Friday, June 13, 2008

Terceira margem

Hoje fui assistir à defesa de tese do Guilherme Zarvos. Não fiquei até o final, mas fiquei o bastante para me impressionar com a coragem de alguém que propõe sua vida como tese. As duas primeiras professoras se recusaram a "arguir" (e o trema? como escrever certas palavras sem trema?) a tese. Claro, como é que se põe em julgamento a vida de alguém, sua família, seus amigos, seus sonhos, seu sexo? A academia quer discutir idéias, se encabula de falar de afetos, de falhas concretas. Falam, até bastante, de erotização -- e talvez seja culpa de Freud, que descobriu o corpo erótico dos seres humanos e com isso tornou-o objeto de discurso. Mas o discurso agora já não aparece mais num fluxo: ele é entrecortado, recortado, fragmentado. Há tanto tempo que isso vem ocorrendo, e eu ainda nem tinha reparado nisso. Ou melhor, tinha reparado, sim. Mas agora tenho uma outra postura diante desses recortes. Agudamente consciente da ausência, agora dou valor a essa negação, única possibilidade de chegar aonde desejo estar -- no outro lado, no lado de lá do lado de lá. Minha terceira margem.

1 comment:

Guido Cavalcante said...

É engraçado - você não acha? - que sabemos mais sobre o sexo do que sobre a morte? Existem programas na TV sobre sexo (não só os eróticos), como usufruir mais, posições, o sexo até ficou "elegante", tem a coluna de hoje no caderno Ela, onde um jovem "especialista" fatura com o sexo multimídia... Onde o amor parece ser uma coisa bem fácil, sem aquela intimidade toda que a gente (eu) não consegui abolir, essa coisa de contar a vida e tal :-) Enquanto isso, a morte continua desconhecida. A morte saiu de casa e foi se ocultar na clínica. Acho que até pega mal morrer em casa, com os vizinhos ao redor da cama. A morte ficou oculta. Deve ser escondida pelo desejo de prolongar a vida, nem que seja através ilusão de uma pele sem rugas. Gostaria de ter visto a defesa que vc conta. Puxa, sexo na Universidade! E o engraçado é que, ao lado da "fluência sexual" da civilização/cultura, o sexo também tem que ser sem riscos, encamisado, protegido, pois trafega em áreas de risco... strange things are done/at the land of midnight sun