Friday, April 02, 2010

Lições de amor (cont.)

Como ia dizendo, estou sempre ensinando que o amor é uma construção cultural. Será que estou caindo em contradição? Talvez não. Acho que desde sempre o amor foi uma coisa complicada para os seres humanos. Pois existe, estou convencida, um amor natural, que se aprende amando. E existem amores que são estabelecidos a partir do social, um amor susceptível a diversas influências do meio, da época, dos medos, das necessidades. O amor romântico, filho do amor cortês, que conhecemos hoje é bem diferente do amor que existia na Grécia e do qual nem posso falar, pois também não sei muito. Mas, se na Grécia o local do amor era no estômago, e hoje em dia o localizamos no coração, isso já basta para estabelecermos uma diferença primordial. O estômago é muito mais "víscera" que o coração. O coração, vital, sem dúvida nenhuma, é um órgão silencioso, que vai batendo dia e noite, e do qual só nos apercebemos quando alguma coisa está errada. O estômago é exigente, se faz presente pela fome, reclama dos excessos, se manifesta em sons inoportunos, se rebela e expele aquilo que não lhe cai bem. O estômago é uma preocupação cotidiana. Daí as complicações amorosas dos gregos. Se eles encafuavam as mulheres nos gineceus, se lhes recusavam o direito ao estudo e à filosofia, tiravam delas uma parte de sua humanidade. Não era de estranhar, portanto, que, na hora de amar, os homens procurassem os efebos. Ninguém, acho eu, sabe o que as mulheres procuravam. Aristófanes (que, a julgar pelas peças, olhava as mulheres com muita simpatia), mostra-nos mulheres inteligentes, que, apesar da reclusão, e da falta de "academicismo", eram tão sagazes e inteligentes quanto seus companheiros. Até mais! Vejam a peça Lisístrata, e o jeito como as mulheres "dão a volta" nos homens. E vejam como Xantipa põe a nu os ridículos de Sócrates na peça As nuvens. Mas, por favor, não me citem. Esses são só pensamentos desenvolvidos sem pesquisa nem comprovação. O melhor é ir procurar o livro do sociólogo/psicólogo italiano, que vem estudando o assunto há muito tempo. Me lembro de um amigo traduzindo o livro Enamoramento e amor. Galvão era professor da Escola Americana, e se apaixonou pelo livro. Ele, na época, estava numa enrolação amorosa, aqueles desencontros de que o amor é sempre tão pródigo. Primeiro, ela apaixonada, depois ele. Os dois nunca atingiram a simultaneidade. Mas não vou citar casos particulares. Borboleteio entre pensamentos e me lembro que esse livro o ajudou a sair da depressão do caso complicado. De repente, vale a pena ler as 200 "respostas" que nosso professor italiano nos oferece para o caso de paixão, amor e desejo (já carregaram o jornal, não tenho mais como conferir). E eu, em vez de estar aqui falando por falar, devia estar trabalhando. E é o que vou fazer agora, nesta tranquila Sexta-Feira da Paixão — mas, claro, preciso lembrar que paixão é sinônimo de sofrimento. E, no entanto, como desejamos esse tipo de sofrimento! Não é de admirar?

1 comment:

Ana Cristina Melo said...

Hoje me senti estranhamente calada, casmurra, com dificuldade de falar e de escrever. Talvez porque usei o feriado para colocar em dia (pelo menos um pouco) as pendências, e talvez por isso tenha ficado tão angustiada. Tendo que fazer, sem ter vontade de fazer. Talvez porque deveria ter passado o dia para nada fazer, para refletir, para sofrer a Paixão e entendê-la um pouco mais.

Bem, mas talvez a falta de alegria tenha sido uma forma de sofrê-la. Agora, larguei tudo para ler um pouco os amigos e já me preparo para me despedir das conexões, e apenas grudar nos meus filhos, e me enroscar no amor deles.

Feliz páscoa, minha querida!