Wednesday, June 25, 2008

De mares e de mortes

Ontem morreu Dona Ruth Cardoso. Gostava dela, uma pessoa com brilho próprio que não se deixou ofuscar pelo brilho fácil e o sorriso constante do presidente seu marido. Morreu assim, como os que morrem do coração. Uma morte fácil, se é que a morte é fácil. Um interruptor, esse nosso coração. Apaga e é a escuridão, ou a luz.
O mar, acompanhando esses tempos de tristeza -- morreu um ex-professor meu, Carlos Tannus, de uma geração de professores de Latim que nos faziam gostar da língua (morta) -- tem se mostrado cinzento, escuro e bravio. Mas, quando a gente se aproxima dele, vê sua franja alegre, verde, límpida, brincando de embolar com a espuma muito branca -- uma espécie de consolo.
Enquanto isso, ponho em dia os trabalhos. Estou em vésperas de viagem, preciso adiantar tudo para não ter que andar por aí carregando meu computador. Vou para a FLIP, já estou quase lá.
Desta vez tenho ingresso para a Tenda dos Autores (consegui, depois de ficar horas na fila do telefone), vou assistir a um extraordinário dramaturgo -- Tom Stoppard, que eu conheço desde os tempos de Rozencrantz e Guilderstein. Vou assistir a Roudinesco. E vou mediar a palestra dos vencedores do prêmio SESC deste ano. Estou tão contente! Terminei minha resenha para o Rascunho, só preciso de fazer mais três trabalhos, sendo que um é para terça-feira que vem. Mas vai dar, vou conseguir. E o livro vai saindo, devagar, mas caprichadinho. Em agosto fica pronto, em setembro faço a festa de lançamento. Ótimo!
Mas há mais um motivo de tristeza: um casamento que se desfaz, corações partidos, sonhos que se transformam em pesadelos... Não digo quem, mas sofro pelos dois, que sofrem as dores do mundo. O negócio é apelar para o Deus Janus, e, ao mesmo tempo que vemos o fim, encarar um possível recomeço. Agora me lembrei da Ellis, cantando Caça à raposa, quem lembra? Ah, recomeçar, recomeçar, como paixões e epidemias... Nossa, como eu adorava essa música! Nunca mais escutei. Nem vou escutar, pois não tenho o CD, que pena. E estou cada vez menos musical. Ainda vou aos meus concertos, tento estudar o piano, que está perdendo seu sorriso, por falta de prática, mas quase já não escuto CD's. Nem vejo DVD's, tudo por absoluta falta de tempo.
Guido, em resposta ao seu comentário, acho que sou muito aventureira, mesmo. Não tenho grandes rasgos de coragem, mas sou corajosa, principalmente porque sou orgulhosa e odeio me dar por vencida. Posso escolher não ir, mas, quando vou, vou com tudo.
Para terminar numa nota musical, queria dar de presente um CD bem dançante. Alguém tem alguma sugestão? Dançante mesmo, daqueles que fazem todo o mundo ir para a pista, tipo YMCA e It's Rainning Man. I will survive. É, termino com essa. I will survive.

2 comments:

Anonymous said...

Pois é, darling, survive, porque não há outro jeito (ao menos para as católicas que, como eu, acredita piamente que existe inferno e que suicídio é um dos poucos pecados que não tem perdão).Mas o Bandeira, meu predileto, já escrevia que queria amar a morte com o mesmo desengano que amou a vida...
Boa sorte na FLIP. Adoraria ver a Madame le Prof. Roudinesco. Sou maior fã dela (o livro em parceria com o Derrida, "De que amanhã", entre outros). Brilho e luz,
Eugenia.

Guido Cavalcante said...

Como não conheço a Lucia pessoalmente, resolvi mdar uma busca no google images e lá está ela! Save the last dance for me:-)