Saturday, August 02, 2008

RomamoR

Gosto de Roma. Aliás, gosto de toda a Itália, cada lugarzinho me encanta de uma maneira diferente, com um charme distinto. Não há como comparar as cidades italianas, não encontro um parâmetro com que comparar Roma, Veneza, Portofino e Florença, por exemplo. Mas, nesta viagem, ficamos apenas em Roma, passeando de 116, nosso ônibus elétrico, pequenininho e onipresente, que passava em todos os lugares para onde queríamos ir. Vila Borghese? 116. Panteon? 116. Piazza Navona? 116. Vaticano? 116. Lungotevere? 116... Já conhecíamos os motoristas, alguns nos saudavam, simpáticos, outros demonstravam seu desprazer com as turistas encaloradas que tomavam o ônibus para fazer viagens longas, aproveitando para descansar de tantas andanças. Gostávamos de tomá-lo na direção da Vila Borghese, para nos aproveitarmos do parque, lindo e fresco, com suas sombras e muitas fontes. Acho que fomos até lá todos os dias. Outras vezes, tomávamos ônibus de números diferentes, e íamos até redutos mais afastados da cidade. Foi assim quando quisemos passear pelas termas de Caracala, ou quando tomamos um ônibus de trajeto longo, até a vila olímpica. Íamos para o Termini ou para a Piazza San Silvestre, ou para a torre Argentina e dali seguíamos outros destinos, planejados de olhos no mapa.
Minha grande descoberta desta vez foi a Domus Áurea, a casa de Nero, seu palácio de verão, deslumbrante, totalmente soterrado por um de seus sucessores, num meticuloso trabalho de preenchimento e de aniquilação que fez meu coração se confranger. O que teria levado esse outro imperador, cujo nome já esqueci, a desejar apagar tão completamente os traços de seu predecessor? Ele nem foi o sucessor direto, o palácio ainda foi usado por pelo menos mais um César, que fez algumas modificações no projeto inicial. Mas depois foi deliberadamente obliterado por esse outro, num processo custoso e demorado. Houve que reforçar paredes, fechar vãos, preencher de terra milhares de metros cúbicos. Mas, eis que um belo dia, descobrem uma das aberturas que tinha sido feita exatamente para destruir. Uma espécie de poço, por onde um curioso desceu e descobriu o teto, magnificamente decorado, de um dos salões. Até Michelangelo desceu por uma dessas aberturas (logo em seguida descobriram outras) para ver as maravilhas das pinturas e daí nasceu o estilo grotesco -- ou seja, de grotto, essas grutas em que o palácio se havia transformado. Fizemos uma visita arqueológica, com capacetes e tudo o mais, guiadas por uma arqueóloga apaixonada por seu trabalho. Era um grupo pequeno, de pessoas persistentes: para conseguir os ingressos é preciso entrar na fila do Colosseo, passar pela segurança, ir até o guichê específico da Domus Áurea e depois voltar todo o caminho debaixo de um sol que torna as ruínas quase que incandescentes. Foi bom. Fizemos a visita logo no primeiro dia e aprendemos lições que nos permitiram olhar para as outras ruínas com olhos mais experimentados. Víamos em tudo aquilo o que lá não está, como nos ensinou Pessoa. Aprendemos a descobrir onde estariam antigas pinturas, onde as fachadas teriam sido cobertas de mármores, ou de mosaicos, em alguns momentos, sonhadoras, creio que conseguíamos imaginar a Roma de muitos séculos atrás.
Passamos vezes sem conta pela Fontana de Trevi -- nosso hotel estava bem ali ao lado. Era nosso caminho. Íamos ali como quem vai ao quintal. E, não importa a hora em que fôssemos, a multidão se comprimia, disputando um espaço para se deixar fotografar. Bebi água da Fontana, bem ali no bebedouro ao lado, que existe para esse fim, mesmo. Bebi água no Panteon. Bebi água em todas as fontes que encontrei pelo caminho, desejosa de incorporar, de alguma forma, tanta beleza e encanto. Entrei em igrejas, cada qual mais bela. As duas ao lado do hotel, já minhas velhas conhecidas, outras velhas conhecidas, na piazza Navona, no largo de Sta Susana, no trastevere, no alto da Piazza de Spagna. Outras ao sabor do acaso, provavelmente já visitadas antes, mas esquecidas, como a de Sta Maria Madalena. No Vaticano, enfrentamos uma longa fila para entrar na Basílica -- segurança, a mãe de todas as filas. Lá dentro, o encanto. E uma enorme emoção: ter mandado rezar uma missa pelo Guilherme. Essa missa será rezada entre o dia 5 e o dia 11 de agosto. Ter conseguido isso me emocionou até às lágrimas.
Era o fim da viagem. Depois disso, um almoço memorável no Brunello da Via Veneto. Uma caminhada até o hotel, onde aguardamos pelo transfer até o aeroporto, e... num vôo sem maiores problemas, S.P. parada obrigatória, antes de nosso Rio tão querido, tão humilhado pelos novos valores...

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