuné, cafuné, é de São, São Tomé... você sabe quem canta? Onde posso achar? Já corri em vários sites atrás mas não tenho idéia! eu ouvia quando era pequena, você pode me dizer ai!?
meu email é lisoca_@hotmail.com

Obrigada!

Rodrigo Silveira said...

Também ouvia. Aqui é o único lugar que encontrei parte dela.

Nadanonada said...

Sinto muito, mas não sei.