As conferências estão acontecendo no décimo oitavo andar de um edifício bem no centro do Campus, o que nos permite uma vista deslumbrante. A cidade de Lexington ainda é pequena, mas já ostenta alguns poucos arranha-céus. A geografia da região é suave, ondulada como imagino que sejam os pampas. Campos muito verdes, cobertos pelo que eles chamam de blue grass, separados por cercas brancas. Os rios escavam seus leitos no terreno macio, e fazem desenhos caprichados de luz por entre o verde. As casas mais antigas, de tijolos vermelhos, ostentam lindos vitrais coloridos, parecem caixinhas de jóia. As ruas, desertas, de repente se enchem de carros saídos não sei de onde, e o trânsito se desenrola devagar, preguiçoso.
Na Universidade, são muitos os alunos, circulando em bandos agitados, talvez por conta do final de semestre (as aulas já terminam no mês que vem). Encontramos uma manifestação "artística" ou talvez "atlética"— uma chuva de bolinhas de gude despejadas sobre uma pequena multidão vestida de acordo com o calor do dia: shorts, sandálias e camisetas. No salão de almoço reservado aos participantes da conferência, muitos professores em seus tradicionais tweeds, comiam uma refeição simples, mas saborosa: presunto, vagem, batatas, frutas e tortas. Acabei preferindo a opção vegetariana, uma fritada de vegetais, que estava muito boa. E baldes de café, claro, pois há um Starbucks bem no Student Center! Sem filas! É o paraíso…
Falei um pouco e escutei muito. Incrível como descubro novos autores todas as vezes que venho aos EUA. E novos autores brasileiros, isso é que é de admirar. Novos para mim, é claro, que ainda não tinha lido nada de Fernando Bonassi nem de Miguel Jorge. E as discussões sobre antologias abriram novas perspectivas sobre as mesmas. Como temos o que ler a partir da própria biografia dos autores, das escolhas, dos períodos etc. Machado continua atraindo a atenção de todos, é um campeão! Ele e Clarice, que vai merecer toda uma sessão. E é uma delícia escutar todos os sotaques que falam um português ora europeu, ora brasileiro, ora despatriado, mas ainda com "sss" e "rrr" que denunciam terras de origem e saudades.
Fico sem saber se meu Callado despertou nos outros a mesma urgência que seus Bonassi e Jorge despertaram em mim.
Outra surpresa: quando perguntei sobre o Kindle, não encontrei muito entusiasmo. Uma das professoras nem sabia o que era. Mas, a mesma que desconhecia o aparato, mandava fazer PDF's dos textos para carregá-los em suas viagens, pois era muito mais prático… Acho que é uma questão de tempo. E, no entanto, foi com verdadeira volúpia que manusearam os livros de Callado que trouxe para mostrar. Livro é como vinil — quem é fã, é fiel.
Agora vou escrever um conto. Tenho que trabalhar, aproveitar meus tempinhos livres.
2 comments:
Oi, mana.
Miguel Jorge é autor de pelo menos dois livros estupendos: o romance "Veias e Vinhos" e o volume de contos "Avarmas".
Nasceu em Campo Grande (MS), mas mudou-se para Goiás ainda criança e vive em Goiânia.
Se quiser, consigo os livros dele facilmente em qualquer sebo de Goiânia.
Do Bonassi, gosto muito de um romance intitulado "Subúrbio".
No mais, estou gostando muito dos seus relatos de viagem. Um olho no seu blog, outro no Google Maps.
Beijos
André
Lúcia
Foi um prazer imenso ter lhe encontrado em Kentucky e depois deste presente maravilhoso que foi a sua presença, encontrar, no seu blog, este texto tão delicado sobre Kentucky. Como uma artista, o texto dá uma plasticidade azul, como os tons que tanto se escondem e se descobrem em Lexington.
Muito obrigada por todas as conversas, risadas e sabedoria dividida.
Agora já posso ser fã declarada do blog!
Um abraço,
Cris Lira.
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