Friday, January 29, 2010

Cartas de amor

Acho que chegou a hora de corrigir o poeta: nem todas as cartas de amor são ridículas. Acabo de voltar de uma linda peça: Tomo suas mãos nas minhas. Baseada nas cartas de amor trocadas entre Tchekov e Olga Knipper, a peça flui e encanta, emociona e deixa a platéia num estado de maravilhamento tal que todos relutam em abandonar o teatro. Está ali no Teatro Leblon, e cheguei a ela pela indicação de uma amiga querida, a Susana Fuentes, também escritora. Obrigada, Susana! Esta semana está me trazendo tantas coisas boas… fico com pena que ela já está chegando ao fim.
Mais coisas boas? Terminei um conto hoje e fiquei satisfeita com o resultado. Minha grande dificuldade, ao terminar meus textos é que meu primeiro leitor já não está a meu lado. Sou uma Sherazade sem sultão. Fico, então, perturbando as amigas com a minha ansiedade, querendo que leiam para tentar descobrir suas reações. Acho que elas gostaram. 
Ontem fui assistir Restos, com o Antônio Fagundes. É uma peça do Neil Labute, que está muito na moda aqui no Rio. No momento são três as peças dele que estão em cartaz. Restos, A gorda e mais uma cujo título esqueci, algo como Aquelas mulheres, sei lá. Só que a que assisti não é bem uma peça, e sim um monólogo, e eu tenho a maior implicância com monólogos. Mas esta não foi das piores. Uma das melhores coisas da peça é o cenário, maravilhoso. Simples, lindo, elegante e eficaz. O título original é Wrecks, uma palavra difícil de traduzir. Pode ser um acidente de carro (e o nome do personagem é Ed Carr). Pode ser um naufrágio, um destroço, uma ruína. Restos não tem a mesma força semântica, mas não compromete. Como as peças de Labute têm todas uma espécie de "virada", que surpreende e causa estranhamento, não dá aqui para comentar o texto sob pena de ser acusada de desmancha prazeres. De qualquer forma, acho que a virada pela qual ele optou nesta peça meio que "destroça" a construção amorosa que esse viúvo, no velório de sua amada, tenta erguer. De qualquer forma, o melhor da peça ocorre depois que ela acaba: o Fagundes volta ao palco para um batepapo informal com a platéia. Nesta conversa ele se revela mais agradável que durante a encenação. E a peça até cresce com os comentários e algumas explicações.
Acho que ainda não contei que também assisti a uma comédia, "Velha é a mãe". Representada pela Louise Cardoso e Ana Baird, é bastante divertida, mas não é nenhuma Brastemp. Acho que a última vez que vi a Louise Cardoso representando ela fazia o papel de uma cachorra, da raça poodle, numa comédia muito boa. E olha que era um monólogo! Mas era um texto tão inteligente, e a atriz é tão boa, que merece  ser relembrada. O nome da peça era o nome da cadela, acho que era Silvia, mas não tenho certeza. Eu e minha memória evanescente… E meus livros rebeldes, que desaparecem de vista e não me deixam terminar a leitura. Aquele que estava lendo, O andar do bêbado, se escondeu em algum canto. Preciso encontrá-lo. Como ele sumiu, vou voltar aos meus deveres de resenhista: Marques Rebelo me espera.  Então, lá vou eu para a cama, com boa companhia!

3 comments:

Ana Cristina Melo said...
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Ana Cristina Melo said...

Lucia, querida, adorei as dicas. Há tanto tempo que não vou ao teatro. Vamos ver se consigo quebrar o jejum no final das férias. Fiquei curiosa com o conto, pois tenho certeza que ficou ótimo. Bjs

Anonymous said...

Gostei muito o espetáculo "Restos" e mais ainda quando o Fagundes volta e debate com a pláteia. Muito bom! Sobre os pés descalços com terno e gravata,lembrou-me dos atores do Teatro expressionista alemão da década de 20! bjs Márcio Galli