Todas as manhãs o Globo se reparte em crimes e medalhas em meu hall de entrada. Eu folheio as páginas, quase sempre entediada, mas uma ou outra coisa chama minha atenção. Desta vez, foi o retrato da Marta Suplicy: duas imagens, a do cartaz da campanha política e a da política em campanha. Quem tirou aquele retrato da campanha? Quando? Ou aquilo se deve ao fotoshop?
Parabéns, dona Marta. Não contrate outro. O que ele fez foi melhor que a plástica.
Lembrei agora de uma outra obcecada por imagem: a Sissi. Minha amiga me contou a quem ela deve seu nome -- à Imperatriz! Uma menininha foi incumbida de entregar um ramo de rosas à bela esposa de Francisco José. Era a bisavó de minha amiga, que iniciou a tradição de dar, às primogênitas, o nome da Sissi. Olhando a bela Beth, julguei ver duas rosas daquelas entregues por sua bisavó, brilhando em sua face. Avalio a enorme impressão que a Sissi terá causado numa menininha na longínqua Alemanha, a ponto de, quase dois séculos mais tarde, reviver assim numa historinha contada com olhos brilhando e rubor no rosto aqui no Rio de Janeiro. Quantos nomes não são homenagens assim, sinceras e duradouras? Mesmo em minha família os nomes se repetem, homenageando antepassados. Eu devo meu nome ao meu tio avô, que o devia a seu pai, que por sua vez, o terá recebido em honra de algum parente, ou de amigo de seus pais, ou de alguma personagem de novela que estivesse sendo lida pela mãe. Nomes, finitos, que se tornam heranças quando as faces, retocadas ou não pelo fotoshop, já desapareceram.
Outra foto chamou minha atenção no Globo, a de um amigo, que acaba de publicar seu segundo romance, que estou lendo. Um painel de vidas pequenas que habitaram nosso país, mas que contam sua história mais verdadeira. Logo nas primeiras páginas, o que me chamou a atenção foram as belas descrições do Rio, descrições de quem é apaixonado pela cidade. Tenho, às vezes, inveja de quem não nasceu no Rio e pode sentir o deslumbramento da primeira chegada na cidade. Outro dia recebi uma coleção de slides feitas a partir das fotos de um fotógrafo alemão que veio ao Rio espionar e mandou a Alemanha às favas, apaixonado pela cidade e seus recantos. Cada um faz as declarações de amor que pode -- com palavras, com imagens, com gestos... Só não entendo como alguns fazem gestos de desamor que não são impedidos pelos cariocas mais fiéis. Como é que estamos sofrendo golpes constantes que destroem belezas, acabam com as vistas, destroçam vidas? Ia citar Shakespeare, mas esse post já está longo demais. Remeto vocês a Hamlet, ao velho "to be or not to be" -- e digo, com ele, que, se nos opusermos, faremos que o destino adverso cesse. E encerro, cantarolando a Marselhesa!
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